— Responde pivete, pra quem você trabalha? — me fala aí, se um cara que até então tinha salvado sua vida, agora te sequestrou e te colocou numa espécie de prisão, te perguntasse pra quem você trabalha, o que você responderia? Eu realmente nem sei o que responder, talvez alguma resposta errada esse cara corta meu pescoço, eu vi do que ele é capaz de fazer.
— Olha... — minha mente novamente entrando no modo alerta, eu não me considero uma pessoa corajosa, mas minha cabeça sempre entra no modo automático quando eu me sinto ameaçado ou em perigo. — Eu moro no Estrela, no ADBR do Norte. Eu tive que fugir de lá, uma facção chamada Blood Moon ia me matar... Eles mataram meu pai adotivo... — será que eu fui convincente? Será que eu tinha mesmo que ser sincero? Não acredito que a melhor opção era mentira sobre quem eu sou.
— Você disse... "Blood Moon"? — Tec arqueou as sobrancelhas.
— Sim. Blood Moon. — eu segurei o choro e a raiva assim que falei o nome da facção que trouxe minha ruína. Eu juro que queria sair antes de tudo isso acontecer, mas... Não vou mentir... Eu me desviei um pouco, era tão bom a sensação de ter dinheiro...
Tec ficou em silêncio por um momento. — Você me confirma que a Blood Moon também atua no Estrela?
Fiquei confuso com essa pergunta, será que a Blood Moon... — Como assim? A Blood Moon também está aqui na Inferterra?! — eu comecei a me balançar, pra tentar me soltar. — Olha, Sairu Techno. Preciso que me solte, preciso matar o Alvo e meu irmão!
Tec me encarou, parecia ter um certo respeito em seu olhar caído. — Vou ser breve garoto. Não sabemos o que você é ainda, mas temos certeza que você não é nem de perto um humano comum. E ainda confisquei sua luva dourada, descobrimos que o objeto que você possuía, é um Objeto Abençoado.
Objeto Abençoado? — Como assim objeto abençoado?
Ele tocou na minha testa com o indicador, em cima do ferimento na minha cabeça que não cicatrizou ainda. — Apesar de você ter uma regeneração anormal, aquele Mágoa te atacou com "Singumon", a energia demoníaca, e pelo visto o seu corpo ainda tem dificuldades em curar certas coisas como esta. Porém, você entrou no meu mundo, pivete, vejo potencial em você como Sepultador. — ele continuou. — Você pelo visto tem garra, e um certo senso de justiça, estou te dando a escolha de lutar ao nosso lado, ou, você pode escolher ser exterminado, afinal você é uma anomalia, e são nossas ordens matar qualquer anomalia, o que me diz?
Ponderei sobre a proposta de Tec, minha vida realmente virou de cabeça pra baixo, ela mudou simplesmente da noite pro dia, eu nem sabia o que fazer, mas... — Se eu entrar... Pros Sepultadores... Irei matar aqueles que fazem o mal? — eu perguntei com a voz baixa, com a raiva estampada em meus olhos, famintos por vingança.
Tec deu um leve sorriso. — Esse que é o nosso dever aqui, pivete. — ele cruzou os braços. — Então, o que me diz?
Eu quero ser mais forte... Quero ser a justiça que vai punir o mal... Só assim poderei me redimir pela morte do Luthan. Só assim poderei me vingar do Alvo... Me vingar do Mercil. — Eu... Eu aceito.
— Perfeito. — Tec bateu as palmas, no instante que fez isso, todas as paredes, chão e teto, brilharam um branco intenso no mesmo instante.
A massa que prendia meu corpo, derreteu na mesma hora, mas eu estava sem roupas, apenas com uma cueca branca, logo tentei cobrir meu corpo com meus braços. — CADÊ MINHA ROUPAS?!? — eu gritei, estava envergonhado.
— Relaxaaaaa pivete. Acompanha eu, mandei fazer um traje pra você antes de vir pra cá. — Sairu voltou com a postura desleixada e sarcástica, com as mãos na cabeça, se espreguiçando a todos momento.
— Grhhh... Tem um gorro aí pelo menos?
Ele me olhou confuso. — Um gorro? Acho que tem no vestiário.
— Será que pode trazer uma toalha pelo menos? Eu não quero sair semi-nu por aí. — eu estava claramente nervoso por ele ter tirado minhas roupas.
— Quanta frescurinha. Parece uma mocinha, tá bom princesa, vou buscar uma toalha. — ele se teleportou, e depois reapareceu de novo, dessa vez com a toalha na mão, que ele jogou pra mim. — Tá na mão, baby.
Eu cobri meu corpo com a toalha. — E o gorro?
— Cê é exigente né pirralho? — ele novamente se teleportou, voltando com o gorro forrado, um gorro preto.
Então coloquei em minha cabeça. — Agora sim. — então agora, com uma toalha branca cobrindo meu corpo, podia sair dalí. — E então? Como sai desse lugar?
— Simples: teleporte. — ele falou como se eu pudesse teleportar.
— Eu não... Eu não consigo me teleportar.
— Relaxa. — ele teleportou não só ele como eu também.
Quando me dei conta, estava em uma sala enorme, era como se fosse um topo de um prédio, tinha uma enorme janela cristalina e rudimentar, no formato de um diamante estendido e deitado. A vista da janela era algo deslumbrante, uma enorme cidade cibernética e caótica, obscura, como sempre estivesse de noite, os céus pareciam céus normais, sem nenhum rasgo como eu ouvi falar, mas algo me dizia que aquilo não era verdadeiro.
