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Aurora Vermelha

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Nota: Hello! Gostaria apenas de avisar que esse capitulo é um epilogo, uma historia paralela a todo o decorrer do livro. É um evento que conecta os personagens, portanto, convido a ler os outros capítulos que são focados cada um numa narrativa diferente e historias diversas. No momento a historia segue com 4 personagens distintos, mas um quarto será adicionado ate o capitulo 10, e um 5 e 6 em eventos posteriores. Deixo a nota pois me foi instruído por um amigo a fazer, em vista da extensa diferença que existe entre as historias e as vezes um leitor pode acabar gostando de uma historia e desgostando de outra, podendo não se dando conta, uma vez que possa crer que o livro girará em torno de Leola e Liode e nos habitantes da vila. Atenciosamente.

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Era uma manha fria de inicio da primavera, altos e largos pinheiros eram assolados pelo peso da neve lhes empenando os galhos. O chão da floresta se estendia colina acima num gélido mar leitoso de meio palmo de neve fofa.

O sol pouco efervescia o ambiente selvagem com seus raios mornos, enquanto duas figuras subiam a extensa colina. Resfolegavam, deixando fios de fumo branco no ar gélido.

Uma garota alta de porte magro, de feições suaves por baixo do espesso casaco de lã que a protegia dos ombros aos calcanhares. A outra seguia em seu encalço recolhendo gravetos, esta sendo menor e mais robusta.

Subiram ao topo, ate que os feixes de gravetos fossem grandes o bastante para levarem e ao mesmo tempo não necessitarem fazer outra viagem. A menor ao se dar conta da conclusão do trabalho levou os olhos castanhos ate os de sua irmã e os arregalou enquanto projetava um bico pedinte nos lábios rosados.

-Não podemos ficar brincando aqui, você sabe bem disso! Mamãe nos avisou varias vezes que quando o inverno da adeus, as feras dão boas vindas.

A garotinha intensificou sua feição pedinte, escorrendo lagrimas por seus olhos e enrugando o rosto quase num pranto desesperado.

A maior passou as mãos em seu rosto irritada, mas logo em seguida acariciou de modo afável os cabelos castanhos da menor.

-Tudo bem, tudo bem! Vamos brincar um pouquinho. Se eu conseguir te derrubar a gente vai pra casa. Esta bom?

A garotinha enxugou as lagrimas num sorriso difícil de esconder e se adiantou de imediato, correndo entre os pinheiros e saltando por cima de troncos caídos colina abaixo.

As duas serpentearam o monte entre pinheiros e abetos esparsos. Correram sobre um pequeno riacho congelado, o qual corria no verão com forte correnteza, divisando o bosque. Lançavam bolas de neve uma nas outras, deleitando-se na euforia. Uma bola lançada pela maior acertou a nuca da pequena, fazendo-a cair no gelo bruscamente. A superfície lisa a fez escorregar alguns metro, ralando seus joelhos. Se pôs a chorar, inchando seus olhos castanhos, de pálpebras rígidas pelo vento frio.

- Deixe de ser chorona, nem foi tão forte pra te machucar! - A maior a questiona, enquanto a auxilia a se levantar - Você mesmo acabou de jogar uma dentro da minha gola e meu pescoço quase congelou e não fiquei chorando.

A garota a levanta e beija sua testa, afim de se desculpar. O gesto fora um sacro remédio e a pequena se pôs de pé, afim de prosseguir a brincadeira.

As duas continuariam a se deleitar naquele recanto da floresta, não fosse um uivo longínquo e agourento que ressoou num tom lamurioso. A criatura responsável parecia estar ferida e próximo da morte, pois o simples tom rude e grave daquele choro carregava uma angustia sem fim.

Não esperaram para descobrir se o animal viria em sua direção, e correram colina acima ate os gravetos. As historias de lobos famintos foram intensificadas por sua mãe com todo o vigor nas noite de inverno, as marcando profundamente. A simples menção daquelas bestas magras e amorfas as atacando em bandos intermináveis lhes gelavam a espinha, mas ouvir aquele uivo que parecia mais o pranto de uma criança, as eriçaram de tal forma, que não trespassou metade do tempo que tomavam em retorno para chegarem ao topo.

