54 A Desventura de Diomedes e Constantine (3/4).

"Vamos entrar."

Constantine, não pensou duas vezes e começou a andar pela estrada de terra em direção a entrada da pequena cidade na nossa frente.

Sabendo muito bem que ele não ia tentar uma abordagem mais furtiva primeiro, andei atrás dele, pronto para qualquer problema.

A cidade parece um bom sonho, com pequenas cercas de madeira prendendo alguns animais parecidos com vacas, mas de cores variadas que estão mais preocupadas em comer a grama no chão.

Arquitetamente a cidade não era muito avançada, ela não tinha nem mesmo uma estrada descente ou portal, era um local aberto cercado por grandes árvores, intocado pelo tempo.

Penso que nunca teríamos achado tal lugar sem a bússola, realmente, tenho que agradecer mais ainda a Bruxa por isso.

Passamos pelas cercas, que ficavam nas laterais da estrada de terra próximas à cidade, e quando entramos por elas, tive uma visão melhor das casas.

Eram também bem rusticas, feitas de pedra com telhados de telhas de barro, elas estavam postas uma em baixo da outra, deixando uma grande espaço no centro que não havia nada, a não ser uma pequena fonte funcionando no que parecia ser uma pequena praça.

"Parece que os residentes são um pouco tímidos." Conta Constantine.

"Sim, eles são, mas isso é bom, queremos evitar problemas."

Posso escutar muito bem o coração deles batendo atrás das portas das suas casas todas fechadas, todos eles estão próximos das janelas, também fechadas, escutando e vendo pelos pequenos espaços delas nossos movimentos.

Pelo cheiro e fumaça saindo das chaminés, acabamos de interromper o jantar dessas pessoas, eles provavelmente são seres vivos como a Bruxa, que por algum motivo vieram parar aqui por escolha, ou são descendentes de alguns humanos que escolheram viver aqui, sendo assim, eles nasceram nesse reino e são parte dele agora.

"Para onde vamos?"

Olho para a bússola antes de responder.

"Em frente, saindo da cidade."

Isso é bom, se o amigo da Bruxa estivesse dentro de um dessas casas, as coisas seriam um pouco mais difíceis, já que para falar com ele, provavelmente deixaríamos todos os outros nervosos.

Realmente, era uma cidade pequena, só demorou alguns minutos depois de passar a fonte para saímos dela. Ainda seguindo a estrada de terra, fizemos uma curva e começamos a subir em direção de um pequeno morro, aonde no topo dele, esta outra casa, e talvez, nosso destino.

"Ah, com certeza chegamos ao nosso destino."

Olho para bússola, e ela estava apontando para a construção no topo agora visível para nós.

"Como você pode ter certeza? Talvez assim que nos aproximarmos dela vamos acabar no oceano cercado por tubarões ao algo assim."

"Apenas pressentimento." Respondeu o feiticeiro, acendendo seu decimo cigarro.

Sério, como esse cara ainda não morreu? Eu só comecei a contar os cigarros de hoje, e ele já está no número dez.

Quanto mais nos aproximamos da casa pela estrada de terra, mas ficou evidente que ela não era uma residência comum, já que casas normalmente não tem tanta mana vazando delas. Então, devemos estar indo em direção de outro local de poder, faz sentindo que o amigo da Bruxa, também seja um usuário de magia.

Então fomos nos aproximando lentamente, prestando bastante atenção ao nosso entorno que não havia absolutamente nada a não ser verde, até finalmente passarmos pelos portões de ferro aberto ficando de cara para a casa.

Foi incrível, a presença da casa é tanta, que ofuscou o pequeno cemitério sombrio do lado dela, e sua arquitetura, também não é nada simples.

Dois andares, feita de madeira antiga pintada de branca com vários buracos nela, a arquitetura dela lembrava uma fusão entre inglesa antiga, com telhas azuis e janelas saindo para fora, acima do segundo andar, uma torre, com talvez dez metros de altura. Na frente dela, uma pequena sacada com piso de madeira que leva até uma porta de entrada vermelha.

