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Os homens nesse vilarejo amanhecem trabalhando e adormecem em um bordel. Nos últimos tempos em especial o movimento está baixo, os imposto ficaram mais altos, a comida fica cada vez mais escassa e com isso as pessoas começaram a deixar de ir em bordéis e tabernas. Julian foi obrigado a diminuir o número das suas "garotas" do dia, então sou a única que fica de dia e aguenta todo o papo com os bêbados malucos que aparecem por aqui para encher a cara com o que resta de cerveja. Às vezes uma ou outra garota chega pedindo abrigo, tenho vontade de dizer para a pobrezinha fugir, mas sou covarde e apenas abro um sorriso e lhe mostro o lugar sujo e fedorento que terá que dividir com os ratos e as outras mulheres desesperadas por um punhado de pão e cobertas para se taparem nas noites gélidas de Macetown. Quando Julian chega a ver que tem mais uma garota para sustentar, ele me lança um olhar frívolo e sussurra " Sua dívida só aumenta e logo você vai ter que se juntar as garotas que tanto ajuda".

As mulheres por outro lado acordam com seus filhos na madrugada e iniciam sua jornada como esposa de um bárbaro que chega cheirando a cerveja e a meretriz com quem passou a noite, quando reclamam do seu comportamento elas têm sorte dele não bater nela e em sua cria. Há uma pequena parte das mulheres que não tem maridos para sustentá-las, então essas saem para ser criada ou concubina de um nobre rico, as que não conseguem por outro lado tem apenas duas opções, fazem o que eu faço e tentam trabalhar em uma taberna durante o dia, o que é quase seguro para uma mulher, porém quase impossível de conseguir. Ou viram mulheres das noite como gostam de ser chamadas.

Com os pés doendo por conta dos sapatos convenientemente arranhando meus calcanhares, continuei a levar as cervejas para os homens bêbados que ainda restavam na taverna.

- Gracinha - Diz o velho grisalho batendo com seu caneco na mesa.

O velho era um nobre, podia se ver por sua roupa de traços vermelho, talvez não dos mais ricos, sua roupa está batida e desbotada, mas o homem tem influência para me mandar presa, então teria que respeitá-lo. Coloquei um sorriso mais falso do que as jóias que uso na orelha, peguei o jarro de cerveja e fui até seu lugar e comecei a encher seu copo

- Isso aí gracinha - Disse enquanto passava a mão em minha bunda.

Minha espinha se retraiu e meu corpo se arrepiou inteiro ao seu toque, eu queria jogar a cerveja que carregava nesse nobre nojento, mas tenho que me manter o mais calma possível. Peguei a mão do velho e a retirei rapidamente, já colocando de volta o sorriso no rosto e continuei.

- Senhor, durante o dia isto é apenas uma taverna - falei com uma leve reverência, já me virando para sair de perto desse homem nojento.

- Claro, apenas uma taverna gracinha - Disse ele dando um tapa na minha bunda enquanto virava seu caneco garganta abaixo.

- Meu senhor - Resmunguei sentindo meu corpo se retrair, mas eu teria que respirar fundo e continuar - Durante o dia as Meretrizes não estão a disposição, então pare de me tocar - Disse firme, dando um passo para trás, já vendo o homem se levantar como uma selvagem. Eu sabia que não era páreo para ele e além disso estou sozinha aqui na taberna, não haveria forma alguma de revidar qualquer coisa sem acabar me machucando.

- Então não deveria estar vestida como uma - Sugeriu já pegando meu pulso.

Quando peguei em sua mão para que ele me soltasse, ele começou a me olhar assustado, como se visse um fantasma. Quando de repente ele pulou para cima de mim, me derrubando no chão e subindo por cima de mim, me dando socos velozes . Tudo que pude fazer foi levar os braços a cabeça e tentar me proteger. Foi quando ele puxou sua espada e meu coração acelerou, eu tinha que fazer algo ou morreria. Segurei seus braços o mais forte que pude, meu corpo nunca esteve tão quente energizado, senti meu coração desacelerar, meu corpo se tornou apenas calor. Então gritei o mais alto, da forma mais estridente que pude, até pude ouvir um vidro se partindo, era como se o tempo estivesse desacelerado. O velho me encarou, parecia um louco, com as mãos trêmulas deixou sua espada cair no chão, como por um passo de mágica ele se levantou, ainda alterado, mas não era raiva, estava pálido, seu olhar parecia amedrontado. Seus braços tinham uma mancha vermelha, mas comparado a como vão ficar os roxos pelo meu corpo, aquilo não é nada.

- Sua bruxa saia de perto de mim, eu não quero morrer. Nunca mais eu volto aqui - berrou se afastando de mim e indo em direção a porta, onde Julian apenas observava a cena, ele parecia intrigado com o que via, mas se mantinha sério e inexpressivo, como sempre.

Eu o encarei sem dizer nada, ainda tentando colocar o ar de volta ao pulmão, meu corpo se tornou frio novamente, como a lava de um vulcão correndo de encontro ao mar, meu corpo ainda tentava entender o que aconteceu, foi tudo tão rápido como doloroso. Como podia um homem psicótico desses andar solto. Voltei a olhar Julian, na esperança de que ele me dissesse algo reconfortante, mas ele mantinha sua postura perfeita, como se fosse um diplomata, seu rosto impassível, com o olhar acinzentado em contraste com seu cabelo extremamente escuro sempre me deram arrepios.