-Não precisa tremer desse jeito, venha aqui que vou ajeitar seu suporte - a garota se pôs a amontoar e amarrar o feixe da pequena com paciência admirável, apesar da tremedeira que ainda assomava suas próprias pernas - Eu também tenho medo, mas não podemos deixar que eles nos congele como faz ao capim verde. Se um dia você se encontrar com um monstro, precisa correr e não ficar olhando com medo.

-Mas, mas... - Ela se engasgou aos prantos - E se eles nos pegarem Leola? - indaga a pequena.

-Em vez de nos preocuparmos com isso, vamos voltar pra casa. Estaremos seguras e te prometo que em casa nada ira nos pegar.

A garotinha engoliu o choro com dificuldade e se pôs a acompanhar sua irmã a passos largos.

Desceram a colina e se viram num lodaçal de marcas e valetas onde nos meses quentes servia como estrada para as carroças de legumes, verduras e animais que rumava ate o vilarejo sudoeste, onde o povo as comercializava. Estavam habituadas a fazerem aquele caminho todos os dias, mas havia algo além dos lobos que Leola temia e havia esquecido por completo.

No dia anterior, um pequeno grupo de mercenários estava acampado do lado de fora do vilarejo, aguardando o barro secar para seguirem rumo a capital. A forma com que os homens de longas barbas desgrenhadas e casacos surrados conversavam entre si e olhavam ao redor exauria uma repugnância inexplicável. Não bastasse o frio e a neve fora de época, os lobos cada vez mais atrevidos e uma terrível neblina permeando toda a floresta durante a noite, ainda tinham que se preocupar com aquelas figuras de índole inserta.

Leola seguiu pela estrada, apertando suas mãos contra as de sua irmã, pensativa e extremamente preocupada. Logo, ao subirem uma elevação, se defrontaram a um declive e a floresta revelou seu amplo panorama acima das copas.

O véu branco se agarrava as arvores ate onde a vista alcançava, se estendendo ate os altos troncos estaqueados da muralha do vilarejo. O sol descera consideravelmente, o entardecer se assomava nos raios alaranjados do sol morno. O céu azul iridescente era um espelho imaculado de pureza se fundindo no horizonte ondulante. Além do vilarejo e do Rio Prata com sua forte correnteza, dois grandes montes se projetavam. Eram os Montes da Cascata, onde um campo vasto no sopé servia de fonte primordial de pastagem para as vacas de todos os habitantes, uma vez que tudo ao redor por muitos quilômetros era recoberto pelo denso bosque de carvalhos e abetos.

As meninas seguiram de mãos dadas ate que o portão guarnecido por Ethel, se projetava a frente. Contudo, antes de entrarem vila adentro, Leola não conseguiu conter o nervosismo ao passar em frente ao grupo de homens que rodeavam uma grande fogueira, assando um alce tão magro e esguio quanto eles próprios.

As figuras pararam a conversa entre si e fitaram as garotinhas por debaixo de seus capuzes de couro, de olhos sombrios e melancólicos. Leola não conseguiu aguentar o arrepio que se seguiu, apertando o passo numa breve corrida ate o portão.

-SUAS PESTES IDIOTAS! - disse o guarda, num tom áspero - Oque diabos estavam fazendo a essa hora? Estava prestes a reunir os homens para ir atrás de vocês!

A pele ressequida do homem de longos cabelos ruivos e olhos determinados enrijecidos, fazendo saltar as veias de irritação.

O semblante de Leola caiu de maneira contundente. Sentia que conseguiria se enfiar dentro de um buraco de tatu se houvesse algum abaixo de seus pés, de tamanha vergonha.

-Nos perdoe por favor! -Leola suplica, ainda estremecida pelos olhares sombrios dos mercenários- Não sairemos mais sem permissão...

O guarda, percebendo o profundo arrependimento no tom de suas palavras, não tardou a acalma-las.

