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Estranho

Kelly retornou ao seu apartamento, parecendo revigorada. Ela deu à Abi o suco que havia comprado e se jogou no sofá ao lado dela.

"Kelly, como posso obter mais experiência?" Abi perguntou.

"Uhm... experiência no quê?"

"Experiência em... se... em tudo. Sobre as coisas que não faço ideia. Como as coisas que amantes fazem ou as coisas que uma menina da minha idade faz?"

Kelly pigarreou. "Abi, o que te deu isso? Me fala. O que esse homem fez com você? O que aconteceu exatamente."

O olhar de Abi baixou, seus dedos se retorcendo nervosamente no colo. Ela hesitou por um momento antes de finalmente começar a compartilhar o que tinha acontecido. "Nós dançamos e foi maravilhoso. Eu senti como se estivéssemos flutuando no ar. Foi uma experiência que nunca esquecerei pelo resto da minha vida."

"E aí?"

"E aí, ele me levou ao seu jardim a céu aberto com uma vista incrível da cidade. Foi de tirar o fôlego."

Kelly assentiu, encorajando-a pacientemente a continuar.

"E então, quando descobriu que eu era virgem, ele disse que não era o homem certo para mim."

Kelly ficou sem palavras. Que tipo de homem rejeita uma mulher bonita só porque ela é virgem? Ele não via que tipo de tesouro tinha diante dele? A maioria dos homens teria se aproveitado... Ela suspirou por dentro ao abrir os olhos com uma revelação.

Talvez... só talvez, ele visse o tesouro à sua frente e foi por isso que a rejeitou?

Oh meu Deus... será que ela ficou com raiva e bateu em um homem por causa deste mal-entendido?! Esse Sr. Qinn pode não ser mau depois de tudo! Parece que quando descobriu que Abi era pura e inocente, ele a mandou embora porque não queria manchá-la!

Kelly soltou um suspiro exasperado e levou a mão ao rosto, cobrindo-o com um "facepalm". Virando-se para sua amiga, sua expressão se tornou séria.

"Então? Você não vai vê-lo novamente?" ela perguntou, curiosa.

Abi ficou em silêncio por um tempo. "Eu não quero desistir dele ainda. Eu acho que ele é o único, Kelly", ela respondeu. O único que posso amar sem que ele se apaixone por mim...

"Tudo bem, eu entendi. Então o que você está planejando fazer agora, hm, Abi?"

Antes que Abi pudesse responder, uma chamada as interrompeu. Era uma chamada de vídeo do primo de Kelly.

"O que?" Kelly atendeu a chamada impaciente.

"Kelly! Onde você está? Por que ainda não chegou?!" A menina no telefone estava quase gritando, tentando ser ouvida sobre a música alta e ensurdecedora ao fundo. Abi viu que a jovem estava em um lugar escuro e caótico, com diferentes luzes coloridas piscando pelo ambiente.

"Você não leu minha mensagem?" Kelly respondeu, "Eu te disse que não vou hoje à noite."

"Hã? Caramba... Você está perdendo toda a diversão aqui hoje à noite!"

"Sim, sim. Eu posso ir em outra noite. Tchau."

Quando a chamada terminou, Kelly suspirou e olhou para Abi para continuar a conversa.

Entretanto, Abi perguntou curiosa: "Onde ela está?"

"Em um bar."

"Esse é o lugar que você disse que não era para alguém como eu?"

"Ah, bem, sim."

"Kelly, eu gostaria de ir lá."

Kelly quase engasgou enquanto bebia. "Por quê?"

"Eu só quero ir lá. Eu sinto que sou muito ignorante sobre muitas coisas. Eu quero ver como é e quero experimentar as coisas fora da minha zona de conforto."

"Mas Abi..." Kelly mordeu o lábio. "Não é um lugar muito agradável, Abi."

"Eu sei. Você já me disse isso antes, mas eu realmente quero ir."

