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Gyeonggi-do, 2002
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Uma moldura pendurada na parede velha de uma delegacia, esfriou com o tempo após recordar o que viveu no passado, uma decepção de ser arrancada vivamente de sua casa novata para cair na decepção de uma amizade mentirosa que o tragou para o mundo cruél na qual lhe acabou sendo reservado. A cidade era vista através do vidro da janela gélida ao lado de Yu Kang So, onde ele dormia desleixadamente no banco da delegacia. O sol não brilhou por quase uma semana sobre Gyeonggi-do. A cidade não era como ele pensou, bem menos como Jin-hwa explicou que seria.
Ele gostou do nome e gostava ainda mais da sensação de estar protegido pelos belos muros antigos do que parecia ser uma fortaleza construída de pedra no meio do nada, sem ninguém saber onde estava, ou de como chegar lá. Aquilo parecia uma aldeia britânica do século dezesseis, completamente exilada do restante do mundo como uma aluna tímida na fileira escolar na escola da terra. A cidade parecia existir em um mundo de ilusão, completamente medieval, mas refletindo o designer do império japonês em seus ideogramas culturais.
Os poucos livros que Ju Gyeom havia lido e gostado sobre o histórico da cidade eram bastante limitados em acontecimentos do passado, e em algumas das histórias havia pouquíssimas referências da atualidade, nada havia acontecido em Gyeonggi-do para que o fizesse correr contra o tempo novamente e evoluir.
Ele olhou para o vidro da janela, o crina estava instável, mas sequer o vento podia passar pela fresta da pequena janela da delegacia. Dentro do lugar estava calor, justamente agora que Ju Gyeom começava a gostar do ar livre. Aprendeu com o sentimento de prisão que o sentimento de liberdade era importante. Agora ele não odiava mais o vento — agora gostava dele.
A sensação do vento batendo contra seu corpo em um dia ensolarado, e até mesmo tão frio quanto o próprio gelo. Ju Gyeom sentia-se cada dia mais saudável, estava cada dia melhor, ele agora corria mais rápido e por mais tempo, e conseguia pular corda até cem vezes seguidas sem parar. Assim como aquelas lindas plantações de flores que viu na entrada da cidade, quietas por cima, mas sempre criando uma movimentação clandestina por baixo da terra e, com o pingo da chuva, crescendo cada vez mais e em mais quantidades.
Certamente que, de qualquer maneira, quando chovesse novamente além de uma singela garoa. A chuva os alcançaria imediatamente, quanto rapidamente.
A delegacia não estava calma, assim como uma grande movimentação das copas das árvores eram visíveis da janela. Ju Gyeom olhou para o lugar de vez em quando, mas desde então nunca tirou os olhos da moldura estampando uma fotografia antiga em uma das paredes laterais da sede de polícia. Eventualmente, notando singularidades, e semelhanças do garoto com qualquer outra pessoa da sua idade na atual Coréia, além dos antigos costumes de Gyeonggi-do.
O olhar de Ju Gyeom estava fixo, sendo silenciado cada vez com o alvoroço que formou atrás de si na delegacia, uma discussão pacífica sobre um mal entendido, e uma permissão mal entendida. Ju Gyeom estava cheio disso, estava de pé desde que chegou, não caminhou até onde estavam as cadeiras pois era lá que estava sua mãe e seu pai, ambos impacientemente ansiosos com sua viagem atrasada para o outono. Ele até pensou em cochilar no lugar, cansado de tudo que envolvia-o naquele lugar, mas ele não podia sair dali.
Sua mente estava ocupada e tecnicamente confusa, pensando em alguém que não conhecia.
Uma imagem bastante bela estava pendurada numa parede da delegacia. Um menino bastante jovem, mas nem tanto para ser considerado jovem demais para Ju Gyeom apreciar. Aquele menino parecia estar usando roupas da cor cerúleo e uma pequena vestimenta por cima de suas vestes padrão, ele parecia ser um estudante de algum colégio privado estabelecido naquela cidade para poder usar aqueles tipos de roupa no início do século XXI em Gyeonggi-do. Em que outro lugar poderia-se encontrar uma espécie de roupa padronizada para meninos usarem além de colégios privados ou religiosos como aquele? Que além de possuir apenas uma espécie de tecido, existiam vários outros completando sua aparência bem elaborada? Aliás, bastante peculiar para ser sincero.
Havia uma moldura velha acolhendo o retrato, como uma linha fina envolvendo o horizonte no fim da tarde. A roupa do garoto, sua aparência, eram quase japonesa. Os trajes eram eventualmente da linha de estética antiga que era usual do império Japonês quando ele ainda atuava na Coréia, dentre o início do século vinte. Afinal, em que lugar poderia-se encontrar alguma espécie de colégio que ainda detinha de privações antigas em pleno século XXI?
Oh, era bastante impossível imaginar. Olhando para aquela imagem dócil, suas roupas denunciavam que era uma imagem bastante antiga e o desenho pintado de preto e branco apenas confirmavam suas dúvidas precoces. E ainda mais, Ju Gyeom observou aquele garoto sob aquele adorável casaco comprido padronizado, vestindo outras vestimentas típicas da Coréia na qual vinham juntas ao estilo estudantil de época passada na qual provavelmente ainda eram mantidos em Gyeonggi-do - ele gostaria de negar, mas parecia não ser da sua época.
