12 Capítulo 11 - Acerto critico

Aviso: Neste capítulo eu experimentei algo um pouco diferente. Nele revezo entre memórias e acontecimentos atuais. Tudo no intuito de aumentar a dramaticidade dos eventos. Também tentei trazer um pouco de características shonen para a obra, imitando aquelas batalhas clássicas onde os personagens secundários a luta conversam enquanto as coisas acontecem. Não sei se deu certo ou se fiz da melhor forma, mas adorei escrevê-lo e ele já se tornou um dos meus capítulos preferidos. Então espero que vocês se divirtam assim como eu me diverti! ;)

Ah é, só lembrando que Itálico representa memórias. Mais precisamente, os diálogos que acontecem nas recordações.

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~Essa espada não é meio exagerada pra você?~ Uma garotinha munida com um pedaço de madeira em forma de lâmina empunhavel arregalou os olhos ao ver a arma que sua treinadora carregava consigo.

~Tudo bem, estou acostumada com ela.~ A moça de cabelos castanhos sorriu.

Enquanto observava sua guarda-costas se posicionar, estudando atentamente o seu adversário, memórias recentes vieram à tona. Uma cena que ocorreu pouco antes de Develine abusar do seu treinamento e desmaiar, invadiu a mente da garotinha.

~Posso pegar?~ Ela pediu, querendo sentir o peso daquela arma exagerada. "Deve pesar pelo menos cinco quilos", foi o que ela pensou na época.

~Não sei, senhorita.~ Tânia ficou indecisa. ~É uma espada longa demais para o seu tamanho, a senhorita pode acabar se machucando ao tentar empunhá-la~ completou.

~Olha quem diz! Só a lâmina é quase do seu tamanho.~ Develine apontou o fato.

Com aquelas memórias ressurgindo, a garotinha sorriu, assistindo ambos os guerreiros se observarem com cautela. Vendo o sorriso presunçoso de Eliseu e o olhar sério de Tânia, ela teve uma boa sensação quanto ao resultado daquela disputa.

Com sua base firme como uma rocha, Tânia respirou fundo. Naquele instante sua mente trabalhava a mil. Mesmo que o guerreiro diante dela fosse arrogante, ela sabia que deveria ser cuidadosa caso quisesse continuar viva.

— É uma ótima base! Bastante firme, tenho que admitir — acaricou seu próprio queixo —, mas se me permite — Eliseu sorriu —, lhe mostrarei em primeira mão a diferença entre nossos níveis.

Foi algo sútil. Uma sensação estranha permeou o ar e, logo em seguida, diante dos olhos de todos, a espada do cavaleiro ganhou um ameaçador brilho etéreo azulado.

— Aura da espada — Curoni amargou. — Essa é a principal diferença entre os guerreiros que alcançaram o oitavo nível de cultivação e os que ainda não alcançaram — disse, já prevendo um péssimo resultado.

— Você é muito pessimista — Develine reclamou em tom de brincadeira.

— Mesmo que a espada dela seja grande e pesada, três a cinco quilos jamais fariam diferença diante do poder da aura de Eliseu — Curoni respondeu, e tentando fazer a jovenzinha entender o que ele queria dizer, completou: — Ele não apenas está no nível oito, ele está no ápice do nível oito.

Aquela didática desnecessária quase fez Develine revirar os olhos, mas a garotinha resistiu à tentação. Ela entendia o que o cavaleiro estava falando. Cada nível de cultivação possuía um total de quatro divisões de domínio, sendo elas: básico, médio, alto e ápice. Que, por definição, representam a progressão do artista marcial.

Sempre que um guerreiro transcende em sua cultivação, ele sai do estado de ápice do nível anterior e avança para o básico do nível seguinte. Tomando Tânia como exemplo, quando ela transcender em sua cultivação saíra do ápice do nível nove para o básico do nível oito.

Develine entendia isso, mesmo antes de voltar no tempo, lá no período em que ainda era uma criança, ela já entedia essas coisas, pois o seu pai fazia questão de tratá-la como idiota, porém, em sua conjuntura atual; ela preferia evitar a fadiga de uma discussão. Aqueles homens eram rígidos em suas crenças; assim como seu pai era e ainda é, logo, a melhor maneira de convencê-los era mostrando resultados.

— Apenas observe com atenção, senhor Curoni — Develine não se intimidou.

~Tudo bem, eu deixo a senhorita pegar, mas tome cuidado ao empunhá-la.~ Tânia cedeu, ainda um pouco receosa, mas, mesmo assim, catou a arma e a entregou para a garotinha.

Empolgada, Develine agarrou o cabo, e quando sua guarda-costas soltou a espada, o item caiu no chão sem resistência alguma.

~Eu lhe avisei, senhorita!~ Tânia disparou assim que viu a arma escapulir das frágeis mãos da sua aprendiz. ~Meu senhor divino, serei açoitada!~ Ficou desesperada. ~A senhorita machucou?~ Abaixou para verificar o bem-estar da pequenina.

