13 Entre Dois Alfas

[HARUKI! HARUKI]

"Kenta... ?" respondeu um sonolento Haruki. O cantor tinha demorado a dormir. E parecia que não tinha passado mais que alguns minutos que ele estava descansando, acordou ouvindo, no fundo de sua mente, seu nome sendo repetido várias vezes pelo ilustrador até de fato o cantor despertar.

[EU DESCOBRI, HARUKI!] Iwata Kenta gritou para que o amigo acordasse de vez.

"Descobriu o quê?" zonzo de sono, Haruki resmungou, "Não estou entendendo."

[SUA AGÊNCIA DENUNCIOU SEU DESAPARECIMENTO! SUA MÃE LIGOU PARA SEU AGENTE JÁ QUE NÃO CONSEGUIA CONTATO COM VOCÊ. E TUDO ACABOU NA POLÍCIA! SUA BANDA ADIOU A APARIÇÃO. SUA MÃE FEZ VIRAR UM ESCÂNDALO NO MUNDO KPOP! ESTÁ EM TODOS OS NOTICIÁRIOS!] Iwata Kenta explicou empolgado.

"Minha mãe?!" Haruki despertou completamente ao ouvir a primeira parte da notícia que falava de sua leoa, e tudo fez sentido em sua mente confusa. "Você ligou para ela? Contou que eu estou bem?" Ele não queria que ela se preocupasse com ele.

[EU QUERO. MAS TENHO MEDO. O QUE PODE ACONTECER COM VOCÊ DENTRO DO JOGO, SE EU LIGASSE PARA SUA CASA?] O ilustrador parecia estar sendo sincero. [PRIMEIRO VAMOS DESCOBRIR COMO TE TIRAR DAÍ.] Iwata Kenta foi imperativo, nessa conclusão e continuou,

[OUÇA COM ATENÇÃO! NOGUCHI, YOSHIDA, YAMADA, SASAKI, TODOS ESTÃO OFICIALMENTE DESAPARECIDOS ! SÓ NÃO CONSEGUI ENCONTRAR NADA SOBRE OKANE HINATA.] O ilustrador agora sussurrava.

"Cara, é importante você ir à polícia. Contar toda a verdade para eles." Haruki insistiu.

[SIM. EU ATÉ JÁ ME PREPAREI PARA ISSO. CHEGO AO OFICIAL E DIGO: VEJA, ESTES CARAS DESAPARECIDOS ESTÃO DENTRO DE UM JOGO VIRTUAL. ACORDA HARUKI! VOU SER INTERNADO OU PRESO. E VOCÊ, DELETADO!] Iwata Kenta deixou todo o seu desespero transbordar em sua voz trêmula e rouca e aguda, por ele estar sussurrando e histérico, com a respiração rápida.

Haruki só então compreendeu o dilema proposto _ o ilustrador estava em pânico. E seus medos eram reais, ele estava certo. Esta tecnologia era revolucionária demais para ser aceita como verdade sem que o ilustrador apresentasse provas.

[EU FIZ UM REFÚGIO SECRETO PARA VOCÊ. NÃO CONTE PARA NINGUÉM AÍ DENTRO. VOCÊ NÃO PODE CONFIAR EM NINGUÉM.] Kenta disse baixinho e devagar para que o cantor compreendesse.

Ao lado de Haruki surgiram um colar com uma chave, e um mapa com a localização do refúgio.

[O ABRIGO TEM ALGUMAS COISAS QUE VOCÊ TALVEZ POSSA VIR A PRECISAR. EU NÃO TIVE TEMPO DE FAZER NADA MUITO ELABORADO. MINHA ESPECIALIDADE É DESENHO DE PESSOAS. FORAM OUTROS ILUSTRADORES QUE CRIARAM A ILHA, A MANSÃO E TUDO MAIS. A EQUIPE É ENORME! A MAIORIA SÃO FREE LANCERS COMO EU...] O ilustrador estava se justificando por não saber desenhar bem outras coisas que não fossem pessoas.

Haruki cortou as desculpas. "Kenta, apenas me diga a verdade cara. Eles sumiram com nossos corpos?"

[EU NÃO SEI SE HAVIA UM CORPO PARA ESCONDEREM. HARUKI, OUÇA, SÓ TRÊS PESSOAS TÊM ACESSO À SALA DO SERVIDOR : HONDA O ENGENHEIRO-CHEFE; ABE, O RICAÇO, E O PHD EM BIOMEDICINA DR. WALLACE WANG. EU] Iwata Kenta parou para limpar a garganta, temeroso ele continuou, [EU ACHO QUE NÃO VOU PODER FALAR COM VOCÊ POR UM TEMPO.] A voz de Kenta era um sussurro ao terminar de revelar suas intenções. [EU VOU TE AJUDAR A SAIR DAÍ. É MINHA REDENÇÃO COM VOCÊ HARUKI. EU SINTO MUITO...] O ilustrador desligou cortando o contato.

