No reino de Dokapon, uma terrível ameaça se manifesta através de portais sombrios abertos pelo temido Overlord Rico. Monstros assolam a terra, ceifando vidas inocentes sem piedade. Em uma cerimônia solene, cinco guerreiros – Risa de Llano, Kaido de Hallstatt, Maya de Gunnbjorn, Kenyu de Flinders e o enigmático Spellsword de Asiana – são convocados pelo rei para enfrentar essa perigosa missão. Unidos pelo destino e impulsionados pelo dever, esses heróis se lançam numa jornada arriscada para libertar Dokapon do domínio do mal. A história não apenas descreve a perigosa busca pela libertação de Dokapon, mas mergulha profundamente nas vidas desses heróis, revelando como personalidades tão distintas são forjadas pela adversidade.
Os sons que o grande mapa nas mãos do herói faziam ao ser agressivamente soprado pelo vento eram tudo que se podia ouvir enquanto eles subiam a grande montanha de Daoting. Já tinha se passado mais de três meses desde o início de sua jornada e todos os cinco presentes ainda pareciam odiar a presença um do outro, era como se eles fossem incapazes de criarem conexões um com os outros por alguma intervenção divina, e este fator tornava a missão ainda mais difícil do que ela já era.
—Spell, não vê que estamos cansados? Vai ser impossível subir esta montanha sem pausas! —Risa reclama, e mesmo que os outros não tivessem dito nada, era óbvio que concordavam com ela.
—Por que não faz um feitiço para nos dar mais energia então? —O Spellsword pergunta.
—... Você sabe muito bem que isso não existe. —O ódio na voz dela estava evidente, tendo em mente que não era a primeira vez que o Spellsword a lembrava das limitações que a magia artificial tinha para a humilhar.
—Haha, é verdade, eu sei. —Ele tinha um sorriso convencido no rosto.
—Quer saber? Eu cansei! —Risa para de andar completamente e se senta em uma pedra.
Enquanto todos paravam de andar junto com Risa, o Spellsword continuou andando em frente sem virar para trás. Quando Maya tentou intervir para que ele não seguisse em frente sem o grupo, Kenyu segurou seu pulso.
—É inútil. —Ele diz calmamente.
—Vocês sabem que não podemos continuar sem ele. —Maya explica seu ponto de vista, ela geralmente é a pessoa que tenta acalmar o grupo quando todos estão querendo cometer crimes de ódio um contra o outro.
—Você não vê, Maya?! —Risa se levanta, lágrimas de puro ódio estavam quase saindo de seus olhos. —Ele nos olha como se fôssemos empecilhos! Nós fomos convidados pelo Rei da mesma forma que ele, mas ele nunca nos tratou como iguais.
—Calma linda, desde quando você liga pra opinião dele? —Kaido pergunta enquanto tentava a acalmar.
—Cala a boca, Kaido! —Risa responde quase que imediatamente.
—Claro minha flor, sinto muito pelo incômodo. —Ele diz antes de se sentar, dando uma piscadinha para ela.
—E sinceramente? Vocês são tão ruins quanto ele. A única diferença, é que o Spellsword é abertamente narcisista, enquanto vocês fingem que se importam.
—... O que você disse? —Maya pergunta com um claro tom de desacreditamento.
—Todos os dias eu sou atacada por ser uma feiticeira e nenhum de vocês faz nada para me defender.
—Oh não se faça de santa, Risa! —Kaido diz. —Você se defende sozinha, por que iríamos intervir? Nós temos nossos próprios problemas com o Spellsword, também. —Ele suspira.
—Gente, vamos nos acalmar... Todos nós crescemos em continentes diferentes, tivemos treinamentos diferentes e repentinamente fomos chamados para esta missão. Não estamos nem na metade, eventualmente vamos ter que aprender a conviver entre nós. —Maya suspira para se acalmar e olha diretamente para Risa. —Você sabe que o Spellsword cresceu em um ambiente completamente anti-mago, o preconceito dele não é só com você. Todos concordam que ele é um babaca que só pensa nele mesmo, mas ele continua sendo um herói, e infelizmente precisamos dele.