-Espero que não me façam algo parecido novamente, não quero ver vocês sequer saindo dos limites da cerca. Se me prometerem, faço vista grossa dessa vez.

O semblantes das garotas se iluminaram de alivio e num coro o responderam:

-Prometemos!

-Então saiam da minha frente,- abanou a mão - vão pra casa se esquentar e não ousem se aproximar da minha vista.

Sem perder tempo, se dirigiram pela longa estrada num misto de apreensão e tranquilidade. Cruzaram por duas pequenas cabanas e olharam para trás afim de ver se o guarda sumira de vista. Confirmando, viraram a esquerda por um estreito caminho batido ate a área mais isolada dentro da muralha, um morro alto onde a velha Ethelind construíra sua choupana.

A senhora havia perdido seu marido a dois invernos e os quatro filhos, há mais de dez nem mesmo a visitavam. As garotas adoravam ir ate sua casa todos os dias para lhe fazer companhia, afim de ouvir suas historias e comer os doces que a velhinha fazia.

Como sempre, ela sentava em sua cadeira de balanço na área exterior, bebendo chá numa xicara robusta e desnecessariamente grande.

Ao se dar conta da aproximação das meninas, se pôs de pé e as ajudou a colocar os gravetos dentro de um baú, que servia também como banco.

- Porque se incomodaram em trazer? Deveriam brincar com as outras crianças em vez de se ocuparem com isso! Adoro a companhia das duas, mas a sombras esguias rondando o gelo...

- Fazemos questão em ajudar - Leola responde, estufando o peito orgulhosa.

- Nesse caso não irei me opor dessa vez. - Se vira para a porta, lembrando de algo importante - Esperem que pegarei um presentinho pra vocês.

Apesar de orgulhosa de seu altruísmo, Leola não conseguiu conter a excitação em receber um presente.

A velhinha retornou e estendeu as suas mãos pequenas balinhas amarelas e bolotas escuras de cheiro forte.

-Acabei de fazer as bolotas de creme, então esperem esfriar bem. Adoraria que ficassem um pouco comigo, mas já esta bem tarde e sua mãe logo viria leva-las. Se ainda quiserem ser teimosas, venham amanha que farei um bolo de cenoura bem fofinho.

A idosa de rosto enrugado e olhos gentis estende suas mãos e acaricia os longos e sedosos cabelos castanhos de Leola, e logo em seguida os da pequena Liode. Elas fecham os olhos e alargam sorrisos de satisfação.

Se despedem e rumam de volta pelo caminho batido ate a rua principal, que se estendia em declive ate o Rio Prata. Nessa época, a rua fora movimentada pelo vai e vem de carroças, mas o frio inóspito confinou os moradores a seus salões aquecidos. As chaminés fumegavam, derretendo a neve dos telhados. A estrada era negra e viscosa, e em seus lados, jardins verdejantes se escondiam por baixo da brancura.

A neblina que permeava ao redor transformava a efervescência da vida nos entornos numa vila fantasma. Um sentimento melancólico e opressivo se erguia do solo, pesando a respiração. Passaram por quatro casas ate divisarem uma afastada choupana, maior que as demais. Se detiveram frente ao pátio de seu vizinho, o rabugento caçador Thelbard.

Não havia um dia que sua face grosseira estivesse estampada por um sorriso, culminando no afastamento de seus vizinhos e parentes. Apesar do jeito antissocial, era um homem altruísta e não recusava auxilio a qualquer que fosse.

As garotinhas eram as únicas que o visitavam com frequência e por essa razão detinham grande saber das manias do homem. Leola em especial soube no mesmo instante que o grande alce deitado a poucos metro de sua porta não era de seu feitio, preocupando-se ao se dar conta da chaminé, que não cuspia fumaça como de costume.

Alheia a morbidez da cena, a pequena Liode se desvencilha das mãos de sua irmã e num salto se vê tocando o animal, intrigada por seu tamanho. Leola se aproxima e a puxa violentamente, a afastando.

-IDIOTA! Esqueceu oque eu disse quando...

