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Prólogo

Não há muito interessante a respeito da filha de um estalajadeiro. A pessoa que aqui se apresenta, não é dotada de traços marcantes, personalidade distinta ou poderes especiais. Se trata apenas, como deve ter notado por tê-lo dito logo de início, da filha do estalajadeiro. A apresentação tem início na primeira pessoa, apenas a fim de prender-lhe ao texto, embora eu já tenha lhe dito que não sou digna de muita atenção, por não ter nada em mim que vá lhe despertar o interesse, mas antes que me abandone no primeiro parágrafo, vou lhe prometer que as histórias cá contadas, valeram a pena a leitura, afinal de contas, sequer dizem respeito a minha pessoa.

Apresento-me aqui, apenas para que tenha consciência de quem está lhe contando tudo isto. É preciso uma apresentação para dar credibilidade aos fatos, é muito mais seguro confiar em uma história que se possa conferir depois, que rumores espalhados no anonimato. Queria apenas dizer-lhes que, apesar de toda a explicação para a minha apresentação, as histórias não foram vistas por mim, mas ouvidas e escritas. Algumas delas cujos autores ou protagonistas sequer souberam que me tinham como ouvinte.

Louise é meu nome, Marbela Rocha. Moro em um pequeno vilarejo chamado entre-colinas, bem escondida por duas colinas, e desprovida de charmes que possam prender a atenção de curiosos para uma vinda fixa. A maioria dos que passam por aqui, são viajantes, que cansados de suas aventuras, precisam de um bom lugar para descansar. Muitas vezes, uma bebida de qualidade, como uma cerveja, ou vinho, é aí que entra o lugar da estalagem "central", que, apesar de não conhecida por ninguém além daqueles que já passaram por aqui - e não fazem questão de comentar sua existência a outros - fornecem aqueles que tem sede, fome e cansaço, o que precisam antes de continuar sua longa jornada.

A maioria dos viajantes, gostam de se gabar do que viram no caminho - sendo essas histórias suas ou não, e principalmente após estarem bêbados o bastante para socializar com os desconhecidos, ponham-se a falar para todos os que estiverem dispostos ao ouvi-los, sobre as incríveis histórias que fazem com que valha a pena terem saído do conforto de suas vilas para enfrentar a viagem pelo mundo. E é aí que eu entro. Escrever histórias preciosas é o meu papel, mesmo que muitos pensem que seja apenas limpar as mesas, lavar os pratos e encher as canecas vazias de cerveja. Não é grande coisa ser a filha do estalajadeiro da pequena cidade com poucos moradores e desinteressante, mas tem as suas vantagens.

Quando eu era pequena, meu pai costumava dizer que eu tinha muita criatividade. Dizia-me ele que eu estava sempre inventando histórias novas, e interpretando-as, fingindo sempre ser ou ter visto algo diferente. Eu tenho duas teorias: Ou essa criatividade não cresceu com o tempo, visto que lhe escrevo histórias de outros. Ou ele só não percebia que eu já tinha uma audição aguçada como agora. Meu dom pode não ser o da criação, mas sou boa em transcrições. E bem, se fui presenteada com tal dádiva, por que deixaria morrer as fabulosas histórias aqui contadas? Passá-las para a frente e torná-las eternizadas é meu grande dever. Logo, sem mais procrastinações, e antes que perca o interesse, transmiti-las-ei.