A casa, não estavam em boas condições, havia buracos no telhado, a madeira de toda ela estava suja, gasta e caindo aos pedaços, mesmo assim, ela era imponente por si mesmo.

"Espere, a bússola mudou de posição." Aviso meu companheiro de viajem, que já estava dando um passo à frente.

Sim, a casa roubou tanto minha atenção, que não percebi que o ponteiro vermelho estava agora apontando para minha esquerda, aonde havia outra construção, uma pequena e comum casa de madeira, muito parecida com as da cidade que vi a pouco.

Aponto para pequena casa, e posso ver o olhar de decepção do Constantine. Não posso culpar ele, a casa grande com certeza é mais interessante e convidativa.

Assim que nos digerimos para a pequena casa, a bússola na minha mão desapareceu, uma versão magica de, "Você chegou ao seu destino.".

Não ligo mais para isso e ando até a porta.

"Toc! Toc! Toc!" Bato levemente na porta de madeira nada bem feita com medo de a destruir, e a resposta me pega um pouco de surpresa.

"VISITAS!!!!" Gritou alguém na dentro.

Não foi um grito de medo ou raiva, foi um grito animado, quase histérico.

"Oh não, odeio histéricos e loucos." Comenda Constantine do meu lado com a voz baixa.

"BLAMMM!"

A porta é aberta com tanta violência e força, que seus ferrolhos se soltam a quebrando, deixando ela cair de lado inutilmente.

O responsável por isso, apenas ficou olhando para nós com um sorriso bem louco no rosto, era um homem de estatura baixa, medindo talvez um e sessenta de altura, usando um terno antigo xadrez bege com preto assim como sua gravata borboleta. Seu rosto, também chamava atenção, ele não era muito velho, mas seus cabelos marrons foram penteados para cima, ficando muito parecidos com chifres, e seu bigode, era bem espalhado abaixo do seu queixo.

Seus pequenos óculos, não era o bastante para cobrir seus olhos vermelhos, e seu sorriso, era bem estranho, sem mostrar nenhum dente.

Ele parecia ser um homem culto, mas também deslocado, fora o sentimento que ele está me dando de perigo e uma certa familiaridade também.

Assim ficamos, em silêncio olhando-lhe enquanto ele nos olhava, esperando ver quem vai fazer o primeiro movimento dessa conversa.

Quando estava prestes a falar, o sorriso do homem se fecha, sendo substituído por um olhar pensativo.

"Espere, será que vocês são ilusões?" Perguntou ele para nós, levantando sua mão e a levando até meu rosto, talvez querendo me tocar para descobrir se sou real ao não.

"Sou real." Digo o mais calmo que posso.

A mão para alguns centímetros do meu rosto, depois ele a abaixa rapidamente.

"Visitas!" Gritou ele de novo, com o mesmo sorriso no rosto.

"A Bruxa nos mandou aqui, ele disse que você poderia nos ajudar a encontrar o Castelo do Senhor desse reino." Continuou, com a mesma voz calma, não querendo assustar o homem que pode ser a chave para nossa passagem para casa.

"Claro que eu ajudo, por favor entrem!" Falou o homem rapidamente, virando seu corpo para esquerda e fazendo uma reverência nos convidando a entrar.

Olho para Constantine, ele acena de leve para mim.

Mas antes de dar o primeiro passo, o homem se move de novo ficando na nossa frente tampando a porta.

"Não, esse não é um local digno para receber convidados, acabei de matar meu irmão a poucas horas, e tudo está uma bagunça!" Contou ele, como se não fosse nada demais.

"Esperem aqui, vou montar uma mesa no jardim." Assim, ele passou por nós, que ainda estamos parados na porta.

Viro-me rapidamente, olhando-lhe agora correndo para dentro da casa grande.

"O que você acha?" Pergunto para meu companheiro de viagem.

"Claramente um louco, provavelmente assassino, de qualquer forma, ele pode nos ajudar." Falou ele, puxando outro cigarro.