Seus olhos se retesaram por um instante numa longa haste presa ao pescoço do animal, emitindo um brilho azul celeste fascinante. A estalactite de gelo trespassava fora a fora a longa e rígida jugular peluda.

-A única coisa que poderia matar um alce dessa forma é um Ouriço-de-Gelo. - Comenta como se falasse para si mesmo - Esqueceu que o papai disse pra nunca tocar num espinho deles? Se tivesse tocado sua mão teria caído.

-Me desculpa, papai nunca deixou eu tocar nos alces! -Liode retruca consternada.

-Isso porque você não tem idade pra isso. Mamãe deve estar uma fera.

-Vamos apanhar?

-Provavelmente...

Se apressaram para entrarem em casa sem que sua mãe se desse conta do horário, mas foram surpreendidas na porta antes de levarem a mão a maçaneta.

-Não digam nada! - o cenho da mulher alta e robusta por trás de um longo vestido de lã estava franzido e seus olhos inquietos - Passem pra dentro antes que eu mude de ideia e amarro vocês aqui fora nesse frio.

As garotas ainda não tinham se tocado, mas a nevoa bruxuleante que encobria todo o entorno ja havia enegrecido consideravelmente, pois o sol ja se afastava do horizonte.

O interior da cabana era dividido em 3 cômodos, dois quartos e o grande salão principal na qual seu pai, um homem alto de olhos ligeiros e dedos compridos sentava-se a mesa, tateando um pernil de javali. As meninas se unem a ele em silencio, tentando esconder seu receio. Normalmente levariam um ou duas varinhadas nas pernas por chegar além da hora em casa, mas seu pai parecia imerso em pensamentos, a ponto de nem ter percebido a presença das meninas;

-Elbert, não vai falar nada? - a mulher ainda de cenho franzido, chama a atenção do marido.

-Oh sim... Me desculpe amor! - Leva seus olhos a ela, pensando no que dizer - Amanha vão passar o dia lascando a lenha que eu trouxe. Estou cansado de dizer pra não se aventurarem na floresta, mas continuam a cruzar a muralha pra ajudar a bruxa velha. Sei que gostam dela, mas entendam que não me perdoaria se acontece algo a vocês.

-Como assim na floresta? - a mãe se exalta, olhando para o marido, desacreditada - Me disseram que iriam à casa de Caena...

-Elas são astutas, mas lhe faltam alguns anos para me enganar. O barro em suas botas tem um tom avermelhado que não há nas estradas, somente entre as arvores colina acima. Fora as marcas nas mãos que deduzo ter sido feitas enquanto se apoiavam para saltar sobre os troncos caídos de abetos, que tem uma camada de casca áspera.

A mãe pareceu se enfurecer ainda mais enquanto cortava um pedaço de linguiça. Ainda que possessa, acaba se acalmando conforme saciava sua fome, relembrando quantas vezes aquela situação havia ocorrido. Em pouco tempo ja estavam em sua harmonia habitual.

-Ouvi de Ethela que há um grupo de mercenários do sul acampando fora da vila, é verdade? -A mulher questiona enquanto bebia um cálice de vinho.

-Apesar de Ethela ser uma fofoqueira ardilosa e mentirosa por natureza, dessa vez é verdade! Não entendi porque não quiseram dormir no salão e resolveram dormir lá fora, mas parecem ser homens acostumados a dormir ao relento, então não insistiram nisso.

-Eles não são perigosos? Negar a hospitalidade do senhor é estranho para uma ordem de mercenários, quem dirá nessa época do ano.

-Feche essa boca mulher! Eles levam o selo do lorde Reines, Odin nos resguarde se nos ouvirem.

- Não precisa ser grosso! - A mulher se levanta, levando os pratos ate a mesa ao lado - Falemos de outra coisa se o medo o impede. Diga-me, como foi a caçada?

- Péssima! Achamos um único alce em todo a extensão da trilha. É estranho não termos visto se quer um único sinal de vida, seja pássaros, porcos ou doninhas. Temo que esse frio os obrigaram a ir para o sul e tardem a retornar, ainda que seja difícil de acreditar que seja esse o caso. Não consigo pensar em nada além disso; ou posso... Mas seria tão terrível que me recuso a considerar a possibilidade.

