5 Jantar

Makoto, que acabou de sair do armário de casacos na entrada da casa, está sem saber o que fazer.

Aquele homem pode matar ele e essa família a qualquer momento.

"Uma pegadinha? Haha, esses jovens..."

O senhor de meia idade parece aceitar sua presença sem problema.

"Vi que sua esposa está fazendo o jantar, eu na verdade trouxe um presente!"

Ele vai até a entrada, pega um tipo de bolsa, e retira um compartimento de vidro dela.

Esse era um compartimento familiar.

"Um bocado de carne! Deve ficar delicioso num ensopado especial~"

Aquela era uma carne familiar.

De hoje mais cedo.

Era um… pedaço…

Um pedaço daquela pessoa de mais cedo.

Vários, na verdade, picados em pedaços menores.

Makoto achava que o homem havia feito isso para torturar aquela pessoa, mas…

Era bem pior.

"Querida, o amigo do Yuki trouxe um presente!"

Bem pior.

"Ora, vou preparar agora mesmo!"

Ele sentia a náusea, que estava controlada até então, voltar a agir.

Seu foco total foi em não vomitar.

"Porque o senhor não tira uma soneca até a comida ficar pronta?"

Ao ouvir isso, o homem de meia idade vai até o quarto no fundo da casa, provavelmente o quarto de casal.

"Certamente, eu estava com sono mesmo!"

Ele entra e fecha a porta.

Não muito depois, roncos.

"Ei, irmãzinha! Porque não tira uma soneca também~?"

Ele fala um pouco mais alto.

Uma voz responde de outro quarto, deve ser o quarto da garotinha de antes.

"Ok, moço!"

Os roncos vinham dos dois quartos agora.

"Durmam silenciosamente, sim?"

E ficou quieto.

Era surreal.

Saindo da frente de Makoto, ele vai até aquela senhora na cozinha, e para do lado dela.

Quietamente observando ela cozinhar.

"A culinária da senhora sempre impressiona. Se puder fazer o prato de um jeito que realce o cheiro da carne, seria maravilhoso!"

Ele continua sorrindo.

"Mas é claro, irei me esforçar."

Você consegue sentir seu sorriso, até só vendo suas costas.

E tudo que ele diz é atendido.

Sem hesitação, sem resistência, a pessoa nem pensa sobre isso.

Eles… só aceitam o que ele pede.

Como se fosse a coisa mais natural.

"E você, meu caro convidado."

Ele diz, ainda de costas.

"Porque não se senta?"

Makoto relutantemente obedece, temendo o que ele faria se não o fizesse.

Sentando na primeira cadeira da mesa da ampla cozinha, que fica de costas para a sala, dando seu melhor para não mostrar seu medo de forma aparente.

O homem pouco depois se vira.

"Muito bem."

Ele dá uma leve risada.

Seus olhos pareciam sorrir, mais que o normal.

"Logo alguém importante vai chegar para um jantar muito especial."

O homem vai até a sala calmamente, e sai do campo de visão.

"Posso entreter meu convidado depois disso, mas até lá..."

Sua voz fica um pouco mais profunda que antes.

"Evite… não, só fique quietinho aí que está bom."

O cheiro da comida que a senhora está fazendo começa a lembrar…

"Quanto menos fizer, melhor."

O homem então começa a cantarolar com uma voz animada uma melodia que não conheço.

Não sei quanto tempo se passou.

Foram minutos? Horas? Dias?

Pareceu uma eternidade.

Quebrando isso foi o barulho da porta abrindo.

"Bem vindos!"

Parece que a "pessoa importante" chegou.

"Chegaram bem na hora do jantar!"

Plural?

Alguém passou aqui do lado, mas não consigo levantar a cabeça para ver quem é.

Estou com medo.

"Oh, não vai entrar?"

Para quem ele estava dizendo isso?

"Tem certeza?"

Assim que ele falou...

"Oh olá, você é uma amiga do Yuki também?"

A senhora de meia idade, que estava quieta esse tempo todo, ela disse algo.

Amiga…

Poderia ser…?

