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Capítulo XVI - Raiva

Não estava sendo uma noite silenciosa como planejado. Explosões ecoavam pela floresta e luminosas labaredas surgiam dentre as árvores.

— Vivian, ataque comigo! — Klaus e sua subordinada combinaram suas magias de fogo, e projetaram um lança-chamas gigantesco em direção a besta, que cobriu seu corpo com os braços e fez sua investida através do ataque. Os dois magos saltaram para longe, a tempo do inimigo passar entre eles e acertar uma dúzia de árvores como um touro, despedaçando-as completamente.

— Pele duríssima e a prova de fogo, que opções nós temos agora!? — A garota perguntou ao seu chefe, enquanto Ana e Ismael assumiram a luta contra o demônio

— Não posso usar minhas magias mais destrutivas sem criar um rastro notável de destruição. Posso tentar criar um campo ilusório com magia se vocês conseguirem me dar um minuto. — Ele respondeu.

— Você vai acabar com seu estoque de magia se fizer isso! É uma área grande demais! — Vivian retrucou, achando a ideia absurda. Cobrir todas as redondezas com um disruptor sensorial para humanos era demais, mesmo para um mago habilidoso como ele. Ou pelo menos era o que a garota pensava.

— Eu sei o que estou fazendo. Não virei subtenente atoa. — Por mais que o tom da tréplica tivesse sido duro, a jovem pode entender que naquela situação, o melhor que podia fazer era seguir o plano do veterano. Quanto mais rápido a fera fosse exorcizada, mais rápido Gabrielle poderia ser salva.

— S-sim senhor! — Enquanto o diálogo acabava, a luta continuava se tornando cada vez mais intensa. Gotas grossas de chuva começaram a cair por toda a área verde, e raios cortavam os céus, iluminando o campo de batalha instantes antes da fera desferir um soco de esquerda contra Ana, que conseguiu desviar, e retribuiu, projetando uma rocha do chão como um grande espinho contra o abdome do demônio.

As pedras causaram pouco a nenhum dano, mas o impacto foi forte o bastante para atordoar o monstro por tempo o suficiente para Ismael acerta-lo com um chute voador no pescoço à seiscentos quilômetros por hora.

A besta cambaleou, mas reagiu, pegando um rochedo com as mãos e atirando contra o garoto, que por um triz conseguiu desviar a trajetória do projétil usando sua magia para controlar o ar ao seu redor. Vivian finalmente chegou para dar reforço aos colegas depois da troca de golpes. A este ponto, a chuva já caía com força sob suas cabeças.

— Temos que segurar ele um minuto! Klaus vai criar uma área ilusória para podermos usar nossos poderes ao máximo! — A garota avisou aos colegas de esquadrão da ordem recebida.

— Tudo bem! — O rapaz respondeu. O ser infernal não iria deixá-los relaxar. A conversa entre os três foi interrompida por um rugido ensurdecedor, e em seguida,a criatura abriu sua boca. A garganta do demônio começou a brilhar com uma forte luz vermelha.

De repente, um clarão. Um gigantesco pilar de chamas infernais saiu do estômago da criatura, pulverizando tudo em seu caminho. Ismael e Ana conseguiram desviar, mas Vivian foi pega em cheio.

A fera continuou com o mesmo ataque, tentando vaporizar a inimiga, até que uma lâmina de ar cortante e cem quilos de pedregulho acertaram sua face. Em sequência, os dois magos que haviam evadido com sucesso, continuaram seu ataque, lançando uma série de golpes contra as pernas do oponente.

Vivian estava parada em sua posição, com seu corpo coberto de fumaça. Seu parte uniforme tinha sido arruinado pelo calor, especialmente na região dos braços, que ela havia usado para se defender. Por ser uma exímia maga de fogo, o ataque não causou muitos danos físicos, além de algumas pequeníssimas queimaduras superficiais.

