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Situação 00

Mar de fogo a cinquenta metros de altura. Duas pessoas tinham acabado de sair da porta de entrada, para o exterior do Aerogerador. O fogo veio de dentro e contaminou o exterior com rapidez. Somente um do dois estava em seu juízo perfeito.

Erique Noites e Keirolyne, novatos naquele trabalho, sendo oficialmente sua quarta subida para checar os circuitos. De alguma forma eles conseguiram estragar tudo, enfrentando a situação em que estão agora.

Foi repentino, a explosão acertou em cheio os tímpanos de Keirolyne, a deixando surda por um breve momento. Para completar a desgraça, o impulso do choque fez ela bater a cabeça com força, desmaiando na hora.

Não havia tempo para ver a profundidade do golpe. Erique puxou ela para fora, sem antes pensar em abandona-la ali mesmo. Assim que saíram as chamas se alastraram.

Que situação assombrosa. 

Como sair dali?

A cada segundo o fogo continuava a se espalhar.

Erique deveria pensar bem no que fazer, e na velocidade de seu raciocínio… Ele certamente estava perdido.

O topo de um aerogerador é um dos lugares mais perigosos de se estar. O que parece ser grande, na verdade é um cubículo, tão apertado quanto uma caixa de sapatos com pisca-pisca de Natal.

A única forma de subir e descer é por uma escada que não permite muita mobilidade. É regra duas pessoas subirem juntas.

Mas como eles vão descer?

Ela deveria descer também.

Erique lutava com seus instintos, sentimentos e sua vontade de ser humano. Deixar ela ou não? Não havia tempo para perguntas como essa!

Pegou seu Walkey-Talkey e tentou chamar ajuda da central. Eles estavam no meio do nada, sim, mas notar a falha de um aerogerador era mais simples graças às inovações tecnológicas. Então sim, alguém viria os socorrer, ou melhor, parar o fogo… Mas daria tempo?

— O gerador explodiu e minha dupla acabou de desmaiar! Estamos no parque Eólico de São Vicente, repito, estamos no parque Eólico de São- — Uma explosão nas costas de Erique. — Porra!

Mais uma vez o impulso. De uma hora pra outra foram propulsionados para a frente. A mulher desmaiada voou no ar, Erique caiu e foi arremessado, arranhando suas pernas. Keirolyne estava prestes a encontrar seu fim numa queda livre, quando Erique conseguiu segurar seu braço no último momento.

Ele a puxou devolta.

— Merda…

Alguém respondeu o Walkey-Talkey!

— Vocês vão precisar descer as escadas, a ajuda está a caminho!

— Descer?! Tá tudo coberto de fogo! Pegar numa escada de ferro nessa situação…

— Vocês estão usando luvas térmicas, não estão? Apenas desçam e se afastem o máximo que puderem!

Eles já começaram errados.

Erique pegou sua companheira e a colocou nas costas, os unindo com uma corda. Era hora de descer

Segurou seu fôlego e tomou coragem, entrou de cabeça no fogo.

Mesmo antes de se aproximar, começou a doer. Mergulharam no fogo, se queimando a todos os momentos. Em uma passada, chegaram na escada… 

Rodeado pela adrenalina, Erique cerrou os punhos e mordeu os lábios, deixando o sangue fluir do canto de sua boca.

Sem tempo.

Revestido por roupas espessas, se sentia no inferno. Mas havia esperança!

Tocou a bota na escada e foi descendo, dando graças a Deus de usar luvas térmicas. Já seu rosto… A agonia era indescritível. Ele já não pensava mais em Keirolyne. Se ela fosse um problema para sua sobrevivência, azar.

Erique foi descendo as escadas, aguentando as dores com velocidade. Até pensou em imitar os jogos em situações como essa, deslizando pela escada… Mas era impossível.

De repente, uma nova explosão!

Finalmente os escombros começaram a cair. Erique tinha medo colocar a cabeça para cima - para ver seu fim -, e para baixo - para ver o quanto faltava. Medo.

Nova desgraça, dois pregos desceram em alta velocidade. Eram os pregos que seguravam o topo da escada, e agora… A escada começou a cair.

Eles… Ele, como Erique pensava, estava no meio do caminho. Então, a escada horizontal, virou diagonal. O golpe foi forte!

Se fosse uma só pessoa, já estava em uma situação de extremo perigo… Mas Erique deveria arcar com as consequências de ter se amarrado a Keirolyne.

— Não, não, não!

Ele não encontrava mais forças. No susto soltou uma mão, tendo uma só sustentando dois corpos a 30 metros de altura. Passou por sua cabeça só desistir… Seria rápido, não?

Mas ele tinha medo de morrer.

De qualquer forma, se não se apressase cairia da escada. Não dava pra soltar Keirolyne, que era mais que comprovada um estorvo para sua vida. O único jeito era seguir pelas costas da escada, tendo que se virar para isso.

Precisava fazer isso.

Tentou por toda a força que conseguia, e foi capaz de colocar a outra mão na barra. Se virar era o problema… Tinha que usar as pernas para isso. Continuou indo de mão em mão pelas barras, aos poucos seguindo para baixo. Chegou o momento onde precisava se virar…

O fogo estava abaixando… Mas o mais perigoso era a fumaça, que cobria o interior da torre. Em alguns minutos Erique morreria. Pensando nisso, ele obteve força para virar e subir na escada.

Quase caiu, isso por culpa de Keirolyne, mais uma vez. Ele se abraçou a escada, em choque… Olhou para baixo. Escuridão.

— Se eu cair de 30 metros eu vou morrer, se eu cair de 30 metros eu vou morrer, se eu cair de 30 metr- Keirolyne.

A resposta para seus problemas estava nas suas costas.

Sim.

— Sim.

Ele só precisava procurar a altura certa.

— Eu só preciso procurar a altura certa…

E se jogar sem medo.

— E usar ela de almofada.

Sem pensar muito, coberto pela fumaça, sem respirar direito… Fez. Se jogando com Keirolyne em suas costas. No mínimo o impacto não seria tão desastroso.

30 metros passaram num piscar de olhos. Levou três segundos para ele bater no chão.

— Ahhhhh! Cof cof cof…!

Doeu, mais doeu muito. Keirolyne, óbvio, foi amassada completamente, espalhando partes de seu corpo pelo chão do lugar. O impacto ainda bateu em Erique. Mesmo tentando, suas cabeças se bateram, e Erique sentiu algo rachar.

Tonto, ele pelo menos seguiu vivo.

Se levantou. Um pedregulho caiu em sua frente, espalhando parte dos intestinos do que era Keirolyne no rosto de Erique. Vontade de vomitar? Não, de viver. 

Após se levantar, olhou para cima, boquiaberto. Ele conseguiu… Ele está vivo

… Ele sobreviveu… Àquilo. 

Sem tanto peso nas suas costas, estava de frente a porta, sua salvação. Deu um passo, dois, correu! Conseguiu sair daquela maldita torre! Conseguiu sair vivo!

— Sim, porra! Graças a Deus, eu sai vivo, porra! Caralho!

Ficou de joelhos na terra seca.

— Deus…

Começou a chorar.

— Eu estou vivo… Graças a…

E um escombro caiu em cima dele.