1 Capítulo Um: “Eu serei uma boa menina”

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Puppet

Por: Shuya Sawyer

Capítulo Um: "Eu serei uma boa menina"

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"Por favor, leve-me daqui, eu prometo desesperadamente ser uma boa menina, para ser digna do seu amor.

Por favor, não fique com medo de mim, eu sou uma boa garota.

Eu apenas quero ficar com você e esquecer a minha tristeza.

Eu estou cansada de ser, a marionete desse mundo, traga-me livros, traga-me dores, no entanto, não me deixe sozinha."

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Durante anos, Karl Heinz, junto do seu segundo filho mais velho —A quem ele tinha mais confiança dentre os seus filhos, pois era o único que mostrava-lhe algum respeito ainda.— Sakamaki Reiji, caminhavam sempre em direção à floresta do sul, que localizava-se na direção oposta da Mansão Sakamaki. Porque eles sempre iam para essa floresta? Isto era porque naquela floresta, ficava localizada uma velha casa onde moravam duas mulheres, uma mais velha e outra mais nova, as duas, eram mãe e filha.

As mulheres nas quais Karl Heinz via acompanhado de seu filho, chamavam-se Mary e Anna. Mary, era mãe de Anna, e as duas eram as últimas sobreviventes diretas das "Ninfas do Bosque", mulheres puras e de bom coração que tinham a capacidade de falar com os animais e guiar forasteiros em meio a floresta, para que eles não se perdessem nos labirintos de árvores.

Elas eram as últimas pois nos tempos de "Caça às Bruxas" as Ninfas do Bosque foram vistas como bruxas ou mulheres com pactos por demônios, por conta das suas belas aparências —Sempre nasciam com uma pele branca, cabelos brancos e olhos vermelhos—.

A maldade no coração dos humanos julgou criaturas puras como as Ninfas do Bosque, e sendo assim Mary correu para salvar sua pequena menina Anna, que possuía apenas quatro anos de idade quando tudo começou. Inesperadamente naquele momento, ela aceitou a ajuda de um homem chamado "Karl Heinz" que escondeu-a na floresta e deu todo o suporte para que Mary vivesse junto de Anna para sempre, pois Ninfas do Bosque viviam eternamente se ninguém as matassem.

O motivo para Karl Heinz ter decido ajudar Mary era simples, ele acreditava que o coração puro das Ninfas do Bosque era idêntico ao coração puro de "Eva", e por conta disso, ele desejava fazer de Mary a sua própria Eva, e se não conseguisse, usaria Anna para isso.

Diante disto, Karl Heinz ajudava Mary com o que ela precisava, protegendo-a do mundo e até mesmo tendo um romance com ela —Que no começo era somente por interesses mas, depois de certo tempo, o frio vampiro Karl Heinz sentiu-se atraído pela mulher de longos cabelos brancos e olhos vermelhos, que assemelhava-se a uma serpente albina, que seduziu-o perfeitamente—.

Enquanto Mary e Karl Heinz mantinham um relacionamento, estranhamente Reiji sentiu-se atraído por Anna, uma menina tímida que observava-o a distância. Ela não era nada discreta e sempre que se escondia para observá-lo era bem óbvio, e por conta disso, Reiji julgava-a como "uma menina de coração inocente".

Algumas vezes Reiji provocava-a e tentava se aproximar de Anna, que timidamente corria dele, até que pouco a pouco os dois se aproximaram e com o tempo, o Sakamaki passou a ensiná-la modos e etiquetas, e até mesmo ensinou-a a ler e escrever, assim ambos passaram muito tempo, juntos.

Para Reiji, Anna era como uma bonequinha que ele deveria cuidar para agradar seu pai e consequentemente ganhar mais atenção da sua mãe —Que de fato gostava da forma como Reiji sempre acompanhava Karl Heinz nas idas à Floresta do Sul—. Porém com o tempo, Reiji percebeu que Anna não era somente uma "boneca" ou um "filhotinho" que ele cuidava as vezes, ela era mais do que isso, era alguém na qual ele importava-se. Ela era diferente dos humanos que ele detestava, e sendo assim, Reiji simplesmente não conseguia abandoná-la.

