1 Ta de caô?

Só pode ser brincadeira, esse foi o primeiro pensamento do Enzo. E como poderia ser diferente?

Quem nunca por um segundo se quer, não se imaginou em um mundo fantástico com poderes incríveis? Talvez depois de um dia particularmente exaustivo depois do trabalho ou talvez por não se sentir compreendido por sua família.

Uma escapadinha da realidade! Um pequeno momento de um deslumbre imaginativo sentado ao sofá.

Queria ser forte e ter o poder de alterar minha realidade! Ser um líder, mas poder viver em um lugar tranquilo e ter minha paz! Me aventurar pelo mundo, mas ter a opção de voltar para casa!

Esse diálogo interno que acontece com muitos espalhados pelo mundo, também aconteceu com Enzo.

Olhava cansadamente para o relógio digital em seu pulso. Apenas 5 minutos e o resultado do Sisu estará disponível.

E daí pra frente, todo, o, seu, futuro. Não sendo pressão suficiente, existe um ralinho nesse poço fundo que é a vida.

Enzo já sabe que vai ficar na lista de espera para qualquer universidade de arquitetura. Forçou-se a por ciências sociais, provavelmente irá trabalhar em uma empresa qualquer no setor de RH, não é um trabalho tão criativo quanto ser arquiteto, mas é o que sua realidade permitiu, e ele não vai deixar passar a oportunidade de fazer uma universidade federal.

Nesses 5 minutos, de olhos fechados, seus pensamentos dançaram nas mais diversas realidades, mundos fantasiosos, galáticos e de fundamentos asiáticos. Em como seria ser rei, herói, vilão e uma pessoa comum, perambulando e conhecendo o mundo. Pensou em ser forte, ser rápido, ter poderes incríveis e muito mais.

Um calor suave e ao mesmo tempo intenso bate no rosto de Enzo de tal forma que parece estar sendo abraçado por um espírito bondoso. Seus pensamentos se acalmam. Um monge reconheceria de imediato que Enzo entrou em um profundo estado de meditação. E por lá ele ficou.

Sua mente não sonhou, não criou mundos ou relembrou de situações do passado que ele poderia ter agido diferente. Não. Sua mente estava cristalina, tranquila e vazia. Por quanto tempo? Pouco importa, mas eventualmente, a situação mudou.

Meh Meh Meh Meh, sons de pássaros costeiros começam a aparecer de leve ao fundo da sua mente.

O som aumenta e de repente a tranquilidade se quebra com o retumbante e estrondoso som de ondas se arrebatando contra a praia!

Enzo abre os olhos. Ou tenta. Uma luz intensa o força a fecha-los novamente.

Não faz sentido! A luz de meu computador não é forte o suficiente para produzir esse efeito, talvez seja o cansaço! Enzo pensa, enquanto lentamente, abre os olhos.

Só pode ser brincadeira! Os seus olhos não podem deixar de se arregalar! A boca inconscientemente se abre.

A suave brisa do mar, debaixo da sombra de um grande e sinuoso coqueiro, sentindo a areia nos pés, os sons de gaivotas e ondas se quebrando e o infinito céu azul que se encontra com o ainda mais infinito oceano.

Isso não é minha casa, isso não é minha casa, isso não é minha casa! O pensamento repetido e compulsivo é tudo que se passa na mente de Enzo.

A vista é deslumbrante para os olhos de apaixonados. Mas Enzo está atordoado com a nova realidade que o cerca. Tudo que vê é um céu que oprime, uma areia imunda e uma floresta assombrada.

Parece clichê mas nesse rapaz, que já é um homem, surge o indomável desejo de chamar pela mãe que sempre lhe deu carinho, talvez pelo pai que sempre o protegeu.

A solidão cerca Enzo por todos os lados, seus joelhos enfraquecem, seu estômago se revolta.

A janta de uma hora atrás se espalha na areia branca.

A respiração continua ofegante. Mas Enzo se move do local com cheiro ácido e acre. Se apoiando em um coqueiro.

Sua mente continua rebuliçada. O que pode estar acontecendo? Um sonho lúcido? instintivamente a situação parece real, mais real que toda a sua vida! Será que estive sonhando até agora e este é o meu mundo? Não. Não. Nanananananão. Essa não é a realidade. Como pode ser?

Seu olhar se volta ao coqueiro, pulgões de formato curiosamente próximo de caranguejos sobem e descem a árvore, vivendo suas vidinhas. Suas insignificantes vidinhas de pulgões em um coqueiro numa praia com centenas de árvores. Por que Enzo estaria a sonhar com pulgões de formato tão singular? Por que estaria a questionar os seus sonhos? Novamente a sensação de opressão começa a se forçar contra seu peito, o estômago, esvairado de qualquer vestígio de alimento se contrai e recontrai causando uma dor, que arde o rabo, se tais palavras podem alcançar os olhos doídos dos meus leitores.

"uhum" um som roco de uma garganta se limpando soa atras de Enzo. Ele, que como um gato, entra no modo estátua. Uma pessoa externa o veria calculando a situação, pensando em rotas de fugas ou até em modos de combate, porém só Enzo sabe que todo o seu autocontrole está focado na própria bexiga, Enzo tem certeza em cada célula de seu corpo que ele vai morrer neste instante, no mínimo não quer ser o mijão matado ou morto mijão? Por que se importa com oque vai ser dito do seu corpo frio e provavelmente auto-urinado nesse momento infortúnio? Pensamento disconcertantes de uma mente pertubada, apenas.

