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Memento Mori

<p>Eu caminho por estas terras a algum tempo. Vi que minhas terras mudarsm tanto e também percebi como somos efêmeros.<br/>Essas terras são selvagens, em cada canto e sombra há um perigo, seja ele bestial ou "inofensivo", sempre há algo capaz de arrancar sua cabeça com facilidade ou lhe matar de dentro pra fora.<br/>De tudo eu esperei acontecer, de muitas maneiras eu me imaginei morrer, e a cada fração ínfima de segundo que estive do outro "lado" pude deslumbrar o doce frescor da paz, mas quando me dava por mim já havia retornado, pronto para repetir aquele maldito ciclo novamente. Todos os dias, enquanto caminhava, me perguntava de forma sorrateira e descontraída. Quando poderei descansar? Quando finalmente morrerei? E principalmente, quando vou, de fato, ser "completo"?<br/>Questões me intrigam de soslaio enquanto mancho minhas botas de lama. A caminhada matutina era revigorante, o vento era fresco e o sol brilhava num calor acolhedor. Havia, para mim, muito tempo para se pensar sobre questões filosóficas. A maior parte do tempo que passei nesse meio tempo foi andar, já havia desgastado cerca de 5 pares de botas ao longo do tempo, e havia vezes que era obrigado a andar descalço. Era doloroso.<br/>Nesse ínterim, fui capaz de assimilar muitas coisas na cabeça, cheguei a um certo tempo de paz mas isso só durou uma semana. Foi no primeiro ano em que estive "acordado", não ouso revelar detalhes de como foi a minha primeira experiência nesse mundo diferente do habitual por motivos vergonhosos mas uma coisa é certa, essa "Terra" é a mesma Terra da qual eu passei minha juventude andando de BMX, vivendo aventuras aqui e alí.<br/>Percebi... Que eu era o único. Tentei de diversas formas o contato com outros de meu povo mas... Nada.<br/>Eu passei longos dias procurando por formas de vida conscientes mas nada encontrei a não ser hostilidade. Me deprimi e desabei, ondas de pensamentos entorpecentes e malditos inundaram minha cabeça, "a humanidade foi extinta" pensei ao analisar meu pequeno progresso, "mas porquê eu estou vivo" me questionei, mas não cheguei a resposta alguma.<br/>Eu estava só num mundo selvagem e desconhecido. Me encolhi no canto enquanto escorado no pé da árvore, abracei minhas pernas e chorei. Um choro infantil e lastimável, vindo de um solitário sem esperanças. Aquele dia marcou minha solidão e tristeza. Mais algum tempo se passou enquanto minha sanidade ia, aos poucos, se fragmentando. A cada dia uma nova caminhada em busca de algo, uma companhia, um conforto, um apoio ou o que quer que fosse - EU QUERIA ALGO!!!<br/>Em meio a esse desespero algo surgiu na minha frente, uma sombra, seu corpo era magro e tinha leves traços afeminados e também masculinos, suas unhas eram afiadas como garras de um selvagem, sua face era toda apagado num tom preto profundo que não refletia nem mesmo a luz da fogueira, sua silhueta era iluminada pelas brasas e um leve contorno de uma cor tangível de origem escarlate lhe circulava. Aquela sombra transmitia uma mistura de dois sentimentos, nostalgia e medo. Eu sentia náuseas e tremedeira só de olha-lo, a sensação perturbadora me penetrava pelos poros e arrepiava cada canto do meu corpo, o suor era frio como cubos de gelo direto da geladeira e escorriam pelas costas como um represa encharcando minhas roupas rapidamente, o pés não paravam quietos nem por um segundo enquanto faziam um movimento de fuga imediata. Meu cérebro estava disparado enquanto soava um alarme constante de perigo, meu corpo queria fugir mas meu subconsciente me afirmava e gritava dizendo que era impossível, um movimento precipitado e era morte certa. Me lembrei da minha vida "passada", dos dias bons e calorosos. A vida era tão divertida e surpreendente que dava desejo de acordar e encarar o novo amanhecer. Me perguntava o que teria acontecido para tudo acabar daquele jeito, e o que eu teria feito para acabar naquela situação.<br/>Enquanto a vida passava na frente dos meus olhos a sombra se movimentou. Com seu dedo indicador ele tocou meu peito, ele parecia estar conferindo algo em mim. Isso foi o suficiente para eu despertar e travar, de novo. Seu dedo deslizou pra cima e pra baixo, pensei que nada aconteceria se ficasse quieto mas.