Tudo que o demônio havia conseguido era despertar a ira da jovem, que levou a mão direita para o bolso de seu colete, e retirou dele um pingente de cruz.

— Beleza, seu filho da puta. Agora é pra matar. — No momento em que proferiu estas palavras, o objeto que ela estava segurando passou a absorver parte de sua energia, e a brilhar na cor de sua aura.

Ao mesmo tempo, a dupla de combatentes tentava desesperadamente deixar o monstro ocupado. Aproveitando-se da chuva, Ana movimentou o solo molhado por baixo dos pés do Lorde Bohamor, que escorregou ao tentar agarrar o mago do ar. Sua face foi ao chão, expondo suas costas por um precioso momento.

Antes Ismael que pudesse explorar a desvantagem do inimigo, uma silhueta coberta de chamas o surpreendeu, passando por seu lado como um meteorito. O demônio tentou se levantar, e a primeira coisa que pode sentir após sua queda foi uma lâmina fervente penetrar a pele de sua nuca.

A besta berrou com a dor, e saltou de onde estava para tomar distância dos exorcistas, assumindo uma postura quadrúpede enquanto tentava compreender o que havia acontecido.

— Sortudo. Não consegui te decapitar. — Vivian sorriu, erguendo com confiança a arma que havia utilizado para ferir o bicho tenebroso diante dela. Era uma Alabarda encantada, perfeitamente adaptada para seu tipo de magia. O presente de seu tutor havia sido guardado para o momento de maior necessidade.

O ser asqueroso podia sentir o orgulho da exorcista, o que a fez rosnar e babar de ódio. Os companheiros dela se reagruparam ao seu lado para continuar a batalha, e notaram que ela havia usado seu ás na manga.

— Estreando o brinquedo novo? — Ismael brincou, se colocando em postura de luta.

— Pode apostar. Olha só, lá vem ele. — A maga de fogo respondeu, vendo a aproximação do inimigo, pronto para mais um bote. Os três guerreiros já estavam pela metade ou menos com seu suprimento de magia. Numa guerra de atrito, era incerto se poderiam vencer.

Porém, a situação estava prestes a mudar completamente.

De repente, uma presença mágica poderosíssima apareceu bem próximo do campo de batalha. As gotas da chuva ficaram mais lentas, até pararem completamente no ar. Todos pararam o que estavam fazendo para olhar em direção a fonte de todo aquele poder, que aparentava ser maior do que o de todos os indivíduos presentes.

— Não é possível… — Uma figura familiar ao esquadrão surgiu da floresta. Gabrielle. Sua aura mágica era tão densa que não estava semi-transparente como de costume, e sim, quase opaca, e emitia pulsos de energia que estavam se espalhando por cada partícula de água nas redondezas. Toda a chuva que caia próximo do local estava sob seu completo controle.

Todos os seus ferimentos haviam desaparecido completamente, com os únicos sinais restantes da luta anterior sendo partes rasgadas de seu uniforme.

Mas aquilo que mais chamou atenção de seus amigos, era sua aparência. Seus olhos, normalmente castanhos, estavam brilhando com um forte azul claro. E através deles era possível saber o quão furiosa a menina estava. Os seus amigos nunca a viram se irritar, nem mesmo em momentos em que ela estava de péssimo humor.

Gabrielle caminhou até passar ao lado de seus companheiros, que estavam estupefatos e até mesmo com um pouco de medo, mas contentes em vê-la ilesa. Um forte pulso de magia emanou da posição de Klaus, e logo em seguida, ele voou até a posição do resto de seu time.

— O campo ilusório está ativo! Mas o que… — Sua fala foi interrompida pela surpresa de ver sua subordinada que até a pouco tempo atrás estava fora de combate. Não só ela estava de pé, mas caminhava sozinha em direção ao monstro.

Um objeto estava em sua mão direita. Outro pingente de cruz, que estava absorvendo a energia mágica e mudando sua forma. O acessório brilhou intensamente enquanto se transformava, até assumir seu formato final como uma rapieira.

