7 A Contínua Escolha

A felicidade era relativa. Dependia da pessoa, dependia da situação e dependia das emoções. Agnes não encontrava a felicidade, tudo porque ela insistia em pensar que sem Ícaro ela não seria feliz, pobre garota que acreditava que o amava. Amor? Não, mas uma paixão tão passageira quanto um amor duradouro, se ela quisesse mesmo apagar aquela existência maravilhosa, ela teria que de fato escolher e não apenas pensar continuamente em seus erros.

— Pela milionésima vez, pare de pensar assim Agnes!

Kate apenas observava, não tinha mais direito de dizer alguma coisa, estava tudo tão perdido.

Agnes balançou a cabeça, as lágrimas queriam descer por seu rosto mais uma vez, mas ela se conteve, segurou as lágrimas na marca d'água de seus olhos escuros.

— Eu... — Se calou, não sabia ao certo o que queria dizer, mas sabia que aquela ali não era ela, era seu eu interior querendo destruir tudo que havia construído para si. — Está sendo como foi com minha irmã. — Respirou fundo.

Kate franziu a testa, não lembrava de Agnes ter uma irmã.

— Não achei que tivesse uma irmã. — sorriu de lado, sem graça.

Agnes apenas assentiu, concordava pois ela tinha uma irmã.

— Uma irmã mais velha. — Abraçou seus braços, as unhas apertavam levemente sua pele mole.

— Uau. — Kate estava surpresa por nunca ter ouvido falar sobre aquilo, mas Ellen parecia saber já que estava tão tranquila.

— Eu sei que parece que você está vivendo o que sua irmã passou, mas pense pelo lado positivo Agnes, ela já viveu tudo isso, você pode evitar tudo no que ela errou, e conviver em paz com seus pais. — Ellen disse suavemente, não queria estar a favor da decisão dos pais de sua amiga, mas sabia que era o melhor.

Agnes suspirou.

— Eu sei. — Sentou-se em um banco alto localizado na cozinha. — O pior é que eu sei disso tudo, e eu gostaria de não ter que ouvir os meus pais. — Sugou o ar para dentro de sua boca e o soltou com força. — Eu tenho dezoito anos Ellen, e mesmo que eu seja maior de idade, eu ainda não possuo escolhas.

Ellen negou devagar, seus olhos grudados totalmente nos seus.

— Você tem suas escolhas, mas elas carregam grandes consequências. — Quase sussurrou de tão baixo que havia dito.

— Grande escolha. "Mãe, não quero ir pra casa", "você vai vir sim". — Representou e revirou os olhos. — Se isso é ter escolha, então já tenho o suficiente disso.

Kate mordeu o lábio, ergueu a cabeça lentamente para o alto, seus grandes olhos castanhos encararam o teto claro, sua mente processava as informações que se seguiam, queria ela ter um conselho bom para dar, mas em sua mente nada de boa vinha, ela apenas queria dizer para seguir o que seus pais queriam. Grande erro.

— Eu não tenho o que te aconselhar. — Kate disse baixo, no mesmo tom de voz que as outras duas conversavam.

Agnes olhou para ela, não esperava de fato que Kate fosse falar alguma coisa.

— Mas posso dizer que se você realmente quer escolher seus pais, que o faça depressa. — disse sem olhar em seus olhos, mas ainda focada no teto claro. — Porque se você se preocupa com o que irão pensar, ou na felicidade deles, então siga essa linha. Embora não há garantias de felicidade, já que sua vida não é a mesma de seus pais.

Agnes sorriu de lado, tão irônica a vida podia ser, e justo ela havia sido escolhida para ser zoada com aquilo. A vida não era maldita em si, mas as situações que se seguiam a faziam.

— Eu já tenho a minha escolha Kate. Se fosse para deixar Ícaro ir embora e eu não ter decidido, acha mesmo que eu deixaria toda essa bagunça acontecer? — Franziu a testa, confusa por suas palavras embaralhadas. — De qualquer maneira, eu não posso simplesmente deixá-los de lado, não quando me deram tudo.

Kate desceu seu olhar sobre Agnes e tentou sorrir.

— Eu sei que não é fácil, mas você não acha que deveria parar para pensar em sua própria felicidade?

— Que felicidade eu teria se eu sei que dependendo do que eu escolher eles surtaram? — disse em um tom ríspido.

Ellen suspirou.

— Você ao menos explicou para ele?

Agnes suavizou a expressão em seu rosto tenso.

— Explicar o quê? Que ele não era bom o suficiente para mim, ou para minha família? — Riu sem humor, aquele mesmo riso seco e sarcástico. — Eu sei o quanto dói amar e ser rejeitado.

— E você fez a mesma coisa. — Kate pontuou, e no mesmo segundo final de sua fala Agnes negou.

Seu dedo indicador balançou com rapidez, era mentira aquilo, ela não deixou que ele fosse magoado, preferia mil vezes que a dor apenas a atingisse do que tocasse sequer em um fio de seus cabelos.

— Eu justamente o empurrei para outra pessoa porque não queria magoá-lo, porque eu sabia da minha falha e incompetência em tomar decisões. — Negou novamente. — Eu não sou incompetente, eu simplesmente estou presa em uma vida na qual eu não tive escolha Kate. Você entende isso? De viver para outra pessoa porque a vida daquela pessoa não foi vivida?

Ela voltou a rir, não havia piada e nem graça, apenas ela ria e completamente sozinha enquanto suas lágrimas voltavam a escorrer e incrivelmente a aquecer seu rosto enfurecido pela injustiça da vida. Injustiça? Ela também não podia dizer aquilo, pois seria ingratidão de sua parte não desejar viver.

Vida? Que vida?

Essa a qual ela não vivia, mas vivia por sua mãe.

Um pingo, apenas um pingo de esperança ainda lhe restava, ela não queria ter que gostar novamente de uma pessoa e ter que descarta-la porque seus pais não a aprovaram. Quem tinha que aprovar? Não deveria ser ela?

Ah, quanta indignação em dezoito anos acumulados.

— Eu estou cansada. — Suspirou por fim. As palavras se embaralhavam quando seu sangue esquentava.

— Está tudo bem em estar cansada. — Ellen sorriu em simpatia, já havia passado por aquela situação, mas havia conseguido passar pelas amarras da vida que tinha, e agora ela podia dizer que era independente em seus vinte e dois anos. — Enquanto se sentir cansada, isso vai fazer com que se lembre que está viva e vivendo a vida a sua maneira, porque se fosse fácil tudo estaria sendo feito por um caminho manipulado.

Agnes riu.

Sua amiga era espera, suas palavras eram sempre certeiras, acertavam sua consciência e seu coração.

Kate sorriu de lado, e decidiu dar o ponto final.

— Está pronta para deixar Ícaro viver outra vida e procurar outra vida para si?

Agnes pensou bem. Pensou duas, três, quatro vezes, mas ela já havia se decidido a muito tempo.

— Um dia serei recompensada pelo meu serviço, e saber disso é o suficiente.

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