1 Mesmo que seja breve, é amor

O vento soprou seu cabelo para trás, de frente para o mar aspirou o ar salgado que circulou seu pulmão, mente e coração. Ela não se esqueceria daquele sentimento sem nome. Nem tudo o que sentia era possível ser nomeado, aquela era uma das ocasiões em que tudo se encaminhava para a perfeição. O que era aquilo?

Podia sorrir e chorar, qualquer que fosse a ação, resultava da felicidade. Aquele era um momento épico. Quem dera fosse apenas por esse motivo que estava ali. Não, tinha muito mais. O prato principal viria em breve.

Rodeada de poucos amigos ela aguardou sentada em uma cadeira de praia o horário em que poderia finalmente encontrar seu amigo, Patrick. Uau, suas mãos tremiam de excitação, estava animada para vê-lo. Se tinha uma coisa que sempre quis fazer depois que se formara na faculdade e arrumara um emprego, era visitar seus amigos da época em que estava no ensino médio. Ele era a primeira pessoa que iria encontrar. Assim como num passaporte, ela também carimbaria em sua alma aquele momento.

Seu celular vibrava de tanta notificação, enfiado no short que usava, ela tirou para ver o que causara tanta agitação. Eram seus amigos da época de ensino médio, mais agitados que ela, muito mais animados do que imaginara. Parecia que torciam por algo que ela nunca cogitara. Patrick havia dito que tinha chegado aonde ela estava, agora ele só precisava encontrá-la. Em segundos se pôs de pé, tão rápido e tão desajeitada que quase derrubou o guarda-sol que causava uma sombra boa em sua amiga Giulia estirada em uma toalha colorida.

— Tá maluca garota? — Giu disse depressa quando o sol tocara sua pele bronzeada.

— Foi sem querer, eu juro — respondeu na mesma pressa e lhe deu as costas.

Seus olhos buscavam em todas as direções alguém de branco, mas havia tantas pessoas vestidas de branco e pessoas que não vestiam nada além de suas roupas de banho, parecia impossível encontra-lo. Ela não deveria ter prometido gravá-lo chegando até ela, agora era difícil identifica-lo.

— Achei que você iria me gravar — ouviu uma voz, ele estava bem na sua frente, mas não havia reconhecido antes, talvez estivesse tão focada em encontra-lo que acabou não vendo aquilo que estava bem a sua frente.

O sorriso que ele esboçou para ela naquele instante a fez retribuir no mesmo segundo, Patrick abriu os braços e não precisou que ela pensasse no que deveria fazer. Com passos largos ela se lançou em seus braços, um abraço apertado de longos segundos, poderiam ser eternos, mas não eram. Se abraçaram de novo e de novo, tudo porque Stella queria abraça-lo repetidas vezes.

— Ai meu Deus! — Exclamou ela com uma felicidade impossível de mantê-la para si e o contagiou. — Eu ainda não acredito que você está aqui.

Ele apenas manteve o sorriso, não dizia nada, ela não podia imaginar o que se passava na cabeça dele naquele momento, nem sequer conseguia identificar as emoções que a cercavam.

Patrick pegou seu celular e tirou uma selfie com ela, postou no grupo e esperaram os comentários divertidos de seus amigos. Foi simplesmente impagável aquele momento. Se tudo pudesse se repetir, Stella esperava que fosse daquele mesmo jeito.

Abrindo o Instagram em seu celular, Stella o filmou.

— Gente, esse aqui é o meu amigo Patrick. Olha como ele é bonitão! E está solteiro meninas, mas só para mim — e uma inconveniente risada escapou, Patrick que se divertia fazendo poses aleatórias se virou para ela, os olhos levemente abertos esboçavam surpresa, mas riu.

Publicou no seu status e enviou para os amigos, que surtaram segundos depois. Eles eram simplesmente inacreditáveis, os dois riram muito.

