Jon Snow havia conseguido se esgueirar através dos corredores sombrios e silenciosos de Winterfell, escondendo-se nas sombras enquanto seu pai, Ned Stark, conversava em frente ao túmulo da mãe de Jon, Lyanna Stark. Ele sabia que havia algo que precisava descobrir, algo que apenas as palavras de Ned poderiam revelar. O que Jon ouviu, entretanto, foi muito mais do que esperava: a verdade sobre sua origem e o verdadeiro significado de sua linhagem. Atordoado pela revelação de que ele não era apenas o bastardo de Ned Stark, mas o filho legítimo de Lyanna Stark e Rhaegar Targaryen, Jon sentiu um turbilhão de emoções. A verdade, como um peso esmagador, fez com que ele se sentisse perdido e sem rumo. Em um estado de confusão e desespero, Jon decidiu deixar Winterfell atrás de si, fugindo para encontrar um sentido para a sua nova realidade. Sua jornada, porém, foi interrompida quando, ao cavalgando furiosamente, perdeu o controle do cavalo e sofreu uma queda violenta. O impacto com uma árvore antiga, uma árvore-coração sagrada do Norte, fez com que ele desmaiasse. O sangue de Jon, manchado de dor e desespero, escorreu pela casca da árvore e entrou em contato com suas raízes. Foi então que Jon experimentou algo que desafiava toda a lógica: ele encontrou-se em uma visão vibrante e enigmática. Diante dele, apareciam os espíritos dos antigos heróis de Westeros e dos deuses valerianos – Balerion, Vhagar e Meraxes, os dragões lendários. O ar estava carregado de uma energia primordial e antiga, e Jon sentiu uma presença majestosa e opressiva que fazia seu coração bater com mais força. Os espíritos e dragões revelaram a Jon a "Canção de Gelo e Fogo", um mito profundo e complexo que entrelaça a história de Westeros com o destino dos seus habitantes. Eles contaram a ele sobre a Longa Noite, uma era de escuridão que ameaçava destruir tudo o que eles conheciam. Jon foi informado de que ele tinha um papel crucial a desempenhar na luta contra as forças do gelo que se aproximavam. Nesse estado de transe, Jon compreendeu que sua verdadeira identidade e o seu legado eram muito mais significativos do que qualquer título ou posição. Ele aprendeu sobre a antiga profecia e o seu papel como o possível salvador de um mundo que estava à beira do colapso. Com esse novo entendimento, ele foi guiado de volta à realidade, determinado a enfrentar seu destino e proteger os seus entes queridos. A experiência nas profundezas da árvore-coração havia lhe dado a clareza e a força que ele precisava para aceitar seu papel na luta que estava por vir. Com renovada determinação, Jon Snow se preparava para voltar a Winterfell e preparar o Norte para a tempestade que estava por vir. O verdadeiro inverno estava chegando, e Jon estava pronto para enfrentá-lo com a força que seus antecessores lhe haviam concedido ================= Nao tera harem, o romance sera focado em JON E YGRITTE
287 D.C., Winterfell
Jon
Eu sabia que não deveria estar fazendo isso, mas qual era minha escolha? Estava cansado de ser desprezado, me sentir inferior e julgado por algo sobre o qual eu não tinha controle. Ser hostilizado em minha própria casa era algo que eu não aguentava mais. Lady Stark havia demonstrado mais uma vez seu desprezo por mim, simplesmente por eu existir.
Flashback
— Robb!
Gritei para meu irmão assim que o vi saindo do berçário de nossa irmã mais nova.
— Jon, você vai acordar arya.
— Desculpe, mas você viu o livro que o meistre Luwin me deu de aniversário?
— Não, me desculpe.
Antes que eu pudesse responder, Lady Stark saiu do berçário com fúria nos olhos.
— Já falei que não quero você perto de arya. Bastardos não deveriam viver sob o mesmo teto que os nobres.
— Mãe!
Robb tentou intervir em minha defesa, mas antes que pudesse dizer algo, ouvimos um choro. Lady Stark, antes de entrar novamente no berçário, olhou para mim e disse:
— Você deveria ter morrido junto com a prostituta da sua mãe.
Ela fechou a porta com violência.
— Jon, me desculpe...
Não deixei Robb terminar. Apenas virei e saí correndo para o único lugar onde não seria julgado nem desprezado.
