4 Consequências Calculadas

Ellen estava com os olhos sobressaltado e aquela mesma expressão que Agnes conhecia. Descrença.

— Ela é louca. Sei que é sua mãe, mas isso é loucura até mesmo para ela. — Ela mordeu o lábio inferior, coçou a cabeça e andou de um lado para o outro.

Agnes não a encarava mais, seus olhos estava focados nas linhas que sua mão tinha, ela havia lido em algum lugar que dependendo do tamanho da linha no centro, ela poderia ter uma vida longa ou não. Aquela linha era curta, muito pequena, mas na outra mão ela era cumprida. Será que ela morreria cedo?

— O que você pretende fazer? — Ellen perguntou após tanto reclamar e pisar firme contra o piso.

Agnes continuou a olhar para sua mão.

— O que você quer fazer, Agnes?

Os ombros da garota se moveram, era quase como se ela dissesse "tanto faz", mas ela apenas não sabia o que dizer ao certo.

— Eu gosto do Ícaro, mas não é o suficiente.

Ellen revirou os olhos.

— Amiga, esquece o que aquele idiota do Ciro disse. Ninguém se importa de verdade com o que ele fala, só a Kate, mas nesses momentos ignoramos os dois.

Ela suspirou.

— Eu não posso ir contra a minha mãe. Sei que ela pode estar enganada, mas eu não quero que ela fique chateada comigo.

Elle respirou fundo, segurou aquela respiração e contou até cinco.

— Você precisa fazer com que ela entenda que a vida dela já passou. É você quem faz suas escolhas agora, Agnes. Não deixe pra depois.

Ela negou, um sorriso no canto dos lábios e os olhos grandes expressando gratidão por suas palavras amigáveis.

— Eu esperava que você dissesse qualquer coisa, menos isso. — Ampliou o sorriso, ela estava satisfeita, a crença de que não pudesse confiar em ninguém, aos poucos poderiam ser derrubadas e revestidas por novas crenças.

Ellen segurou suas mãos e a olhou no fundo dos olhos.

— Eu gostaria de fazer muito mais por você! Você me ajudou muito.

Agnes negou.

— Só fiz o que eu queria que fizessem por mim um dia. Mas nunca achei que de fato seria recompensada. — Riu.

Ellen sentou ao seu lado.

— O que você vai fazer?

Suas mãos soltaram uma da outra, as mãos de Agnes se abriram em cima da mesa, seus olhos visualizaram as linhas de suas mãos e sem tirar seus olhos dali, ela respondeu.

— Eu já fiz.

Ellen franziu a testa, um pouco confusa.

— Eu disse para Eloá que Ícaro estava solteiro, e disse a Ícaro que Eloá estava disponível. — Suas mãos se fecharam em punhos firmes. — Eles já começaram a conversar. Eu estou jogando um contra o outro.

Ellen fez uma carranca.

— Você sabe que Eloá testa primeiro, certo? Quero dizer, ela pega o que oferecem, ou pelo menos tenta. — Bufou. — Não é uma boa ideia Agnes. Você vai ficar mal quando começarem a se envolver de verdade.

Agnes riu baixo, uma risada seca e sem humor.

— Eu sei. Eloá me disse que estava tentando nos unir, e que seu "feitiço" havia retornado para o "feiticeiro". — Balançou a cabeça, seu coração palpitava com rapidez e dor.

Com a mão sob o peito ela quis jurar lealdade a qualquer coisa, tudo que não a fizesse lembrar do rapaz, mas era impossível, ah se era. Descendo a mão ao lado do corpo ela apertou sua mão em punho, tão fortemente, mas a dor não podia trocar de lugar, embora quisesse.

— Ela disse isso? — Ellen mordiscava seus próprios lábios, estava ansiosa e nervosa, não queria que Eloá se metesse na vida de Agnes, não pela segunda vez.

Agnes assentiu.

— Eu não me importo. Se Ícaro estiver com outra pessoa quando eu o abandonar, pra mim tudo bem.

Ellen negou.

— Não está nada bem Agnes. Ele gosta muito de você. Ele te ama. E você gosta dele, você o ama. Admita isso!

