1 Kowalsk Em Fuga

Autor: Kallium

Editor: Shaduum

Kowalsk corria como um louco desesperado, não queria desistir, mas não aguentava mais fugir pois além de estar muito cansado, estava ferido e com fome.

Enquanto que seu perseguidor estava em ótima forma, perfeitamente saudável porém com muita fome.

Exceto pela fome, a discrepância entre ambos era enorme.

Kowalsk estava com 49 anos e até dois anos atrás estava em plena forma pois havia servido alguns anos no exército de seu país e desde então ele nunca deixara de se exercitar .

Seu corpo outrora musculoso, com bíceps e peitorais de causar inveja a muitos marmanjos de academia, agora era apenas uma sombra do que havia sido antes.

Apesar disso ainda conseguia ser veloz, porém seu fôlego curto não lhe dava vantagem alguma.

Já o seu perseguidor tinha apenas 2 anos e estava quase no auge de suas forças.

Era rápido e esguio tanto quanto um esquilo poderia ser, com a diferença de ser maior do que um elefante e como se isso ainda não fosse o suficiente, tinha um excelente fôlego e por acaso voava muito bem.

Então a criatura deu um vôo rasante pegando Kowalsk pelos ombros e com suas afiadas garras perfurou-o imediatamente, fazendo esguichar sangue a vontade.

O velho ex-soldado gritou com tanta força que chamou a atenção de outras criaturas aladas que estavam nas proximidades.

O algoz de Kowalsk foi pego de surpresa por criaturas iguais a ele, exceto que não tinham sua experiência em combate aéreo.

Ainda assim acabou sendo ferido, então para defender-se melhor abriu suas garras soltando sua futura refeição que rolou barranco abaixo gritando e xingando em frases desconexas.

Depois de alguns segundos de dor e agonia tudo o que Kowalsk podia perceber é que estava no meio de um monte de lixo e podridão.

A criatura que ainda não havia esboçado nenhuma reação de ataque para os seus adversários ao ver Kowalsk tentando levantar-se para fugir, com um abrir e fechar rápido de asas e um grito de alfa predominante, assustou-os e novamente mergulhou para recapturar sua presa.

Afinal ela estava com fome e há dias que não tivera uma refeição decente, brigaria depois pelo território ou simplesmente descansaria após a refeição.

Kowalsk sabia que não teria outra chance como aquela para escapar.

Há muito tempo que descobrira que a sorte não bate duas vezes na mesma porta.

Então ignorando a dor de seus ombros perfurados levantou-se o mais rápido que pode e novamente começou a correr como um desesperado.

O medo de parar nas garras daquele bicho era muito grande e o maior motivo disso é que primeiro, aquele tipo de criatura costumava brincar com sua refeição e só depois a despedaçavam pouco a pouco, alimentando-se vagarosamente somente para trazer mais sofrimento e agonia para a infeliz vítima caçada.

Kowalsk já havia presenciado a esse tipo de cena muitas e muitas vezes, e em todas elas ele havia chegado tarde demais para ajudar.

Bons tempos aqueles que ele ainda possuía seu rifle de longo alcance, mas ainda sim ele chegava tarde demais.

Geralmente tudo que ele podia fazer era aliviar o sofrimento da vítima agonizante, o que deixava as criaturas um tanto quanto decepcionadas ao ver que sua presa não mais sofria.

Kowalsky sabia as manhas de entrar, eliminar e sair de um local sem deixar rastros ou vestígios de sua passagem pelo lugar.

E o principal, mantinha sempre uma boa e segura distância e de preferência contra o vento

Mas infelizmente um dia ele vacilou e chegou perto demais do covil da criatura e quando ele efetuou o disparo para o alívio de sua vítima, a criatura avistou o clarão no cano do rifle e em menos de meio minuto ele havia sido descoberto.

Com muito custo conseguiu escapar com vida mas para o seu azar, o dedo que usava para apertar o gatilho acabou virando sobremesa para a criatura que desde então vem caçando-o de tempos em tempos.

E pensando em tudo isso Kowalsk continuou a correr e mesmo sabendo que suas chances eram mínimas ele já não queria desistir.

Seu corpo se movia com dificuldade e a cada passo que dava mais pesado ele se sentia, enquanto seu sangue jorrava aos borbotões manchando ainda mais sua velha jaqueta militar.

Não sentia mais os seus braços, afinal o peçonhento veneno percorria em suas veias e ameaçava escurecer suas vista mudando o cenário drasticamente.

No entanto sua audição ainda estava boa e ele escutava perfeitamente uma mistura de grasnado e rugido vindo em sua direção.

Também conseguiu distinguir o bater de asas frenético e a freiada súbita das mesmas logo atrás de suas costas.

Ainda assim Kowalsk continuou correndo, cambaleando mas não parou.

Sentia que sua fuga era quase inútil, mas ele era guerreiro e mesmo que estivesse sem pernas ele não desistiria.

Subitamente sentiu uma mordiscada em uma de suas pernas.

Então ele caiu e dessa vez não levantou-se, apenas esboçou um sorriso com ar de vitorioso.

Iria morrer feliz pois sabia que era o único que tinha dado tanto trabalho para aquelas criaturas infelizes.

Chegou a matar algumas delas quando ainda eram filhotes, tão fácil quanto roubar um pirulito de uma criança.

Mas depois que começaram a crescerem exageradamente, nenhuma munição que ele armazenava conseguia penetrar no couro daqueles bichos.

Foi pensando nisso que o esboço de seu sorriso tornou-se maior, iria morrer na verdade mas, aqueles filhotes de coisa ruim que ele eliminara não iriam causar mal a mais ninguém.

Kowalsk estava engatinhando ás cegas e nem mesmo sabia para onde ir.

Havia perdido todo o seu senso de direção e pelos ferimentos que haviam em seus ombros e pernas, logo não haveria mais sangue em seu castigado corpo.

Sem saber se estava indo ou voltando ao encontro da criatura, engatinhou por mais alguns metros sem se dar conta que estava indo ao encontro de um bueiro com sua tampa meio afastada.

E ouvindo o barulho da asas mortais que se aproximavam para levá-lo ao seu passeio final, Kowalsk afobou-se e assim que as garras tocou em suas costas forçando-o para o chão, ele estava na ponta da tampa do bueiro.

Nesse momento Kowalsk sentiu que o solo estremeceu e por causa do longo tempo de fabricação e da pressão súbita de peso, a tampa de bueiro cedeu, levando-o para uma escura galeria subterrânea.

A fera decepcionada por perder o almoço novamente, sem entender o que havia acontecido ainda guinchou como se estivesse reclamando, mas logo bateu furiosamente suas grandes asas e saiu dali voando a procura de alguma coisa que pudesse comer.

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