— Esse que é o garoto, Techno? — eu ouvi uma voz imponente perguntar.
— Ele mesmo chefiaaaaaa. — Tec cantarolou com a voz fina.
Assim que olhei pra trás, sentado em uma cadeira enorme, como se tivesse sido feita para um rei, com o couro preto, e detalhes dourados enfeitando sua cor tão escura. A frente, uma mesa de madeira, com várias caveiras espalhadas pela mesa, mas pareciam ser caveiras de seres demoníacos. O homem que estava sentado nesta mesa com um ar de autoridade, tinha uma presença e aura esmagadora, ele era extremamente alto, com músculos enormes, vestindo uma armadura cibernética prateada, com uma capa de rei azul enrolando seu pescoço, ele era branco, mas bronzeado pelos raios do sol. Sua barba cheia, branca como a neve, incluindo seu cabelo, amarrado com um rabo de cavalo, refletindo a luz reluzente. Os olhos deles eram azuis como diamantes, emanava brilho e graciosidade daquele olhar.
— Se aproxime garoto. — ele me chamou com sua mão direita.
Eu andei lentamente, engolindo em seco, a cada passo, eu era esmagado pela sua presença enorme.
— Apresente-se. — ele disse.
Eu me ajoelhei, colocando meu punho no chão, sinalizando respeito, ele parecia ser uma figura importante. — Danme senhor. Danme Arkanji.
Ele ficou em silêncio por um momento, logo apoiou seu rosto em seu punho, com o cotovelo na mesa, dando um leve sorriso. — Levante-se. Eu não sou nenhum nobre da realeza garoto.
— T-tudo bem! — eu me levantei rapidamente.
— Me chamo Drogger. Sou o capitão, e líder dos Sepultadores. Sairu Techno salvou sua pele, disse que viu potencial e determinação em você, algo perfeito para um Sepultador. Se você está aqui e agora, vivo, significa que aceitou a proposta. — ele me encarou com um olhar de liderança. — Está pronto pra assumir e carregar o peso e fardo de ser um Sepultador, garoto Arkanji?
Eu fiquei em silêncio por um momento, pensando sobre o que responder, escolhendo as palavras certas. — Sim senhor. Eu estou pronto.
— Por que? — ele me perguntou. — Por que deseja participar da nossa organização?
Eu não sabia o que responder, minha motivação não era a mais nobre... Mas quer saber? Dane-se! É melhor eu ser sincero do que mentir. Então coloquei o punho em meu peito direito, como um soldado de guerra. — Desejo fazer justiça senhor. Punir aqueles que fazem o mal.
Ele não falou nada, então se levantou lentamente, ele era enorme, tinha quase 3 metros de altura. Ele andou até a minha direção, se agachando, e colocando a mão em meu ombro. — Ser um Sepultador é se sacrificar pelo bem maior garoto. Lutamos não contra meros foras da lei, lutamos contra forças da natureza. Calamidades da destruição, apóstolos do caos, certeza de que é capaz para lidar com o fardo de um Sepultador?
Parece uma profissão arriscada e mortal, mas eu não ligo, vou me vingar do Alvo, e do meu irmão. — Sim, senhor. Eu sou capaz.
Drogger, deu uma risada leve, então ele se levantou, e foi até a janela. — Você pelo visto é novo neste mundo sombrio né garoto?
— Sim. Eu vim do Estrela.
— Ah! O grande Estrela, "A Cidade Além dos Céus." É algo verdadeiramente precioso aquele lugar, você morava na Central Star? — ele encarava a cidade pela janela, os prédios com a estética cyberpunk do lugar, era a única coisa que iluminava a cidade.
— Não, eu morava no ADBR do Norte. — eu respondi um pouco envergonhado.
— "Área Detectada para Baixo Reconhecimento"? — ele me perguntou.
— Sim.
— Olha só, pelo menos você não é um nobre mesquinho. — ele seguiu. — Sabe garoto, meu pai, já foi o líder desta organização antes de mim. Ele assumiu o posto de Mhor, que também foi um líder lendário. Quando meu pai morreu, e eu tive que assumir, entendi qual é o conceito cativante nesta organização.
Eu não entendia o que ele queira dizer com isso, até levantei a sobrancelha.
— Quando você se afundar de cabeça nesta organização, vai entender o que quero dizer. Te declaro oficialmente, um Sepultador. — Drogger concluiu.
— Boaaaaa pivete! Pelo menos a gente não tava que cortar sua cabeça fora pra fazer experimentos. — Tec abanou os braços.
— QUE?!? — eu quebrei a minha postura, fiquei em choque.
— Tô zuando, bora lá, vamo pegar teu traje. — ele começou a andar em direção a uma porta de carvalho, que parecia ser a saída da sala.
— Boa sorte garoto, seja bem vindo. — Drogger apertou minha mão, e balançou levemente meu ombro.
— Obrigado pela oportunidade senhor, não irei decepcionar. — então me virei para sair junto Tec. — Afinal, vocês Sepultadores, lutam com o que?
Tec parou no momento em que ia abrir a maceneta, e ele olhou pra minha com um sorriso extremamente aberto e louco. — Matamos todos os tipos de demônios que você pode imaginar.