"Não me sinto nada a vontade em pedir ajuda de um provável assassino."

"Não seja tão puritano, você já deve ter feito contrato ou jogado com algum demônio em algum momento quando esteve no bar, isso não é diferente disso."

"Verdade, mas nenhum deles tinha a chave para minha liberdade."

O homem, saio de dentro da casa carregando uma mesa de madeira redonda em cima da cabeça sem mostrar estar fazendo esforço, ele a colocou na frente da casa na grama, virou para nós e deu um sorriso estranho, depois correu de volta para dentro casa.

"Vamos só ir com o ritmo por enquanto, se as coisas saírem muito do controle, vamos usar a opção Constantine de fazer as coisas."

"A opção Constantine, é uma ***!" Não posso deixar de xingar alto.

"Verdade, mas ela geralmente funciona."

Devo entrar na casa?

Não, isso seria uma ofensa, fora que ele pode ser um usuário de magia, e entrar na casa de um usuário de magia sem convite é muito perigoso.

A também a possibilidade de que ele esteja louco, e imaginou matar seu irmão, isso é uma possibilidade por que eu não senti cheiro de sangue nele ou na casa quando ele abriu a porta.

Constantine está certo, o melhor a se fazer agora é ir com o ritmo vendo aonde isso pode dar.

Nosso amigo, logo saio mais uma vez da casa grande, correndo segurando três cadeiras de madeira e as colocando uma em cada cando da mesa, depois de mais um sorriso dele, ele voltou a entrar na casa para pegar sabe lá o que mais.

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E agora estamos mais uma vez aqui, sentados numa mesa de chá cheia de doses de frente para um desconhecido num reino estranho com uma alta possibilidade dele ser um assassino do seu próprio irmão, e talvez tente nos matar em algum momento.

"Mais açúcar?" Perguntou nosso anfitrião levantando um pequeno pote cheio de cubos brancos de açúcar com um sorriso estranho no rosto.

"Não obrigado."

"Manda!" Pediu Constantine, quase arrancando o pote da mão do homem e despejando quatro cubos no seu café.

"Esse café é incrível!" Falou ele, após tomar um gole.

"Obrigado, eu peguei ele no sonho de um barista, seja lá o que isso quer dizer." Contou o homem, tomando outro gole.

Temos que ir com calma com esse aí, então antes de ir logo pedir ajuda para ir embora para alguém que ficou incrivelmente animado com nossa chegada, vamos começar com as apresentações.

"Você pode me chamar de Kírix, esse é Constantine." Aponto para ele do meu lado, agora comendo um pequeno bolinho cheio de cobertura rosa.

Realmente, tenho que aplaudir a postura desse cara, comendo como se tudo estivesse bem, eu realmente não consigo fazer isso, mesmo com tanta comida na minha frente que está cheirando muito bem.

"Por que vocês estão se apresentando de novo, será que vocês não se lembram de mim? Não faz tanto tempo assim, ou será que faz?" Após dizer isso, o homem virou a cabeça, calculando o tempo que se passou de um evento a outro.

"Já nos conhecemos?" Pergunto, chamando atenção dele de volta para mim.

"Claro, minha outra parte tentou matar vocês e dominar o mundo, sabe, plano padrão dos caras maus."

Outra parte?

"Você é a outra parte separada de Caim!" Junto os pontos.

"Sim, eu sou Caim!" Respondeu ele felizmente, apontando para si mesmo com às duas mãos.

"Inferno sangrento." Suspirou Constantine do meu lado.

Inferno sangrento com certeza.

Isso dificulta um pouco as coisas.

"Realmente, tenho que agradecer por tudo que vocês fizeram lá, foi bem importante para mim colocar aquela outra parte para dormir."

Ou talvez não.

"Você não está bravo por nós selarmos sua outra parte?"

"Por que eu estaria, me livrei dela por esse exato motivo." Falou ele num tom obviou.

