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Capítulo 1.2: A Ligação

"O local onde ocorreu aquele transtorno no primeiro dia de Abril era conhecido por ter uma escola para alunos do ensino fundamental. Segundo relatos de testemunhas, foi tão repentino que o resgate de vítimas só foi possível com a ajuda dos próprios civis que estavam próximos da área. Felizmente, não houveram vítimas fatais até o momento, apenas 6 feridos e uma pessoa em estado gra–"

Eu estava assistindo às notícias, mas todas elas estavam relacionadas ao que aconteceu naquele dia, algo que eu gostaria de esquecer completamente. Em vez disso, deitei no sofá que eu já estava sentando.

As aulas do ensino médio começarão dia 8 de abril, ou seja, daqui a dois dias. 

Como todos os estudantes trocam de escola quando terminam o ensino fundamental, já estava óbvio que não haveriam muitos nomes familiares na minha sala. 

Entretanto, pelo que parece, ele conseguiu passar nos exames de entrada da CAEY e ainda está na minha sala, este é o cúmulo do imprevisível.

Minha antiga escola podia não ser tão boa quanto a que vou começar a frequentar, mas ela com certeza era acolhedora e confortável. É uma pena que ela esteja agora completamente destruída.

O que eu ainda não compreendi foi a aparição da Hashimoto na escola. Ela me parece familiar, mas não consigo lembrá-la de lugar algum. Suas diversas mudanças de personalidade na primeira vez que nos vimos foram peculiares para dizer o mínimo. Enquanto no início ela se passou por uma pessoa presunçosa e provocativa, depois se tornou aflita e no final decidiu agir como uma garota misteriosa. Seus motivos para consensualmente vir falar comigo também são um mistério, mas quando começarem as aulas, vou buscar respostas sobre ela.

Então eu subitamente ouço o som da campainha da sala. Quem poderia estar aqui a esta hora? Está cedo demais para algum familiar chegar em casa.

Sentindo dúvida e curiosidade, me aproximo da porta, enquanto a campainha continua sendo tocada sem parar.

Esperando o melhor neste momento, abro a porta para justamente encontrar a pessoa que mais demora a chegar em casa.

"Olá! Voltei!"

"Ah, é você. Por que voltou tão cedo?" 

"Eu pedi para sair mais cedo hoje no trabalho. Preciso estudar porque já vai começar o meu último ano de faculdade!", diz minha irmã, enquanto estava com "brilhos nos olhos" e orgulho de si mesma.

Minha irmã é alegre demais, até para as coisas mais simples. 

"Entendi, mas tenta não exagerar no estudo."

"Olha só quem fala, logo o meu irmãozinho que nunca para de estudar." Ela fala com um tom provocativo.

Ela também ama provocar as pessoas de uma forma inofensiva, principalmente com o seu irmão mais novo, justamente eu.

"Tanto faz."

Eu me viro em direção às escadas e tento me afastar dela. Mas minha irmã decide segurar meu ombro e não me deixa voltar para o meu quarto.

"Espera aí, você ainda nem me contou se conseguiu passar nos exames da CAEY!"

"Eu devo ter me esquecido de te falar mesmo, mas não se preocupe, eu pas–" 

Repentinamente fui interrompido com uma ligação, não por celular, mas sim pelo telefone fixo.

"Que estranho… eu não ouço nenhuma ligação do telefone fixo faz um tempo.", diz minha irmã, expressando surpresa.

Ela vai até o telefone e o atende.

"Alô, como posso ajudar?"

Volto a andar em direção à escada para voltar ao meu quarto.

"N… não, aqui é a filha dela."

Quem será que está ligando neste telefone? Não seria raro o uso de telefones fixos hoje em dia?

"E… espera, n… não pode ser. Vocês tem certeza?" 

Minha irmã começa a tremer e fica com uma expressão de preocupação. Suas ações perante à ligação me fizeram ter mais interesse sobre o que estavam falando.

"N… não, não…"

Minha irmã perde o equilíbrio e apoia os seus braços na mesa, enquanto se esforça para não cair no chão. Lágrimas saem dos olhos dela, mesmo tentando segurar o choro.

Ela solta o telefone, e a sua corda que o liga ao resto do aparelho não o impede de cair no chão.

Desço as escadas em que eu já estava subindo e tento ajudar a minha irmã.

Faço ela se apoiar em mim enquanto o seu choro caía sobre minha pele.

"Ei irmãozinho… p… promete que não vai surtar?"

"..."

Minhas palavras não conseguem sair da minha boca, eu receio de que a ligação seja bem mais preocupante do que antes esperava.