<br/> - Então, realmente funcionou. Você realmente tá vivo. *Hunf* Isso é interessante, aquele imbecial é, de fato, útil pra alguma coisa. Mas vêm cá, como se sente? Sente algum enjôo? Vontade de comer cérebros? Sente vontade de beber sangue de virgens? Alucinação? Cansaço? Confusão? Algo do tipo? - a voz da sombra era bem anti-climax, um timbre meio aveludado com tom firme e boa sonoridade, bem diferente da impressão que causa pela presença e aparência. Sua voz não era projetada por uma boca e nem nada que remetesse a tal, a sua voz vinha de um vazio abismal que parecia visar o extermínio de tudo, aquela face não refletia nada e nem mesmo deixava transparecer algo. Sentimentos e emoções eram impossíveis de serem captadas no olhar, somente por meio de suas falas era possível perceber seu humor.<br/> - Você parece saudável, mas um pouco pálido. Sente fome? <br/> - Não, eu estou bem - meu tom ainda estava meio travado, o choque causado pela súbita fala daquele ser foi evidente, consegui me conter para não gaguejar mas minhas pernas revelavam meu estado - mas, quem é você? Sinto que nos conhecemos.<br/> - Hum, é raro isso, sabia, as pessoas tendem a não se lembrarem de mim, só quando é conveniente. Meio que sempre foi assim, mas tudo bem, acontece - a sombra, agora, transmitia uma sensação particular, ela parecia bem ou contente, difícil saber - mas o que importa é que o cê tá vivo, ou quase, sei lá. Ressurreições não são o meu forte.<br/>Ao dizer isso, meus olhos saltaram. Como assim, "ressurreição?" Eu tinha mesmo morrido? Mas como assim, eu me lembro de estar andando na rua e... - um vago flash veio, a cena que rapidamente passou respondeu todas às minhas perguntas. <br/> - Então... Eu morri... Né?<br/> - Hm? Ah, sim, morreu.<br/> - E como eu estou aqui, vivo?<br/> - Eu o trouxe de volta, demorou um pouco mas consegui. Legal, né?<br/> - ... E... O quê aconteceu... Com os outros?<br/> - Heh, você diz, a humanidade?<br/> - ... - o silêncio foi minha resposta. Ao que a sombra respondeu, pude entender a minha situação.<br/> - Você, Adam, é o único humano vivo. A humanidade foi extinta, meu rapaz.<br/>Não disse nada, apenas encarei sua face vazia enquanto lágrimas se formavam. Conscientemente, eu não acreditei, mas sabia que ele não estava mentindo, mas como podia acreditar nisso. Eu? O único humano vivo?! Caralho! Caralho!!!!<br/>Com isso, minha mente se desestabilizou por completo e, sem pensar nenhum pouco, decidi pôr um fim a tudo. A ideia de viver sozinho num mundo no qual eu não conheço, vivendo de forma solitária e ainda por cima, tendo que conviver com o fato de que, TUDO ACABOU, me desesperava. Então, com uma espécie de faca improvisada, eu relutantemente á apoiei no pescoço, e cortei minha garganta. Doeu no começo, mas dado algum tempo, já não sentia mais, tudo se desvaneceu e meus sentimentos foram desaparecendo. A calmaria veio, depois a paz e por fim o mar de arrependimentos, eu tinha desistido de viver tão facilmente, mas... Eu estava assustado, tinha medo de encarar esse mundo dessa forma, eu não queria ter feito aquilo, mas fiz. Já não tinha como voltar atrás.<br/> - O que está fazendo?<br/> - ?!<br/> - Cara, tenho que perguntar, você não sente nada ao fazer isso?<br/> - C-c-como, assim?!<br/> - Suicídio deve realmente doer, mas, você não morre, sabia?<br/> - Eu, eu tô, vivo?!!<br/> - Sim. Por incrível que pareça.<br/>Me levantei, passei a mão no pescoço e não havia nada, nem corte e nem sangue, era como se tudo não tivesse passado de um sonho. Mas eu me lembrava da dor, do corte e do mar de arrependimentos que inundaram meu coração. O pesar veio acompanhado de uma súbita crise de ansiedade, eu não conseguia respirar e meu coração se acelerou. Era possível ouvir às batidas num ritmo desesperado, àquela experiência não tinha sido agradável, eu morri, mas voltei. Vi o outro lado e ainda me lembrava, senti, pela primeira vez em toda minha vida. O medo da morte.