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Capítulo 24 parte 2

Quem sou eu, você pode se perguntar

Meu rosto é apenas uma capa

Para o monstro interior

Eu tento esconder

Mas se você olhar mais de perto nos meus olhos

Você pode descobrir meu disfarce

Pois eu não sou homem, e não tenho alma

Nenhum coração, e uma besta que não consigo controlar

Sozinho, sofro à noite

E quando o sol nasce novamente, finjo estar bem

Meu único desejo é ser libertado das correntes

E do ódio que corre pelas minhas veias

Mas eu sei que o fim está próximo

Eu cavarei minha própria cova

E descansarei nela sem medo

Pois a morte é tudo o que almejo

Rayven fechou o livro. Quem quer que o tenha escrito descreveu seu sofrimento tão bem. A morte era de fato tudo o que ele desejava. Ele olhou para o treinamento dos garotos e seu olhar pousou em William. O garoto estava trabalhando duro e melhorando a cada dia. Ele alcançava os garotos mais velhos que tinham mais treinamento do que ele.

Seu cabelo caiu nos olhos enquanto ele lutava, distraindo-o e dando ao seu oponente a chance de derrubar a espada de madeira de sua mão. O garoto então continuou a bater em William com a espada de madeira enquanto William tentava pegar a dele.

A inveja era pior que veneno. Os garotos não conseguiam aceitar que um garoto mais novo, que não tinha tanto treinamento quanto eles, fosse melhor.

Rayven não se incomodou em interrompê-los e observou William ser atingido. Ele esperava que o garoto se levantasse mais forte, pois seu pai tolo logo transformaria sua vida num inferno.

William rastejou para pegar sua espada, mas o garoto a chutou para longe e continuou batendo nele. Finalmente, William teve o suficiente e usou seu braço para bloquear os ataques enquanto se levantava. Com um rugido, ele se jogou no garoto, derrubando-o no chão e então começou a socá-lo.

Rayven nunca tinha assistido algo tão satisfatório, mas era seu dever garantir que eles não se machucassem seriamente.

"William! Isso já é o suficiente agora!"

William estava mais irritado do que ele imaginava. Apesar de suas ordens, ele deu um último soco antes de se afastar. Ele estava ofegante e suas mãos permaneciam cerradas em punhos.

Rayven levantou-se de seu assento. "Já chega por hoje. Você pode ir embora."

O garoto que foi espancado por William conseguiu ajuda com a ajuda de seus amigos, mas, sentindo-se envergonhado, ele os empurrou para longe e partiu às pressas. Seus amigos o seguiram, e o restante dos garotos lhe desejaram uma boa noite antes de saírem. Exceto por William. Ele continuou parado no mesmo lugar, enquanto o sangue escorria de seus punhos cerrados.

"Fiquei muito irritado." Ele disse, com os olhos vermelhos.

Rayven havia percebido que William parecia cansado ultimamente, mas não se importou em se preocupar.

"Você deveria dormir um pouco."

William olhou para cima, para ele. "Como você dorme quando sofre de pesadelos?"

Como ele sabia? Rayven ficou surpreso no início, mas então percebeu que o garoto estava falando sobre si mesmo. O que assombrava este jovem garoto que ele não conseguia dormir à noite?

Ele suspirou, frustrado. Por que ele se importava? Sentando-se de volta em sua cadeira, ele segurou seu livro. "Tente ler. Às vezes me ajuda."

"Minha irmã gosta de ler."

O garoto gostava demais da irmã, mas então, o que havia para não gostar?

Rayven cerrava a mandíbula, insatisfeito com seus próprios pensamentos.

"Talvez ela possa ler para você." Ele sugeriu, odiando-se mais a cada palavra que dizia.

Lentamente, William desfez os punhos e seus ombros relaxaram.

"Tenha uma boa noite, Meu Senhor." Ele se curvou e então se virou e partiu.

Rayven o observou caminhar. O garoto se parecia com sua irmã em muitos aspectos.

Depois de ler um pouco mais sobre o homem que se via como um monstro e seu sofrimento sem fim, Rayven decidiu ir para casa. Quando foi ao jardim principal, encontrou William ainda esperando seu pai para levá-lo para casa.

Antes que pudesse falar com ele, ele sentiu o cheiro de uma mulher. Um doce aroma de verão que o fazia lembrar de dias quentes e ensolarados. Dias que não existiam em sua vida.

Resistindo a respirar seu perfume, ele olhou para ela. Por que ela tinha que vir hoje, logo hoje? Agora ele seria repreendido por machucar o irmão dela.

"William!" Não demorou muito para que a preocupação aparecesse em seus olhos azuis depois que ela viu o irmão. "O que aconteceu com você?"

O irmão dela parecia pior do que da última vez que ela o repreendeu. Ele estava curioso para ver o que ela faria desta vez.

"Estou bem." William garantiu.

Ela pegou seu rosto, afastou seu cabelo antes de olhar para os hematomas. Então o soltou com um suspiro.

Quando seus olhos azuis se voltaram para ele, ardiam com um fogo tão vermelho quanto seu cabelo. "Ele pode ficar em casa amanhã? Para se recuperar." Ela perguntou a ele.

Rayven ficou surpreso. Ele esperava ser repreendido. "Não." Ele respondeu.

Ela franziu a testa, não esperando sua resposta. Por que ela continuava pensando que ele seria gentil?

"Ele não conseguirá aprender muito com tantos ferimentos, Meu Senhor."

"A dor é a melhor professora." Ele disse. Não eram suas palavras, mas ele acreditava nisso.

Angélica estreitou os olhos,"Espero que não, Meu Senhor. Tenha uma boa noite." Ela fez uma reverência, depois passou o braço ao redor dos ombros do irmão. "Vamos para casa." Ela disse, liderando-o para longe.

Rayven tentou entender o significado por trás das palavras dela e a razão pela qual ela não discutiu com ele desta vez. A mulher era um mistério. Provavelmente porque ele não conseguia ouvir seus pensamentos, senão não estaria tão curioso a respeito dela. Por que estaria?

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