Ele está certo, mas nunca a como saber ao certo o que pode ou não acontecer lidando com loucos, ele bem que poderia achar nossa luta contra o outro Caim, uma afronta a ele ou algo assim.

"Espera, então o irmão que você falou que matou era quem?" Perguntou Constantine.

Boa pergunta.

"Ah, era Abel é claro, ou pelo menos um deles."

"BLAM!"

"Irmão, temos visitas?"

Antes de podermos pergunta mais para entender toda essa situação, a porta da pequena casa que agora parecia ter sido completamente reconstruída, se abriu violentamente como da primária vez, e do lado de dentro dela, estava outro homem.

O novo elemento na história era mais alto que Caim, usando também um terno, mas muito bem feito e mais atual que do Caim, seu cabelo também estava penteado da mesma forma que Caim, só que ele é menor que o dele, e preto.

"HAAAAAAAA!"

Antes de dizer qualquer coisa, Caim se vira da sua cadeira após dar um grito jogando uma faca de prata que estava a pouco do lado do seu prato.

"HAAAAAAAAAA!"

O homem na porta, gritou de medo e a fechou o mais rápido que podia se escondendo dentro dela.

"TUM!"

A faca acertou a porta no meio, ficando cravada nela até a metade.

Eu já estava com a mão no cabo da minha espada, Constantine também estava com sua mão apontada para Caim, que voltou a se virar para nós. Seus olhos antes um pouco vermelhos, estava brilhante quanto um farol, mas a intensidade diminuiu rapidamente voltando ao normal, ele também ficou mais relaxado, e voltou a tomar seu café.

"Desculpem por isso, mas meu irmão traz o pior em mim." Comentou ele num tom educado de desculpas.

"Tudo bem, mas se você não se importa, posso fazer uma pergunta?" Sei que é melhor ignorar e continuar, mas eu realmente tenho que fazer essa pergunta.

"Claro." Aceitou ele.

"Você falou que matou pelo menos um Abel, o que isso quer dizer?"

Parece que minha pergunta não foi muito ofensiva, e ele me explicou imediatamente logo em seguida.

"Então, não sei muito bem por que, mas meu irmão veio para o Sonhar um pouco após mim, e também ficou responsável por uma dessas casas." Apontou ele para a casa grandes atrás dele.

"No início, não foi nada bem devido a nossa situação, mas depois de muitas desculpas e terapia, voltamos a ser irmãos, isso continuou até minha vontade de matar ele voltou do nada, foi quase como um mal súbito, e nesse mesmo dia, persegui meu irmão com uma pedra até sua casa, aonde ele se trancou e ficou sem sair até hoje."

"Deixa eu adivinhar o resto, para conter essa vontade assassina você criou sonhos do seu irmão, e passou a mata-nos sem parar?" Perguntou Constantine.

"Isso mesmo, é perfeito, não é?" Perguntou Caim, com um grande sorriso no rosto.

"Pior que é, deve ser melhor que qualquer terapia já inventada, na verdade, tem como você conseguir alguns sonhos do meu velho? Tenho algumas coisas para pôr para fora."

Caim, levantou um dedo que começou a brilhar levemente.

"Não, obrigado Caim, mas ele só estava brincando." Olho para Constantine, que dá os ombros e volta sua atenção para sua comida.

Caim, abaixa o dedo parecendo um pouco triste.

O interessante é que alguém pode realmente manipular um pouco do Sonhar ao ponto de criar uma persona quase viva, não se quanto tempo Caim, demorou para conseguir essa habilidade, mas ela realmente pode ser útil para mim.

Imagine, vir para o Sonhar e criar falsos materiais para estudar alquimia, ao usar esse ambiente para testar alguns dos meus feitiços sem medo de desperdiçar ou destruir qualquer coisa. É realmente algo para se pensar mais tarde.

E quanto a doença de Caim, julgo que ela deve ser algum tipo de efeito colateral por ser separado em duas entidades diferentes. Coisas desse tipo sempre tem um efeito colateral.