Ju Gyeom conhecia aqueles tipos de vestimentas padronizadas, mas eram muito antigas, usadas frequentemente entre 1850 à 1920 no interior da Coréia, que atualmente é conhecido de Coréia do Sul. Eram bastante populares dentro cores naturais alternando com cores puras ou vivas, conhecidas como alta pigmentação de tecido de seda. Costumavam parecer simples, mas eram alternados entre o branco e o verde, e por cima detinham vários outros tecidos, de seda multicolor com um costumeiro manto coreano esverdeado e uma espécie de colete de poliéster estampada de azul e branco que eram debruadas em amarelo real - essa descrição inclusive, válida até o início de 1920 quando nas instituições privadas da cidade, Gyeonggi-do, tais roupas deixaram de serem frequentes para darem espaço para outras espécies de roupas mais apropriadas e modernas que começaram a serem usadas por estudantes de colégios através de mudanças nas perpectivas regionais de como funcionariam instituições pagas daquele ano em diante.
Ju Gyeom sabia muito sobre esse tema, mas não era assim de memória aprimorada ou de vontade própria para aprender tal história. Ele havia entregado uma pesquisa sobre o tema para sua aula de história na semana passada, então memorizar aquele tradicional hanbok derivado do kimono não acabou sendo difícil, na realidade, acabou sendo bastante fácil - principalmente para alguém que nunca tirou uma nota A na vida.
As roupas usadas no século XIX ainda eram mais modernas que aquilo, mas aquelas roupas eram parecidas com o que usavam na época das dinastias da Coréia ou dos três reinos que eram mais distintas, entretanto eram peças bastante familiares com que usavam os japoneses e os chineses em suas nações mais antigas. A verdade era que reconhecer um tecido como aquele, que há anos não era mais utilizado nas escolas coreanas tradicionais como uniforme, era até que bastante fácil, quase como uma missão infantil - Ju Gyeom pensou.
A realidade por trás daquela ação podia ser bastante óbvia dependendo de qual época era tirada a pequena fotografia velha. Houve épocas em que, antes de existir o lado Sul e o lado Norte de uma única nação, o pais um dia foi somente uma potência organizada. Repleta de conflitos, mas que estava dando o seu melhor para evoluir conforme o tempo exigia. A Coréia era um bom lugar quando acabou sendo forçada contra vontade pelo Japão em seu período Imperial. Atualmente ela nada mais é que um território localizado na península homônima do Nordeste Asiático que é dividido entre dois Estados soberanos distintos: Coréia do Norte e Coréia do Sul. É uma península de nome próprio que tem fronteiras com a China à noroeste e a Rússia à nordeste ainda dentro do perímetro asiático do país, além de ser separada do Japão à leste pelo Estreito da Coreia e pelo Mar da China Oriental.
Porém o país acabou envolvido em conflitos decorrentes de invasão de países vizinhos que rapidamente cobiçaram o território coreano, como o Japão. Foi em 1945, no final da segunda guerra mundial, quando a União Soviética e os Estados Unidos entraram em um acordo sobre à rendição do Império japonês sobre às terras coreanas, mas nada além de negócios, pois sendo assim à União soviética ficou com o norte-coreano e os Estados Unidos com o lado sul-coreano, deixando a Coreia dividida ao longo do paralelo 38, com o Norte sob ocupação soviética e o sul sob ocupação estadunidense. Estas circunstâncias logo se tornaram a base para a divisão da Coreia pelas duas superpotências, que foi agravada pela incapacidade de chegar a um acordo sobre os termos de independência do país.
O governo de inspiração comunista no Norte recebeu o apoio da União Soviética, em oposição ao governo pró-ocidental no Sul, o que levou a divisão da Coreia em duas entidades políticas. Isto eventualmente levou à guerra em 1950, que se tornou conhecida rapidamente pela participação da China em favor do Norte e do exército americano no Sul. A guerra não acabou com um tratado de paz formal, mas apenas com um armistício, fator que contribuiu para as altas tensões que continuam a dividir a península. Dependendo da época, podia ter sido avassalador para os estudantes coreanos da época que ao invés de aprenderem o alfabeto coreano comum, acabaram sendo forçados pelo Império japonês a aprenderem o alfabeto nacional do país invasor.
Conquanto, simplesmente de olhar para ele, Ju Gyeom conseguia sentir o que aquele garoto da fotografia estava sentindo quando bateram aquela foto, era como uma mistura de impaciência com tranquilidade, como se ele precisasse de alguma orientação previamente estabelecida. Ju Gyeom sabia como era aquilo, mas não sabia como era capaz de sentir emoções que provavelmente nem aquele garoto sabia que estava sentindo. O olhar dele na fotografia era entregue com receio para a câmera que a tirou, como se alguma divergência existisse naquela ocasião incomum, entretanto, de veras familiar.
Ju Gyeom suspirou, virando sua cabeça para o lado quando ouviu seus pais gritarem na delegacia. Por alguma razão estavam lá naquele dia, devia ser alguma interferência da estrada baldia, mas que por alguma razão era muito monitorada por guardas particulares da região.
Sua família estava bastante decepcionada agora, eles estavam bastante ansiosos pela viagem naquela tarde, mas serem abordados pelos policiais na entrada da cidade realmente não estava nos planos originais da família - tanto que demonstraram seu descontentamento com aquela situação contrariando uma das maiores autoridades daquele lugar que - deixem-me dizer, funcionava de uma maneira bastante precária mesmo quando uma das principais auxiliares do delegado estava lá como responsável devidamente aplicada para cuidar deles até o instante momento.
- Senhora, entenda. Eu não posso ajudá-la, terá que esperar o delegado vir.
Ju Gyeom ouviu quando aquela auxiliar respondeu vagarosamente sua mãe - olhando para ela com um olhar cansado. Sua mãe entretanto retribuiu ao seu olhar, mas com um olhar de indignação e seu timbre pareceu diminuir nove escalões diferentes em apenas uma pergunta, algo que contrariava o timbre que usava há alguns segundos atrás quando ainda discutia com aquela miserável auxiliar de polícia.