A fera, temendo o que poderia acontecer, juntou suas energias restantes e as concentrou em seu estômago. Gabrielle respondeu a altura, entrando em posição de combate, como se estivesse prestes a dar uma estocada com sua espada. Toda a água que flutuava na atmosfera fluiu como um rio até se concentrar ao redor da arma.

Então, a fera disparou seu pilar de chamas novamente, tentando eliminar a nova ameaça. Era um ataque ainda mais destrutivo que o que ela havia usado anteriormente, mas exorcista reagiu, e com um grito de fúria, disparou da ponta de sua rapieira um jato de água extremamente pressurizada à quase duas vezes a velocidade do som.

A colisão das duas técnicas de magia criou um vendaval de vapor superaquecido que quase lançou os outros magos do local, com exceção do veterano do esquadrão.Depois de menos de dois segundos de disputa de poder, o ataque de Gabrielle partiu através da torrente de fogo e atingiu o demônio.

No momento do impacto, um cegante clarão azul iluminou todo local, forçando todos a cobrir seus olhos até que a luz se dissipar.

O vapor se dispersou e a chuva voltou a cair normalmente. Os soldados abriram seus olhos para ver o resultado do embate. O monstro tinha sido completamente preso dentro do que parecia ser uma geleira, que aprisionou até mesmo as árvores nas redondezas. E tudo havia sido congelado de uma só vez durante o clarão azul.

— Gabi nunca agiu desse jeito antes. E nunca a vi usar uma técnica tão poderosa. O que diabos aconteceu ela!? — Vivian pensou, incrédula. Ela era a pessoa mais próxima da garota, e não fazia ideia de que a amiga era capaz de fazer tal coisa.

— Ainda não acabou. — O subtenente disse, interrompendo os pensamentos do grupo com sua magia para vôo. Estalos podiam ser ouvidos a distância. Rachaduras apareceram na superfície do gelo, até que um rugido de Bohamor despedaçou o bloco que o aprisionava.

— ...Droga! — Gabrielle disse em voz baixa, frustrada. Sua aura estava voltando rapidamente ao normal, junto com seus níveis de magia. Por pouco, seu ataque não gastou toda sua energia.

Mas nada havia sido em vão. O demônio cambaleou após destruir a barreira, e também aparentava ter gasto a maioria de suas energias. Sua pele havia sido rachada pela redução brusca de temperatura, um sinal de que a magia de gelo havia funcionado muito bem. E o resultado disto era claro; pedaços inteiros da superfície dura do monstro começaram a se desintegrar, revelando a carne macia e indefesa por baixo da armadura que a cobria.

Com a derrota iminente, o infernal deu as costas aos exorcistas e tentou bater em retirada, possivelmente para tentar criar um portal e escapar para o inferno. Mas já era tarde demais. Nem mesmo os novatos puderam acompanhar a velocidade do comandante, que já havia barrado o caminho do seu inimigo.

Desesperada, a besta tentou um soco desengonçado para tirá-lo do caminho, mas isso somente a deixou mais exposta, e Klaus não teria misericórdia da má decisão. No momento certo, ele desviou, passando por baixo do braço gigante e voou em direção ao tronco acelerando ao máximo até cravar seu próprio membro dentro corpo do oponente com um nukite, atingindo exatamente o mesmo local onde havia acertado a fera anteriormente. O que estava antes coberto por uma carapaça, agora não passava de carne mole.

— Morra!! — A aura do exorcista fluiu para as entranhas do monstro. Era uma dose fatal de magia térmica e magia de exorcização, e os efeitos foram imediatos. O último ato do Lorde Bohamor foi gritar de dor, enquanto via sua barriga inchar de maneira descontrolada com seus fluidos entrando em ebulição, até que finalmente, o demônio explodiu.

Seus pedaços voaram pelos ares, até desaparecerem completamente do mundo mortal. Era o fim da batalha.

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