A garota apenas balançou a cabeça, aquele simples movimentou fez seus cabelos sacudirem de ombro a ombro, um cheiro suave escapou de seus cabelos compridos. Doce cheiro.

— Está tudo bem. — Pôs a mão sobre seu peito outra vez. — A dor irá embora. Mesmo que continuem a conversar, mesmo que depois me agradeçam.

Ellen negou rapidamente com a cabeça, era doloroso demais apenas ouvir.

— Eles são idiotas! Um porque Eloá tenta pegar o que é seu pela segunda vez. Dois porque Ícaro não deveria fazer o que você quer sempre. Três, sua mãe deveria respeitar a sua vida e viver apenas a vida dela! Você sabe disso, você mesma me disse isso tantas, e tantas vezes, então por quê?

Agnes deitou a cabeça sobre a mesa, seu rosto virado em uma direção completamente oposta para onde Ellen estava. Seus olhos se fixaram em um ponto escuro na cozinha, a visão meio turva, embaçada e úmida. Ela queria chorar.

Inexplicável era a dor que se instalara em seu peito. Era tão pesado e dolorido que ela mesma queria estar no chão, paralisada com aquele imenso peso que ela sozinha não poderia carregar.

Peso nenhum ela dividia, sempre fora ela e mais ninguém.

— Ei. — sussurrou, as lágrimas à beira dos olhos, a voz embargada entregando o choro, ainda assim, ela foi forte o suficiente para dizer o que queria dizer, estava decidida, e nem mesmo ninguém poderia fazê-la mudar de ideia. — Eu já me decidi, não voltarei atrás, e eu sei que eles não se importam com essa mudança de personagem.

Ellen quis chutar aquela mesa, aquelas paredes, tudo. Tudo deveria ser destruído, inclusive Eloá e Ícaro.

— Se você já está decidida, eu não posso fazer nada. Mas se realmente mudar de ideia, eu estarei do seu lado, como sempre.

E uma por uma, as lágrimas escorreram de seus olhos, percorreram as bochechas rosadas e finalizaram em uma mesa gelada. Pelo menos Ellen não viu suas lágrimas, mas ela ouvira os soluços baixos.

Até mesmo o gato trancado no quarto pôde ouvir seu choro mudo.

***

Não sabia ela ao certo quanto tempo havia se passado, mas ela tinha certeza que algumas coisas haviam mudado.

Ícaro e Eloá estavam mais próximos, conversavam o tempo todo, e as vezes Agnes tinha plena certeza que já havia sido esquecida, mas ele lendo seus pensamentos, aparecia em sua casa e lhe trazia conforto e beijos.

Ela era uma vadia.

Agnes não prestava. Ela sabia, e constantemente dizia, mas ele continuava a insistir que ela era tudo o que ele precisava, tudo o que ele queria, e seu coração apenas doía.

As dúvidas que surgiam em seu coração eram dolorosas. Deveria ela acreditar? Mesmo que se perguntasse, ela havia confiança, uma confiança estupida de que era importante e representava uma grande parcela na vida dele.

Não. Não era mais assim, não quando ela era deixada de lado para que Eloá se enturmasse com o restante do grupo.

Era engraçado, cômico e irônico quando Ciro reparava naquela situação a três.

Os passos lentos daquele imbecil faziam seu estômago revirar em enjoo e ânsia. Ela começou a despreza-lo quando percebeu que sua existência era insignificante para ele, isso quando ela o considerava um grande amigo, a garota nunca tinha sido tão enganada. Se não fosse por ele, talvez Agnes não teria notado aquela questão, pessoas não dão importância para aqueles que se importam com eles, sempre se importam com quem os ignora.

Ela deveria ignorar mais, ou menos? Ela não sabia.

— Você foi deixada de lado. — disse Ciro confuso, nem mesmo ele estava entendendo.

Agnes riu com gosto.

— Sim. Assim como você.

Ele seguiu o olhar da garota e reparou que ela havia descoberto seu segredo.

Ciro tinha uma leve paixão platônica por Eloá.

"Aqui se faz, aqui se paga." Pensou Agnes em meio a um sorriso satisfeito.

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