- Ãn? Como é? Eu ouvi bem? Você quer que eu espere o delegado vir? - sua mãe questionou impacientemente - Você está brincando comigo, não é, garota? - ela riu olhando para os lados enquanto ponhava sua mão na boca, tentando em uma mísera oportunidade calar sua própria boca para evitar falar o que não devia, mas ela não conseguiu - Você tem noção de quanto tempo estamos aqui parados esperando o delegado vir?! O quê você está fazendo aí é abuso de autoridade, sabia!? O meu marido e eu ainda estamos querendo realizar uma viagem! Você por acaso quer ser processada, hein, minha querida?
Ju Gyeom viu quando aquela garota grunhiu exausta de tanto discutir com sua mãe, ela certamente estava repensando toda sua profissão cansativa e quaisquer aulas que um dia teve para ser quem era hoje em dia, uma auxiliar de polícia, e repensava ainda mais quando encontrava pessoas que nem sua mãe - pessoas que naquela cidade deviam ser muitas para variar, considerando que aquela menina parecia bastante familiarizada com pessoas de personalidade explosiva como era a personalidade de sua mãe.
Ju Gyeom não devia dizer isso, ainda mais vindo de uma pessoa como ele - ele sabia que era uma pessoa podre, mas sentiu pena daquela menina por ter vindo trabalhar nesse dia. Se ela não tivesse vindo trabalhar por qualquer outra razão qualquer, ela poderia não ir para casa com dor de cabeça quando o seu expediente acabasse. Sim, ela teria evitado encontrar justamente sua mãe irritada na pequena corporação devido uma interferência na estrada para Gyeonggi-do
- Ah, minha senhora, não complique. Eu entendo o seu aborrecimento... - ela tentou novamente não discutir, mas novamente acabou sendo interrompida. A história alí estava obviamente visível, sendo retratada entre uma senhora e uma provável menina adolescente que discutiam há horas enquanto o delegado ainda não havia chegado. Ju Gyeom não culparia aquela garota de agir daquela maneira, ela queria cumprir seu dever, senão seria provavelmente demitida. E ela tinha certeza das coisas alí, era visível. Sua mãe era quem queria discutir, aquela menina simplesmente teve azar de ser quem teria que enfrentá-la naquele dia e naquele estado deplorável de mau humor - que por hora, era bastante frequente em casa.
Ju Gyeom somente sentiu muito por ela, de verdade.
- Uhmn... Então você entende o meu aborrecimento, não é?
- Sinceramente, senhora.
A auxiliar concordou, ela sabia que aquela mulher daria mais problema.
- Oh, que interessante... - disse ela calmamente, impacientemente irritada - ... mas se você entende o meu aborrecimento, lindinha. Você também entende como estou me sentindo agora, não entende? - Ju Gyeom viu sua mãe rir para aquela pobre auxiliar, vendo quando ela concordou e murmurinhou um sim de retorno para sua mãe.
Ju Gyeom, entretanto, simplesmente puxou sua touca da jaqueta de couro para cobrir suas orelhas novamente, vendo quando sua mãe deixou o seu adorável sorriso morrer na estrada um pouco antes de elevar seu tom de voz repentinamente para noventa por cento quando voltou seu olhar para aquela pobre adolescente, indagando-a novamente ainda mais impaciente - Então se você entende como eu estou me sentindo, porque você não libera aquela porcaria de estrada e manda aqueles policiais chisparem dalí, hein, garota!?
A garota grunhiu, mantendo sua paciência no lugar.
- Senhora, você não está me entendendo, não sou eu quem cuida dessas coisas da delegacia. - disse ela cansada daquela mulher - Quem manda aqui não é eu, é o delegado, ele ainda é autoridade maior aqui e eu não posso desobedecê-lo de maneira alguma. - ela explicou lentamente - Em uma delegacia há várias pessoas que estão ligadas em determinados cargos e quem desrespeita alguém de algum cargo superior ou mesmo de um cargo inferior, é extremamente punido. Ou por acaso vossa senhoria quer que eu perca o meu emprego, uh?
Ela perguntou sarcástica enquanto mantinha sua cabeça no lugar. A mãe de Ju Gyeom entretanto continuou com sua cara de pouca paciência, batendo suas unhas compridas contra o balcão na qual estava encostada depositando todas as suas reclamações desde quando haviam chegado na delegacia. Ela, entretanto, por causa de sua calma repentina, suspirou calmamente olhando para aquela mulher mau humorada com uma expressão entediada, estranhando quando ela sorriu para sua direção e disse:
- Ah, muito bem então, senhorita... Eri. - disse ela olhando para o crachá na roupa da menina - Ouça bem, minha querida, não é nossa intenção fazê-la passar dor de cabeça. - ela riu, quem visse pensaria que ela não estava passando por uma dor de cabeça - Só que se você quiser, olhe para isto mais amplamente, você está praticamento permitindo que aqueles caras alí nos dêem uma carta de impedimento para adentrar na nossa cidade natal, Gyeonggi-do! Sabe, nós temos uma moradia paga aqui. - disse sua mãe - Só que como você deve saber, quando viemos até aqui, fomos vergonhosamente barrados na entrada. E por quê, hein? Vai lá, por que isso está acontecendo? Será que você pode me dizer? - disse irritada - Ou será que, ooh, céus. Será que esquecemos de pagar algum imposto da cidade que é imperdoável, hein?