Agora
Entrar nas criptas sempre me dava medo e alívio ao mesmo tempo: medo pelos mortos e alívio pela solidão. Elas conseguiram me machucar agora. Eu nunca me importei com os insultos dirigidos a mim, mas ofender minha mãe era outra coisa. Eu nunca a conheci, não sei quem ela era, se era boa ou ruim. Mas, mesmo assim, machuca muito não saber pelo menos seu nome. Meu pai nunca me disse. Uma vez, perguntei e ele respondeu que não me contaria, sem deixar espaço para questionamentos.
Agora eu estava aqui, andando entre os mortos, sentindo que eles me olhavam não com desprezo, mas como se eu fosse uma esperança para eles.
Após me acalmar, ouvi passos em minha direção. Rapidamente me escondi atrás de uma estátua. Não queria ser punido; o dia já não estava indo bem.
Ned Stark (POV)
Novamente, tive aquele sonho onde minha irmã estava morrendo, olhando para mim e falando:
— Você me prometeu que cuidaria dele, VOCÊ PROMETEU!
Lyanna parecia decepcionada comigo, e lá no fundo eu sabia que ela tinha razão. Jon tinha comida, roupas e uma cama, mas eu sabia do que ele sofria: os olhares, os sussurros, os gestos. Puni todos os servos com rigor, mandei até alguns embora, mas havia uma que eu não conseguiria punir sem machucar outras pessoas importantes para mim.
Flashback
— O que está acontecendo aqui?
Perguntei para Robb, que estava olhando para baixo com vergonha.
— Mamãe e Jon, pai.
Ele respondeu, querendo chorar. Outra vez isso, como se não bastasse Lyanna me punindo em meus sonhos.
— O que sua mãe disse a Jon, meu filho?
— Pai, ela falou que Jon deveria ter morrido junto com a prostituta de sua mãe.
Levei um tempo para digerir o que Robb me contou. Catelyn passou dos limites. Agora, uma recém-nascida não era desculpa para tal insulto a uma criança.
— Vou cuidar disso, filho, não se preocupe.
Falei para Robb, tentando me acalmar. Abrindo a porta do berçário, entrei e vi Catelyn tentando acalmar arya.
— Você passou dos limites agora, Catelyn. Quero você no meu escritório assim que nossa filha se acalmar.
Virei as costas, não dando tempo para ela responder.
— Onde está Jon, filho?
— Eu não sei, pai, ele saiu correndo sem falar nada.
Assenti para ele e me dirigi às criptas. Precisava pedir perdão a Lyanna. Entrei nas criptas e fui a passos rápidos para o túmulo de minha irmã. Assim que cheguei, me ajoelhei e pedi perdão à estátua, esperando uma resposta.
— Perdão, minha irmã. Eu sei que você está furiosa comigo. Não há desculpas para isso, apenas peço seu perdão. Seu filho, Jon, ele tem o sangue de lobo no corpo, ele é esperto, será um excelente lutador como seus ancestrais, não tenho dúvida disso. Mas a verdade, minha irmã, é que eu não sei como contar a ele. Cada vez que ele me olha, querendo perguntar sobre a mãe, meu coração dói. Você deveria estar aqui com ele. Pretendo que ele vá para a Patrulha da Noite. Eu sei que aquele lugar não é honrado, mas lá nem os deuses poderiam fazer mal a ele, muito menos aquele porco que me chama de amigo. Você pode não me perdoar, mas sei que o pai dele não queria que o mesmo que aconteceu com seus irmãos acontecesse com ele. E por isso peço seu perdão, Lyanna.
— Pai.
Quando me virei e vi Jon com lágrimas nos olhos, senti um frio na espinha.
Jon (POV)
Ao reconhecer o dono dos passos apressados, o medo tomou conta de mim. Se meu pai me descobrisse aqui, não ficaria nada feliz. No entanto, o medo rapidamente deu lugar a uma raiva intensa que queimava dentro de mim. A cada palavra dita por meu pai, ajoelhado diante da estátua de minha mãe, a revelação de que Lyanna Stark era minha mãe me atingia como um golpe. Então, eu não era filho dele? Lyanna Stark era minha mãe? Quem era meu pai?
As perguntas invadiram meus pensamentos. Eu queria gritar, bater, fazer qualquer coisa para liberar o calor que estava queimando dentro de mim.
