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Prólogo

As luzes coloridas brilhavam intensamente, chamando atenção a todos os que passavam pelo local, principalmente, adolescentes e crianças. Para elas aquelas atrações eram a melhor parte de todo o festejo tradicional, não eram as sardinhas com a broa, nem sequer o facto de haverem marchas toda a tarde, mas sim o divertimento nos carrosséis.

Nicole e Edward encontravam-se numa das atrações onde a única intenção é sentar em cima de um dos objetos e esperar que eles comecem a andar. Estavam-se a divertir muito ao contrário de Matilde, mãe de Nicole e Clara, mãe de Edward que andavam atrás das crianças na tentativa de não as perder de vista.

- Eu sei que fiz a coisa certa, já não existia amor entre nós, estávamos constantemente a discutir... Não dava para aguentar mais. – Matilde sentou-se num banco mantendo os olhos na sua filha.

- Fizeste o melhor! Esse ambiente não era saudável nem para ti, nem para a Nicole... - Pousou a mão em cima da melhor amiga.

- E será que estar longe do pai é? – Olhou para Clara triste. – Já lá vai um mês e ele nunca tentou contactar... - Murmurou aguentando firme. – A Nicole esta constantemente a perguntar por ele e eu...

- Não sabes como lhe contar? – Matilde apenas negou com a cabeça deixando algumas lágrimas escorrerem pelos seus olhos. – Não te culpes por isso! Estas a cuidar, sozinha, dela, é normal ficares com esse receio, não tens ninguém atrás a dizer o que deves ou não fazer. – Pousou a mão no ombro da amiga tentando a confortar.

- Eu sei, mas eu tenho que contar-lhe a verdade, tenho que deixa-la ciente do que aconteceu... - Observou sua filha vendo que encontrava-se a ir em sua direção, toda animada.

- E se lhe contares algo diferente, dizeres que ele viajou, ou que esta a salvar o mundo, coisas mais calmas para ela começar-se a mentalizar que o pai vai estar distante durante muito tempo. – Tentou Clara deixando Matilde pensativa.

Não é fácil contar algo daquelas dimensões a uma criança com apenas os seus oito anos, muito menos quando essa tinha uma ligação tão forte com a parte paterna. Talvez ocultando a verdade, substituindo-a por uma mentira seria uma boa opção, mas então e carregar tal mentira durante tanto tempo? Será que seria saudável? Ou apenas iria causar mais estragos?

- Não lhe posso fazer isso... Seria como faze-la viver numa mentira, magoa-la mais, principalmente quando ela descobrir a verdade... - Suspirou deixando um sorriso forçado ocupar seus lábios ao ver as crianças mais próximas. – Vou-lhe contar, quando estiver preparada para ouvir.

- É o melhor! E que fique claro, se precisares eu estou aqui, para qualquer coisa. – Olhou para sua amiga dando um sorriso. – Qualquer coisa, mesmo. – Abraçou-a fazendo com que Matilde começasse a chorar.

- Obrigada por tudo! Muito obrigada! – Começou a soluçar deixando obvio o seu estado.

- É para isto que servem as melhores amigas. – Beijou a testa dela parando o abraço ao ouvir o seu pequeno a chama-la. – Estava a ver que não se cansavam, agora já podemos ir para casa? – Agarrou numa garrafa de água dando a Edward.

- Casa! Não! Ainda tenho muito para mostrar a Nicole! – Parou de beber dando a mesma de volta para sua mãe.

- Sabes que já esta a ficar tarde, vamos ter que ir. – Avisou fazendo com que o rapaz ficasse triste.

- Só mais uma tia! Por favor! – Implorou Nicole.

Aqueles dois juntos eram como uma equipa perfeita! Sempre que um queria algo o outro ia por trás e ajudava, sempre que um estava triste, o outro ia por trás e também ficava, sempre que um se aleijava, o outro ia por trás e também se aleijava... Estavam sempre juntos, tanto para o bem quanto para o mal.

- Oki! Mas só mais um! Depois vamos todos para casa!

Edward agarrou na mão de Nicole pronto para arrasta-la, porém a mais nova não se mexeu. Seu olhar estava fixo em sua mãe que tentava manter a cara escondida para não identificarem a tristeza nos seus olhos.

- Mãe... Porque estas a chorar? – O coração de Nicole partiu-se aos bocados.

- Não é nada filha... - Matilde olhou a pequena forçando um sorriso. – Apenas recordei-me de algo e fiquei triste... Mas já passa.

Nicole aproximou-se da mãe pousando a mão em cima da dela.

- Tudo o que vêm de mau trás alguma coisa boa, basta esperares.

Matilde sentiu um enorme aperto em seu coração, aquelas eram as palavras que ela tanto dizia a sua filha e pelos vistos a tinham marcado.

- Obrigada filha! – Matilde abraçou fortemente a rapariga. – Agora vai com o Edward antes que ele fique chateado. – Brincou fazendo com que Nicole começasse a rir e abandonasse o local juntamente com o rapaz.

- Acho que ela esta pronta para saber a verdade. – Comentou Clara dando um sorriso.