"Caim, quero agradecer pela comida, mas tenho que perguntar, você sabe nos dizer como chegar até o castelo do senhor do Sonhar?" Pergunto finalmente.

"Claro, vou os guiar para o Castelo Fantasma pessoalmente, é o mínimo que posso fazer por meus convidados, e por aqueles que prenderam minha pior parte." Concordou ele animadamente fazendo uma pequena reverência no final enquanto segurava uma xícara.

"Isso é bom, esse menino aqui pensou que talvez você fosse dar uma de louco e nos atacar por conta daquela luta." Constantine, realmente tem que aprender a calar a boca.

"Por que eu faria isso? O meu outro lado estava causando muitos problemas, se as coisas continuassem daquela forma, é provável que a hoste celestial se envolvesse, já que tecnicamente eu sou seu problema." Falou Caim, balançando a cabeça.

"Sim, e ninguém quer lidar com os idiotas pombos alados se metendo nas suas coisas." Constantine, fez o mesmo movimento.

O engraçado, é que desde que entrei em contato com o lado sobrenatural do mundo e conversei com muitos seres nesses anos, todos eles, tem uma opinião semelhante sobre os anjos.

Sempre guardo meu julgamento sobre uma pessoa ou raça apenas para após a conhecer pessoalmente, mas sério, se metade do que eu ouvi sobre os anjos for verdade, eles são no mínimo babacas da mesma classe que o Constantine.

"Na verdade, vocês realmente precisam de uma recompensa por seus bravos feitos!"

Sem esperar nenhum de nós falar, Caim se levantou dando um pulo da sua cadeira e correu o mais rápido que podia para dentro da casa grande, de novo nos deixando sós mais uma vez.

"Você não vai comer? Está realmente gostoso." Falou ele, pegando mais uma pequena torta que estava na mesa.

"Você tem algum feitiço para evitar veneno ao algo assim?" Pergunto, realmente querendo saber isso.

Feitiços como esse não são comuns ou fácies de achar, e aqueles facilmente encontrados deixam muito a desejar, já que existem milhares e milhares de tipos de venenos mágicos e não mágicos.

"Não, mas você realmente deveria procurar ajuda para lidar com sua paranoia."

"Sério? Eu preciso de ajuda?"

"Achei!" Gritou Caim, saindo de dentro da casa correndo segurando algo no alto da sua cabeça.

Ele literalmente pulou na sua cadeira e colocou aquilo que ele pegou no centro da mesa.

"Uma chave?" Perguntei sem entender.

Era uma chave antiga, de trinta centímetros, feita de ferro toda enferrujada, ela não tinha dentes irregulares como as de hoje em dia, em vez disso, tinha dois pedaços de ferro grossos um afastado do outro e o local de se pegar é redondo.

"Essa é a chave da casa é claro." Falou Caim, não prestando mais atenção na chave, ele começou a atacar os bolos na mesa.

"Você está nos dando sua casa?" Perguntou Constantine.

"Sim, estou." Concordou ele, com a boca cheia de creme.

"Caim, nós não podemos viver no sonhar, então não faz sentido você nos dar a casa, é melhor você ficar com ela." Nego a chave.

"Mas vocês podem levar ela com vocês." Mais uma vez, ele fala algo sem sentido achando que faz todo sentindo.

"Levar? A casa inteira conosco?" Pergunto confuso.

"Sim, essa é a Casa do Mistério, ela pode ir para qualquer lugar."

"Fuu!" Assoviou Constantine.

Olho para ele sem entender ainda, e ele me explica.

"A Casa do Mistério, é uma residência viva e misteriosa, ninguém sabe quando ou como ela foi criada, o nome dela já diz tudo, pelo que sei, a casa pode se mover para qualquer lugar, mudar seu interior a vontade e possui medidas defensivas que até mesmo um deus teria problemas para lidar."

"Eu e meu irmão ganhamos posse de duas casas para morarmos do próprio Sonho, ele tem a Casa dos Segredos."

"Isso é uma baita sorte, garoto." Diz Constantine com os olhos brilhando.

