1 Prólogo - Lamentação 1: O mundo que vejo ao fechar os olhos

Eu acordei tristemente hoje por ter dormido a noite após ter chorado um pouco. Angustiado pela vida e em como o mundo é horrível. Uma sensação de perda preencheu meu peito e eu só pude chorar angustiado.

Eu chorei e chorei.

Chorei até minhas lágrimas serem absorvidas pelo travesseiro e dormi sobre elas.

Então o amanhecer veio.

Raios de luzes adentravam as frestas do meu quarto, então sabia que já era dia. As janelas ainda estavam fechadas.

Normalmente eu acordo com o barulho inquietante do despertador e isso machuca minha cabeça e o meu humor matutino.

Mas aqui eu sinto que fui acordado com carinho e leveza.

Demorei alguns segundos até perceber que alguém cutucava minha bochecha enquanto me olhava rindo meigamente.

— Sado. Ei, Sado, acorde. — ela disse sorrindo.

Sim. Ela estava ali.

Uma menina ao lado da minha cama me observando dormir e que me acordou logo em seguida.

Eu amo quando me encontro com ela. Quando durmo e venho parar aqui neste mundo. Quando eu acordo aqui, do outro lado da Realidade.

— Yuki...

— Oiê.

Era ela. Com um sorriso fofo no rosto, olhos de cores diferentes e cabelos brancos, finos e lisos. Era com certeza ela.

O aroma da sua roupa e de seus cabelos eram indistinguíveis.

Eu sorri ao ver que apareci aqui novamente.

— Então eu vim... Sentiu minha falta?

— Nem um pouco. Estou sempre com você, você sabe.

— É...

— Ah, coé, Sado. Não faça essa cara aqui, entendeu? Você sabe que é verdade.

Ela faz beicinho.

— ...Você sabe que eu não tenho motivos para discordar ou duvidar de você, Yuki. É que eu ando me sentindo super distante desse mundo a cada dia que passa. Consequentemente de você... As dores do meu mundo me acompanham a todo o momento. E quando estou sozinho, tudo fica pior. Eu sinto que sofro sozinho por lá...

— Poxa... — ela aparenta tristeza em seus olhos com o meu discurso deprê, mas logo se animou pois não era do feitio dela estar triste. — Vem cá. Esqueça tudo isso. Você está aqui agora. E eu estou com você. Estarei sempre que precisar, Sadinho.

Ela me abraçou e eu senti os dedos dela acariciando a minha nuca, passando pelos meus cabelos.

Arrepios eu tive, e logo, me sobreveio uma imensa vontade de chorar.

— .....

Eu chorei no ombro dela, descarregando minhas dores e sentindo-me grato por tê-la para mim.

Somente para mim.

E então, após isso, eu sorri para ela e nos levantamos para continuar o dia.

Yuki era muito alegre, e esse mundo não havia dor.

Era um mundo idêntico ao meu.

Mas sem dor. Sem miséria. Sem tragédia. Sem mágoas.

Não existia discórdia. Não existia ressentimentos. Não havia preocupações.

Os dias eram sempre divertidos e o sol era maravilhoso.

Caminhadas ao ar livre ou ficar e cuidar da casa junto com ela.

Ela é minha melhor amiga aqui. Não... É mais do que isso. Faz parte de mim o que ela é. É a parte do meu coração que me traz felicidade genuína.

Me traz paz de espírito e me deixa livre dos pensamentos.

As noites aqui, quando eu consigo durar o dia inteiro sem acordar, são lindas e limpas.

O céu é estrelado e limpo. O frescor da noite recai sobre nós através do ar.

As ruas são quietas mas pode-se escutar o barulho dos ventos, alguns veículos a distância na rua ali perto, grilos na mata e vagalumes que brilham por perto.

Não tem mosquitos e isso é bom.

Eu poderia ficar horas e horas deitado no telhado — Yuki ao meu lado — olhando as estrelas, o cosmos, sentindo a brisa e conversando sobre coisas, só nós dois, até rirmos o suficiente ou nos cansarmos.

Amo-a. Amo-a muito.

Não é nada sexual. Nunca será.

Também é um amor diferente da paixão.

Ela me trás paz, e o sentimento de necessidade desaparece.

Ela faz parte do meu coração e me protege do mundo ruim.

O problema é quando eu acordo...

— ...

Volto para esse lado do mundo. Sem graça, triste e cruel.

Ela não está mais aqui. Não a vejo em lugar algum.

Tudo o que restou foram memórias.

Memórias de um algo que só eu sei... Só eu lembro...

E o que me resta é enfrentar mais um dia de vida nesse mundo de solidão, amargura e ódio.

Um mundo detestável...

Um mundo sem a presença completa dela.

...Queria estar preso com ela para sempre e nunca mais voltar.