- Não deveria culpar James por procurar um pouco de diversão em um bordel - Sugeriu ele piscando seus olhos acinzentados para mim.

- Julian eu não vou tolerar que mais um velho bêbado tente passar a mão em mim, da próxima… - Disse enquanto fazia força para me levantar.

- Da próxima vez você vai fazer o que eu quiser, Daya…- Suspirou levando as mão aos olhos e vindo até mim, para então estender a mão como o nobre cavalheiro que finge ser, mas estava irritada demais e dei um tapa em sua mão e me pus de pé o mais rápido que pude.

Julian voltou a me encarar sem dizer nada, sua postura enrijecida, ele está fazendo exatamente como quando um de seus clientes começa a causar problemas e ele espanca a criatura, está com raiva por que seu cliente não voltará ou por ter negado a grande ajuda que ele piedosamente estava me dando. Apesar de Julian ser sempre muito agressivo ele prefere sacos de pancadas a bater em pessoas menores que ele, o que me dá uma certa vantagem já que sempre fui um pouco mais baixa que ele.

- Seja mais atenta com os tarados e se acontecer de novo chame Luken, ele sempre está pela rua observando -completa Julian jogando alguma moedas na mesa - Compre um vestido comprido… Vai deixar os tarados longes das suas calças apertadas - concluiu ele passando seus olhos sobre mim.

- Como se o problema fosse minha calça - berrei vendo ele sair andando sem dizer nada.

Meu sangue ferve só de pensar que teria que sair para comprar um vestido, apenas porque um velho nojento não consegue se controlar, não vou deixar de trabalhar de calças. O ar se torna quente quanto mais penso nisso e fico com mais raiva. As vezes me odeio por te tanta paciência, se soubesse que perderia o cliente de qualquer forma, poderia ter cortado mal pela raiz.

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A noite em que minha mãe foi pega estava especialmente fria, chuvosa e ventava forte. O soldado esbraveja na porta de de casa, pedindo para que abríssemos a porta e pagasse-mos o que devíamos para a Coroa, minha mãe fez sinal para que eu não gritasse e me escondesse debaixo das tábuas de madeira soltas em sua cama. Quando o soldado arrombou a porta a sua paciência estava esgotada, ele jogou minha mãe em um canto e começou a vasculhar a casa em busca de dinheiro, algo de valor, o que infelizmente não tínhamos, pois meu pai gastava tudo com suas bebedeiras. O soldado começou a gritar e jogar coisas no chão, cada vidro se quebrando me dava vontade de gritar, mas tinha que fazer silêncio pela minha mãe. Foi então que ouvi o grito dela, sai imediatamente debaixo das tabuas de madeira, que tinham em baixo de uma pequena mesa, corri em direção ao grito, mas nada dela. O grito se repetiu mais alto, corri o mais rápido para vê-la, foi então que vi a cozinha inteira da casa de madeira pegando fogo e minha mãe sendo amarrada pelos pulso. O soldado sorriu

- Garotinha venha, venha junto com sua mãe trabalhar- dizia doce, mas eu sabia que minha mãe seria escrava do Rei Timothy Leif.

Minha me olhou com seus olhos brilhantes cheio de lágrimas e colocou um sorriso no rosto e sem nenhum som saindo de sua boca, pude ler seus lábios "fuja". Eu não queria deixar minha mãe, mas corri assustada, o mais rápido que pude, para o lugar mais longe que pudesse encontrar, porém minha pernas curtas fraquejaram ao encontrar o barro escorregadio do inverno de Macetown, mas eu não podia parar, corria mesmo que devagar e com muita dor. Quando me deparei com um menino assustado correndo na minha direção, ele estava em meio a tanta chuva, assustado, fugindo de algo, que mais tare descobrir ser seu pai. Quando trombamos um no outro, eu comecei a chorar, mas ele me encarou com seus olhos estranhamente acinzentados e abriu um sorriso estranho, como se não soubesse o que estava fazendo. Nesta noite ele puxou a minha mão e me deu um lugar para ficar, mesmo que seu pai batesse nele de novo e de novo. O que era para ser só uma noite se tornou 13 anos.

Eu e Julian nunca fomos íntimos, passamos algum tempo juntos graças a escola que Hannyel nos obrigava a participar, quando convidava Julian para brincar, ele dizia não, quando conversava com ele, respondia apenas com 'aham' ou um simples gesto com a cabeça.

Ele sempre me viu como uma conveniência, acho até que tudo que fez por mim era por pena. Talvez por ter conseguido algumas garotas minguadas, com medo da morte, desesperadas para não virarem escravas do Rei.

Julian podia ser pouca pouca coisa mais velho do que eu, mas ao contrário de mim conquistou tudo que queria muito cedo, com a morte de seus pai aos 16 anos os negócios ficaram para ele e com o treinamento ardiloso que seu pai Hannyel lhe dava todos dias, junto a frieza e a arrogância que tem, é uma combinação perfeita para dar arrepios nos lordes e camponeses que tentavam arruinar seus negócios. Apesar de sua mãe Elayn ter vivido muito pouco, ela amou tanto Julian, que deu sua vida ao dar a dele e não pode vê-lo crescer ou impedir que Hannyel o espancasse todos os dias.

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