A menina encolheu os ombros como fazem as tartarugas com seu pescoço, ela estava parecendo uma gata assustada, uma cachorrinha perdida. Ju Gyeom, porém, perguntou para si mesmo quem era ela, mas deixou ela de lado e olhou novamente para aquela fotografia antiga pendurada na parede da delegacia. Absolutamente tudo naquele menino o intrigava muito, ele provavelmente era um adolescente pela aparência - mas seu uniforme escolar denunciava que ele não era de 2002, nem de 1985 ou de qualquer outra época parecida, mas que ele era - provavelmente, alguém nascido entre 1915 à 1930. Uma dedução que estranhamente causou indiferença no olhar de Ju Gyeom, quem sabe sua tara por personagens policiais o estivessem amadurecendo de verdade agora, ele podia cursar uma faculdade grandiosa e arriscar virar algum membro da corporação policial - mas ainda assim, Ju Gyeom parecia estar com uma outra emoção peculiar, coisas que obrigam o coração bater mais forte.
- Uma imagem antiga que está em uma delegacia. - Ju Gyeom zombou - Eu ainda vou perguntar por você.
Ele murmurinhou ouvindo quando sua mãe finalmente ficou quieta para ouvir quais coisas aquela auxiliar tinha para dizer, simplesmente virando-se para encarar sua mãe na recepção enquanto sentava-se em uma das cadeiras de couro na recepção, seu pai seguiu o mesmo exemplo e sentou em uma das cadeiras. Sua mãe não pararia de brigar com aquela pobre menina até que o delegado chegasse - e olha que o céu parecia estar escurecendo rapidamente, então provavelmente eles passariam uma noite na delegacia, uma realidade que Ju Gyeom rezava para que não acontecesse. Sua mãe estava discutindo com aquela menina desde às cinco horas da tarde, não era normal que ninguém pudesse apressar o delegado para ir até aquele lugar. É tão longe assim? Até mesmo aquela auxiliar não queria mais ver eles alí, nem Ju Gyeom queria vê-la mais, é então que ele se aproximou da bancada.
- Então, Eri. - Ju Gyeom disse olhando para ela, vendo vagarosamente seus olhos abaixo da franja loira - Será que você não pode dar uma ligadinha para o seu chefe e dizer para ele que nós estamos aqui, hein? Sabe, ajudaria muito.
Ju Gyeom perguntou imitando um telefone com sua mão direita, mostrando acidentalmente - ou propositalmente, não há como saber, uma parte de seu braço completamente coberto por tatuagens gravadas nele. Ela olhou muito rapidamente para aquela área de seu corpo exposto, podendo ver quando uma mãozinha de rock estava desenhada no lugar e também onde várias correntes aleatórias seguiam para cima de seu corpo, provavelmente recheado de outras tatuagens que somente sua namorada teria o prazer de conhecer.
A menina entretanto olhou para ele com uma cara discreta, principalmente para sua mão que possuía escrito alguma coisa de envolvimento militar nela, podendo jurar que viu um demônio alí, desenhado em seu braço. Entretanto, embora o cara parecesse bonitinho e estivesse pedindo com uma educação mediana para que ligasse, ela ainda preferiu simplesmente virar sua cara e olhar para o lado, ignorando-o completamente. Ela podia ser uma recém-empregada, mas não era uma idiota da vida.
Se você der corda para um cara desses em um dia, cheio de tatuagens no corpo, usando roupas de couro e vestindo jeans rasgadas enquanto consomem cigarro, no outro dia eles já estão batendo na porta da sua casa dizendo que é algum conhecido seu. Ela pensou, com uma súbita vontade de rir. Ele era realmente um homem bonito - mas não para o seu bico, principalmente com aquelas marcas em seu corpo, faziam-no parecer algum ex-presidiário.
E honestamente, caso aquele cara fosse parte da vizinhança de Gyeonggi-do agora, Eri preferiria manter distância dele, não gostaria de ser vista com alguém assim - pois quaisquer beleza exterior que ele pudesse ter, era agora bastante turva perto de seu corpo completamente pichado por canetas tatuadoras.
Ju Gyeom, entretanto, continuou calado até o seguinte momento - entretanto, embora chovesse lá fora como uma pancadaria de luta entre chuva e o telhado da delegacia, ele simplesmente ignorou aquela escassez de palavras da garota e prosseguiu com um pedido vago enquanto sua mãe ainda estava sentada na cadeira de couro enquanto seu pai já estava no décimo sono. Ju Gyeom entretanto não via outra saída maior que convencer aquela auxiliar metida ligar para o idiota do chefe dela, porque não tinha outra saída, senão eles iriam passar uma noite inteira naquela sala de espera ridícula e sem esperança alguma.
- Ah, qual é? O que custa você ligar para ele? Essa linha nem é sua de qualquer maneira. - Ju Gyeom reclamou sentando-se na cadeira, mas logo levantando da própria e caminhando até ela novamente - Você não quer ligar, não é? Minha mãe irritou você e agora você quer nos castigar aqui para sempre, não é isso? - ela não o respondeu, irritando sua mãe novamente.
- Olha só, estamos aqui há um tempão, Ju Gyeom estava até falando com o quadro daquela parede ali, você não viu? - ela perguntou - O que você está fazendo é abuso de poder! Quer que eu abra um boletim de ocorrência contra você, quer?
- Contra mim? Ah! Por que contra mim, posso saber?
- Você é nossa auxiliar e não está servindo de nada!
Ju Gyeom ouviu sua mãe gritar, olhando para uma das janelas daquele pequeno lugar e vendo quando uma pequena viatura parou na entrada da pequena sede. A mulher entretanto suspirou enraivecida, gritando quando o delegado gloriosamente chegou naquela pequena sede paralela à delegacia da cidade, liberando finalmente aquela pobre auxiliar que estava sendo de pouco em pouco enlouquecida pela mãe de Ju Gyeom, além de estar sendo questionada do porquê de terem recebido uma carta de impedimento há horas atrás e de até agora estarem esperando o delegado chegar sem notícia alguma de sua liberação - este que quando entrou na sala, entrou com um homem velhinho em uma cadeira de rodas sendo empurrado para dentro da pequena cabana.