— Pai.
— Jon.
Ele respondeu sem cor no rosto. Era evidente que estava surpreso com minha presença.
— Por quê?
— Jon, o que você ouviu?
— POR QUÊ?
Em circunstâncias normais, nunca gritaria com meu pai, mas não consegui mais segurar o fogo que emanava de mim.
— Jon, acalme-se.
— NÃO QUERO FICAR CALMO! VOCÊ ME DEVE A VERDADE! VOCÊ SABE COMO É SER OLHADO COMO NADA, COMO SE SUA VIDA NÃO TIVESSE VALOR, NÃO SER RESPEITADO EM SUA PRÓPRIA CASA. VOCÊ TEM NOÇÃO DISSO? NÃO APOSTO QUE NÃO, POIS EU TENHO, E POR ISSO, LORD STARK, VOCÊ ME DEVE A VERDADE!
— JON, NÃO VOU FALAR COM VOCÊ ASSIM. ACALME-SE E VAMOS CONVERSAR.
Aquilo foi demais para mim. Apenas virei e saí correndo, precisava sair daquele lugar. Eu só queria uma coisa e ela estava sendo negada a mim pelo homem que mais respeitava.
Corri em direção à saída o mais rápido que pude. Ouvi Lord Stark correndo atrás de mim, falando algo que eu não entendia. Só queria a verdade, e ele estava me negando. Corri para os estábulos e peguei o primeiro cavalo que encontrei. Não me importei se estava selado ou não.
Agora, alguns guardas seguiam Lord Stark. Não pensei duas vezes e saí com o cavalo em direção aos portões o mais rápido possível. Graças aos deuses, o cavalo estava selado.
Cavalei o mais rápido que pude, apenas querendo me afastar de Winterfell. No entanto, quando olhei para trás, vi meu pai e seus guardas me seguindo. Via a boca dele se mexer, mas não ouvia nada.
De repente, senti uma dor de cabeça intensa, como se estivesse sendo partido ao meio. Quando abri os olhos, estava vendo através dos olhos do cavalo. Eu queria sair dali e voltar a ser eu. Entrei numa floresta e, de alguma forma, consegui voltar ao meu corpo. Minha cabeça parecia em chamas.
Olhei para trás e vi que meu pai não me seguia mais, quando, de repente, tudo ficou preto e não me lembro de mais nada.
Ned Stark (POV)
Quando Jon saiu correndo, fui atrás dele e pedi para ele parar, mas foi em vão. Quando saí das criptas e vi a direção que ele estava seguindo, gritei para os guardas:
— Sr Rodrik, chame os guardas! Precisamos pegar Jon!
— Milorde, o que o menino fez?
— NÃO É HORA PARA PERGUNTAS! PEGUE OS GUARDAS E ME SIGAM. NÃO MACHUQUEM JON OU PERDERÃO AS CABEÇAS!
Sai disparado para os estábulos atrás de Jon. Ele não me ouvia chamando. Só vi quando ele pulou em um cavalo e saiu em disparada pelos portões. Os guardas, sem entender o que estava acontecendo, apenas o viram sair pelos portões.
— SR RODRIK, ME DÊ UM CAVALO AGORA!
Os guardas, percebendo o que estava acontecendo, subiram em seus cavalos e me seguiram.
— SE ALGUÉM MACHUCAR MEU FILHO PERDERA A CABEÇA
Gritei antes de iniciar a perseguição de Jon, saindo galopando atrás dele.
Enquanto observava Jon a cavalo, correndo a toda velocidade, lembrei-me de minha irmã. Ela e o cavalo pareciam ser um só, e Jon parecia ter herdado essa habilidade dela. No entanto, minha admiração logo deu lugar ao medo. Jon colocou a mão na cabeça, como se estivesse com dor, e então o cavalo começou a descontrolar, saindo da estrada e entrando na floresta. Todo cavaleiro experiente sabe que velocidade e floresta não são uma boa combinação.
— Milorde, devemos continuar a pé — disse o Senhor Rodrik.
Paramos e desmontamos dos cavalos. Olhei para os homens e assenti.
— Rápido, não podemos perder os rastros. Jon pode se machucar. Esta floresta não tem árvores muito grandes e está cheia de animais selvagens.