<br/>*<br/>Minha caminhada continuou mesmo durante o amanhecer. A neblina era um tanto espessa e a temperatura era úmida. Mesmo assim, ainda era possível caminhar tranquilamente. <br/>O clima por si só era bom, havia uma refrescante sensação de paz no ar, que vez ou outra era interrompida por gritos estranhos. O clima neste "novo" mundo era bem importante, por meio dele era possível saber se algum tipo de monstro ou algo parecido ia aparecer. Digo, esse era um dos recursos que eu costumava usar para evitar possíveis ameaças. A paisagem era coberta de árvores e ruínas, era uma mistura bem característica de histórias que se passam num futuro apocalíptico, " a natureza leva tudo" não é? Hoje em questão estava sereno, havia uma leve cara de que choveria, seria ruim para minha caminhada, mas bom para uma pausa. Minha rota era ao lado de uma floresta, havia uma inclinação no lado esquerdo que levava para a densa floresta, na parte de baixo havia um campo verdejante com espécies de caminhos interconectados, parecia uma rota de transporte ou algo assim, decidi não passar por alí por medo de trombar com algo perigoso, mesmo que eu seja imortal ainda dói ser machucado.<br/>O clima foi se dissipando aos poucos revelando uma visão encantadora. Esse mundo de fato era belo, a falta de toque humano realçava a beleza predominante da natureza, mas também fazia falta para mim. Havia uma leve esperança no fundo do meu peito, uma faísca pra ser mais exato, de encontrar um semelhante por aí. Eu sentia que essa faísca ia sumir logo, mesmo durante 50 anos que estive caminhando por aí (sim, eu caminhei por muito tempo), nunca cheguei a ter uma pista sobre algum sobrevivente ou algo assim, tudo que eu encontrei foi dor e selvageria. Exceto por aqueles------<br/> - ?! O que é aquilo?<br/>Quando olhei para baixo vi um grupo andando pelo campo. Havia duas carroças, a primeira estava sendo acompanhada por um grupo armado com facões, arcos e alguns poucos com alabardas, havia somente um cocheiro na primeira, sua face reptiliana era igual a de um dragão e suas escamas brilhantes refletiam a luz do sol, a carroça de trás tinha dois cocheiros e um grupo de por volta 12 viajantes, era difícil vê-los mas era possível perceber que cada um tinha traços únicos e bem distintos, uns tinham penas, outros escamas, cascos, pele rosada, fucinho e assim por diante. No grupo quem mais se destacava era um viajante que seguia na frente do grupo, montado num cavalo azul de 8 patas e um bagageiro. Ele era a imponência pura, parecendo um guerreiro fantástico vindo de um poema épico. Ele estava todo encapuzado e coberto de panos, era impossível ver sua pele ou rosto, nas costas tinha um par de varas longas, uma com uma ponta afiada e comprida e duas pontas um tanto grossas saindo de cada lado, no meio de cada vara havia uma espécie de encaixe, obviamente aquilo era um longa lança.<br/>O grupo tinha uma certa imponência de dias de longas lutas, e isso me assustava um pouco. Não era a primeira vez que eu encontrava seres humanoides assim e, com certeza, nenhum dos encontros foi agradável.<br/>Muito tempo atrás acabei encontrando uma dupla reptiliana enquanto caminhava pelo deserto, a dupla estava fazendo patrulha enquanto conversavam numa língua que eu não entendia, era bem no início de minha jornada neste "novo" mundo. Observei ambos de uma distância segura com um par de binóculos que encontrei em uma de minhas expedições. Notei que seu padrão de comportamento é igual ao humano, parecia que estavam tendo uma conversa bem amigável. <br/>Observei por um tempo, pude ver eles batalhando também, uma centopéia estranha havia surgido do meio da areia, atacando ambos de forma selvagem. A dupla conseguiu derrotar a centopéia depois de uma árdua batalha, sua força era sobre-humana e sua resistência e vigor eram anormais, com certeza eram superiores a mim em muitos aspectos. Seus estilos de combate eram focados em ambos darem suporte um ao outro, tipo um Orstein e Smough. Assim não davam espaço para um contra-ataque da centopéia. A luta não durou muito, até cheguei a pensar que ela não era tão poderosa assim, mas me calei quando um deles percebeu minha presença.