- Ah, é claro! - Ju Gyeom grunhiu - Até um velho tem mais sorte que a gente.
- Cala boca, Ju Gyeom. Quem está falando com você agora? - sua mãe perguntou retoricamente, olhando para o delegado em seguida - Olha aqui senhor delegado, estamos com um probleminha sério aqui. Será que dá para resolver essa droga de impedimento cívil agora? - perguntou ela enquanto o velhinho olhava para Ju Gyeom atenciosamente.
- Ahn, mas é claro, minha senhora. Aguardem apenas mais alguns minutos que eu vou atendê-los daqui a pouco.
O delegado disse, recebendo um olhar de desaprovação da mãe de Ju Gyeom.
- Como é? - ela perguntou - Sabe desde que horas estamos aqui? Ju Gyeom estava até falando com aquele quadro idiota alí! E sabe o meu marido? - o homem mencionou perguntar, mas simplesmente esperou que ela respondesse sem precisar instigar - Ele desmaiou alí naquela cadeira, tá vendo? E ele nem tá nem aí mais para nada. Então sobrou tudo para mim resolver … E agora, depois de anos., Será que podemos entrar logo naquela porcaria de sala e resolver isso tudo para que possamos ir embora, que tal? - ela questionou irritada - O que você acha disso? Dá para parar de enrolar e ir logo resolver o meu problema para que eu e minha família possamos sumir dessa porcaria de lugar? Porque assim, não sei se você sabe, mas aquela sua funcionariazinha alí, não serve para nada! Absolutamente nada!
Eri suspirou profundamente.
- Argh, honestamente, que mulher insuportável. - ela murmurinhou baixinho, pegando uma revista de cosméticos para ler.
Como aquela mulher podia ter cismado tanto consigo? Tudo que ela estava fazendo era seu devido trabalho, se ela não ligou para o delegado era porque ela não tinha permissão para ligar, caso contrário tenha certeza que ligaria e daria o melhor serviço para aquela coisa que vem do gênero de mulher - mas calma, Eri também não culparia ela totalmente, ela devia ter empatia, era o que dizia sua avó. As pessoas não são completamente ruins, ela obviamente estava ansiosa para uma viagem que deu completamente errado, não há como culpar - mas levar amargura reprimida para casa, Eri também não levaria, estava trabalhando e não roubando. Aliás, para quê teria que ficar calada ouvindo sermões quando ela está simplesmente executando o seu devido trabalho?
O delegado, no entanto, interrompeu quaisquer devaneios que Eri estava tendo sobre essa mulher que ela mesma não tinha ideia de qual era seu nome - e caminhou até chegar a uma grande estante interconectada na cabana, e então folheou um livro que estava aberto na página 91 sobre código de penalidade de trânsito daquela cidade e procurou por qualquer coisa relacionada às leis da cidade que impediria o casal de ser um residente da cidade de Gyeonggi-do.
- Olha, senhora. - disse olhando para ela - Seu caso é bastante comum nesta cidade, vários estrangeiros da região vêm aqui, mas geralmente são impedidos de entrar. Às vezes não conseguimos permitir que um ex-morador volte nessa cidade por causa de alguma reclamação pendente que ele tenha deixado antes de ir embora, portanto quando volta para Gyeonggi-do, essa pessoa hipotética não recebe acesso legal para habitar Gimgyand novamente. É uma objetividade mal compreendida e, às vezes, pessoas são barradas por entendimentos precários da situação. - afirmou olhando diretamente para Ju Gyeom.
- E vocês nunca tentaram mudar essa regra? - ele perguntou.
- É mais complicado do que você pensa, mas é necessário manter uma vizinhança saudável entre todos os moradores. Pessoas distintas possuem verdades ocultas e distintas, nunca sabemos quem está entrando na cidade, portanto uma medida protetiva é bastante aceita pelos habitantes da cidade. Mas, de certo que alguma vez cometemos erros grotescos de impedimento e que causaram extrema dor de cabeça para todos nós e para os nossos recém-chegados moradores. Mas nada que seja assim, digamos, muito imperdoável. Entende? - disse ele, alternando seu olhar para Ju Gyeom e para sua mãe - Mas o quê acontece realmente aqui entre nós, minha senhora, é que essas coisas costumam ser mais normais aqui, em Gyeonggi-do, do que aquilo que é devidamente normal em outras cidades da nossa região. Entende? - ele disse recebendo uma cara confusa como resposta de sua mãe - Mas fique calma, madame. A informante 006 me enviou um relatório via rádio sobre o que estava acontecendo aqui. E garanto-lhe, senhora Yu, que tentei chegar o mais rápido que pude.
- Ah, é? - Ju Gyeom perguntou - É uma pena que por causa da sua demora, suas palavras pareçam não valer nada. - disse ele antes de sair dali bruscamente sem dar a mínima importância para qualquer repreensão dada anteriormente por sua mãe. Ela que o seguiu com o olhar enquanto parecia ficar ainda mais irritada, seu habitual normal, pensou Ju Gyeom ouvindo aquele seu soar musical mágico que vinham como reclamações e notas musicais sopradas pela boca dela em um modo particular que somente ela poderia o consider tanto para poder vivenciar aquele momento familiar na delegacia.
