Capítulo: O Conselho do Regente
Porto Real, 283 d.C.
A sala do Pequeno Conselho estava cheia de uma tensão quase palpável. As tochas projetavam sombras alongadas nas paredes de pedra e lançavam um brilho quente sobre as tapeçarias que narravam antigas conquistas Targaryen. Sentado na cabeceira, Jon Arryn observava os rostos ao seu redor com olhos firmes, mas a sua expressão serena escondia a preocupação crescente que sentia desde que assumira a regência e o papel de Mão do Rei.
Ao seu lado, o Mestre dos Sussurros, Varys, permanecia em silêncio, um meio-sorriso sereno nos lábios. Eddard Stark, severo e atento, observava tudo ao redor. Renly Baratheon mantinha a expressão pensativa, e Stannis, com os lábios apertados, irradiava sua conhecida rigidez. Era uma reunião crítica, e Jon sabia que as revelações de Varys poderiam influenciar os próximos passos de Westeros.
Com uma voz calma e calculada, Jon se dirigiu ao Mestre dos Sussurros: "Varys, você trouxe informações que julga ser do interesse de todos. Pode começar."
Varys inclinou a cabeça, mantendo a voz suave, quase como um murmúrio. "Sim, minha Mão. Meus pequenos pássaros sussurraram sobre uma transação recente envolvendo uma figura de Essos que tem despertado o interesse de vários. Shahadiin Dragas, um comerciante myriano de certo renome, concluiu a compra de quarenta navios da frota Targaryen, aqueles que restaram em Pedra do Dragão."
Jon sentiu um murmúrio de surpresa ao seu redor. A venda de tantos navios, e especialmente para um estrangeiro com reputação duvidosa, poderia comprometer a segurança de Westeros. Ele manteve a calma e apenas ergueu as sobrancelhas, incitando Varys a continuar.
"E não é só isso," o eunuco prosseguiu, cruzando os dedos magros. "Shahadiin Dragas também agiu de maneira... ambiciosa durante a guerra. Ele fez comércio com ambos os lados, fornecendo recursos para os rebeldes e para o Trono de Ferro. Tudo em nome de ouro e poder."
Eddard Stark apertou o maxilar, e Stannis Baratheon lançou a Jon um olhar de desaprovação. O comércio com ambos os lados da guerra era mais do que uma simples traição; para muitos, era uma afronta a todos que haviam lutado, perdido companheiros e amigos para pôr fim ao domínio dos Targaryen.
Jon permaneceu em silêncio, refletindo sobre o que isso significava para o futuro do reino e para o equilíbrio de poder que ele tão arduamente tentava manter. Depois de um momento, virou-se para Varys.
"E por que a rainha Rhaella aceitaria tal oferta? Por que venderia o que restava de sua frota?"
Varys inclinou a cabeça e deu de ombros, com aquele ar de quem conhecia todas as respostas. "Acredito que a resposta é simples: necessidade. Com o fim da guerra e o exílio, a rainha Rhaella se viu pressionada a garantir alguma segurança para seus filhos e para os leais Targaryen que a acompanham. Shahadiin ofereceu uma quantia considerável — cem mil dragões no ato e mais cem mil em uma conta no Banco de Ferro. Ouro suficiente para assegurar um futuro aos Targaryen, ainda que distante de Westeros."
Renly, que até então escutava em silêncio, finalmente se manifestou, intrigado. "Então, agora temos quarenta navios em posse de um mercador de Essos, alguém que já demonstrou sua inclinação para o lucro acima de lealdades. Isso me parece... preocupante."
Stannis resmungou em concordância, balançando a cabeça. "Esse Dragas só fez isso porque percebeu a oportunidade de lucro. Alguém assim jamais deveria possuir tal frota. Pode muito bem se tornar uma ameaça para nós, especialmente se for manipulado por nossos inimigos."
Jon assentiu. Não poderia ignorar a possibilidade de que Shahadiin usasse sua crescente fortuna e influência para desestabilizar Westeros. A venda de tantos navios não era apenas um evento isolado, mas um sinal de um comerciante que ambicionava poder, talvez até mais do que o necessário para seu próprio bem.
"Precisamos avaliar até onde vão as intenções de Shahadiin," disse Jon, sua voz carregada de gravidade. "Se ele se aproveitar da instabilidade atual, poderemos nos ver forçados a agir. E se ele tem o apoio de instituições como o Banco de Ferro..."
Stannis o interrompeu. "Apenas torna-se mais complicado. Esse homem possui recursos e contatos poderosos. E, para alguém que negocia com ambos os lados de uma guerra, a honra é irrelevante. Westeros precisa de paz, e qualquer que se oponha a isso não deve ser bem-vindo em nosso reino."
Varys, atento à reação do conselho, interveio mais uma vez: "Sugiro cautela, minha Mão. Shahadiin é, até agora, apenas um mercador. A influência dele não deve ser subestimada, mas também não devemos vê-lo como um inimigo declarado. Por ora, ele se limita a Essos e não tem influência direta em Westeros. No entanto, observá-lo de perto seria prudente."
Jon ponderou, analisando os pontos levantados. Era claro que Shahadiin Dragas não era um adversário comum, e deixar que ele se fortalecesse sem monitoramento seria um erro estratégico. Contudo, Westeros também estava se recuperando, e gastar recursos e atenção em um mercador estrangeiro poderia distrair da reconstrução que tanto precisavam.
Depois de um longo silêncio, ele finalmente respondeu.
"Vamos manter uma vigia em Shahadiin Dragas. Varys, encarrego-o de enviar seus pequenos pássaros a Essos. Quero saber sobre todos os passos dele. Se ele pretende estabelecer alguma aliança que possa nos ameaçar, saberemos disso antes que seja tarde demais."
O Mestre dos Sussurros assentiu com um leve sorriso, satisfeito com a oportunidade de expandir sua rede em Essos. Os olhos de Jon, no entanto, recaíram sobre Eddard e Stannis.
"Eddard, Stannis, a segurança de Westeros é nossa prioridade. Qualquer pessoa que ameace essa estabilidade, seja através de ouro ou de aço, deve ser contida. Shahadiin é, por enquanto, uma incógnita. Mas, se ele começar a interferir diretamente em nossos domínios, estaremos prontos para agir."
Eddard acenou, compreendendo a gravidade da situação. "E se ele entrar em contato com os sobreviventes Targaryen, Jon? Se ele decidir financiar outra tentativa de invasão?"
Jon assentiu, pensativo. "Essa é exatamente a preocupação, meu amigo. Por ora, ele parece motivado apenas por lucro. Mas um homem com ouro suficiente e a ausência de uma moral sólida pode facilmente ser seduzido a apoiar uma causa, especialmente uma que lhe permita influenciar Westeros. Estejamos atentos."
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Após o Conselho
Ao deixar a reunião, Jon Arryn sentia-se sombrio. Shahadiin Dragas era apenas uma peça em um jogo muito maior, mas seu alcance crescia a cada movimento. Em sua mente, Shahadiin era uma ameaça potencial, alguém que poderia ser usado como uma ferramenta para desestabilizar tudo o que eles tinham lutado para preservar.
Ele sabia que a paz em Westeros era frágil, e que até mesmo o menor dos ventos poderia inflamar as cinzas ainda quentes da guerra. Para manter a ordem, ele teria que agir com cautela, mas também com firmeza. E enquanto Shahadiin Dragas permanecesse na sombra, Jon sabia que deveria manter um olho atento sobre ele.
Westeros poderia ter vencido a guerra, mas Jon Arr
yn sabia que o verdadeiro desafio estava apenas começando.