<br/>Com isso, percebi que seus sentidos eram um tanto quanto aguçados. Me revelei depois de perceber que não adiantava mais se esconder. <br/>O Lizardman meio amarelado que portava um longo arco (passei a chamar eles assim já que parecem mesmo terem vindo de livros de fantasia) apontou para mim e disse, numa língua estranha, algo que pareceu ser uma pergunta. Não entendi, então me pus a se render esperando que nada de ruim acontecesse. Ambos se olharam e não disseram nada, então uma flecha veio rasgando o ar e acertou meu peito. Não tive tempo de reagir e logo caí de costas para o chão. A flecha veio de alguém um pouco mais afastado, ele se aproximou de mim enquanto eu sangrava e me olhou nos olhos. Ele disse algo aos outros dois que deram de ombros logo em seguida, não entendi nada, eu estava ocupado demais sentido àquela desgraça de dor agoniante. O sujeito de cara ranzinza e escama avermelhada tocou meu rosto, pegou meu lábio superior e depois soltou, tocou meus olhos (aquilo também doeu), e puxou um pouco minha franja; ele parecia estar me estudando, com certeza não tinha visto algo como eu por aí. Logo após, eu morri. Me encontrei novamente no breu, cercado pelos arrependimentos e medos que assolavam meu coração, dessa vez, demorou um pouco para eu voltar (já havia meio que me acostumado com aquilo) talvez seja por causa da flecha que, provavelmente, ainda estava cravada no meu peito. Dessa vez, pude observar um pouco meus arrependimentos, naveguei pelas minhas memórias e me lembrei de muita coisa. Me lembrei da minha vida anterior... E como eu sentia saudade dela. Saudade de viver.<br/>Fui interrompido pelo meu despertar abrupto quando a flecha finalmente saiu do meu peito, meu corpo parecia expulsar aquela coisa com todas às forças. Demorou um pouco, reconheço.<br/>Quando levantei, vi que estava no mesmo lugar, os Lizardman haviam ido embora e me deixado. "Talvez não tenha gostado da minha carne", pensei. Me levantei rapidamente e observei ao redor, a centopéia havia sido esfolada e a maior parte da carne sumida, restando somente o esqueleto e presas. Olhei um pouco ao redor antes de partir e encontrei uma folha, algo estava escrito numa linguagem que não entendia assim como a fala deles, por sorte havia algo que eu reconhecia. Números!<br/>Sim, números. Havia algumas contas escritas ali, adição e subtração para ser mais exato. Entendi que era uma conta de racionamento de rações, pois havia um número total dividido entre palavras que pareciam nomes, cada um recebia cerca de três suprimentos, provavelmente explicavam quais suprimentos eram, mas como não entendia acabei deixando passar. <br/>Depois disso, parti, continuei minha caminhada em busca de algo que eu nem sabia o que era. Depois de deixar o deserto me perdi em uma selva, não me lembro bem como, mas, aconteceu. Acabei encontrando uma ruína do velho mundo consumida por uma densa vegetação e musgo. Entrei. <br/>Explorei um pouco aquele lugar e percebi que era uma delegacia, não havia nenhum sinal de vida lá, mas mesmo assim explorei. Encontrei algumas coisas úteis como botas, lanternas, uma mochila maior, comida enlatada e um facão (provavelmente de algum bandido ou algo assim), havia claros sinais de desgaste em tudo o que me fez questionar quanto tempo havia se passado desde a era da extinção. Isso era algo que eu nunca havia me perguntado ou questionado a "sombra" para saber, em partes eu sabia o porquê, eu estava com medo de saber. Olhei em volta e não havia nenhum sinal de esqueletos por aqui. Algo me assombrou quando percebi isso, quantos anos se passaram desde a minha morte e ressurreição? Até hoje, não tinha pensado muito nisso, tipo, eu sou o único humano vivo, certo? Mas, mesmo que todos tenham morrido, ainda deviam haver sinais deles por aí, tipo, sei lá, ossos... Ou, cartas, relatórios, registros do fim, sei lá, qualquer coisa! Mas, nesse tempo em que estive vagando por aí, nunca vi nada do gênero, eu já tinha explorado algumas ruínas, mas tudo que achei eram livros e documentos comuns, da era moderna ainda, nunca vi nada sobre o fim. Me assustei ao perceber que, talvez, deva ter se passado muuuuito tempo desde minha morte e ressurreição. <br/>Subitamente, senti uma fria mão agarrar o meu ombro, longas unhas revelavam com exatidão o dono daquela repugnante mão. <br/> - Aparecendo de mancinho hein, o que quer comigo?<br/> - Que rude da sua parte Adam, o que eu te fiz? Até parece que viu um cara escroto?<br/> - ... Ahhh, só fala o quê cê quer. - ultimamente eu vinha me acostumando mais com às aparições repentinas do "sombra", mas mesmo assim, ainda era chato lidar com ele.<br/> - Bem, imagino que você tenha uma grande questão na cabeça.<br/> - O que?<br/> - Que a humanidade foi extinta, isso você já sabe. A pergunta é, quando isso aconteceu e quanto tempo se passou, não é?