À medida que entrávamos na mata, meu temor aumentava ao ver o terreno irregular e as raízes das árvores saindo da terra, tornando o local extremamente perigoso para um cavalo descontrolado. Seguindo os rastros de Jon, percebi que o cavalo estava fora de controle. O que não fazia sentido era que Jon, embora inexperiente, era um bom cavaleiro e não deveria perder o controle tão facilmente. Alguns passos adiante, ouvi o cavalo de Jon.
— Rápido, Jon deve estar próximo!
Conforme me aprofundava na floresta, vi o cavalo de Jon descontrolado, andando de um lado para o outro. Ao olhar mais de perto, meu sangue gelou ao ver Jon deitado, com sangue saindo de sua cabeça. Corri o mais rápido que pude e notei que o sangue estava aumentando.
— SR. RODRIK, RÁPIDO! MANDE UM DOS GUARDAS À FRENTE PARA AVISAR MEISTRE LUWIN QUE ESTAMOS LEVANDO JON FERIDO AGORA!
Não me importei com as árvores e apenas peguei Jon, saindo correndo em direção à saída da floresta.
— Lyanna, me perdoe — era a única coisa que eu repetia.
JON(pov)
Escuridão, e depois luz. Uma luz forte estava quase me cegando. Não conseguia ver ninguém, mas sentia presenças diante de mim.
— Olá, Jaehaerys. É um pouco cedo para você vir à minha presença, não é mesmo?
A voz era bela, mas um tanto fria. Não conseguia ver nada, mas sabia que ela estava me observando.
— Estou morto?
— Boa pergunta. Você gostaria de estar morto?
— Não sei.
— O que te levou a essa conclusão?
— Meu pai mentiu para mim a vida toda e me nega a verdade. Sou tratado como nada em vida. O que eu deveria querer, senão a morte?
— Interessante, mas me pergunto se essa não seria a saída mais fácil. A vida pode ser dura, mas também possui maravilhas para serem vividas. Winterfell não é o único lugar do mundo, Jaehaerys.
— Por que você está me chamando de Jaehaerys?
— Foi o nome que sua mãe te deu.
— Quem era ela?
— Você sabe, Jaehaerys, apenas não quer aceitar.
A voz tinha razão. Eu sabia disso, só não queria acreditar que meu pai mentiu para mim.
— Temo que não posso responder a todas as suas perguntas. A longa noite se aproxima. Se você não fizer nada, o mundo ruirá em morte e frio.
A longa noite era uma história para crianças mal-comportadas, não poderia ser verdade.
— Ela é real, Jaehaerys. Aegon sonhou com ela. Não posso explicar mais, pois meu tempo está acabando. Os Espíritos da Floresta e os deuses Valírianos se juntaram em você, pois você é a canção de Gelo e Fogo.
— Quem é você?
— Eu sou a natureza, a vida e a morte. O ciclo sem fim. Sou o que você chama de deuses antigos.
Aquilo parecia loucura. Eu deveria ter batido a cabeça muito forte. Um deus na minha frente não parecia real.
— Não posso te contar tudo, mas posso te dar bênçãos que foram deixadas sob meus cuidados. Você terá força, acesso ao conhecimento da Antiga Valíria, poderá trocar de pele com os animais, e muito mais.
Aquilo não parecia real. Por que eu ganharia isso assim?
— Nosso tempo está acabando, Jaehaerys. Suas perguntas serão respondidas. Vá além da Muralha e encontre Brynden Rivers. Podemos nos encontrar novamente lá. Até breve.
— Espere, eu...
Ned Stark (POV)
Em toda a minha vida, nunca senti tamanha angústia como ao ver Jon em meus braços, sangrando. Era algo para o qual eu não estava preparado. Cavalquei o mais rápido que pude em direção a Winterfell. Assim que passei pelos portões, vi Meistre Luwin me aguardando, acompanhado por minha esposa e meus filhos.
— Lord Stark, o que aconteceu? — perguntou Meistre Luwin, correndo em minha direção.
— Ele bateu a cabeça em uma árvore-coração — respondi, observando a surpresa nos rostos ao redor. Árvores-coração eram extremamente raras, mesmo no Norte, onde os Deuses Antigos eram mais venerados do que os Sete.
— Devemos levá-lo para o quarto para que possa ser tratado — disse Meistre Luwin.