"E… Eu vou terminar a ligação, te contarei o que aconteceu logo em seguida…"

Mesmo que a minha irmã seja sensível a muitas coisas, ela tenta o seu máximo se comportar como alguém responsável.

"Então eu vou te esperar no sofá."

Sento no sofá e observo minha irmã enquanto ela termina tal ligação misteriosa.

Um tempo depois, ela acaba com a chamada batendo o telefone de volta no seu aparelho, expressando emoções nada positivas.

Ela senta no sofá, do lado de onde estava. Enquanto soluçava para conter o choro, ela tentou me falar o que houve.

"Terminei a ligação… Ayato… o…"

Percebo o quão difícil deve ser para minha irmã falar o que está acontecendo. 

"Olha, se não conseguir falar, eu espero. Apenas diga quando você se sentir confortável."

 Não deve ser algo que você consiga mencionar facilmente às pessoas. Mas o que seria isso? O quão ruim foi o tópico da ligação?

"Ayato, o… o senhor Nagumo e… está morto."

Em forma de sussurro, minha irmã fala o que eu mais temia no momento. Tal frase começa a ecoar pela minha cabeça, em esperança de encontrar algum erro nas palavras.

"A… Ayato!"

Eu ouvi isso direito? Não estou imaginando coisas?

Minha irmã me abraça forte. Ela desiste de se segurar, e começa a realmente chorar. Suas lágrimas escorriam pela minha roupa lentamente, enquanto o som do seu choro se espalhava por nossa casa.

"Eu só queria que ele tivesse vivido por mais tempo! Isso tudo só foi acontecer por culpa… por culpa daquilo!", ela diz enquanto soluçava.

Eu continuo a abraçá-la, como forma de consolo e apoio emocional. Ela continua me segurando firmemente, mesmo que os seus braços estejam trêmulos e fracos.

Por mais que eu não consiga consolá-la com minhas próprias palavras, espero que o meu abraço ajude em algo.

Depois dela se acalmar, minha irmã começou a citar outros detalhes importantes da ligação que veio direto do hospital.

"Como o senhor Nagumo não tinha nenhum parente vivo no momento, podemos decidir o dia que ocorrerá o funeral dele. Eu quero fazer algo especial já que não vamos vê-lo de novo."

Não vamos vê-lo de novo… por mais que esta seja a verdade, é doloroso pensar assim.

"Melhor deixarmos a burocracia do funeral aos nossos pais, afinal."

Com hesitação, minha irmã muda de assunto.

"Você vai ficar bem, Ayato? Agora que ele não está mais entre nós?"

A morte dele vai mudar muitas coisas na minha vida.

Não vou mais ter um amigo como ele. Não vou mais ter aprendizados com uma pessoa sábia como ele. Não vou mais poder expressar minhas ambições a uma pessoa como ele. 

Mas a pergunta é: Eu vou ficar bem depois da morte dele? Vou me acostumar e aprender a vencer o inevitável?

Me pergunto se isso realmente foi inevitável de acontecer, talvez se eu desobedecesse o senhor Nagumo, tudo seria diferente.

Talvez, se eu continuasse a tentar resgatar meus pais ao invés do senhor Nagumo, apenas talvez, ele poderia estar vivo neste exato momento.

"Ele foi muito importante, não só para mim, mas também para nossa família inteira. Se não fosse por ele, nossos pais poderiam estar mortos. Não vai ser fácil esquecer o que aconteceu hoje, mas eu acho que vou ficar bem, no final."

Minha irmã muda de expressão, demonstrando um sorriso, como se estivesse satisfeita com a minha resposta.

Minha irmã se levanta do sofá e brevemente começa a se alongar.

"Bom, você ainda tem muito o que fazer antes das aulas começarem, não só você, mas eu também preciso estudar e arrumar os meus materiais. Melhor cuidarmos disso o mais rápido possível, para depois nos preocuparmos com o funeral do senhor Nagumo."

"Suspiro… Você está certa, não posso continuar pensando nele. Vou voltar para o meu quarto, até mais."

Começo a subir as escadas novamente, dessa vez sem ser interrompido. Minha irmã continua em pé parada, enquanto me via ir ao meu quarto. 

São muitas coisas que preciso fazer antes das aulas, mas eu não vou conseguir nunca deixar de pensar no senhor Nagumo, e o quão importante ele foi para mim.

Será que eu vou conseguir ir para a escola quando as aulas começarem, ou essa minha incapacidade de aceitar a morte dele vai me impedir?

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