Anos e mais Anos se passaram, e agora, Anna não era mais uma menina que corria atrás de Reiji por onde quer que ele fosse —Mesmo que os dois tivessem a mesma idade—, agora ela era uma jovem dama que tornou-se tímida perto de Reiji, mas ainda assim mantinha-se próxima a ele e sempre aguardava que ele chegasse, sempre, todos os dias.

Agora nos tempos atuais, com a chegada de Yui à Mansão Sakamaki, Reiji passou a visitar menos a Casa da Floresta, e mesmo que não quisesse admitir para si mesmo, sentia falta de ensinar Anna no que ela lhe perguntasse, ou melhor, sentia falta da presença dela.

Atualmente Karl Heinz também estava mais ocupado, e diante disso, não poderia visitar Mary, que por algum motivo, estava doente e fraca.

O motivo para a doença de Mary, era o simples fato dos humanos terem passado a ameaçar invadir e destruir a floresta em que Anna e Mary viviam. A floresta era a fonte de vida das Ninfas do Bosque, que tiravam a energia das plantas e dos animais que viviam no bosque para viverem e se manterem belas, independente do tempo que se passasse.

Mary estava ficando doente porque era bem mais velha do que Anna, que ainda continha uma boa reserva de energia em seu interior, e por conta disso, Mary a cada dia ficava mais fraca, para a tristeza de Anna, que apenas tinha a mãe naquele momento, pois Reiji não estava ao seu lado.

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Mais uma cálida manhã iniciava-se na Floresta do Sul, que sempre amanhecia rodeada por uma densa e nebulosa névoa que contornava as árvores e deixava as janelas da casa de Mary e Anna, levemente úmidas. Aos poucos, os raios de sol ultrapassavam as densas cortinas de névoa, mostrando que mais um dia se iniciava cálido e ao mesmo tempo fresco. Pouco a pouco, os animais saiam das suas tocas e os pássaros começavam a voar à procura de comida.

Da mesma forma que os animais já estavam de pé, Anna também já estava acordava e bem-disposta. Arregaçando as suas mangas e pegando a sua vassoura, ela limpava as folhas caídas pelo quintal da velha casa de madeira.

—Anna, assim como sua mãe, possuía longos e ondulados cabelos brancos, uma pele pálida e olhos vermelhos como sangue, uma típica albina sem qualquer melanina em sua pele. Ela não era alta porém tinha um corpo delicado e proporcional a sua altura, com belos e medianos seios, uma cintura fina e coxas torneadas. Ela sempre poderia ser vista vestindo o seu costumeiro vestido azul-claro, com um avental branco na frente, que deixava um adorável laço nas suas costas.—

Após fazer suas tarefas como sempre, Anna preparava o café da manhã para sua mãe Mary, que nesta altura, sequer levantava-se da cama. Anna não sabia como poderia contatar Karl Heinz ou Reiji, ela não conhecia o caminho até a Mansão Sakamaki e também não poderia deixar sua mãe sozinha, sendo assim ela permanecia com uma angustia inacabável em seus ombros, pois nada poderia fazer pela sua mãe.

Entrando novamente na casa, após preparar um belo café da manhã para sua mãe, Anna entrou no quarto de Mary, vendo-a então sentada à beira da cama, com a mão sobre o peito ofegando.

—M-Mamãe… —Anna chamou-a em um tom assustado, logo colocando a bandeja de café da manhã sobre a cômoda ao lado da cama de Mary. —O que está sentindo, Mamãe? M-Me diga, por favor. —Perguntava estreitando suas sobrancelhas, transparecendo preocupação em seu olhar.

—Sinto-me cansada… somente isso, não se preocupe tanto comigo, Anna. —A mulher de longos cabelos brancos e olhos vermelhos como os de Anna, respondia-a em um tom de voz fraco porém suave. Mary estava realmente pálida, sua aparência era a de uma pessoa doente. —Eu já disse para não se preocupar tanto comigo, sua boba! Eu já sou uma mulher velha, deve se acostumar com a ideia de não me ter aqui, e por isso, deve ser uma boa menina. —Mary dizia em um tom realmente despreocupado, mostrando-se indiferente em relação ao seu estado.

