1 01 um livro desconhecido

No limiar do continente humano, onde o mar abraçava o horizonte, erguia-se uma cidade que parecia ter emergido diretamente dos contos medievais. As casas de pedra contavam histórias de séculos, com heranças de famílias que atravessavam gerações. Crianças corriam pelas ruas de paralelepípedos, suas risadas ecoando entre os becos de paralelepípedos, enquanto adultos seguiam suas rotinas diárias, comprando produtos frescos na feira local e trocando notícias nas praças movimentadas. No entanto, uma casa se destacava, majestosa em relação às demais, situada nos arredores da cidade. Era o lar da única pessoa capaz de manipular os misteriosos dons da magia, uma guardiã respeitada pela comunidade. Apesar disso, ela preferia uma vida serena e simples, longe dos olhares curiosos dos moradores.

Dentro daquela casa viviam três almas. Jiang Wei, o pai, estava no início da meia-idade, com 35 anos, cujo passado misterioso era conhecido por poucos. Em tempos remotos, ele fora um renomado cultivador, alcançando o prestigioso nível do Reino dos Aspirantes à Imortalidade, sua fama ecoando por toda sua região. No entanto, sua busca pelo elusivo Reino dos Praticantes da Imortalidade resultou em fracasso. Os ventos da imortalidade o abandonaram, sua cultivação foi abolida, e ele se encontrou diante de uma encruzilhada de destinos, uma sombra do que já foi.

Ao lado dele, Mei Ling, sua esposa, uma maga sábia e detentora de habilidades mágicas formidáveis. Mei Ling dominava as artes arcanas no 4° círculo do avançado domínio da magia, desvendando segredos antigos com maestria. Ela era a força silenciosa que sustentava Jiang Wei, seu apoio inabalável durante anos de luta e desafios. Seus olhos, muitas vezes perdidos na contemplação de feitiços e encantamentos, guardavam um profundo conhecimento do oculto.

Juntos, como marido e mulher, mestres em suas respectivas artes, eles moldaram uma família cuja linhagem carregaria a promessa de destinos entrelaçados e um legado de determinação que transcendia a mera mortalidade. O filho deles, um garoto com 6 anos de idade de olhos azuis cristalinos e cabelos castanhos, brincava com seu pai no quintal de casa. Mesmo após a perda de sua própria cultivação, Jiang Wei ainda possuía anos de experiência e sabedoria para compartilhar. Ele ansiava que seu filho trilhasse caminhos que ele próprio não conseguira alcançar. Sempre que podia, ele brincava e compartilhava com seu amado filho os segredos das artes marciais e da magia, forjando um vínculo especial entre eles, uma ligação entre passado e futuro.

No meio do dia, quando o sol estava alto e os raios de luz dourada dançavam no céu, Mei Ling retornava para casa após ajudar a reparar a barreira que protegia a vila dos monstros que ainda rondavam a região. Enquanto se aproximava de casa, pôde avistar o marido e o filho brincando de luta de espadas no quintal. Jiang Wei, com um sorriso travesso nos lábios, tentou se esconder atrás de uma árvore quando a viu se aproximando, mas Mei Ling havia lançado uma barreira simples e logo o cancelou, fazendo-o bater a cabeça na árvore. Ele riu e disse, em um tom brincalhão:

"Ei, isso foi cruel colocar uma barreira aqui."

Mei Ling, um pouco brava, respondeu:

"Eu já te disse para não brincar com espadas. Os dois, mãos para cima agora!"

Pai e filho se entreolharam, e o pai fez um sinal para o garoto, que seguiu o gesto. O pai disse, tentando se explicar:

"Mas, querida, estávamos apenas mostrando as espadas de brinquedo para o Qinglong. Não estávamos usando espadas de verdade, prometo."

A criança fez um biquinho e quase chorou, dizendo:

"Mas, mamãe, eu só estava brincando com o papai."