Pensando bem, lembro que nos HQs, Constantine, teve posse de uma casa assim, não tenho muitos detalhes sobre isso, por que não li muitas histórias dele.

É realmente doloroso e engraçado se sentir mal por não ter lido muitos Hqs na minha outra vida.

"Mas por você está dando algo tão valioso para nós?" Pergunto.

"Bem, é que a casa está muito entediada ultimamente, pedindo para viajar comigo, só que eu não posso sair do Sonhar, e acabamos brigando, mas com vocês, ela pode realmente bater pernas por alguns séculos até voltar para mim quando vocês morrerem." Explicou ele como nossa morte não fosse nada demais.

Constantine, com certeza vai morrer de velhice ou de câncer, a segunda opção é minha aposta provável, já eu, desde que ninguém me mate, não vou envelhecer, e claro que não vou contar isso para ele.

"Então, o que vocês acham, não é um belo presente de agradecimento?" Perguntou Caim, pegando a chave de novo e a jogando para Constantine.

"Com certeza, aqui!" Gritou ele, jogando a chave para mim.

Assim que peguei na chave, senti a mesma energia que a casa estava emitindo, mas de forma mais concentrada percorrendo meu corpo e voltando a se acalmar logo em seguida.

"Você não quer?" Pergunto confuso.

"Claro que eu quero, mas estou dando para você como compensação por ser arrastado para está confusão."

Bem, ter uma base de operações móvel e segura sempre foi algo que quis, mas nunca encontrei uma boa opção, então, logico que aceito a chave.

No momento que tomei essa decisão mentalmente, a chave brilhou e desapareceu da minha mão, agora, posso sentir uma pequena conexão entre mim e a casa.

"Está feito, agora tudo que você precisa fazer é chamar ela quando sair daqui e ela vai fazer sua mágica sozinha, incrível não?"

Concordo com ele.

Depois disso, os dois começaram a comer sem conversa muito, enquanto eu me familiarizava com a minha nova conexão.

"Bem, isso sim, foi uma bela de uma refeição." Brincou Constantine, dando tapinhas na sua barriga cheia.

"Verdade, nada cozinha melhor que o sonho daquele cozinheiro chamado sei lá o que Ramsay." Concordou Caim, também fazendo o mesmo que minha companhia.

"Podemos ir agora?" Perguntei de mau humor.

"Garoto, você deveria comer algo, faria maravilhas para seu humor." Brincou Constantine.

"Eu não preciso comer, só estou com presa para chegar em casa."

Era mentira, eu estava com raiva por ter tantas coisas cheirando e parecendo apetitosas na minha frente sem poder comer.

Paranoico, sim, eu sou.

Mas é essa paranoia que vai me fazer viver e proteger meus amigos e família nessa realidade louca.

"Eu realmente não me importo de fazer uma caminhada agora que comemos, e como acabamos de devorar vários doces, que tal um chá agora?" Ofereceu Caim, com o sorriso estranho de sempre.

"Não obrigado."

"Eu aceito."

Recuso, e ele aceita.

Caim, se levantou e correu na direção da casa pequena, ele pegou a faca porta, abriu a porta com força, entrou e virou seu corpo, a fechando bem lentamente de frente para nós ainda sorrindo com seus olhos brilhando em vermelho.

Uma cena digna de um filme de terror, justamente a cena aonde o assassino disfarçado de bom moço entra na casa de um inocente após o enganar fingindo ser inofensivo.

Nos dois ficamos olhando para a porta fechada, e para ter autopreservação, fecho meus sentidos.

"Você acha que ele…."

"Sim!"

Confirmo a ideia de Constantine, sem pensar duas vezes.

Caim vai pegar nosso café, mas antes vai dar um jeito na sua vontade assassina com cópia do seu irmão na casa.

Cinco minutos depois de silêncio, a porta volta a se abrir, e Caim sai dela carregando uma bandeja de prata com um bule de chá prata em cima.

Ele está mais feliz e relaxado que nunca, com um sorriso mostrando todos os dentes e dando pulinhos de alegria em sua caminha até nós.