Haruki não conseguiu dormir depois dessas notícias. Ele acabou por levantar-se e foi ver onde o abrigo ficava.

Com o mapa foi fácil encontrar.

Kenta estava inspirado, ao contrário de suas palavras. O ilustrador tinha pensado bem, usando a parte interior da formação rochosa como toca.

Nada havia mudado externamente, o que ocultava muito bem o bunker. Além de um banheiro simples com chuveiro, pia e sanitário, havia outros dois cômodos. Era como um pequeno apartamento vazio, exceto por caixas fechadas que tinham rótulos. Os rótulos diziam o que continha: COMIDA, REMÉDIOS, ÁGUA, CAMA, FERRAMENTAS, e assim por diante.

Ele precisava pensar, pensar muito em como agir. Começou saindo dali com cuidado para não ser visto. 'Mas agora, preciso voltar para a mansão, não quero que sintam minha falta.' Em outro momento Haruki teria ido até eles correndo para contar tudo, mas depois do show de ontem, não mais.

Ele entendeu que não estava entre amigos. Haruki odiou ter sido ajoelhado, amarrado e submetido como submisso sexual na frente dos outros. Aquilo mexeu com seus nervos.

E Jun... Bem, Jun foi um caso diferente.

Eles teriam se beijado? Ele sabia que Jun percebia o quão excitado e alterado ele ficava quando estava perto dele.

Mas pelo jeito, para Jun isso era bem normal. Realmente a única coisa que explicava isso era que eles tinham sido desenhados para serem muito sensuais. Porque ele tinha que estar fascinado por aquele sorriso diabólico? Normalmente era o contrário. As meninas quase desmaiavam quando ele passava!

"Que ódio!"

"Falando sozinho Haruki?" perguntou Sasaki Jun, um pouco longe. Estreitando os olhos, Haruki percebeu que ele estava deitado na areia.

Sem saber o que o Bad Boy tinha visto e ouvido segundo ele, pois para Haruki ele só tinha pensado e não verbalizado. Ou sem perceber, ele tinha pensado em voz alta, Haruki preferiu ficar em silêncio.

"Vem cá, vem" o homem que mexia com seus desejos o chamou, batendo na areia ao seu lado enquanto sentava. "Eu queria falar com você, mas depois da apresentação você se fechou no seu quarto," Sasaki Jun comentou.

O cantor foi até Jun só para parecer que estava tudo bem, quando não estava. E sentou-se um pouco mais afastado do Bad Boy demonstrando seu desconforto.

"Os pães eram para você. Eu queria ter comido junto contigo. Era para ser meu agradecimento pela comida que você conseguiu com seu amigo," o padeiro falou olhando o céu. Esta noite tinha muito mais brilho, e dava para ver várias constelações. "Eles estão desenhando," Jun afirmou, "Eles não pensam em nos tirar daqui."

Olhando todos os novos detalhes que davam vida ao cenário à sua volta, Haruki precisou concordar. "Sim, eles vão exigir que a gente aceite em ficar aqui, e ainda por cima, como os príncipes que Miyu sonha." E olhando para Jun, ele completou. "Me desculpe!"

O padeiro sorriu, um sorriso tímido e singelo. "Tudo bem, ao menos você comeu algum pão. Estava bom?"

"U-hum!" Haruki deu seu melhor sorriso e balançou a cabeça enfático. Ele estava sendo charmoso, coisa que normalmente fazia em ocasiões específicas e com objetivos bem definidos. Dessa vez ele apenas queria fascinar seu o homem à sua frente.

Como esperado, Jun ficou encarando com o olhar perdido e fascinado. Mas o Bad Boy começou a piscar, como quem quer sair de um feitiço, e falou com a cabeça baixa, "Aquela outra vez que estávamos conversando… Hm, bem. Eu quero saber algo. Me responde sinceramente?"

Antes que o cantor respondesse, Jun viu alguém chegando atrás do cantor, e fechou a cara fazendo uma carranca.

Sem precisar girar a cabeça para olhar, Haruki sabia quem causava azia em Jun.

Era Saito!

E o aventureiro veio até eles, "Noite linda! Não dá mesmo vontade de ficar trancado em um quarto, não é?!" Ichida Saito sentou-se ao lado do cantor. Agora Haruki estava cercado pelos dois alfas que mediam forças para dominar o grupo.

"Haruki-san, espero não tê-lo ofendido mais cedo. Ou ofendi?" Ichida Saito era um homem que resolvia as questões sem rodeios, e o fez mesmo na presença de terceiros.

"Como tudo poderia estar bem?! Você viu nossas caras chocadas! Você devia ter avisado! Principalmente, deveria ter avisado Haruki-san!" Sasaki Jun se exaltou enquanto falava, mesmo que a pergunta não tivesse sido para ele.