A mãe olhou para essa cena e se aproximou, dizendo:

"Já não avisei vocês sobre essa de brincar com espadas e coisas perigosas!"

O pai riu e saiu apressado, alegando:

"Desculpe, querida, o marido da dona da livraria me pediu ajuda para cortar uma árvore. Tenho que ir."

Ele se afastou correndo, sem olhar para trás, e murmurou:

"Ufa, foi por pouco."

A mãe olhou para o filho e disse com seriedade:

"E você, jovem, já disse para ficar longe de espadas e coisas perigosas..."

Mas antes que ela pudesse terminar a frase, o garoto correu para dentro da casa e pegou um livro, dizendo animado:

"Mãe, mãe, leia para mim hoje, por favor, leia!"

A mãe suspirou e sorriu para o filho, pensando: "Essa dupla de pai e filho, realmente..."

Ao entrar em casa, Mei Ling sentou-se no sofá, observando seu filho, Qinglong, que estava radiante com o livro que encontrara. O livro era todo preto, adornado com marcas que se assemelhavam a antigas runas, mas o que mais intrigava era o leve brilho que emanava delas quando observadas de perto. Mei Ling olhou séria para o filho e perguntou:

"De onde você pegou esse livro? Não me lembro de tê-lo visto aqui antes."

Qinglong pareceu um pouco confuso, esforçando-se para lembrar:

"Eu o peguei na parede do porão, mamãe. Estava lá hoje, bem no fundo."

A mãe examinou novamente o livro, e, desta vez, um sorriso surgiu em seu rosto enquanto dizia:

"Este não é um livro comum. Parece ser um grimório antigo, possivelmente pertencente ao antigo dono desta casa."

O pobre Qinglong olhou para o livro com uma expressão de dúvida e perguntou:

"O que é um grimório, mãe?"

O menino se aproximou mais do livro e sentou-se no colo da mãe. Mei Ling fez um gesto com a mão, e de repente, um intenso brilho amarelo irrompeu do livro, envolvendo não apenas a casa, mas também seus arredores. No meio dessa explosão de luz, o livro que antes parecia estar em seu fim estava agora envolto por um charmoso brilho dourado. Palavras mágicas surgiram do livro, flutuando no ar antes de desaparecerem, transformando o velho livro em um majestoso grimório.

Qinglong, completamente atônito, exclamou:

"Mãe, as palavras estão escapando!"

Mei Ling riu e, com outro gesto de sua mão, restaurou a normalidade, deixando apenas um livro meio brilhante em suas mãos.

Até mesmo ela ficou surpresa com a magnificência do livro. Apesar de ter visitado a Torre Mágica em tempos passados e ter visto alguns grimórios, ela jamais esperava encontrar um com um efeito tão grandioso em sua própria casa. Com cautela, ela fechou o livro e notou que as palavras que antes estavam apagadas agora eram claramente visíveis, parecendo conter ensinamentos antigos e grandes revelações.

Olhando para elas, seus lábios pareciam ler sozinhos o nome do livro, como se estivessem hipnotizados por ele.

"מלכותא סתרי..."

Mas apenas palavras incompreensíveis foram ditas, fazendo com que o livro voltasse ao seu estado deplorável de antes, como apenas um velho livro surrado e antigo. O filho, Qinglong, olhando assustado para a mãe, chamou-a rapidamente:

"Mãe, mae! Acorde, acorde!"

Parecendo recobrar os sentidos, ela olhou para o filho assustada e falou em um tom tentando se acalmar e acalmar seu filho:

"Mamãe está bem, meu filho. Apenas tive uma reação após ver o grimório. Ele é bastante poderoso, e pelo visto, mamãe não pode lê-lo ainda."

Olhando com uma carinha de choro, o pobre menino aparentava entender que o livro tinha feito algo com sua mãe, mas não sabia o que. Mais tarde, naquela hora, a porta da casa se abria, e o marido, Jiang Wei, chegava meio assustado, pois o forte brilho que veio de sua casa foi visto por quase toda a pequena vila.

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