1 Prólogo

"Hã!?"

Minha expressão, inconformado, assustava as pessoas que andavam. Talvez elas achassem que eu vi um fantasma ou algo do tipo. Porém, o que realmente me surpreendia, era a paisagem que eu tinha avistado.

Era uma grande cidade, populosa a ponto de você conseguir se perder apenas dando alguns passos. Ela tinha uma estrutura medieval. As casas eram feitas apenas de pedra e madeira, talvez no térreo da residência, funcionaria como uma loja ou algo do tipo. A cidade era envolta por muralhas que com certeza batiam 90 metros de altura.

As pessoas, não estavam coincidindo com o padrão que eu conhecia. Homens estavam usando armaduras, outros usavam capas (mesmo estando um calor extravagante). Mulheres usavam grandes vestidos, e as crianças usavam roupas mais simples.

Logo imaginei, que o que eu estava vendo era um sonho, pois nada disso parecia real. A paisagem de uma cidade da idade média, populosa, era completamente fantasiosa em minha mente. Pensei também, que eu estaria dentro de alguma simulação, mas era tecnicamente impossível, já que todos os meus sentidos funcionavam corretamente. Não tinha como eu não cogitar, que realmente eu fui levado para outro mundo.

Na minha cabeça, até debochei da situação, não havia nada mais clichê do que reencarnar em um mundo medieval após morrer.

Eu olhei a minha volta, e todas as pessoas realmente pareciam estar vivas o suficiente. A cada cidadão que passava por mim, eu podia sentir seu cheiro característico, mostrando que eu podia usar meu olfato. Eu me tocava sem parar, e confirmei também o meu tato. Os comerciantes, comunicando em um alto tom, chamando seus clientes, me confirmou que eu podia usar minha audição.

"Caramba... Onde eu estou?" me perguntei.

O mais importante dos questionamentos era: Como eu fui parar ali?

Se tudo estava tão vivido, meus sentidos estavam funcionando, onde eu realmente estava? Reencarnação era a palavra certa? Pois, eu não tinha nascido como um bebê, pelo que eu podia ver, eu estava de pé, em uma altura ideal.

Eu talvez, me lembrei do que havia ocorrido anteriormente.

Dia 27 de Julho de 2022 — Foi o dia em que tudo começou.

Acordar cedo, ir para o trabalho e voltar bem tarde a noite, era a rotina que eu fazia todo santo dia. E nesse, não foi diferente, a não ser que...

Neste dia, eu não estava voltando exausto por conta do trabalho exaustivo, era porque eu não precisava mais trabalhar naquele lugar. Fui mandado embora, e só fiquei sabendo quando cheguei lá — consequência de não olhar a caixa de email de manhã. Fora um dia e tanto, levar todos os meus pertences embora do escritório.

A única coisa que eu podia fazer, para talvez me alegrar um pouco, era tentar era conversar com uma pessoa, que talvez estaria disponível naquele horário da noite. Ela era uma mulher, que eu conheci no trabalho. Passei noites pensando nela, mas nunca consegui ter a coragem de me declarar.

Foi naquele momento também, que o dia só estava piorando cada vez mais.

Eu cheguei na rua onde morava, mas fui surpreendido. Ela estava saindo de seu apartamento, com outro homem. Ele tinha um carro, e então a levou para dentro dele. Ela estava sorrindo, já estava feliz o suficiente. Não consegui ficar com raiva, apenas com uma tristeza profunda, afinal, o homem não parecia ser uma má pessoa, todos os gestos até a levar para o carro era gentil demais.

Foi apenas eu, que não consegui a tempo.

Então, não havia outro destino, a não ser a minha casa. Ou melhor, meu pequeno apartamento. Subi as escadas com uma tristeza profunda ancorando meu coração, meu rosto parecia já não estar mais com vida. Abri a porta de casa e anunciei que havia chegado, andei alguns passos adentro, e perto de entrar no quarto minúsculo — único cômodo da casa — ouvi alguns soluços de choro.

Então me apressei para entrar o mais rápido o possível. O que eu avistei, foi apenas a minha irmã mais nova, agachada e chorando. Perguntei o que havia acontecido, ela respondeu que tinha sido rejeitada pelo seu amor colegial. Era claramente o que eu estava sentindo também, mas segurei para minhas emoções também não transbordarem, e consolei ela, como um verdadeiro irmão mais velho faria.

Passou-se os dias, e nada acontecia. Ninguém me chamava para um emprego, nem se quer uma entrevista. Assim se passaram meses, e decidi não continuar insistindo. Assim que dei a notícia que estava sem emprego, meus pais ajudaram a gente se sustentar, que não precisava de muito. Então eu virei um NEET completo.

Era o destino da minha vida depois daquele dia, apenas ficar em casa, jogando jogos online sem fazer absolutamente nada. Minha irmã mais nova, tentava achar emprego de meio-periodo, todo santo dia. Alguns dias, ela chegava em casa e anunciava que não havia conseguido, mas ela não deixou se abalar por conta disso.

Porém posteriormente, eu causei a sua preocupação suprema.

Talvez por exaustão, eu desmaiei dentro do apartamento. Quando ela chegou em casa, me viu completamente desmaiado no tatame que havia no chão. A única cena que me lembrei, era que eu consegui abrir os olhos e eu já estava ao hospital. Os enfermeiros estavam segurando a maca hospitalar, me arrastando talvez para a sala de cirurgia ou algo do tipo. E quem estava junto, era a minha irmã mais nova, derramando quantas lagrimas ela conseguia.

Foi neste momento, que percebi minha consciência se esvaziando, e lá pude perceber, que ela não tinha perdido nada de sua beleza, desde que era pequena, sempre foi bela daquele jeito. Essas foram as últimas lembranças que eu tinha daquele mundo.

Depois de fechar os olhos, e não conseguir ver nada, senti que realmente talvez eu tinha morrido. Mesmo assim, me forcei abrir os meus olhos, e quando consegui ter uma visão, um sol batia fortemente em meus olhos. Foi quando percebi que estava em outro lugar, em outro mundo.

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