Matilde não disse nada, apenas ficou perdida em seus pensamentos, ela não se tinha apercebido do crescimento repentino da mais nova, como se de um dia para o outro se tivesse tornado uma criança crescida.

Enquanto as duas mães permaneciam no local, Edward e Nicole começaram a andar sem rumo, na tentativa de encontrar o próximo carrossel onde iriam andar.

- Que tal a montanha russa? - Questionou Edward observando-a. – A mãe sempre disse para eu não ir para lá, mas estou com vontade... - Edward olhou para sua melhor amiga notando que a mesma não prestava atenção. – Nicky? – Ela olhou para o amigo com seu olhar triste fazendo com que o mesmo ficasse preocupado. – O que tens? Porque estas assim?

- Por causa da minha mãe... Tenho certeza que ela esta assim porque o meu pai nunca mais disse nada... - Suspirou triste. – Eu acho que ele nos abandonou... Para sempre.

- A tua mãe vai superar isso... E tu também. – Olhou triste para amiga, sentindo-se a ficar destruído por dentro.

- Não sei Edward, nós agora estamos sozinhas, sem ninguém para nós proteger... - Olhou-o triste. – Mesmo com todas as discussões o meu pai protegia-nos, e agora, ele foi-se embora...

Edward deu um enorme sorriso colocando-se a frente de Nicole. Algo estava na mente daquele rapaz, aquele olhar era de quem tinha armado alguma coisa.

- Eu conheço esse olhar, o que foi? – Questionou a rapariga já com algum medo do que vinha ai.

- Eu vou proteger-te a ti e a tua mãe, vou ocupar o lugar do vosso pai. – Nicole deu um enorme sorriso, aquela atitude estava a ser demasiado fofinha. – Vou casar-me contigo e ser o homem que falta na vossa família.

- Nós somos muito novos para isso Edward, para além disso, a minha mãe disse-me que para duas pessoas casarem-se tem que se amar... - Ficou triste olhando o rapaz.

- E qual é o problema? Eu amo-te Nicole e quero fazer-te muito feliz, brincar para sempre nos baloiços contigo, continuar a desenhar ao teu lado, ganhar-te sempre no jogo da apanhada, fazer mais e mais festas de pijama contigo, proteger-te, fazer-te feliz... Por isso, quando eu crescer vou casar-me contigo.

Eram duas crianças a falar sobre amor, mas isso não mudava nada, o sentimento que eles tinham criado era algo único, vontade de cuidar um do outro, uma cumplicidade maravilhosa.

Nicole abraçou fortemente o melhor amigo como forma de agradecer tudo o que ele tinha acabado de dizer. Ela precisava de se sentir protegida e graças ao rapaz estava a sentir isso, isso e uma sensação estranha no seu estomago, uma sensação única.

- Agora vamos andar em algum sítio antes que a mãe e a tia decidam mudar de ideias. – Edward afastou-se fazendo Nicole rir, se havia algo que o rapaz não gostava era abraços, sentia-se sufocado.

Os dois amigos começaram a escolher a diversão seguinte, foi então que Edward parou perto de uma. Nicole não tinham gostado muito da ideia, mas acabou por ceder e entrar, juntamente com seu melhor amigo, na casa assombrada.

Os barulhos assustadores começaram a ocupar o local. Vários manequins feios saltavam para a frente deles, tentando causar o sentimento de medo em ambos. Edward já estava habituado a ver coisas assustadores, por isso, para ele aquilo era soft, ao contrário de Nicole. Ela encontrava-se tão assustada que agarrou na camisola do rapaz na tentativa de se sentir protegida.

- Esta tudo bem, eu estou aqui. – Edward agarrou na mão da amiga puxando-a para o seu lado. – Não deixaria que nada te aconteça.

Assim que suas palavras foram ditas ouve-se um grito alto e as luzes desligam-se todas. Nicole começou a ficar ansiosa, cheia de medo, com uma enorme vontade de chorar.

- São só efeitos, tem calma. – Começou Edward tentando acalmar a rapariga, porém o que ele achava não ser nada acabou por tornar-se algo seriamente grave.

- Fogo, fujam...

Após a frase ser dita uma multidão de pessoas começou a correr em direção da saída, não notando na presença das duas crianças no local. As mãos dos dois, que anteriormente encontravam-se agarradas, foram separadas fazendo com que cada um caísse para um canto. Nicole, ao sentir o impacto, começou a chorar intensamente. O medo ocupou todo o seu corpo, ela só queria sair dali, parar de ouvir aqueles gritos e voltar a estar ao lado de seu melhor amigo, acabar com aquele enorme pesadelo.

- EDWARD! – Gritou na tentativa de ser ajudada pelo mesmo, porém não conseguiu ouvir nada, nenhuma resposta.

A rapariga começou a sentir-se fraca, a entrar num verdadeiro estado de choque. As forças começaram a desaparecer do seu corpo fazendo-a perder lentamente os sentidos. Ela sentia-se num mundo cheio de escuridão, onde só existia dor, completamente sozinha e vulnerável, sem ninguém ali, para a ajudar, com medo que aquele fosse o fim de sua história.  

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