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CAPITULO 2

Uma expressão incrédula passou pelo rosto de Hiro, ele conhecia bem o submundo e se Kado agora era o novo chefe é porque algo não estava bem.

- Eu sei que para ti até pode ser uma surpresa meu caro, mas algum dia ia acabar por acontecer. Por enquanto chega-me estar só responsável pelo Japão, mas no futuro, ou melhor, assim que esta confusão que criaste esteja resolvida irei começar a pensar em voos mais altos. Não me vais dar os parabéns?

- Eu não entendo, muito sinceramente não entendo.

- O que não entendes?

- Como é que és chefe. É isso que não consigo perceber. Sempre foste o que não tinha qualquer pingo de consideração pelas vidas humanas, fazias a recolha das almas com um sorriso, fosse de uma criança, de um adulto. Algo deve estar muito mal, para te terem promovido! – acabou por dizer Hiro. Kado olhou para ele com um ar de ofendido, e ia a abrir a boca para responder quando de dentro de restaurante se começaram a ouvir gritos.

Quando Hiro ouviu os gritos nem precisou de pensar muito para saber o que se estava a passar. Kado por sua vez, limitou-se a mostrar um largo sorriso, com traços de puro prazer e tirou do bolso da gabardine um relógio de bolso de ouro já bastante antigo e olhou para ele fazendo contas pelos dedos ao mesmo tempo.

- Vieste buscar quem? – perguntou Hiro começando a ficar revoltado.

- Ui, então? Só estou a fazer o meu trabalho. Aproveitei que te vinha buscar e como estava um humano lá dentro que iria ser a alma colhida amanhã pedi para ser a colheita antecipada. Poupei tempo, não achas? – disse Kado enquanto soltava uma gargalhada. Preocupado, Hiro correu de volta para o restaurante e quando entrou a primeira cena com que se deparou foi do seu chefe deitado no chão sem se mover, pálido, de olhos fechados.

Uma colega sua veio a correr ter com ele a pedir ajuda, estava pálida, sem saber o que poderia fazer para ajudar o patrão. Hiro olhou para ela e tentou tranquilizá-la, dizendo que tudo iria correr bem, mesmo ele sabendo que era mentira, que ele já não iria acordar, que a sua vida tinha ali acabado.

Kado entrou e pôs-se ao lado do falecido, olhou de novo para o relógio de bolso impaciente. Naquela altura só Hiro é que o conseguia ver. Kado assumiu a sua verdadeira forma, a forma de Shinigami e fez finalmente o seu trabalho.

- Hidetaka Oshiro, já cumpriste a tua missão nesta terra, vem comigo, o teu Shinigami te chama.

Hiro viu Hidetaka levantar-se e deixar o seu corpo para trás, ele estava confuso, não sabia o que estava a acontecer e ele quis poder tranquilizá-lo que iria para um lugar melhor, mas isso não lhe cabia a ele. No trabalho de Ceifeiro ele apenas entregava as almas, nunca sabia qual é que era o destino final de ninguém, mas de Hidetaka ele queria saber, queria desesperadamente saber. Ele tinha sido sempre bom para ele e para o resto dos seus colegas, ajudava sempre que precisavam, era um homem já de meia-idade, com alguns cabelos brancos, gordinho e baixo, usava sempre os óculos na ponta do nariz, era querido por todos.

O seu ódio por Kado aumentou naquele momento. Não era justo ceifar uma vida antes que o seu tempo tivesse acabado, não funcionava assim. O que tinham visto nele afinal para ele ser chefe?! O que se estava afinal a passar?!

Hiro olhou para Kado, ele estava na sua verdadeira forma. Todos os Shinigamis eram considerados criaturas monstruosas, horríveis, mas cada um tinha uma forma diferente de acordo com o nível de almas que tinha recolhido, havia até quem dissesse que a quem recolhesse um certo número de almas que um dia poderia deixar de ser um ceifador e vir a ser um humano caso assim o desejasse, mas isso só acontecia a quem tivesse ceifado almas de pessoas muito perigosas como violadores, pedófilos, pessoas que não mereciam andar pela terra. Kado, pelo que Hiro sabia era ceifador á mais tempo que ele, talvez daí viesse a sua forma: ele tinha perdido o seu cabelo colorido e a cabeça estava coberta de bolhas cheias de pus, continuava alto como antes, vestia na mesma o seu terno de trabalho com a famosa gabardine e das costas saiam duas asas deformadas, meio depenadas, negras, que onde tocavam deixavam uma marca como se tivessem sido embebidas em algum tipo de ácido. Os olhos dele eram agora brancos, não tinham iris, estavam vazios, não havia ali qualquer tipo de emoção, e a sua voz para quem a conseguisse ouvir era arrepiante.

Hiro não podia fazer nada pelo seu patrão, acabou por virar costas para que ele não se apercebesse que ele o podia ver. Antes de partir com a alma, Kado olhou para Hiro, a voz arrepiante fez-se ouvir apenas para ele.

- Amanhã venho buscar-te. Precisamos resolver esta embrulhada o mais rápido possível.

Hiro acenou com a cabeça, sabendo que não era assim que queria voltar á sua vida antiga, mas se não havia outra maneira não podia fazer nada, aquilo era melhor que nada.

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