Minutos se passaram e olhavam ao redor da praia e não tinham ideia do que fazer, talvez estivessem envergonhados, mas não há o que afirmar, certas coisas apenas eles mesmos sabiam o que rolava.

— Ei, Stella, quem é o teu amigo? — Igor perguntou, seu amigo de viagem, que inclusive tinha conhecido naquele fim de semana.

— Ah! Igor, esse é o Patrick, meu futuro namorado — disse com um enorme sorriso no rosto, ela sempre brincou com aquilo, mas nunca pensou muito a sério sobre isso e nunca reparou como as pessoas reagiam com essa declaração, ela deu de ombros e continuou sorrindo para eles.

Igor estendeu a mão para Patrick e o cumprimentou com um aperto firme e um sorriso divertido, piscou para ele e talvez dissera algo com seus grandes olhos e sorriso simpático.

— Que prazer imenso, então — disse no final.

Virando-se para Patrick, Stella incomodada por estarem de pé por longos minutos perguntou a ele o que ele gostaria de fazer.

— Você é a turista, o que quer fazer?

Rindo ela negou com a cabeça.

— Mas é você quem mora aqui, o que tem para fazer?

Ele deu de ombros, não admitindo aquilo e insistindo que faria o que ela quisesse fazer. Acontece que ela não tinha noção do que fazer.

Os amigos de Stella voltaram do banho de mar, sorriam demais na direção da garota, talvez, apenas talvez, fosse pelo cara que a acompanhava. As pessoas que os cercam muitas vezes sabem muito mais do que aqueles que vivem.

É. Uma verdade incontestável.

— Stella, a gente vai almoçar no Shopping, você vai com a gente?

Ela se virou para Patrick e sorriu antes de dizer que sim para o Igor, segurando o braço de seu amigo de eras, disse:

— Você vai vir com a gente, não é?

Patrick deu de ombros.

— Acho que vou embora já.

Ela negou depressa. Sua testa franziu em desaprovação.

— Nem pensar, você disse que veio me ver, então vai ficar comigo até que eu vá embora.

Patrick olhou para ela e lentamente concordou, ela até se perguntou se era possível negar, mas ele não o fez, então ignorou aquela dúvida. Patrick chamou o Uber para leva-los até o Shopping, e foi graças ao Igor que Patrick e Stella se sentaram juntos no fundo, caso o contrário, Patrick teria ido na frente. Stella ficou grata a intervenção de Igor, e apenas os três foram em direção ao Shopping.

— Sabe, tenho um amigo que vende marmita, é bem mais barata e acho que vocês gostariam. Vem muita coisa mesmo — disse o motorista, um senhor de idade bem simpático.

— Quais sabores? — Igor perguntou, interessado.

Quanto menos gastassem até o final do dia, seria o melhor para todos.

— Carne. Filé. Frango... acredito que tem mais um sabor.

— E então, Stella? Vai querer?

Ela assentiu devagar, olhou para Patrick que tinha aquela expressão de "tanto faz, como tanto fez", se topassem, ele toparia também. Já dizia ele: "estou em suas mãos", não exatamente com essas palavras, mas algo do gênero.

O motorista os deixou perto do Shopping, onde o amigo vendia suas marmitas famosas, os três desceram do carro, agradeceram a corrida e pagaram. O motorista Paulo Henrique cumprimentou o amigo de longa data e informou dos três clientes que trouxera, os dois sorriram e em mãos entregou as marmitas, Paulo Henrique já havia feito o pedido por eles.

— Aproveitem a comida — se despediu com um aceno e uma buzinada, deixando os três adultos para trás. Quatro contando com o cara da marmita.

— Você já bebeu isso? — Perguntou Patrick segurando a bebida que Stella nunca tinha provado antes, Guaraviton.

Devagar ela negou com a cabeça, o cenho franzido e os lábios retorcidos em careta, não por desgostar, mas por nunca ter provado.