- Ai, que droga, Ju Gyeom! Será que dá para você ter mais respeito, seu pirralho? - ela questionou irritada quando Ju Gyeom caminhou para longe deles até chegar na parte mais escura da delegacia, ainda dentro daquele mesmo salão, mas um pouco mais afastado da sala do que o requerido por sua mãe no início da viagem.
Mas sendo sincero, só tinha mudado de lugar pra poder olhar para o delegado de um diferente ângulo. Tão disciplinado, todo experiente, falando com autoridade de coisas importantes com pessoas importantes.
Ninguém sequer imaginaria que Ju Gyeom pudesse tornar-se um federal de respeito, na verdade, imaginar Ju Gyeom como federal, militar, ou até como qualquer outro alguém de respeito era praticamente como sonhar o sonho mais medíocre de todos, pois ele mesmo era como um gato preguiçoso que acordava todos os dias com metade do corpo pra fora da cama, uma linha de saliva pelo lado do rosto, a boca aberta com os dentes à mostra liberando os roncos mais engraçados já ouvidos e os cabelos de ébano num bolo de mechas tão volumosos que não se achavam lá dentro nem as suas próprias orelhas!
Ele admitia, o Ju Gyeom - alí naquela delegacia - não passava de uma tremenda farsa criada para tentar enganar quem ele realmente era de verdade. Um idiota problemático que só rendia problemas para sua família, um adolescente ridículo e sem esperança, sem coisa alguma e sem envolvimento aparente com ninguém - tanto que na primeira mísera oportunidade de privá-lo do mundo, tão rápido quanto o próprio flash de uma câmera de última geração, seus pais acataram e alí estavam, em uma delegacia lutando para entrar em uma estrada direta para ir até Gyeonggi-do, uma cidadezinha pacata que era o sinônimo do fim do mundo.
E honestamente, o rapaz fazia de tudo pra se manter ali no salão, mas o sol já havia se posto e ele não gostava daquele tanto de gente no mesmo lugar. Familiar ou não, era de uma personalidade felina e precisava de um lugar mais espaçoso e solitário. Com tantas pessoas unidas, aquele lugar parecia uma projeção barata do que era viver em um inferno, uma coisa bagunçada e turva na qual somente pessoas igualmente bagunçadas e turvas podiam viver. Ju Gyeom entretanto não era esse alguém, sua personalidade era como Gyeonggi-do, pacata e solitária, gelada e sem sabor de alegria como era Busan. Ddaegu era uma cidade animada, Busan era tão agitada quanto Seoul, às vezes o produto do entretenimento fazia parecer que a Coréia do Sul tinha três capitais de tão conhecidas que eram. - Ju Gyeom diria que era como visualizar o Reino da antiga Coréia, pobre Era solitária que acabou sendo dividida no decorrer do tempo por potências estrangeiras, uma guerra - somente do início - é como uma derrota.
Ele pensou entretanto rindo para o quadro que havia chamado sua atenção desde o princípio - e olhando para trás, vendo quando o delegado prosseguiu com sua mãe aqua sua conversa sobre Gyeonggi-do e momentaneamente os liberou da delegacia. Eri - por sua vez - observava-o de longe. Sentada com as pernas em lota sobre uma grande almofada vermelha enquanto conversava com sua mãe e com o delegado. Ela não devia dizer isso, mas agora podia ver outras tatuagens junto ao corpo do jovem rapaz.
Eri, porém, estava em uma certa medida de precaução para que não houvesse o risco de que ninguém que passasse perto dela, lhe visse olhando - ou melhor, reparando - em Ju Gyeom. Não que ela quisesse esconder, mas ainda estava desbravando sua personalidade, aliás, um de seus passatempos favoritos. Ler quem vinha na delegacia e tentar adivinhar por qual razão estavam lá, mas bem, embora tenha começado recentemente seu mais novo trabalho naquela sede - ela parecia estar se dando bem nessas coisas de esperar e servir pessoas com cautela.
E então, podia descansar quando o delegado chegava na delegacia, e realizar seu hábito - um pouco invasivo, mas natural de sua personalidade. Aliás, aquele jovem parecia ser algum pilantra, ou alguma coisa do gênero. Será que tinha passagem pela polícia? - pensou ela.
Sua postura ereta, cabelo penteado e bagunçado ao mesmo tempo, uma camiseta de rock por baixo da grande jaqueta de couro igualmente preto, e sem falar das botas cheias de cadarços que pareciam pertencer para algum metralhador.
Ela parecia bastante surpresa pela aparência daquele menino, ainda mais pela orelha seguida por uma trilha de brincos pequenos antes de chegar até um brinco de corrente que prendia no lóbulo de sua orelha e vinha até o trajeto superior dela - era magnífico, Eri diria, mas somente garotos perdidos usariam aquilo. Ou será que ela estaria julgando-o precocemente? - Ela pensou consigo mesma, porém, continuou quieta em seu canto enquanto fingia ler uma revista patética sobre cosméticos britânicos que sequer vendiam na Coréia.
- Agora para liberá-los, preciso do nome de vocês. - disse o delegado.
- Para quê você precisa disso? Já não nos conhece o suficiente? - Ju Gyeom indagou.
- Ah, quem liga para isso, Ju Gyeom? - perguntou sua mãe, repetindo seu nome para o delegado com admiração e uma certa quantia de cordialidade - Posso falar agora? Já quer que eu diga? - ele concordou - Ah, ótimo. Anota aí então, meu nome é Im Jin-hwa, o dele é Yu Ju Gyeom e o do meu marido é Yu Kang So. E calma aí, antes que você pergunte, Im é meu nome de solteira e Yu é o meu nome de casada. Eu, pessoalmente gosto mais de Im Jin-hwa do que Yu Jin-hwa, mas se você quiser, pode anotar meu nome aí nesse caderninho como você achar melhor. Tudo bem? - ela questionou sendo rapidamente correspondida.