Risa não responde, ela obviamente tinha mais coisas para dizer, mas tinha medo de se irritar ainda mais e aquilo acabar se tornando uma luta.
—... Talvez seja melhor nos separarmos por um tempo. —Kenyu sugere.
—O que? Esta missão não vai acabar nunca se ficarmos fazendo pausas. —Kaido diz seu ponto de vista.
—Eu concordo. Peço desculpas pelo meu surto... —Risa diz sem olhar para nenhum deles. —Acabei me irritando e como já tinham várias coisas acumuladas na minha cabeça, acabei deixando tudo sair de uma vez.
—Está tudo bem, você claramente precisava desabafar um pouco. —Maya diz com um sorriso de compreensão. —Agora vamos seguir em frente.
—Uh... Eu sinceramente prefiro esperar aqui. —Kaido diz com uma expressão pensativa. —Nós nos resolvermos e termos aceitado que ele é um babaca mas precisamos dele não muda o fato de que ele é um babaca que nos vê como inferiores. Estamos subindo esta montanha para ele pegar o título de herói dele, não é? Não acho que ele precise da nossa ajuda pra isso.
—Concordo! A última coisa que eu quero é ajudar ele a ter mais motivos pra nos colocar pra baixo. —Risa suspira.
—... Tudo bem, vocês podem ir. Eu vou seguir ele só pra ter certeza que aquele idiota não vai morrer. —Maya diz antes de começar a subir a montanha novamente.
A montanha era íngreme, e a partir de certo ponto, a neve e o gelo estavam cobrindo quase que completamente o caminho que Maya estava seguindo. Monstros de alto nível também começaram a aparecer com mais frequência, ao ponto dela ter optado por fugir ao invés de lutar. Depois de horas andando, Maya se sentou em uma pedra dentro de uma caverna, estava difícil de respirar e seus dedos estavam azuis de tanto frio que ela sentia, talvez ela realmente deveria ter descido junto com os outros para esperar pelo seu colega de equipe em segurança... Mas infelizmente, algo dentro dela não deixava ela o abandonar. Talvez fosse o vínculo que ele tinha com sua deusa ou o medo de uma decisão dela levar ele à sua segunda morte, mas ela se recusava a descer a montanha sem o maldito herói ao seu lado.
De repente, tudo em volta de Maya começa a tremer, e seu corpo fraco não tinha força o suficiente para simplesmente sair correndo
. Quando ela estava prestes a ser coberta por montes de neve, foi quando ela o viu, correndo em sua direção com uma expressão calma de quem sabia que iria salvar o dia novamente. A neve os prendeu na caverna, mas ambos só tinham feridas pequenas depois que a grande avalanche tinha passado.
—... Você não deveria estar aqui. —Ele sussurrou, provavelmente com medo de começar outra avalanche.
—Cala a boca. —Maya diz, tremendo de tanto frio.
—Aqui... —O Spellsword sussurra algumas palavras desconhecidas e invoca sua espada, que estava vermelha graças ao encantamento. Ao encostar na espada, o frio que consumia Maya foi embora instantaneamente, como se ela tivesse sido abraçada por uma onda de calor reconfortante em um dia de inverno.
Maya não gostava dele, então não queria deixar a conversa se estender mais do que o necessário.
—Vamos descer, todos estão esperando por você lá embaixo.
—Hm? Ah, claro que não conseguiriam seguir sem mim. —Ele diz confiante, soltando uma risadinha sarcástica. —Mas não vou descer agora, tenho algo pra resolver.
—Esquece esse título idiota! O mundo inteiro já te considera um herói, por que você precisa de um título? —Ela pergunta, irritada.
—Não é da sua conta. —O Spellsword diz antes de derreter a neve que os prendia na caverna, os libertando. —Venha. —Ele estende sua mão para ela, com uma expressão séria no rosto. Maya não sabia o que ele queria com isso, mas impulsivamente, segurou a mão dele.
O mesmo calor reconfortante que ela sentiu quando ele invocou sua espada estava presente quando ela segurou sua mão. A subida, que antes parecia um inferno congelado, acabou se tornando um calmo passeio silencioso. E mesmo que Maya não estivesse se esforçando para que eles continuassem de mãos dadas, o Spellsword segurava sua mão como se fosse o item mais precioso que ele já tinha tocado, sua pegada era firme, como se ele estivesse a relembrando constantemente que ele estava ao seu lado.