Develine estava em choque. Era pesado demais.

"Não têm muito o que eu possa fazer" Curoni suspirou mais uma vez. "Ela é uma princesa, não posso exigir que ela entenda algo sobre artes marciais" o homenzarrão ficou levemente irritado, desapontado com a situação e, principalmente, desapontado consigo mesmo.

Enquanto ele ainda murmurava, perdido em pensamentos, observando ambos os guerreiros se encarem e dando como certo a vitória do seu companheiro de casta, Tânia respirou fundo e fez o primeiro movimento.

Ficar parada pensando no poder do seu adversário não acabaria com aquela luta, ela sabia disso e por isso se moveu.

Eliseu estava confiante em seu poder. Ele era um orgulhoso cavaleiro do império, um homem que logo cedo desenvolveu habilidades excepcionais e se destacou. Após muitas proezas no campo de batalha, ele foi reconhecido como um profissional confiável, porém, suas habilidades pareciam ter estagnado.

Por mais que ele se esforçasse, sentia que sair do nível oito era quase impossível, e foi com esse sentimento pesaroso de estagnação cegando seu julgamento que ele começou a usar suas conexões para adquirir boas posições. Ele estava perto de se tornar um capitão. O problema é que o destino de uma pessoa arrogante tende a ser o inverso do que ela espera.

Em uma ascensão meteórica, um jovem surgiu. Em pouco tempo Curoni alcançou a mesma posição, e diante dos olhos de todos, superou Eliseu.

Quando Curoni apareceu os sonhos de Eliseu foram abalados, mas aquela batalha era uma oportunidade única de recolocar sua vida nos trilhos. Era assim que ele a estava encarando.

"É pedir demais se tornar um capitão e aposentar nessa posição?" pensou. "Eu lutei por essa família, eu mereço isso", ele se deixou levar pela soberba. "Mas hoje eu serei reconhecido", sorriu.

Seus planos estavam claros. Ao se tornar guarda-costas de um membro da família imperial ele automaticamente ganharia um enorme prestígio.

Em questão de instantes uma infinidade de pensamentos atingiu a mente dos cavaleiros que observavam o embate. Suas opiniões sobre o resultado estavam obvias em seus semblantes. Todos esperavam que Eliseu saísse vitorioso.

~E-eu pensei que perderia os meus braços.~ Develine disparou assustada, olhando para suas próprias mãos no intuito de verificar se elas ainda estavam no lugar certo.

Quando ela pegou a arma que sua guarda-costas conseguia movimentar com uma mão só, seus músculos gemeram, avisando-lhe que deveria soltar. Bastou apenas tocar no item para perceber que aquela arma era anormal.

~Eu não posso ser fraca a ponto de mal resistir a cinco quilos, certo?~ Develine ficou momentaneamente atordoada com a possibilidade.

~Droga!~ Tânia praguejou, levando sua mão até o rosto após ter se lembrado de um detalhe. ~Me perdoe por isso, princesa!~ Tânia prontamente se ajoelhou. ~Juro que não foi por mal.~

~O quê?~ Develine ficou confusa.

~Não é que senhorita seja absurdamente fraca, é que eu sou uma idiota. Me perdoe!~ Ela se apressou para desfazer o mal-entendido. ~Eu deveria ter me lembrado, mas como eu uso essa coisa o tempo inteiro, acabei me esquecendo do quanto essa espada realmente pesa~ disse, emitindo um sorriso amargo no processo.

~E quanto isso pesa?~ Develine perguntou, espantada com a afirmação da sua jovem professora de esgrima.

Sua guarda-costas sorriu desconcertada.

Tânia foi a primeira a avançar. Flexionando suas pernas suas fibras foram tensionadas ao ápice. Como se disparada por um estilingue, ela foi catapultada em direção a Eliseu; e se movendo de maneira ágil, concisa e direta fechou a distância que havia entre eles.

Contudo, mesmo diante do avanço feroz da brava guerreira, ficando impressionado com o fato de a moça se mover tão bem com uma arma tão grande presa em sua cintura, Eliseu se manteve firme. Ele tinha certeza de que ganharia aquela disputa.

Abusando da sua experiência ele previu com perfeição as pretensões da garota vencendo a passos largos a distância entre eles. No momento em que a jovem alcançou o ponto no qual queria, ela parou e apertou firmemente o cabo da sua espada, pronta para realizar um movimento de ataque.

— O que?! — Eliseu ficou confuso. "Você está longe demais, idiota!" Encarou a moça, medindo o tamanho da lâmina daquela arma com base na bainha que ela possui e percebendo que a distância na qual a jovem parou era insuficiente para alcançá-lo. "Você realmente sabe lutar?" Ficou estarrecido.

Quando uma veia saltou no rosto do cavaleiro, irado com a possibilidade de aquilo ser uma brincadeira de mal gosto, Tânia sorriu.