- Ah! - ele exclamou - Im Jin-hwa então, Im é um sobrenome bastante elevado.
- Oh, eu concordo. - ela riu - É bem melhor que Yu, não acha?
- Uh, certamente.
"Ah-Oh-Uh" - Ju Gyeom pensou. Porque eles não pegam seus hábitos regionais e não criam uma música? Se quisessem podiam por o nome mais óbvio de todos qualquer um que eles quisessem, aliás, o titulo vinha inclusive pronto - "Ah-Oh-Uh" como sotaque é bastante aplicado, pessoas de certa região costumam usar mais o "Ah" como expressão para literalmente tudo enquanto em outras regiões o "Uh-Oh" junto é mais utilizado, ou até mesmo separado como em vizinhanças pequenas ou até na grande Busan. É, na verdade, um hábito interessante.
Tanto que certas pessoas vindas de Ilsan, Seoul, que não possuem sotaque nenhum, podem com o tempo - variando a sua convivência com pessoas de Ddaegu e até de Busan - podem acabar misturando todos os sons e acabar criando uma mistura adorável de todos os sotaques, assim como alguns ídolos da Coréia de Sul faziam e acabavam misturando, por conviver com vários amigos de diferentes regiões, tais sotaques e criando um próprio, geralmente similar com o original. Ju Gyeom pensou, era uma lógica razoável das suas antigas amizades, pessoas que vieram de regiões consideradas sem sotaque, mas que com o tempo aderiram o hábito de Busan graças à ele.
- Ju Gyeom. - chamou o senhor de cadeira de rodas, aquele que o delegado havia trazido para dentro da cabana quando este havia acabado de chegar, Ju Gyeom entretanto simplesmente olhou para ele com cautela, notando quando o homem virou para si com um sorriso imenso estampado no rosto - Vi que você gostou daquele quadro. - disse ele quando Ju Gyeom se aproximou - É uma história bastante trágica se quiser saber. Todos dizem que é uma maldita ficção, mas eu mais que qualquer um posso dizer que não, não é uma ficção. O que está gravado na história de Seol Su Kyung é terrívelmente verídico e não há nada que eles possam dizer que me fará mudar de idéia.
Ju Gyeom estranhou estreitando seus olhos, olhando para o velhinho com cuidado.
- Seol… - disse ele lentamente com melancolia - Seol Su Kyung?
- Sim, Seol Su Kyung.
- Quem é Seol Su Kyung? - Ju Gyeom perguntou estranhando aquela conversa. Então este era o nome do garoto da foto? Seol Su Kyung?
- Ooh, ele era um menino bastante popular... E belo, muito belo. - disse sorrindo - Ele tinha um brilho tão grande, meio fusco para sua época, mas ainda assim. Você olhava para os olhos dele e via o mundo correr por aquelas íris de carvalho. - disse parando de sorrir - Ah, como era belo, pena que o mundo não apreciou tamanha beleza e o deixou morrer. - o velhinho comentou tristemente - Sabe, menino. Deviam sentir muita inveja dele, raiva por Seol Su Kyung ser quem era, uma pessoa de adorável personalidade. É, devia ser isso, ninguém nunca soube apreciá-lo como ele merecia, ainda mais quando seu sobrinho desapareceu. Ah, você devia ter visto, se bem que não tinha como você ter visto, mas queriam esganá-lo, diziam que ele era quem o matou.
- O... matou? - Ju Gyeom indagou vagarosamente - Por que o acusaram de cometer uma coisa como essa? O que aconteceu com o sobrinho dele? - Ju Gyeom indagou surpreso, visualizando cada mínimo detalhe da expressão facial daquele velho senhor. Sua aparência era parecida com o rosto de qualquer outro velhinho qualquer; cabelos brancos, pele enrugada, cheias de marcas que lhe foram aplicadas pelas vida no decorrer do tempo, linhas caídas, além de pálpebras mais baixas e manchas rodeando seis olhos. Suas roupas eram simples, parecia uma roupa casual pertencente de alguma instituição para idosos - o que era ainda mais triste.
- Olha... - Ju Gyeom murmurinhou baixinho, encarando-o silenciosamente - Ele era algum tipo de, assassino da época ou alguma coisa do tipo? - ele questionou, mas ainda sem resposta do velhinho.
- Não, na verdade, não. Esses são apenas boatos. - o respondeu depois de alguns minutos olhando para o quadro de Seol Su Kyung - A verdade, meu jovem, é que tudo por trás dessa história é ainda mais dolorosa do que parece. E não é apenas para o sobrinho de Seol Su Kyung, mas também para ele que imediatamente após seu desaparecimento, virou o único e verdadeiro vilão dessa história mesmo sem ter cometido nada de errado. - disse o velhinho, fazendo Ju Gyeom duvidar dele.
- E como pode ter tanta certeza? Você vivia com ele? - Ju Gyeom perguntou para o velhinho rapidamente, trazendo os olhos dele para sua direção suavemente.
- Eu estudei com ele na casa da madame Kim. - o velhinho respondeu - Nossa professora de japonês.
Ju Gyeom, por sua vez, abriu seus olhos surpreso com aquela resposta. Gostaria de não sentir-se intigado com aquela história contada por aquele senhor de idade - no entanto, suas entrelinhas, aquelas intercalando suas palavras. Provavelmente escondiam mais que simplesmente letras e vírgulas, Ju Gyeom se perguntou sobre isso, entretanto sua melancolia de palavras mal explicadas pareciam cada vez mais curtas perto do vocabulário extenso que Ju Gyeom realmente tinha. O velhinho conseguiu devorar suas palavras e engolí-las com apenas um gole de sua história - ele o tragou e rapidamente o cativou. Aquilo, aquele tipo de coisa eram coisas que faziam o coração bater mais forte, e como qualquer humano na terra, Ju Gyeom não pode evitar de sentir o seu bater cada vez mais como um tambor de bloco de bateria.
