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Pai Preocupado

Martha e Seren chegaram ao palácio através da carruagem trazida pelos homens do rei que haviam sido encarregados de vigiar ela. Assim como Martha, eles também chegaram tarde ao local do incidente devido à fuga bem-sucedida de Seren.

A carruagem as deixou próximo ao rio, perto da muralha do palácio onde a passagem secreta conectava a torre e o mundo externo. Martha e Seren nem sequer olharam para apreciar a paisagem conforme entravam na passagem escura. Afinal, as flores outrora florescentes já haviam murchado.

O sol estava prestes a se pôr, e a escuridão começava a preencher o palácio real enquanto muitas tochas eram acesas para iluminar os terrenos mais uma vez.

Pouco menos de meia hora depois que as duas retornaram de sua excursão, outra pessoa entrou em seus domínios. O convidado era um homem mais velho que o rei. Ele era alto, de compleição robusta e vestia um uniforme de cavaleiro na cor azul escuro com um brasão dourado, indicando que ele não era um cavaleiro comum. Uma espada pendia no lado esquerdo de sua cintura, e enquanto caminhava, sua mão esquerda repousava no cabo da espada.

Seu cabelo preto e curto havia ficado grisalho com a idade, e ele tinha alguns cortes e velhas cicatrizes em seu rosto enrugado, sinais de seu legado como cavaleiro respeitado. Sua barba bem aparada adicionava charme ao seu rosto alongado e robusto. A calma, mas fria expressão em seus olhos azuis metálicos era uma constante intimidação para outros obedecerem suas ordens.

Ele era Sir Berolt, o comandante dos cavaleiros reais do Reino de Abetha.

Os guardas presentes fora da torre da Terceira Princesa se curvaram ao cavaleiro e o permitiram ir até o portão do jardim, onde ele tocou três vezes o sino de metal pendurado ao lado.

Ao ouvir o som do sino de metal, Martha saiu da torre e veio até o cavaleiro.

"Sir Berolt." Martha fez uma reverência respeitosa.

"Sua Majestade mandou chamar você," o velho cavaleiro a informou com sua voz fria e áspera.

"Estarei lá em breve." Martha voltou à torre para informar Seren sobre a ordem do Rei.

Por outro lado, Sir Berolt partiu sem esperar por Martha. Ele estava aqui apenas para transmitir a ordem do Rei. Por meio dele, o Rei se comunicava com Martha visto que ele também era responsável pela proteção deste lugar por meio de seus homens de confiança.

Sir Berolt havia sido leal ao Rei Armen desde que ele assumiu o trono e estava sempre ao lado do Rei, responsável por sua segurança.

"Sua Majestade Rei Armen mandou chamar-me. Retornarei logo," Martha informou Seren, que estava ocupada pensando em algo.

Ao ouvir o nome do Rei, Seren voltou a si e olhou para Martha. "O Rei deve ter sabido o que aconteceu hoje."

Martha assentiu.

"Ele vai te punir?" Seren perguntou. Preocupação e culpa estavam pintadas em seus olhos, ciente de que era sua culpa por Martha ter que enfrentar problemas.

"Não se preocupe," Martha a confortou e virou-se para sair.

"Martha!" Seren a chamou. "E se... o Rei pedir para você ir embora e você não puder mais ser minha babá?" O medo de perder alguém estava evidente em seus olhos.

O que ela havia causado hoje no mercado era algo sério. O Rei estava obviamente descontente, e ele poderia culpar Martha por ela ter concordado em levá-la para fora; pior, ela não estava lá para protegê-la quando Seren mais precisava.

"Não vai acontecer. Mesmo que minha senhora me ache irritante, nunca deixarei seu lado," Martha garantiu e saiu antes que Seren pudesse impedi-la.

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Martha chegou à corte real, que estava iluminada pelo fogo das tochas. Quando ela entrou na corte, a figura alta e robusta do Rei Armen estava de pé, de frente para o trono, perto do último degrau da escadaria que levava ao trono elevado.

Martha olhou para o Rei, que estava de costas para ela; ela só podia ver a visão da capa de chão na cor azul real fixada em seu pescoço e fluindo para baixo. Sua coroa de ouro finamente trabalhada com gemas raras nela incrustadas estava no trono, e seu cabelo castanho escuro de comprimento médio, dividido ao meio, estava solto ao vento.

Ela se curvou diante dele. "Sua Majestade mandou chamar este servo?" Martha disse educadamente, informando sua chegada ao Rei, que parecia perdido em seus pensamentos.

O Rei Armen não respondeu imediatamente e virou-se para olhá-la, tomando seu tempo para observá-la. O Rei, de aparência fria e confiante, parecia calmo, mas seus olhos lhe diziam que algo o perturbava profundamente. Seus olhos de safira olharam fixamente para Martha; era óbvio que ele não estava satisfeito com o que havia acontecido no mercado.

Embora usasse roupas reais e joias caras, ele não parecia um homem imponente naquele momento; parecia um pai preocupado que estava chateado com uma serva irresponsável.

"Minha ordem não foi clara?" o Rei finalmente perguntou, sua voz fria e autoritária.

Martha baixou a cabeça. "Peço desculpas por não poder impedir o que aconteceu hoje."

"Se você tivesse seguido minha ordem para não levá-la para fora do palácio por algum tempo, isso não teria acontecido. Eu sempre permiti que você a levasse secretamente para fora, para que ela pudesse conhecer o mundo exterior, pois sei que é errado mantê-la sempre em confinamento. Mas não há outra maneira de protegê-la."

Martha olhou para o Rei enquanto levantava sua cabeça abaixada. Como serva, ela normalmente deveria manter a cabeça sempre baixa diante do seu rei, mas essa questão era diferente. Em relação a Seren, ela parecia confiante e protetora, nada assustada com o Rei.

"Sua Majestade acha que o que aconteceu hoje no palácio foi fácil para ela lidar? Sua própria família conspirou contra ela e a chamou de bruxa quando ela nunca fez nada de errado. É errado querer sair quando se sente sozinha e busca felicidade saindo? O que mais ela poderia ter feito?" Martha perguntou.

"Eu nunca disse para não levá-la para fora. Você não poderia tê-la impedido ou atrasado por alguns dias até que as pessoas de outros reinos voltassem para as suas casas?" o Rei rebateu friamente.

"Sua Majestade, eu queria, mas não pude. Não pude vê-la machucada e desamparada. Sei que é para protegê-la, mas por quanto tempo Sua Majestade acha que isso é possível? Até quando nós dois podemos estar ao seu lado para protegê-la? Quando não estivermos mais aqui, o que acontecerá com ela, que é desconhecida e vulnerável ao mundo exterior? Ao menos, o incidente de hoje no mercado a ensinou que tipo de pessoas ela deve evitar e quais lugares não deve entrar."

"Seu irmão mais velho, Cian, cuidará dela," o Rei Armen respondeu.

"Sua Majestade está esquecendo porque o Príncipe Herdeiro Cian foi enviado para cuidar da parte norte do reino nos últimos anos?"

Seus olhos escureceram. "Ele queria que sua irmã saísse daquela torre, e eu não podia deixar isso acontecer. Também não pude dizer-lhe o motivo."

"Ou será que Sua Majestade está preocupado com algo mais?" Martha disse, fazendo com que Rei Armen ficasse em silêncio por um tempo. Sua próxima pergunta fez com que ele fechasse os olhos.

"Por que Sua Majestade nunca viu o rosto da própria filha?"

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