<br/> - Como... Sabe???<br/> - Em relação a você, Adam, eu sei de tudo. <br/>Nessa hora, eu congelei, de fato eu sentia uma estranha conexão com o "sombra" mas não sabia dizer de onde vinha. Eu não fazia idéia alguma de quem ele era e sempre que eu perguntava, ele desconversava.<br/> - Adam - disse ele, em um tom sereno e melancólico - a humanidade estava fadada a ser extinta. E isso aconteceu, a mais de 5 mil anos.<br/> - Como?! 5 mil????? - as palavras sumiram da cabeça, deu um branco total. Como assim, como que tinham se passado 5 milênios, isso... Isso não podia ser verdade, como assim. COMO??<br/> - De fato, eu entendo sua confusão, mas... Ressurreição não é meu ponto forte.<br/> - E por que diabos você me ressuscitou?!<br/> - Bem... Você é um cara legal. Daí, fiquei meio triste com sua morte - ele levantou o polegar com o punho fechado pra mim, realmente não dava pra entender ele - mas você tá vivo não tá, que tal aproveitar um pouco a nova vida?<br/> - Em um mundo caótico como esse? Sem nada e ninguém? Como posso viver, se não tem ninguém pra criar memórias comigo? Como um humano pode viver, se ele está sozinho? COMO?!!!!!!<br/> - ... - o "sombra" se calou, ficou apenas me encarando enquanto minha sanidade ia aos poucos se deteriorando - não sei - por fim, respondeu - isso é com você. Você decide como viver, sou apenas um guia.<br/>Me silenciei. Não queria conversar com ele, e muito menos vê-lo. Eu estava ficando maluco e sentia que algo havia se rompido dentro de mim. Senti que havia entendido algo. Eu entendi que... Viver é um erro, quando não se tem motivos pra viver. A morte... É a resposta para a minha solidão.<br/>*<br/>Desde aquele dia, me senti apático. Minha expressão era sempre a mesma, de peixe morto. Procurei diversas formas de acabar com meu sofrimento, mas nenhuma delas funcionou. <br/>Olhar aquele grupo de viajantes, me dava inveja, "eles devem ser bem próximos, né. Deve ser legal" pensei, realmente devia ser. Me imaginei estando naquele lugar, rodeado de pessoas que gostavam de estar comigo, conversas que iam e vinham. Meu peito pesou, senti, novamente, o peso da solidão. Meu olhar ficou rígido. Decidi ir embora, era o melhor a se fazer.<br/>O quê? <br/>O grupo havia parado, pareciam um tanto fervorosos. O suposto líder levantou o punho ao alto e a carroça cheia de guerreiros foi se descarregando. Eles desciam rapidamente e em fila. Alguns se posicionaram em barrancos altos e apontaram seus arcos, outros empunharam lâminas e fizeram uma linha de frente enquanto os portadores de alabardas se posicionaram atrás. Havia silêncio, só sons de gafanhotos e sapos quebravam o clima de tensão. <br/> - Se preparem!!! - gritou o líder enquanto empunhava sua lança. Ele conectou ambas às partes num baque estrondoso.<br/>Como o grito, diversas criaturas foram surgindo, uma atrás da outra, como se de repente estivessem ali. Era como se fosse uma só com a paisagem. <br/>Haviam muitos deles, algo por volta de 50 ou até mais. Duas presas afiadas se formavam em cada canto da boca, seus olhos eram vermelhos e sua pelagem, com tom metálico, era acinzentada e distinta. A boca da alcatéia salivava ao encontro do grupo, com certeza achavam que era uma rápida refeição e que isso, não demoraria muito. Engano seu.<br/>O líder a frente parte rapidamente em direção a alcatéia e num só golpe perfurante duas daquelas aberrações são empaladas. Aquele guerreiro era implacável, provavelmente também era invencível sob o sol. Aquelas criaturas eram ferozes, selvagens também ( como se nada nesse mundo fosse selvagem o suficiente), eu já havia trombado com uma delas por aí, e o encontro não foi nada legal.<br/>Decidi que não iria me envolver com aquela batalha, esse seria o certo de qualquer forma. Mas quando me virei, vi o líder da alcatéia. Seus olhos negros me encaravam com ansiedade, sua boca rangia os dentes e seu corpo tremia. Seus instintos animalescos estavam disparados e seu corpo ia se aproximando devagar. Eu não conseguiria fugir dele, também não conseguiria enfrentá-lo, morrer seria doloroso demais. Ao observar um pouco mais a situação ( e também soar litros de suor), cheguei a um vislumbre de uma solução. Se eu não pudesse enfrentá-lo, teria que, somente, levar ele até alguém que pudesse.<br/>______________________________________________</p>