- E... de que ano exatamente nós estamos falando? - Ju Gyeom perguntou.
- Oh? Ah, de 1913. - ele respondeu lentamente - Época que minha vida inteira desabou após presenciar uma cena terrível que eu nunca tive coragem de deportar para a polícia. - o velhinho prosseguiu tristemente - Éramos amigos, mas não muito próximos naquela época. - disse grunhindo - Mas estou feliz que eu o conheci, mesmo que tenha sido ao lado de uma menina loira e de um menino gangster assim como você. Ele tinha essa mesma pintinha abaixo da sua boca. - o velhinho sorriu mais ainda, estreitando seus olhos enquanto trazia sua cadeira de rodas para mais perto de Ju Gyeom - E olha que, olhando para você mais de perto, com minha memória agora velha,. - ele subiu o olhar - Diria que ele era você.
Ju Gyeom grunhiu, vendo quando o delegado chegou até eles e puxou o velhinho pelo suporte da cadeira de rodas. Ele que não disse mais nada, simplesmente abaixou sua cabeça e deixou ser levado pelo homem que Ju Gyeom leu no crachá, uma espécie de plaquinha pendurada em sua roupa, chamava-se Hui Yoon Tae. Este que era o atual delegado da cidade e que aparentemente possuía alguma ligação com o velhinho para cuidar dele tão bem quanto fazia, mas que por alguma razão específica - provavelmente por causa trabalho, o deixava na casa de idosos.
- Ah, o que vamos comer essa noite? - ele perguntou sorrindo.
- Se o senhor quiser, podemos comer macarrão frito com ovos recheados na loja de conveniência da esquina.
- O Cut Food?
- Sim, podemos ir lá. - Ju Gyeom ouviu o delegado sugerir - Quer ir comigo?
- Eu adoraria. Há anos que eu não vou lá, acho que eu tinha uns 60 quando abriu.
Ambos sorriam unicamente, um para o outro, ambos tendo uma parte generosa da atenção do outro. O velhinho entretanto, parecia possuir uma alta experiência de vida - claro, com sua idade ele devia possuir várias histórias impressionantes que renderiam um bom livro caso fossem escritas, ou até mesmo um documentário bibliográfico caso ele fosse alguma personalidade de fama internacional e que possuísse uma certa quantia deslumbrante de dinheiro em seu patrimônio liquido. Mas Ju Gyeom não mentiria, pensava vagarosamente sobre aquele senhor.
Afinal, suas histórias eram mais deslumbrantes que sua própria vida atual. Era só olhar de perto, você veria que ele era um homem bastante antigo e que estava praticamente com um pé na cova. Até porque, o que ele poderia saber sobre este tal Seol Su Kyung? Um suposto assassino de criançinhas inocentes? - poucas palavras para um bom entender era o suficiente. Aquele senhor podia ser uma arma imaginária. E não o entenda mal, Ju Gyeom não queria julgar ninguém, mas sua mente funcionava de uma maneira rápida.
E quanto aquele homem de idade. Bem, ele devia ter mais de oitenta ou até de noventa, então ele podia estar delirando sobre aquele assunto de Seol Su Kyung, mas sua curiosidade - aquela que tilintava todos os dias na mente de Ju Gyeom, podia ser tão grande quanto qualquer outra ilusão criada pela imaginação daquele senhor; desde às mais doces para às mais amargas.
Tanto que Ju Gyeom acabou sendo capaz de imaginar Seol Su Kyung na sua frente, alí, naquele momento e com aquele mesmo uniforme que usava na fotografia antiga. Seria esse o motivo dele ter uma foto sua pendurada em uma das paredes da delegacia? Ele era o réu de algum crime infantil ou familiar? Podia aquele senhor saber de alguma coisa? Ele pareceu gostar de Seol Su Kyung. Esse nome não renderia um bom nome para um terrorista? - "Seol Su Kyung, um criminoso sul-coreano" - seria divertido, mas também muito perigoso.
E embora o perigo chamasse sua atenção, Ju Gyeom tinha mais medo de sua mãe, ela ainda era o personagem mais letal de sua vida. Portanto Ju Gyeom nunca desobedeceria sua mãe por uma megera curiosidade, não naquela realidade que vivia agora em Gyeonggi-do. Jamais o realizaria, nem quando seu coração parecesse acelerar - acelerar como se visse uma daquelas coisas que fazem o coração parar de bater de repente; adrenalina constante, curiosidade perpétua, um crime fatal ou quem sabe uma simples situação perigosa que pudesse por sua vida em risco.
Afinal, o modo mais atraente era morrer de uma maneira perturbadora, para que quando olhassem para trás, colocassem uma referência tentadora de como é morrer. Uma música deprimente de fundo e publicada de uma forma conhecida. Todos comentariam, mas Ju Gyeom ainda manteria sua tentação nos eixos.
Aliás, essas são coisas que fazem seu coração bater mais forte; uma paixão fervorosa que trará nada mais que dor e sofrimento, uma vida medíocre que terminará da pior maneira possível, uma desilusão drástica, um acidente perturbador; como o amor, o amor que nunca poderá ter, ou simplesmente como dor, dor que nunca poderá superar. É o que Ju Gyeom mais queria, sinceramente, é o que ele queria viver, rapidamente, urgentemente, sem ter aquela diária vidinha medíocre.
É o que queria - pensou olhando para o quadro.