"Ei! Por que você acha que eu não posso me defender ou me expressar?! Fica calmo, Sasaki Jun! O assunto não é com você!"Haruki explodiu sua fúria. O padeiro não conseguiu esconder o choque com as palavras de Haruki, que levantou-se, talvez não tão involuntariamente assim jogando areia com os pés nos dois.

Eles se limparam, atordoados, enquanto também se levantaram.

"Vamos deixar alguns pontos claros aqui," disse Haruki, "1) espero que não estejam me seguindo. Eu não quero ser seguido, não gosto de ser seguido! Esse lugar já é pequeno demais para nos sentirmos sufocados. 2) Sim, é bom perguntar antes!" Ele finalizou encarando com olhos de fogo para Saito, em uma cópia do que ele tinha visto Jun fazer na soleira da cozinha pela manhã.

Ao falar isso, Haruki corou, ao ver Jun dando um meio-sorriso satisfeito, saboreando sua vitória. Saito, por outro lado, pareceu contrito e chocado com sua sinceridade. Haruki achou por bem continuar a falar o que ia por seu peito, mesmo gaguejando no começo,

"3) E vo-vocês dois… É óbvio que algumas pessoas não simpatizam com outras, aqui. Mas os mais velhos deviam dar o exemplo e tentar tornar o ambiente agradável para todos, enquanto não conseguimos sair daqui. 4) Não adianta nada ficar resmungando, vamos ter que cooperar. Se nós nos dividirmos, os únicos prejudicados seremos nós mesmos! 5) e Último: O que é que vocês querem comigo? Qual o problema COMIGO?"

Sasaki Jun colocou as mãos para trás, com expressão atônita.

Ichida Saito coçou a cabeça, ostensivamente demonstrando sua confusão com a última parte,

"Bom, Haruki-san. Eu sinto muito. Deveria ter falado com você a sós pela manhã. Para ser sincero acho que farei isso, se você não se opuser. Você está certo em várias coisas que citou. Mas… Por que você acha que estamos te perseguindo? Não é um pouco demais? Ou… Alguém anda mesmo te perseguindo?" O CEO era bom em virar a culpa para outra pessoa e encarou seu adversário.

"Ah, eu não acredito! Você veio atrás dele e ainda quer se fazer de desentendido?" O Bad Boy rosnou as palavras levantando os ombros com os punhos cerrados.

"Ahhhh! Eu não sei de mais nada! Só me deixem em paz!" Haruki exclamou, envergonhado e confuso. E assim que fez menção de se afastar, cada um deles o puxou por um de seus pulsos, o urgindo a ficar.

"GAHHHHH! O que vocês estão fazendo?!" Esta foi a vez dele ficar incrédulo com a atitude deles. E se livrando de ambas as mãos em seus pulsos com safanões.

Ambos falaram praticamente em uníssono, curvando-se contritos,

"ME PERDOE, HARUKI-SAN! EU NÃO FIZ POR MAL!" e se olharam com desprezo mútuo, logo a seguir.

Haruki ficou assustado com o apelo por perdão de Jun e Saito,

"Apenas vamos manter as coisas calmas por aqui. Trabalhar em equipe, uh? Eu estou na mesma situação que todos vocês. Longe de casa, e preso neste lugar estranho por causa de uma máquina que não funcionou como deveria, eu espero!" O conciliador que habitava a pele de Haruki falou mais alto que sua raiva. Eles precisavam ficar em paz para conseguir sobreviver.

Uma música, na verdade, a mesma música de antes, tocou por toda a ilha. Os três se entreolharam, e Saito disse,"Macacos me mordam se não é um comunicado oficial de Honda-san. Acho melhor irmos para a sala de lazer."

Quando chegaram lá, os outros rapazes já estavam totalmente despertos. A tela estava ligada, mas apenas com o logotipo da empresa desenvolvedora de jogos na tela, GAMEKOI. Haruki se perguntava, assim como todos ali, qual seria o motivo de Honda Seichiro decidir fazer uma reunião com eles no final da madrugada.

Em alguns minutos a face comprida e caricata do engenheiro-chefe apareceu na tela e ele não parecia feliz!

"Senhores, eu lamento interromper seu descanso. Mas é um assunto sério e urgente. Tivemos um imprevisto, e precisamos discutir para decidirmos o que fazermos, EM CONJUNTO." O homem falava pausadamente.

"Por que será que eu não acredito nesse cara?" Haruki murmurou para quem estava ao seu lado.

"Aos fatos: tivemos um relatório de algumas atividades incomuns hoje no nossos logs de acessos," começou o engenheiro.

'Droga! Será que pegaram Kenta?!' Haruki sentiu o suor pontilhar sua testa imediatamente.

"E o que aconteceu? Vocês descobriram, não é?" Daisuke, o influencer perguntou.

"Descobrimos que o acesso foi feito através do login fornecido para a Srta. Abe."

Haruki teve um péssimo pressentimento ao ouvir esta informação. E sentiu os olhos de todos voltarem lentamente para ele, acusadores.

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