—M-Mamãe, não diga isso, por favor. —Anna pedia em um tom choroso, ficando cabisbaixa. Ela apertava a barra do seu vestido azulado, ao sentir-se inútil naquele momento. —E-Eu vou ser uma boa menina… mas, eu não quero que você se vá. —Confessava sentando-se à beira da cama, deitando seu rosto no colo da mais velha, que logo começou a fazer suaves carinhos em seus cabelos.

—Anna, você deve entender que uma hora, o fim chega para todos nós, uma hora todos nós morremos. Até mesmo uma vida imortal não é eterna. —Mary dizia em um tom suave e menos ofegante, alisando suavemente os cabelos brancos da filha. —Karl… não virá. Ele provavelmente sabe que o meu fim está próximo, e por isso não quer me ver em meus últimos momentos, consequentemente Reiji também não virá, por isso… quando eu for, você deve ser uma boa menina e esperar que eles venham lhe buscar, entendeu? —Indagou vendo-a concordar e tentar esconder seus soluços. —Boa menina, agora… você me trazer um copo de água?

"Se eu soubesse que essa seria a última vez que eu ouviria a sua voz, eu não teria ido. Eu não pude ouvir o seu último suspiro e nem a sua última expressão, eu não pude fazer nada e você simplesmente se foi sozinha.

Porque você quis ser assim até o final, Mamãe?

Você sempre escondeu tudo e fingiu estar no controle, e quando você se foi, não foi diferente…

Você me fez de tola e simplesmente me mandou ir, para que eu não visse a sua face em dor, e quando eu retornei, apenas vi seu corpo desfalecido sobre a cama.

Você sabia que eu tive que lhe carregar e lhe enterrar sozinha?

Eu estava em lágrimas, minhas mãos doíam, mas eu deveria cuidar de tudo sozinha, porque agora você se foi, você simplesmente foi e me deixou sozinha.

"Você deve ser uma boa menina" Sim, eu sei. É por isso que agora, eu estou chorando e sorrindo em meio as lágrimas, tentando ser forte enquanto lhe enterro sozinha e choro sobre o seu túmulo com minhas mãos feridas por ter cavado uma cova com as mãos."

Naquele dia, Mary faleceu e Anna ficou sozinha por um longo tempo, atendendo os pedidos da sua mãe. Ela estava sendo uma boa garota que após tê-la enterrado, não derramou sequer uma única lágrima após esse dia, e assim, Anna permaneceu esperando que alguém aparecesse para tirá-la daquele mar de sofrimentos que aquela casa havia se tornado.

Com o tempo, as paredes da casa tornaram-se quebradas, as folhas das árvores acumularam-se ao redor e nada mais era limpo ali dentro. Anna simplesmente limpava o interior da casa quando seu corpo cansado permitia-lhe, afinal ela pouco a pouco perdia a vontade de viver, porém o que mantinha-a de pé, era o sentimento de que talvez não houvesse sido abandonada.

"Eu vou esperar por mais alguns dias" Anna repetiu isso para si mesma por um longo tempo, tanto tempo que mal percebeu que cerca de três anos haviam se passado. Todas as manhãs, todos os dias, todos os meses e todos os anos, ela sempre estará esperando-o solitariamente.

Todos os dias ela desejará vê-lo de alguma maneira, buscando a imagem elegante dele caminhando em direção a sua casa, imagem que ela sempre esperava observando, da janela quebrada do seu quarto.

—Eu estou sendo uma boa menina, eu juro que eu estou sendo, por isso, por favor. Reiji… não me abandone, e-eu estou esperando… por favor, não me abandone. —Anna implorava entre sussurros sôfregos, como sempre, mantendo-se encarando a janela.

"Se você for uma boa menina…

Milagres podem acontecer, Anna. Se você esperar e desejar verdadeiramente por algo, aquilo acontecerá, então apenas seja uma boa menina."

Naquele momento, Anna lembrou-se das palavras de sua mãe, e um belo sorriso brotou em seus lábios depois de um longo tempo. Ao observar novamente a janela, ela sentiu seu coração tremer e bater em um ritmo rápido, e assim, ela levantou-se correndo até a porta da sua casa.

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