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Capítulo 2

A chuva intensa ocupava os céus da cidade. Era estranho como de um momento para o outro o tempo tinha mudando tão drasticamente, dificultando a chegada a casa de muitos trabalhadores, incluindo de Nicole. Ela graças a não ter carta de condução teve que caminhar até ao seu destino, apanhando uma das maiores molhas do ano.

A rapariga não queria saber se chegava a casa molhada, se ficava doente, ou até se escorregava e partia alguma parte de seu corpo, ela sentia-se bem de baixo de toda aquela chuva, como se estivesse a limpar a alma, como se a acalmasse. Fora isso a música calma que ocupava seus ouvidos, tornando-a mais confiante de si mesma e mais forte. De um momento para o outro, graças a essas duas pequenas coisas, Nicole sentiu-se melhor consigo mesma, esquecendo-se por completo de Edward, mesmo sendo por breves minutos.

Mal alcançou a porta de casa, tirou as chaves do seu bolso e abriu a mesma. Entrou dentro do local indo em direção da casa de banho agarrando numa toalha seca para tentar limpar algumas gotas que escolhiam pelo seu cabelo.

- Cheguei mãe! – Gritou para que a mais velha a ouvisse, mas ao contrário do que ela estava a espera, não recebeu uma única resposta. – Mãe?

Nicole começou a caminhar em direção da sala, estranhando o silencio que ocupava a habitação. Matilde tinha que estar lá, quer dizer, estava quase na hora da festa de empresa, tinham-se de preparar.

Após entrar na sala viu que a mesma também se encontrava vazia. Provavelmente estava no quarto, arranjar-se, talvez não tenha ouvido a mais nova chegar… Pelo menos isso era o que Nicole esperava que tivesse acontecido.

A rapariga começou a subir as escadas em direção do quarto de sua mãe. Pelo caminho começa a ouvir vozes altas, como se alguém estivesse a discutir, mas quem! Quem estaria ali com Matilde?

Sem pensar duas vezes, acelera o passo abrindo a porta do quarto, algo que acabou por se arrepender. Ela não queria acreditar no que estava a ver, ou melhor, quem estava a ver. Como é que ele arranjou coragem para voltar! Depois de tantos anos fora da vida das duas, agora, que já não tinha responsabilidades para com a mais nova, volta aparecer! Como se não fosse nada! Como se tivesse o direito!

- Sai já daqui ou eu chamo a polícia! – Ordenou seriamente Matilde.

- Sair daqui! – Riu ironicamente. – Enquanto não me derem aquilo a que tenho direito, isso não vai acontecer. – Aumentou o tom de voz.

- Fala baixo que aqui ninguém é surdo. – Sandro, namorado de Matilde, que também se encontrava no meio de toda aquela confusão, meteu-se a frente de Matilde tentando protege-la do seu ex-marido.

- Tu cala-te que eu não estou a falar para ti. – Apontou-lhe o dedo sendo interrompido por Matilde.

- Mas tu pensas que és quem! Quer dizer, deixas-me sozinha a cuidar da Nicole, sem saber como lhe dizer que o pai a abandonou, sem apoio… – Gritou irritada. – E agora chegas aqui com a estupida ideia de querer partilhar a guarda dela! – Riu ironicamente andando de um lado para o outro. – Caso não saibas ela já é maior de idade, já não podes levar este caso para o juiz!

- Não posso, mas tenho direito de voltar a conviver com a minha filha, tenho direito de a ter ao meu lado, de novo! Eu sou o pai dela. Tenho direito. – Gritou exigindo tal coisa.

Nenhum deles tinha reparado na presença de Nicole, até aquele momento. A rapariga não conseguiu aguentar toda aquela dor, vê-los a discutir era como reviver o passado, reviver todo o sofrimento de infância. Muito menos conseguiria aceitar aquele pedido de seu pai, ela queria distancia dele, para sempre. Sua vida estava muito bem sem a sua presença.

- TU NÃO ÉS MEU PAI. – Gritou Nicole fazendo com que todos os olhares fossem parar a ela. – E NUNCA SERÁS.

Após suas palavras, deu meia volta e correu para fora de casa, ignorando por completo o seu nome a ser chamado. Nicole queria desaparecer, para sempre, dali. A dor que se encontrava em seu coração era demasiado intensa, só lhe apetecia chorar, gritar, acabar com tudo.

Depois de algum tempo a correr começa a sentir o cansaço apoderar-se de seu corpo, parando. Encostou-se numa parede deslizando para o chão deixando-se cair em lagrimas. A dor era demasiado grande, verdade que haviam problemas mais graves na vida, mas as acumulações de todos aqueles problemas tinham-na levado ao limite. Ela precisava de falar, de desabafar, urgentemente.

Nicole agarrou no telemóvel desbloqueando o mesmo. Foi até aos seus contactos e entrou no de Edward, ligando para ele. O apito foi ecoando de segundo a segundo e nada, a chamada apenas foi parar ao voice-mail.

- Por favor, Edward… - Sussurrou voltando a tentar, mas mais uma vez, nada.

Nicole guardou o telemóvel sentindo a dor apenas aumentar. Como se não chegasse o aparecimento de seu pai, depois de a ter abandonado, ainda tinha a confirmação que ela menos queria, Edward já não queria saber da sua existência. Ela estava a lutar sozinha por uma amizade que já não tinha pés para andar, uma amizade que já tinha morrido. Só lhe restava uma pessoa em quem podia confiar, para além de sua mãe, Shia.

A rapariga agarrou no telemóvel entrando no contacto de sua melhor amiga e ligando-lhe. Felizmente, ao contrário do outro, esta rapidamente lhe atendeu o telemóvel.

- Ainda estas na festa? – Questionou com sua voz de choro preocupando Shia. – Então eu vou aí ter, até já.

Desligou o telemóvel limpando suas lagrimas e começou a seguir caminho em direção do local. Ela precisava de falar e nada melhor do que sua melhor amiga para a ouvir. Para além disso, quem sabe, se ao ir aquela festa se esqueceria de tudo, nem que fosse por breves momentos.

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