— Meu Deus, Stella! Você nunca tomou isso? — Igor disse com os olhos arregalados, tão surpreso quanto ela poderia ficar com sua repentina fala. — Meu pai. Isso era o que eu mais tomava quando criança.

Patrick concordou rindo.

— A galera toma isso quando está de ressaca, o açúcar ajuda a ficar sóbrio.

— Uma bomba açucarada. Impossível não voltar dos mortos.

Patrick estendeu o copo de Guaraviton de catuaba e esperou que ela abrisse e experimentasse.

— Hã... vou experimentar depois de comer. Pode ser?

Ele riu e abriu sua marmita, assim como Igor e Stella logo em seguida. Havia muito arroz, feijão, macarrão e carne. Um prato cheio, literalmente.

— Eu não acho que aguento comer tudo isso — disse Stella olhando bem para sua marmita de alumínio.

Igor deu de ombros, tinha confiança, mas talvez não conseguisse comer tudo também. Assim como Patrick que parecia cheio só de olhar.

Garfada após garfada iam empurrando a comida goela abaixo. Stella não aguentava mais, empurrou tudo para um lado e finalmente abriu o copo de 500ml de Guaraviton, aquele era o momento da prova. Os olhos sobre ela esperavam que ela experimentasse.

O sabor era estranho. Artificial. Não era lá essas coisas, mas ela tomou tudo, o que indicou secretamente que havia gostado, ou apenas tentava agradar a Patrick...? Não. Ela não queria agradá-lo... queria?

Voltaram a andar em direção ao Shopping, os três conversavam sobre assuntos aleatórios, Igor fazia praticamente uma entrevista, bom, Patrick respondia o quanto podia e Stella ria.

— Que horas são? — Perguntou Stella quando entraram no estacionamento do Shopping.

— 13h30 — disse Igor ao olhar para o relógio de pulso.

— Que horas que vocês irão embora? — Patrick perguntou olhando nos olhos de Stella.

— 15h30, quase 16h. Isso depende da pressa do nosso guia.

Igor riu, mas teve que concordar.

— Não é muito tempo — Igor disse mais tarde, novamente tiveram que concordar, o tempo era curto.

Entraram no Shopping e se encontraram mais uma vez com a galera que estava na praia.

Os amigos de Stella sempre lançavam umas expressões engraçadas em sua direção, e ela acreditava que era por causa da presença significativa de Patrick, quem não iria reparar e um homem alto, de cabelos sedosos e sorriso cativante? Apenas cegos, é claro.

O rapaz de aparência praiana estava tranquilo, retribuía os sorrisos lançados em sua direção, e olhava na direção de Stella, mas nem sempre ela reparava, lerda como era não percebia muita coisa.

Andando lado a lado com Patrick, Stella simplesmente disse rindo, como se realmente fosse engraçado todos acharem a mesma coisa:

— Todo mundo acha que estamos nos pegando.

— Só você não acha isso.

Ela franziu a testa, em fração de segundos uma ideia passou pela sua cabeça, mas quando seus olhos se encontraram a ideia desapareceu e se esquecera do que tinha pensado. Por isso ela apenas riu.

— A gente namora, não é? — Ele disse em um tom de brincadeira.

— É verdade.

Namoravam até mesmo quando namoravam outras pessoas, nem sequer sabiam e nem sequer se lembravam.

Numa loja, mais aleatória do que qualquer outra, os dois olhavam quadros artísticos, pinturas, fotografias, desenhos... longos minutos foram gastos ali... gastos não! Investidos. Porque qualquer momento que se passa com alguém considerado importante, deixa de ser um gasto e passa a ser um investimento de tempo, porque aqueles momentos nunca serão lembrados da mesma forma. E Stella acreditava fielmente naquilo. Com todas as suas forças, pode-se dizer.

Stella respirou fundo, o tempo estava acabando e quanto mais passava ao lado de Patrick, menos queria ir embora. Aquele sentimento era desconfortável, porque nada durava o suficiente.