— Está rindo? — ele ficou incrédulo, querendo zombar da garota diante dele. — Mas como pretende sacar esse trambolho? — gozou da situação apontando o fato de que Tânia nem sequer tinha sua espada em mãos.

A mulher se manteve firme. Desde de que ela desafiou Eliseu, aquele foi o primeiro sorriso que ela se permitiu dar. Ao ver aquilo, ao ver a confiança que Tânia exalava, o cavaleiro de cabelos negros sentiu um certo desconforto.

No instante em que a jovem tocou o cabo da sua arma a bainha desapareceu no ar.

— Uma bainha mágica? Legal, que grande surpresa — parabenizou, fazendo pouco-caso.

O sorriso de Tânia alargou.

"Esgrima Gardnif, capítulo 1, versículo 12, Horizonte" As palavras vieram a mente da guerreira e seu corpo reagiu, ativando sua memória muscular e se lembrando do quanto treinou, repetiu e se esforçou para dominar cada um dos movimentos criados pelos seus ancestrais e refinados pelos descendentes dos mesmos.

Com sua perna direita a frente servindo como apoio, ela fez um giro.

Eliseu mal teve tempo de ficar confuso, quando deu por si, a espada dela estava diante dele. Foi como se a lâmina de Tânia tivesse crescido no meio do caminho.

~Horizonte foi um movimento criado pelo nosso avô.~ Memórias nostálgicas preencheram a mente da guerreira de cabelos castanhos e olhar feroz.

Aquela era a voz do seu irmão do meio. A voz que sempre surgia para acalentar seu coração em momentos difíceis.

~Segundo o papai, nosso avô o criou quando viu o mar pela primeira vez, e inspirado pela vastidão do mundo e sua própria pequeneza, ele golpeou. Querendo alcançar distâncias inimagináveis, ele golpeou.~ Vendo os olhinhos brilhantes da sua irmã, o rapaz de tom doce fraquejou, sentindo um certo amargor em sua boca enquanto temia pelo futuro daquela criança. ~Querendo ser mais do que ele podia ser, ele golpeou, e por isso eu estou te ensinando esse movimento.~ Ele acariciou a cabeça da pequena Tânia, sua querida irmãzinha. ~Sempre que duvidarem de você, golpeie, sempre que disserem que você não pode, golpeie. Apenas golpeie Tânia, golpeie para derrubar todas as paredes em seu caminho, pois eu acredito em você.~ Ele sorriu. ~Então dívida o mundo em dois, minha pequena.~

Aquelas foram as últimas palavras que Tânia ouviu sair da boca dele. Pouco tempo depois seu irmão viajou e ela recebeu a noticia, o mesmo faleceu; morto em meio a um conflito contra os Reinos Unidos de Azenfor. Aquela foi a ultima conversa que tiveram antes dele partir e nunca mais voltar.

"Pode deixar" E assim como naquele dia, ela o respondeu da mesma forma. "Eu dividirei", sorriu.

"Só preciso defender" Diante do golpe preciso as incontáveis experiências de Eliseu vieram à tona e ele rapidamente traçou um plano com base em sua observação aguçada. "Após defender, o movimento de alavanca vai propulsioná-la para frente, se eu redirecionar sua arma para baixo com a minha lâmina, posso resvalar minha espada sobre a lâmina dela e acertar o seu pescoço." Em questão de milésimos ele pensou em uma defesa e um contra-ataque.

Essa era a principal diferença entre um cavaleiro experiente e um iniciante, a característica que pode destacar sua utilidade mesmo dentre os mais poderosos.

— Acabou — Curoni suspirou, conseguindo prever cada movimento que Eliseu faria.

Porém, independente da experiência que um indivíduo possuí, um elemento surpresa é sempre um elemento surpresa.

~Du-duzentos quilos, minha princesa.~ Tânia respondeu à pergunta, ficando envergonhada.

A mente de Develine ficou em branco por alguns instantes, processando a frase. ~O que?!~ Foi a única coisa que conseguiu dizer, descrendo no que escutou e duvidando da sua própria audição.

~Minha espada, senhorita...~ Tânia a relembrou. ~Ela pesa duzentos quilos~ se repetiu.

Quando a enorme arma de metal tocou a lâmina de Eliseu, lâmina esta que estava pronta para aparar aquele golpe, o mesmo sentiu.

— Hã!? — Foi o único questionamento que teve tempo de lançar.

Seus braços cederam, seus músculos choraram e o peso de metal que foi acelerado devido à técnica marcial de Tânia se tornou um porrete sem igual.

Surpreso, o cavaleiro vacilou em sua defesa e logo em seguida sentiu um choque absurdo em seu ombro direito.

Como se fosse um pedaço de papel ou uma bola de baseball; Eliseu perdeu o contato com o chão e seu corpo voou.

Com exceção de Develine, todos os espectadores ficaram boquiabertos.

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