Assenti e levei Jon para um dos quartos do castelo. Chegando lá, Meistre Luwin pediu que ele fosse colocado na cama e que eu saísse para que ele pudesse trabalhar. Eu não queria deixar Jon, mas sabia que não ajudaria em nada permanecendo ali. Ao sair pela porta, vi Robb, Sansa e Catelyn.
— Pai, Jon está bem? — perguntou Robb, tentando conter o choro. Sansa observava, sem entender muito bem o que estava acontecendo.
— Ele vai ficar bem, filho. Tenha fé — falei para Robb, mas, no fundo, estava falando para mim mesmo. Olhei para Catelyn, que parecia culpada, e gesticulei para que ela me seguisse, deixando Sansa com Robb.
— Leve sua irmã para a Septa Mordane. Catelyn, venha comigo ao meu escritório.
Falei sem deixar espaço para questionamentos. Robb levou Sansa e saiu. Fui andando até o meu escritório, sentindo Catelyn tensa atrás de mim. Assim que entramos, fechei a porta com um pouco mais de força, assustando-a.
— Você tem ideia do que fez? Tem a mínima ideia do que causou? Ele é uma criança, meu sangue.
— Ned, eu...
— SILÊNCIO! Não é a primeira vez, mas essa ultrapassou todos os limites. Jon está ali lutando pela vida por algo que você causou.
— Ned, ele é um bastardo. Vai tomar o lugar de Robb e...
— ELE É UMA CRIANÇA! UMA CRIANÇA, MEU SANGUE, MEU FILHO! Eu não pretendia contar a ninguém, mas como Jon já sabe, não há mais razão para esconder. No entanto, lembre-se, se isso se espalhar, minha cabeça estará a prêmio e nossa família será destruída. Em toda a minha vida, só contei uma mentira. Posso confiar em você para essa revelação ou serei considerado um bastardo por mentir para o reino?
Perguntei sarcasticamente.
— Ned, eu não estou entendendo...
Cheguei à minha mesa, peguei uma pena e um pergaminho e comecei a escrever. Catelyn me observava com apreensão nos olhos. Quando terminei, entreguei o pergaminho a ela e pedi que lesse em silêncio. Ao terminar, Catelyn estava tremendo, com os olhos arregalados.
— Ned, como você...
— Pense no que você leu e depois conversamos, quando eu me acalmar.
Peguei o papel e o joguei na lareira antes de sair, deixando Catelyn sozinha com seus pensamentos.
Catelyn (POV)
Pergaminho
Jon nunca foi meu filho. A mãe dele era Lyanna Stark; o pai, não preciso mencionar, pois temo somente a menção desse nome. Mas você é esperta e acabará descobrindo. A rebelião foi uma mentira. Quando cheguei à Torre da Alegria, após a batalha entre mim e os Guardas Reais, eu e Sr Howland Reed conseguimos vencer, embora não de maneira honrosa, mas ainda assim vencemos. Quando entrei, vi minha irmã com sangue entre as pernas. Ela só teve forças para segurar seu filho e me pedir para protegê-lo antes de morrer. Jaehaerys Targaryen, ou como você o chama, bastardo, não preciso dizer que ele é um rei, o verdadeiro.
Deuses, isso estava além da traição. Se o rei descobrisse, estaríamos mortos, todos nós. Minha família, meus filhos, pai, irmão, marido — todos nós. Agora tudo se encaixava. Ned é conhecido por ser o homem mais honrado dos Sete Reinos. Não fazia sentido ele ter um bastardo. Não consigo imaginar o que Lyanna passou, não poder ter seu filho consigo foi o pior dos castigos. E Ned tendo que carregar um fardo tão grande sozinho, minha ficha caiu: meu marido não confia em mim, e eu também não dei motivos para tal. Sempre tratei o garoto mal, nunca me permiti conhecê-lo. Para mim, ele era uma lembrança viva do fracasso de seu pai como marido e eu como esposa.
Flashback
— Mãe, estou com medo da chuva — disse Jon na porta do meu quarto. Seu pai tinha saído para verificar os castelos e ficaria fora por algumas luas.
— Não sou sua mãe, bastardo nojento. Saia daqui — respondi, vendo-o sair correndo e chorando.
