Olhando para o teto do meu quarto, as lembranças do passado corroem a minha mente. Um suspiro amargo escapa dos meus lábios, junto com um nome em sussurro "Luna". A palavra presa nos meus lábios, carregada de uma tristeza que me sufoca. O peso das memórias passadas, sempre tão vívidas, me prende nesse ciclo de arrependimento e saudade. flashbacks do passado se desenrolam diante dos meus olhos como se fosse ontem, cenas de um tempo que ó vazio ainda não fazia parte de mim.
Lembro de Luna ainda sorrindo, incapaz de resistir àquele sorriso brincalhão, sempre a seguia como um bobo apaixonado.
— Lucas, vamos logo. Quero terminar a obra de arte no mural do diretor — disse ela, fazendo uma careta divertida segurando spray de tinta vermelha.
— Vai ser hilário! — Rindo quase sem pensar, enquanto tentava acompanhar seu ritmo acelerado, sentindo uma adrenalina inocente correr pelas veias.
A brisa fria da janela velha me traz de volta ao presente, arrepiando partes que nem sabia ser possível. Aquela mesma brisa reconfortante que me acompanhou no dia em que a vi pela última vez.
— Lucas, meus pais... — disse com os olhos marejados, tentando reunir coragem para continuar.
— meus pais vão mudar de cidade. Sinto muito...— se calou, chorando em prantos nos meus braços.
Naquele momento, tudo dentro de mim implorava para que eu a impedisse, para que dissesse algo que a fizesse ficar comigo. Mas eu apenas fiquei ali como um covarde, em silêncio, deixando que ela se afastasse, levando consigo uma parte do que era minha felicidade. Naquele dia, eu não deveria tê-la deixado ir.
Levantando da cama, sonolento e amargurado. Não faz muito tempo que soube da morte de Luna, e aquela notícia me devastou de uma forma que eu jamais imaginei sentir novamente. Como se minha sorte não fosse suficiente, ouvi dizer que ela tinha deixado uma filha para trás, uma na qual nunca conheci. Coloco a mão sobre a porta, pensando sobre tudo o que perdi, tudo que deixei de sentir, uma sombra do homem que um dia fui.
— O que estou fazendo com a minha vida! — murmuro para mim mesmo, a voz carregada de desgosto, Rangendo os dentes de raiva.
— Primeiro, perdi a garota que mais amei, segundo, sozinho sem família sem ninguém... Merda!
— Balanço a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos — Não, não posso me afundar na angústia tão cedo, não hoje.
Caminho lentamente até o banheiro, pousando a mão sobre a pia e puxo a maçaneta que dá acesso aos produtos de higiene pessoal. Apanho a escova de dentes e passo a pasta, escovando lentamente quando olho de relance para o espelho rachado, vendo um reflexo que quase não reconheço mais. Cuspo na pia lavo o rosto em seguida, repetindo internamente para mim mesmo que preciso sorrir, mesmo que esse sorriso seja falso.
Volto ao meu quarto abrindo ó guarda-roupa. Escolho um jeans azul desbotado e uma camiseta preta de algodão com estampa de grife. Decidi usar sapatos, tentando compor uma aparência minimamente apresentável por ser proprietário do local. Como meu apartamento é grande, costumo alugar alguns quartos nessa época do ano para estudantes, já que moro bem perto da universidade. É uma forma de manter a casa viva, alegre e cheia de movimento, ainda que, por fora, aparento ser frio, por dentro sinto uma pitada de felicidade. Coloco meu relógio no pulso e dou uma última olhada no reflexo do espelho, quando o som da campainha ecoa pela casa.
Apresso-me em direção à porta, o coração levemente acelerado. Giro a maçaneta e abro. Diante de mim, estão duas belas jovens, belas bem no significado da palavra. Um arrepio que percorre minha espinha. Selene, a garota à direita, tem olhos suaves, castanhos, e cabelos ondulados que caem sobre os ombros. Seus olhos, de um castanho claro, me prendem por um instante. Ela segura uma mala preta com firmeza perto dos pés, e algo em seu semblante é visivelmente reconfortante.
Antes que eu pudesse dizer qualquer palavra, Kate a outra jovem à esquerda, interrompe o silêncio com um sorriso travesso no olhar cheio de confiança.
— Vamos ficar aqui parados como idiotas ou você vai mostrar nosso quarto? — diz Kate, com uma mistura de impaciência e provocação.
— Engulo seco, tentando parecer indiferente. — Ah, claro! Desculpem, entrem, por favor — digo, abrindo a porta completamente para as duas.
— Selene com um sorriso tímido enquanto entra — Obrigada Lucas. Nós realmente apreciamos sua gentileza. Mudanças são sempre tão estressantes.
— Sim, especialmente quando se tem que lidar com idiotas que demoram séculos para abrir uma porta — acrescenta Kate, lançando um olhar divertido — Você é sempre assim tão distraído ou é só comigo?
— rindo nervoso, coçando a nuca — Bem, eu estava apenas tentando me certificar de que tudo estivesse em ordem pra chegada de vocês... mas, sim, talvez eu esteja um pouco distraído hoje, dada as circunstâncias — tentando aliviar o clima.
— Selene ri suavemente — Não liga pra minha irmã, Lucas. Ela gosta de implicar com todos. Principalmente os mais bon... — tossindo completou — É o jeitinho diferente dela.
— Sou apenas sincera, Selene — retruca Kate, com um sorriso malicioso — Aliás, você não deveria ser tão molenga. Vai acabar com uma úlcera se continuar guardando tudo desse jeito.
— Selene revira os olhos, mas seu sorriso permanece — E você deveria aprender a ser mais gentil e modesta Kate. Nem todo mundo precisa da sua sinceridade brutal.
— Aonde a diversão nisso? — cruzando os braços e me lança um olhar provocador — Você está avisado, Lucas. Se quiser sobreviver conosco, terá que se esforçar mais um pouquinho.
Eu tento sorrir, mas a intensidade do olhar de Águia de Kate é como uma tempestade que me arrasta para o passado.
— Acho que posso lidar com duas garotas como vocês facilmente — tento parecer confiante.
— cruzando os braços — Ótimo! Então onde é nosso quarto? — diz Kate com desdém.
— Ah, sim! Claro, me sigam — digo, tentando esconder o nervosismo.
— Caminho pelo corredor e paro em frente ao quarto preparado para elas — Aqui está. por favor entrem.
— Selene entra primeiro, analisando o espaço com um sorriso sereno — É perfeito. Muito obrigada pela hospitalidade e também pela gentileza — seus olhos brilhando com gratidão.
— Kate, no entanto, passa por mim como um raio em uma noite chuvosa, jogando sua mala no chão e se jogando na cama com um suspiro exagerado — Finalmente um pouco de paz! Longe do barulho ensurdecedor do avião.
— Selene ri suavemente e olha para mim com um ar cúmplice — Não ligue para ela, Lucas. Depois de algumas horas de sono, Kate vai parecer quase humana.
— Kate levanta lançando um risinho atrevido — quer dar uma volta e nos deixar trocar de roupa? Ou você vai ficar nos espiando?
— antes que eu possa responder, já estou fechando a porta às pressas corando de leve — Desculpem, vou preparar alguns lanches — murmuro para mim mesmo.
Ouço risadas abafadas do outro lado da porta e, por um instante, sorrio também.
— Volto para a cozinha com a mente confusa — Essas duas vão virar minha vida de cabeça pra baixo.