Chegando ao topo da montanha, eles encontram Americo, a deusa caída, irmã gêmea de Ameris, que parecia surpresa ao ver que não tinham um, mas dois humanos na presença dela.
—Nossa~ Fazia muito tempo que eu não via algo assim... —Ela diz ao se aproximar, cutucando o núcleo de Spellsword e brincando com o cabelo da Maya. —A reencarnação da minha querida irmã de mãos dadas com o escolhido... —Americo ri e cruza seus braços, olhando fixamente para Spellsword. —Sabe, eu estava esperando por você. Tive uma visão de que eventualmente você viria pegar seu título... Mas nessa visão, você não estava acompanhado. —Ela olhou para Maya com um sorriso atrevido.
—É claro que você sabia que eu viria. Eu nasci pra ser um herói, é meu destino. —O Spellsword diz com o seu clássico sorriso.
—Não não, caro Spellsword... Você não entendeu o que eu disse, é mais complicado do que você imagina. —Americo ri e cutuca o núcleo de Spellsword novamente, que brilhava vermelho graças ao encantamento para aquecer ele e Maya. —Todas as ações que você fez desde a sua ressurreição até este momento foram por um bem maior, pelo bem da humanidade, porque você é um herói... Mas isto. —Ela enfia sua mão no núcleo em seu peito, fazendo o Spellsword soltar um som baixo de desconforto. —Você fez por ela. Seu destino era ter ignorado a monge na avalanche, mas você voltou atrás, mudou o seu destino...
—Espera, voltou atrás? —Maya parecia confusa.
—Oh cara Maya... Esta não é a primeira vez que eu encontro o Spellsword hoje. —Ela explica. —Quando a avalanche começou, ele saiu correndo para checar se todos no grupo estavam bem, mesmo que eu tivesse dito à ele que eles desceram.
—Não sei como você não vê isto como mais um ato heroico para a minha conta. —O Spellsword ri. —Você se esqueceu de citar que a Maya ficou para trás, se eu não tivesse voltado, ela teria morrido.
—Você não voltou com a simples intenção de salvá-la. —Americo diz. —Você voltou porque o medo pelo bem estar dela te consumiu.
—Ah, claro... —Ele suspira, entediado. —Ainda não entendo o problema por trás disso.
—Você não pensou como um herói, você não estava pensando no seu objetivo, e sim na reencarnação de Ameris.
Maya estava em silêncio enquanto os dois discutiam, até porque, a ideia do Spellsword se preocupar genuinamente com alguém parecia improvável, principalmente levando em conta que ele supostamente priorizou ela ao invés do seu dever como herói.
—Claro claro... Digamos que eu mudei o meu futuro, como eu consigo o meu título agora?
—Oh, posso te ajudar nisso. —O sorriso atrevido volta para o rosto de Americo. —Mate-a.
—... Quem? —O Spellsword pergunta, o nervosismo estava evidente na voz dele, aquela foi provavelmente a primeira vez que Maya o viu perder a compostura.
Ambos já sabiam a resposta, mas a expressão de choque do Spellsword quando Americo apontou para a Maya foi inesquecível.
—Eu não vou matar a reencarnação da deusa. —Ele diz, Maya conseguia sentir o tremor na mão em que ela segurava. Mesmo que a voz dele parecesse firme, era claramente forçado. Pela primeira vez, o 'Todo-poderoso Spellsword de Asiana' não sabia o que fazer.
—Vamos lá, não se sinta mal! Ela deveria ter morrido na avalanche, e você já sabia disso, não é? Graças a sua ligação com Ameris.— Americo ri olhando para o núcleo de Spellsword. Maya estava em choque com esta informação, e quando ela olhou para Spellsword, tudo que ele fez foi desviar o olhar e apertar sua mão. —Você só vai estar corrigindo um errinho que cometeu, vai estar devolvendo o equilíbrio do mundo... Vai ser fácil para um herói como você, certo?"