"Senhor? Oque lhe aflita meu lorde?" a voz que vem de trás tem um tom carinhoso mas monótono.

Enzo, agora que tem certeza que consegue controlar a bexiga decide se virar, dois pontos para sua dignidade, não morrer urinado e agora olhando o seu assassino. Praticamente a morte de um herói! Bem, a de um corno também... Mas isso não importa, heróis morrem olhando nos olhos. Quais os motivos de Enzo acreditar tão fielmente que vai morrer? Apenas olhando profundamente em sua mente momentâneamente pertubada, algo que vamos evitar por enquanto! Mas aos curiosos: Sua certeza de encontrar o ceifador é a sua mente confusa e sombria!

Finalment...eh? Um homem velho, vestido em trapos segurando um cajado mal polido é a fonte da voz?

O hominho, raquítico quase, mas ainda assim de boa aparência, moreno, um bigodão ja embranquecido, olhos simpáticos e um rosto com poucas marcas. Sua cabeça, um refletor poderoso para os raios solares.

"Senhor?" O homem exclama, chamando a atenção de Enzo, da testa estendida do senhor, para o seu olhar. O homem parece decente.

A certeza da morte, se esvai, sendo substituída pela esperança de voltar para casa!

"Olá? Onde estamos? Não me lembro de como vim parar aqui!" Enzo quase segura a mão do homem enquanto exclama suas perguntas, mas no fim as mantém no próprio corpo.

"Estamos na ilha meu Lorde, sua ilha, para começamos a colonizar, o senhor parece estar sob estresse!" o homem, parece ter 1,6m se encaixa sob seu ombro e o direciona a um local dentro da floresta "Venha, Venha, Venha meu lorde! Tome um chá refrescante sob uma sombra, pois ja já temos que começar o acampamento!" Enzo, estranhamente, não entra em pânico ao ser levado por um estranho, para dentro de uma floresta para tomar bebidas de natureza desconhecida!

"Lorde? Eu?" Sua mente se ficou na escolha de palavras do homem.

"Mas é claro, jovem mestre foi selecionado por todos os deuses para ter um orbe da civilização e uma carta do destino!" o homem fala enquanto tira galhos e folhas do caminho.

"Deuses? orbe da civilização? carta do destino? Do que está falando? Onde estamos mesmo?" Enzo não podia estar mais confuso

"Eu suponho que a Ilha não tenha nome, portanto não sei onde estamos exatamente. Também desconheço sobre os deuses, meu lorde, em minha curta vida, tudo oque sei deles, é que o senhor foi o escolhido para receber esses objetos divinos! A orbe está logo a frente e a carta deve estar em sua posse!" O homem diz com um sorriso, que enfurece Enzo!

"Não, Não, você não entendeu! Eu não sou daqui, como volto pra casa?" O rapaz decide ignorar as respostas anteriores, visto que nenhuma delas fez sentido!

"Bem... acredito que ninguém seja daqui!" o homem para de andar por um instante, pensando um pouco " sim, sim, isso mesmo, nós aparecemos aqui junto ao senhor, meu lorde! Creio que agora esta seja nossa casa!" ele sorri, genuinamente feliz com a resposta e volta a abrir o caminho para Enzo guiando-o para os confins da floresta, que escurece, devido a copa das árvores que bloqueiam o sol.

"Não, eu sou de pinda! Do vale do Paraíba! Oque eu faço aqui?" A pressão volta ao peito de Enzo. A mata, parece mais escura, os sons mais assombrados e o fato de estar descalço não ajuda nem um pouco na situação!

"O senhor é o lorde do orbe da civilização! Nos trouxe ao mundo junto de sua graça! Sob suas ordens, vamos prosperar e crescer, acredito que logo logo, conquistaremos uma nova ilha! Meu lorde não viu o orbe ainda? É de grande beleza! Tal pedra mágica só pode ter sido polida pelos deuses! Uma visão memorável que guardarei para sempre!" o homem para de andar novamente "Meu Lorde, seria de sua graça me deixar olhar a carta do destino também? sei que é fora das normas de conduta, e que sou indigno do mero resplandecer de luz da sacrassidade da carta do destino. Mas ainda assim meu coração palpita com a oportunidade de vê-la!" seu olhar agora parece mais sincero, a emoção é evidente!

Enzo para de andar olha o homem, pensa em que tipo de situação insana ele se meteu, não pode deixar de balançar a cabeça negativamente, ainda assim, sua mão reflexivamente vai ao bolso esquerdo de seu moletom. Um card padrão de jogos de rpg se encontra lá, toda preta com uma fumaça realista que se move no card.

"E-essa é a carta do destino?" Enzo se deixa enganar por um segundo, mas já viu mágicos colocando coisas nas pessoas sem ninguém perceber. E a carta em si, tecnologia avança rápido, com total certeza existe uma técnica de impressão que entregue este efeito.

"MEU LORDE! Uma carta negra! Seus poderes darão inveja aos deuses! Um futuro ainda mais inquietante e excitante nos espera!" o homem respira fundo "Para sempre serei grato pelo deslumbre desta carta magica meu senhor! Sua graça é benevolente para este pobre velho!" ele empurra uma samambaia para fora do caminho

"Chegamos senhor" homem exclama com um sorriso.

"tá de caô!?"

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