-Espero que encontrem algo amanha, todos da vila estão quase sem mantimentos, dois ou três e não terão carne.

O barulho da lenha estourando na lareira e o som do ventos esbarrando nas quinas da casa induziu a família a finalizar o jantar. Leola, a mãe e o pai se recolheram para as camas. A pequena Leode, no entanto, estava receosa com um barulho do lado de fora e mentiu precisar se aliviar para espiar.

Olhou para a porta de seu quarto e do quarto de sua mãe, tomada pela solidão que permeava o salão escuro, iluminado unicamente pela lareira que definhava a cada segundo.

Seus olhos cintilaram feito um lago refletindo a luz da lua. Os lábios ressecaram e a garganta se exprimiu. O medo se apossou dela tão rapidamente que a mente se exauriu de qualquer pensamento ou memoria. A súbita mudança apagou ate as lembranças daquele dia, como se desde o momento que acordara de manha ate o fechar da porta por sua mãe a poucos instantes fosse apenas um sonho febril.

Uma força além do que podia resistir a atraia para fora por aquele vão da porta, arrastando sua mente e corpo ate que suas pernas se moveram por conta própria.

A lua estava cheia e regava as cabanas e a estrada negra com uma luz prateada sobrenatural. A densa neblina já havia se dissolvido, restando apenas traços esparsos de vapor oscilantes, enaltecendo a luz cinzenta. Seu nariz ardeu fortemente ao inalar o ar pesado. As bochechas rosadas ganharam um tom roxo, assim como suas pálpebras e mãos. Ainda sim, era levada a prosseguir a caminhada num transe consciente. Desceu a estrada enlameada com dificuldade, quase arrastando os pés em certos trechos.

A suave correnteza do Rio Prata podia ser vista a frente, e de sua agua emanava vapores vibrantes e fantasmagóricos. Os vapores se elevavam as alturas feito uma pintura, mas em vez da beleza e sutileza das obra estáticas, sua forma vibrante e oscilava como por vontade própria, numa ira e fome insaciáveis, retorcendo-se ora em longas linhas, ora condensados em múltiplos pontos.

Os olhos da garota lacrimejavam, os músculos tremiam, e a pele enrijecia mais e mais enquanto aquele ar nocivo a impregnava. Sua mente se perdera num limpo longínquo de prazer e curiosidade. As formas eram tão fascinantes que seus olhos não tinham mais noção de distancia, o cenário parecia se reter ate o ínfimo e logo em seguida para além do horizonte concebível.

Quando as nuvens densas pareciam estar prestes a engolir seu corpo e sua alma, algo fez com que as pernas parassem de se mover. Um sussurro lascivo se fez ouvir. Doces sons se perdiam pelo ar, acariciando sua pele feito o toque suave dos dedos de uma ninfa.

De súbito, tudo se perdeu. Os sons, os tremores e o vapor oscilante desapareceram. A garota olhou para seus pés inchados e para seus dedos enegrecidos pelo frio. Não sentia dor nem medo, mas um profundo e irresistível cansaço.

As pálpebras pesavam e pesavam, brigando contra seu fervor inconsciente. Sua cabeça se ergueu num espasmo e no centro da serena correnteza do rio, uma massa amorfa de vapor vermelho efervescia. Brilhava feito uma tocha cor de sangue, pulsando feito um coração maligno alimentado por energias infernais. O pulsar se intensificou pela aproximação da garota e o tamanho da massa fantasmagórica cresceu ate explodir feito um balão, liberando uma neblina maldita para os céus.

A garota acompanhava a transformação tão perplexa quanto desnorteada. O vapor escarlate se alinhou contra a lua, produzindo uma rede vibrante de muitas linhas sobrepostas. Não conseguiu associar nenhuma das formas anteriores a nada conhecido, mas aquela em especial por alguma razão trouxe a seus lábios duas palavras temerosas, ouvidas por acaso num tempo tão distante que não saberia dizer se fora nesta vida ou em mil outras.

- Aurora Vermelha...

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