"Deixe-me servi você." Falou ele, pegando o bule de café.

Nos dois, só temos atenção agora para a faca prata manchada de vermelho do lado da bandeja.

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Finalmente começamos a nos mover. Parece, que até mesmo Constantine tem um limite, e ele acabou assim que viu a faca ensanguentada.

Depois disso, ele finalmente se junto ao time "ir embora o mais rápido possível".

Caim não pegou mais nada da casa, apenas começou a andar lentamente pela estrada pegando caminhos nada lógicos, como evitar saltar uma pedra ou passar próximo de uma árvore qualquer no caminho.

Ele disse estar evitando entrar em outros sonhos, pode ser verdade, mas parte de mim ainda acredita que metade das ações dele são por conta da sua loucura.

Depois de mais meia de caminhada, começamos a andar pelos sonhos, a maioria deles foram bons sonhos, todos calmos, mas parece que esse reino não tem apenas caminhos fácies, e sempre temos que passar por um ou dois pesadelos para chegar num lugar.

Até que, finalmente Caim parou na frente de uma árvore branca sem folhas que fica num pequeno pedaço de terra no meio de um lago.

"Vejam, meu amigo vai ajudar vocês também." Apontou Caim, para o tronco da árvore, aonde havia um corvo negro olhando para nós.

"Crás!" crocitou o corvo.

E assim ficamos por alguns segundos, em silêncio olhando para Caim, ainda com o braço esticado esperando alguma coisa nossa.

"Tudo bem garoto, eu concordo com você agora, isso com certeza foi uma péssima ideia."

"Não posso dizer que estou feliz por estar certo." Digo em voz baixa.

Sim, Caim nos trouxe esse caminho todo para ver um corvo numa árvore.

"Ei Matthew, pare de brincadeira e fale, ou eles vão pensar que eu sou doido." Brigou Caim com seu amigo voador.

"Crás!"

"Maldito idiota!" Gritou Caim, se abaixando para pegar uma pedra.

"Tudo bem, tudo bem, foi mal, eu não resisti!"

Mais uma surpresa, o corvo falou assim que Caim se preparou para jogar uma pedra nele.

"O que diabos está acontecendo aqui?" Pergunto para Constantine.

"Nunca viu um animal falante antes?" Perguntou ele de volta acendendo um cigarro.

Parece que só pelo fato de o corvo falar, fez ele reconsiderar seu pedido de desculpas e voltar ao seu antigo eu.

"Mas Caim, você realmente é louco." Falou de novo o corvo.

Sei muito bem que corvos podem sim repetir algumas palavras ao até mesmo frases, mas falar dessa forma deve ser impossível, e realmente, estamos numa terra aonde os sonhos se tornam verdade, então um corvo falante, deve ser algo comum por aqui.

"Pessoal, esse é Matthew, ele é meu amigo e também muito próximo do Senhor do Sonhar, ele pode ajudar vocês." Caim nos apresentou para seu amigo.

"Eu conheço eles muito bem Caim, já estive nos sonhos em que eles são fatores principal, principalmente o Constantine." Falou Matthew, olhando com seus olhos negros para meu colega de aventura.

"Eu sou famoso até no sonhar?" Perguntou ele convencido.

"Muito, não sei o que você fez na Terra, mas nunca vi tantos seres vivos sonhando com a morte de uma pessoa como fazem com você."

Sim, isso parece certo.

"E quanto a você."

O corvo Matthew, olhou para mim.

"Sendo um herói você é com certeza mais famoso, e os sonhos que as pessoas têm com você são bem variados, a não ser pelas adolescentes, elas adoram você, tipo, muito mesmo."

Isso parece certo também.

"Tudo bem, já chega, Caim, quando ele vai nos levar para o castelo?" Perguntou Constantine, o humor dele decaio um pouco.

Enquanto isso, meu humor só ficou melhor.

Estávamos finalmente chegando ao fim essa desventura nesse reino estranho.

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