1 Prólogo

Um garoto de nove anos segurava uma câmera fotográfica em suas mãos. Estava de frente a imensa praia de Praia Grande, São Paulo. Escondido na lateral de uma cabana, tinha uma enorme vontade de gravar os pássaros voando para o Oeste, o movimento das ondas ou qualquer coisa que capita-se sua atenção.

Infelizmente não sabia como manusear a Leica I, que tinha, acabando por apertar e contorcer todos os botões que podia encontrar.

As aves já tinham partido, mas ainda queria fotografar alguma coisa. Depois de apertar todos os botões, descobriu qual tirava as fotos, posicionando o aparelho bem próximo ao rosto.

Com o dedo no gatilho, mirou para o horizonte. Quando foi tirar a foto, ouviu um grito.

— Vicente!

Uma voz rouca, coberta de cigarro chamou pelo nome do garoto, que tremeu sua espinha com o medo momentâneo. Olhou para o trás e viu que não estava mais escondido pela cabana. Estava tão concentrado em tirar fotos, que não sentiu o corpo se mexendo.

Olhando para o lado, viu um batalhão de pessoas correndo em sua direção. Seus parentes, correndo com medo nos olhos.

Com um sorriso no rosto, Vicente começou a correr para longe, cobrindo a lente com a palma da sua mão. Dois passos depois, encontrou seu fim.

Seu avô, que estava atrás da barraca o pegou pela virilha e ombros, brincando de jogar ele para longe.

Vicente estava feliz, mas no susto soltou um grito e deixou a câmera cair no chão. A Leica I afundou na areia.

Seu avô o jogou no chão com toda a delicadeza possível e pegou a câmera, que por sorte, estava longe da água. Em sua mente ele disse, "que sorte". Seu avô se abaixou para pegar a câmera.

Vicente estava brincando na areia quando sentiu uma presença aterrorizante próxima. Era seu avô. Ele se levantou devagar, com a mão nas costas.

— Que ideia é essa de pegar minha câmera fotográfica? A Leica I foi importada da Alemanha e foi difícil encontrar ela.

Vicente se calou e se levantou, juntando suas mãos e abaixando sua cabeça. 

Seu avô, Elenildo, era um banqueiro bem rico que tinha uma paixão por fotografia. Sua idade não permitia ele de ir para os lugares que queria, então usava seu poder para comprar o que queria.

Contudo, não considerava aquela câmera como algo que poderia mandar alguém comprar. Colocando o pai de Vicente, seu genro, no comando de seu banco por um curto tempo.

Elenildo resolveu visitar a Alemanha após o rumor de um homem chamado Ernst Leitz estar construindo uma câmera portátil, algo que abaixou a pressão do avô de Vicente. Ele precisava ver aquilo.

Na Alemanha, viu um grande estado de pobreza, visto sua finalidade após a Primeira Grande Guerra. Não era algo gigantesco, visto o número de banqueiros circulando pela cidade, mas o número de mendigos era preocupante.

Enquanto passeava pelo país, parando numa pequena cidade para comprar a câmera, ouviu que o símbolo do Partido Nazista, Adolf Hitler, tinha sido preso na fortaleza Landsberg.

Voltou para casa após comprar alguns rolos de fita e tirou inúmeras fotos. Paisagens, pessoas, e o que parecia ser um símbolo budista estampado numa construção pública.

Elenildo voltou para o Brasil com uma pulga atrás da orelha, pensando o que o Nazismo poderia fazer em relação a economia mundial.

— Não faça um velho correr, muito menos se abaixar para pegar uma câmera! — Disse Elenildo gritando com seu neto.

Vicente ficou quieto.

— Não pegue mais minha câmera sem permissão.

Vicente estava com o rosto choroso, algumas lágrimas afundavam na areia. 

O avô viu o rosto dele. 

— ...E não bote a mão na lente. Vem cá, eu vou te mostrar como tirar uma foto boa.

Dizendo isso, Vicente parou de chorar, limpando as lágrimas com a mão. Foi até  seu avô e ficou ao lado dele.

Os dois juntos tiraram uma bela foto de sua família correndo atrás deles. 

Continuou a tirar fotos e com o tempo, gravar com seu avô, que mesmo doente e velho, com um sorriso o ajudava a gravar e até o gravava quando Vicente começou a querer atuar como jornalista.

Quando Elenildo não podia mais sair da cama do hospital, ajudava Vicente com técnicas de gravação e até de roteiro. 

Quando Vicente tinha 14 anos, foi levado pelos seus pais até o Rio de Janeiro, que era onde seu avô tinha nascido, e era onde seria enterrado. 

Na Capital, Vicente ficou encolhido no canto, sentado na cadeira, abraçando suas pernas. 

Além de lidar com a morte, os parentes foram chamados para saber sobre o testamento de Elenildo. O pai de Vicente recebeu o banco, assim como uma de suas três casas. As outras duas foram para os pais de seus primos. Suas riquezas acumuladas seriam divididas igualmente a todos, menos ao pai de Vicente, que ficava com 30% das riquezas totais.

Vicente ficava do lado de fora, encolhido e acompanhado de seus três primos. Ninguém falou uma palavra, o que piorava a situação.

Enquanto lamentava, a mãe de Vicente passou pela porta e chamou o filho, que foi com ela até a sala do testamento, igualmente para os outros três.

Ela o mando se sentar, que o fez, se sentando próximo a ela. 

O juiz que lia o testamento continuou:

"Para meus netos, lhes dou uma vida confortável e muita felicidade. Para meu pequeno artista, Vicente Campelo dos Santos, entrego minha Leica I, com todos os rolos que pude encontrar".

Terminando a frase, Vicente recebeu a câmera. Ele a pegou e começou a chorar baixinho. 

Ele repetiu a si mesmo, enquanto segurava a lateral da câmera para não tocar a lente, que — Eu vou ser um grande jornalista.

// Notas Do Autor //

Olá, aqui quem fala é (eu esqueci o nome do meu nick). Espero que tenha gostado ou se interessado pela história.

Eu sei, eu sei... Eu prometi um Calango Gigante e ele ainda não apareceu. Por favor tenham paciência e tentem seguir a história do nosso amigo Vicente.

Eu voltei a trabalhar nesse projeto recentemente (agora mesmo), e tenho todos os capítulos planejados... Eu falei planejados. Tenho diversos capítulos já feitos e os postarei todo domingo... Eu acho.

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