Então…

Consigo ouvir uma pessoa correndo.

Mas não consigo.

Eu não consigo levantar a cabeça.

Não pode ser.

"Não vai entrar?"

Tinha mais alguém.

Passos familiares que param brevemente.

"Oh? Algum problema?"

Por favor não.

"Não… nada."

Aquela voz era com certeza…

Os passos chegam mais perto, e param do meu lado.

"Makoto? Tudo bem com você cara?"

Eram eles.

Eram eles.

Realmente eram eles.

...

Juntando toda sua coragem, Makoto levanta sua cabeça.

Ele olha nos olhos de Kyou, e discretamente vira eles na direção da sala logo após.

"Yo, Kyou."

Pondo seu dedo na frente de seus lábios, e ao mesmo tempo apontando para seu nariz.

Se tem alguém que notaria o que ele quer dizer, esse alguém é Kyou.

Makoto entende.

Naquele lugar, é difícil notar pequenos detalhes devido aos grandes absurdos.

Aqueles dois, eles também devem ter ficado em situações estranhas.

Então você precisa de algo.

Alguma coisa que aponte onde se deve olhar, o que deve perceber.

Ele implorava que Kyou entendesse.

Mas a cara dele mostrava confusão.

Kyou balança a cabeça num sim, e permanece quieto.

...Pelo menos deve ser ok, por enquanto.

Virando para o lado, Sheila.

Era realmente ela…

E um menino desconhecido abraçava a senhora de meia idade.

A "pessoa importante" deve ser ele.

"Que bom que chegou agora. Não sei o que aconteceu na escola, mas..."

A senhora carinhosamente acaricia a cabeça dele, e faz ele a soltar.

"Uma comida boa e quentinha deve ajudar. Vai sentar, Yuki."

Ela acaricia ele mais uma vez, e começa a pôr a mesa.

Uma mesa de seis lugares, com Makoto sentado num dos dois assentos virados de costas para a sala.

O menino desconhecido senta no assento diretamente na frente dele.

Sheila observava de perto do fogão, Kyou permanecia do lado de Makoto.

"Aqui a comida, filho. Vou ir chamar seu pai e irmã."

Depois de uma pequena pausa.

"Nos amamos você."

A mulher saiu da cozinha.

Logo após, Makoto sente uma presença atrás dele, do lado oposto de onde está Kyou.

A princípio o menino parecia tão feliz que ia chorar, mas depois de mexer um pouco mais na comida com o garfo…

Ele parece ter percebido.

Instantaneamente ficou pálido, e a mão segurando o garfo tremia.

Ele olha na direção do homem, mas Makoto não ousa fazer o mesmo.

O menino também parece ter a mesma opinião, e quase imediatamente vira de volta a comida.

Ele ia comer aquela comida.

Ele… provavelmente sabe o que deve acontecer se ele não fizer isso.

...Mas será que fazer isso muda algo?

A mão tremendo tentava levar um pouco do ensopado à boca, relutantemente.

Naquele momento, Kyou segura a mão dele, o que faz o ensopado sair voando e cair no chão.

Ele impediu o menino.

Talvez pela reação dele ao mexer na comida, Kyou finalmente percebeu o significado oculto daquela ação: "O cheiro dessa carne é pútrido."

Makoto imediatamente levanta, e vê a reação do homem.

Sua boca sorria, mas seus olhos não.

"O que tem nisso?!"

Kyou grita, direcionado ao homem sorridente.

O outro significado oculto: "Aquele homem é o motivo."

Em algum momento, Sheila foi para o outro canto da cozinha, perto dos outros dois.

"Interessante."

O homem respondeu.

Inesperadamente, ele não parecia irritado.

Ele estava…. Curioso?

O menino desconhecido foi levado pelo braço por Kyou para o canto da cozinha, longe daquele homem, naquela hora.

Com a outra mão, o jovem segurava a cabeça, e parecia com dor.

Makoto estava prestes a ir para lá, junto deles, quando sumiram.

E só duas pessoas permaneciam na cozinha.

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