PoV Heitor.
O tempo é estranho neste corpo. É como se o passar das horas, ou mesmo dos dias, não fizesse sentido. Já se passou um mês desde que reencarnei aqui, mas para mim parece uma eternidade. A cada momento, eu luto contra os limites de um corpo pequeno e frágil, incapaz de andar, de falar, e até de me mover como quero. Tudo que posso fazer é observar, tentar entender onde estou e quem são essas pessoas ao meu redor.
Ainda não entendo a língua que eles falam, mas algumas palavras são repetidas o suficiente para eu começar a associá-las com o que significam. Os nomes... **Helen** e **Erick**. E, com o tempo, percebo que são meus pais.
Minha mãe, Helen, é uma figura que parece saída de um sonho. Seus cabelos loiros caem em cascatas de luz dourada, quase etéreos sob a luz suave que inunda o quarto. Seus olhos são de um azul profundo, parecidos com safiras cintilantes, e eles se fixam em mim com um olhar cheio de ternura e preocupação. Sua pele é clara, de uma palidez que acentua suas feições delicadas. Vestida em um vestido branco, simples e elegante, ela parece quase flutuar enquanto se move. Em seu colo, encontro um refúgio, um calor que me faz esquecer a estranheza dessa situação. Quando Helen me segura, sinto um carinho tão intenso que é como se eu pudesse realmente sentir o vínculo entre mãe e filho.
Ela murmura palavras que eu ainda não consigo decifrar, mas o tom de sua voz me envolve em uma sensação de paz. É como se cada palavra fosse uma promessa silenciosa de proteção e amor incondicional.
Ao lado dela está Erick, meu pai. Ele é um contraste marcante, um homem imponente com uma presença que exala força e segurança. Seu cabelo é preto como a noite, cortado de forma precisa, e seus olhos têm um verde intenso, como esmeraldas. Ele tem um porte forte, com músculos bem definidos sob a camisa social branca que veste. O contraste entre seu físico e sua expressão calma me confunde. Há algo de acolhedor nele, uma presença que me faz sentir que estou seguro.
Eles estão conversando, e apesar de não entender as palavras, consigo captar a intensidade do que falam. Erick se inclina ligeiramente em direção a Helen, com uma expressão atenta. Ele menciona algo sobre "afinidade mágica". Seu tom de voz carrega uma nota de orgulho misturada com uma expectativa quase inquieta.
Ele é um **Duque** e, como descubro através de seus gestos e olhares, um mago poderoso. Fala sobre seus poderes com naturalidade, como se fosse apenas uma parte de quem ele é. Erick tem o controle sobre quatro elementos: **fogo**, **escuridão**, **água** e **ar**. Cada um deles, penso, deve responder à sua vontade, dobrando-se ao seu comando. Por um instante, tento imaginar o poder de controlar esses elementos. Sinto um estranho anseio, uma vontade de experimentar essa força por mim mesmo. Mas por enquanto, estou limitado a este corpo pequeno e dependente.
Helen escuta com um sorriso sereno, um contraste ao fervor do marido. Ela mesma possui dons mágicos, mas de uma natureza distinta. Ela controla a **luz** e a **escuridão** – forças opostas, que coexistem dentro dela. É como se ela mesma fosse o equilíbrio entre esses elementos, e isso transparece em sua personalidade calma e em seu olhar compreensivo. Ela fala pouco, mas cada palavra parece cuidadosamente escolhida, carregada de significado.
O ambiente ao nosso redor também contribui para o ar quase mágico desta cena. O quarto é decorado com móveis elegantes, embora não exagerados, de madeira escura e polida, adornados com detalhes dourados. Cortinas longas, em um tom de creme claro, filtram a luz do sol, criando uma iluminação suave que dança pelas paredes e pelo chão de mármore. Uma lareira no canto crepita com um fogo brando, dando ao quarto um calor acolhedor.
No ar, há um leve aroma de flores. Descubro que vem de um arranjo sobre uma mesa de madeira ao lado da cama onde Helen me segura. As flores parecem exóticas, com pétalas longas e coloridas, quase mágicas em seu aspecto. Cada detalhe deste ambiente exala uma nobreza silenciosa, uma elegância que reflete o status de minha família.
Erick me observa agora, com um olhar investigativo. É como se ele estivesse tentando discernir algo, como se procurasse traços ocultos de talento ou alguma centelha de poder em mim. Ele murmura algo para Helen, e ambos se olham em um silêncio cúmplice, antes de sorrirem levemente. Há um brilho em seus olhos – um brilho de esperança, de planos para o futuro, talvez até mesmo de ambição.
Eles têm grandes expectativas para mim, isso está claro. Não sei exatamente o que esperam, mas sinto que há uma pressão, uma espécie de responsabilidade que já paira sobre mim, mesmo tão jovem. Se meu pai é um duque e um mago capaz de controlar quatro elementos, e minha mãe uma maga da luz e da escuridão, então, por algum motivo, eles acreditam que também devo possuir algum talento especial.
Se ao menos eu pudesse expressar meus próprios pensamentos, se ao menos eu pudesse dizer a eles o quanto estou confuso, e o quanto me pergunto sobre o que o destino reservou para mim. Mas, por enquanto, tudo o que posso fazer é observar, aprender e esperar.
Dentro deste pequeno corpo, minha alma carrega um passado que meus pais desconhecem, e uma determinação que cresce a cada dia.