Eu neguei o amor a uma criança apenas por nascer fora do casamento, quando na verdade ele tem o sangue mais nobre de todo o reino. A culpa começou a me consumir. Não sei se foi pela verdade ou pela pena de Lyanna. E agora, o garoto pode estar morto por causa de minhas palavras. Fiquei pensando nas minhas ações e nas suas consequências. Não sei quanto tempo se passou, mas enfim tomei uma decisão: pedir perdão a sua mãe com ações para o menino.
Saí do escritório de Ned e fui diretamente para o quarto de Jon, com passos rápidos. Quando cheguei lá, vi meu marido saindo, com a cara preocupada. Antes que ele pudesse falar:
— COMO ESTÁ O MENINO? — perguntei, angustiada.
— Não sei, Catelyn. O Meistre Luwin disse que as próximas horas serão críticas. Ele perdeu muito sangue — respondeu meu marido. Os deuses, minhas ações poderiam levar à morte de uma criança que só queria um lar.
— Posso vê-lo?
— O Meistre Luwin falou que ele está inconsciente e deve descansar.
— Eu cuidarei dele esta noite. Explique a Robb e Sansa. Arya ficará com a ama de leite — disse, sem deixar muita escolha a Ned. Eu precisava pagar pelos meus crimes com ações.
— Tudo bem — respondeu Ned, resignado.
Horas depois
Jaehaerys começou a ter convulsões. Ele estava com muita febre. Meistre Luwin tentou colocar um pano em sua cabeça, mas o pano secou rapidamente, queimado pelo calor de Jaehaerys. Chegou a um ponto em que meu marido teve que jogar água nele para tentar aliviar o calor, mas ainda assim ele estava muito quente.
— Lord Stark, precisamos levá-lo ao Bosque Sagrado. Ele está muito quente e isso pode ser perigoso — disse Meistre Luwin.
Meu marido pegou Jon e saiu em direção ao bosque. Ordenei que ninguém saísse de seus quartos a não ser que fosse ordenado. Ned colocou Jaehaerys em frente à árvore-coração.
— Meistre Luwin, tem certeza de que isso funcionará? — perguntei, apreensiva.
— Lady Stark, em todos os meus anos nunca vi alguém tão quente assim. Tememos não poder fazer nada — respondeu Meistre Luwin.
— Deuses, faço uma promessa aos Sete e aos Antigos, a qualquer um que estiver ouvindo: salve o garoto e eu farei o impossível para o bem dele — pensei comigo mesma, fazendo um juramento pelos meus filhos, que são as coisas mais preciosas para mim. Ned ordenou que alguns guardas fechassem o bosque para ninguém entrar. Então, de repente, Jaehaerys começou a pegar fogo, literalmente. Chamas, uma chama azul e muito quente, estavam saindo dele.
— Pelos deuses! — exclamaram Ned e Meistre Luwin. Os deuses não poderiam fazer isso, levar uma criança de tal maneira era imperdoável. Depois de um tempo, percebi que as chamas não estavam consumindo Jaehaerys. Pelo contrário, parecia que estavam curando-o. E então, tão rápido quanto apareceram, as chamas desapareceram. Ned se aproximou de Jon para verificar se ele estava bem, mas eu vi seu peito subindo e descendo como se estivesse correndo em sua velocidade máxima.
— Meistre, precisamos levar ele para dentro agora — disse Ned, quase gritando. Assim que toquei em Jaehaerys, sua pele estava gelada. Ele começou a tremer novamente. Ned saiu correndo pelo castelo até nosso quarto. Chegando lá, ele colocou Jaehaerys na nossa cama, cobrindo-o.
— Meistre, o que está acontecendo? — perguntei ao homem que parecia ter visto um fantasma.
— Eu não sei, Lady Stark — respondeu ele.
Aquilo não parecia certo: fogo azul e agora sua pele estava mais gelada do que gelo. Mas, para nosso espanto, Jaehaerys levantou-se, puxando todo o oxigênio que conseguia. Olhou para mim e Ned e desmaiou de novo.
— Ned, o que vamos fazer?
— Eu não sei, mas parece que acabou. Olhe, a pele dele está normal novamente e a respiração também — respondeu Ned.
O garoto agora parecia dormir como um bebê.
— Meistre, chame Sor Rodrik. Ninguém entra neste quarto, exceto você, e você cuidará dele o resto da noite — disse Ned.
— Não precisa. Eu cuidarei do menino — ofereci.
Ned olhou para mim e eu apenas assenti, prometendo para mim mesma que cuidaria dele.