— Cansei — disse Patrick a ela, continuar olhando para aquilo o entediou. — Quer ver outra coisa? Ou quer continuar vendo?

— Ah, não. Podemos ir — caminharam para fora da loja dando um aceno rápido para os vendedores que acreditaram terem ganhado um cliente, uma pena, porque não ganharam, apenas dois espectadores aleatórios, que provavelmente nunca mais voltariam ali.

— Quer ir à Lojas Americanas? Caso queira comprar algo para a viagem — deu de ombros, tentando encontrar algo para fazerem enquanto ainda havia tempo.

— Pode ser! — Se animou.

E caminharam por longos minutos, mas nunca encontraram a loja. Que frustração, ao menos estavam juntos, ainda.

Stella teve a atenção puxada para uma loja diferente, produtos japoneses. Maluca como era e fã de toda cultura asiática, apressou os passos naquela direção e o rapaz foi automaticamente arrastado para aquele cenário.

— Encontrou algo que gostou? — Perguntou mais tarde, mas tudo parecia caro demais para as pequenas economias de Stella.

— Não exatamente. São coisas legais, mas nada que me faça comprar de verdade.

O horário os denunciou. Estava na hora dela ir embora.

— Ah, droga. Já são 15hrs. Eu tenho que encontrar a galera porque não tenho ideia de onde o ônibus foi estacionado.

Ele concordou e caminhou com ela até a entrada do Shopping.

— Então vou chamar um Uber.

Stella concordou.

Três amigas de Stella a encontraram na entrada, sorriram para ela e acenaram depressa para Patrick.

— Stella você já vai? Estamos indo para o ônibus, se quiser vem com a gente.

Nunca tinha presenciado uma indecisão antes e tão complicada. Olhou para suas amigas que pararam ao seu lado e então para Patrick que a encarava com aqueles adoráveis olhos.

"Adoráveis?", se questionou, mas não pôde prolongar naquilo já que suas amigas se apressaram para ir.

A dúvida bateu.

Deveria beijá-lo e sair correndo com suas amigas. Deveria ficar um pouco mais e esperar por Igor e os outros? Ah, meu Deus! O que ela estava pensando?

Enquanto todos os pensamentos se embaralhavam em sua mente em questão de segundos, milésimos, Patrick a encarava. Seus olhos nos dela, não sabia ela se ele compreendia a dúvida cruel que passava diversas vezes em sua mente.

— Elas estão indo, Stella — ele a lembrou, o sorriso nos lábios era engraçado, talvez ele não estivesse sorrindo exatamente para ela ou por conta da situação, mas talvez estivesse sorrindo por sorrir. Ela não saberia dizer, não podia ler sua mente e nem a compreender. — Stella?

Resultado: suas amigas se foram.

— Elas se foram — contestou o óbvio.

— Eu não queria te deixar ainda — disse sem mais e nem menos, naquele momento não parecia ser grande coisa. Talvez não fosse, mas num futuro distante, aquelas palavras nunca iriam deixar sua mente, ainda mais como falara e como se segurara nele.

— Eu já chamei o Uber — disse — ele deve chegar a qualquer momento.

Ela preferiria vê-lo partir a sair e deixa-lo para trás.

Stella o abraçou mais uma vez, uma de tantas e tantas daquele mesmo dia. Seu coração se apertou pela despedida, não gostava muito de se despedir dos seus amigos, mas acontece que aquela despedida era impossível evitar. A menos que nunca tivessem se encontrado.

O abraçou mais uma vez e se ouviu dizer:

— Não quero ir embora.

Sua carona havia chegado e ele tinha que partir. Stella o viu ir embora, com um sorriso no rosto o viu sumir pela estrada e voltou para dentro do Shopping, agora precisava encontrar Igor e os outros. Voltar para o ônibus seria uma tortura.

Será que ela deveria tê-lo beijado?

Uma dúvida que nunca será respondida.

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