Os lábios de Kelly se apertaram numa linha fina enquanto seus pensamentos giravam numa mistura de compreensão e frustração. Ela havia evitado levar Abi a lugares como bares justamente porque estava bem ciente do estilo de vida e das limitações de Abi. Assim como o fato de que ela nunca passava a noite fora porque tinha um compromisso inabalável de estar em casa antes de escurecer. E isso nem era movido pelo medo de repreensão, mas sim uma regra ou rotina autoimposta que Abi estava determinada a não quebrar. Na verdade, Kelly às vezes ainda não entendia o pensamento e o comportamento de Abi.

Kelly não a apresentou a experiências como essas porque entendia que Abi era o tipo de pessoa que desviava o olhar quando cenas explícitas passavam na TV. Essa inocência parecia intrínseca a ela, talvez devido aos valores tradicionais de sua família ou às crenças conservadoras fortes.

Porém, apesar de tudo, Kelly tinha o maior respeito por Abi e sua família. A sinceridade e a gentileza que irradiavam deles eram inegáveis, e Kelly sentia isso profundamente sempre que visitava a casa de Abi. Naquela casa, ela sentia uma autenticidade, um genuíno calor que a envolvia e a fazia sentir como se estivesse pisando em um mundo completamente diferente.

E assim, Kelly assumiu involuntariamente o papel de uma amiga compreensiva e protetora. Sem precisar ser explicitamente informada, ela sempre selecionava filmes adequados para a família sempre que ela e Abi iam ao cinema. Era uma compreensão tácita a que Kelly aderia, certificando-se de que o conteúdo que consumiam estava alinhado com as sensibilidades de Abi. Ela até mesmo se certificou de que os livros que comprou como presentes para Abi não continham conteúdo explícito.

Entretanto, naquele momento, lá estava ela, sua amiga inocente e protegida, fazendo uma pergunta que a pegou de surpresa.

"Por favor, Kelly..." Abi olhou para ela com grandes e arredondados olhos implorantes, e Kelly respirou fundo antes de finalmente ceder. Ela não conseguia dizer não para aquele rosto. E ela pensou que talvez... estava na hora, não estava? Se Abi queria fazer isso, então quem era ela para impedi-la?

"Está bem, tudo bem."

Enquanto se deitavam na cama de Kelly, uma lembrança das palavras de Kelly sobre o Sr. Jaqueta de Couro Preta veio à mente de Abi.

"Kelly... Você disse que aquele homem que me buscou é um príncipe."

"Você conhece Viscarria, certo?"

"Ah, aquele reino isolado no sul?"

"Sim. Quando eu tinha dezoito anos, meu pai me levou lá com ele. É um país bonito e rico. Ouvi dizer que tem menos de um milhão de pessoas morando lá. Meu pai disse que a família real de Viscarria é uma das monarquias mais ricas do mundo, mas eles permanecem muito discretos. Os monarcas têm total controle sobre o Reino. O país prospera sob o governo deles e os cidadãos de Viscarria os amam. Mas não ouvimos muito sobre eles, porque o Reino é muito reservado, especialmente a família real. A mídia não se aproxima deles por causa disso. O rei e a rainha são os únicos que mostram seus rostos ao público, então ninguém viu os rostos dos príncipes, a menos que você trabalhe no palácio, é por isso que o mundo só conhece os nomes dos príncipes. Mas quando eu estava lá, eu vi aquele homem e ouvi um de seus companheiros chamá-lo de Príncipe Kai. Eu não pude confirmar, mas ele tinha uma aura. Eu nunca poderia esquecer um rosto tão bonito... Enfim, acredito que aquele homem seja ninguém menos que Príncipe Kai. Mas então, como diabos um príncipe se torna motorista de alguém?!"

"Pode ser que você esteja errada, Kelly? Talvez ele seja apenas um sósia?" Abi inclinou a cabeça, curiosa.

"Isso não é possível. Confio na minha memória."

"E se a pessoa que o chamou de príncipe estivesse apenas blefando?"

"Bem, eu não sei. Mas... mas... ah, esquece. De qualquer forma, qual é o nome próprio do Sr. Qinn de novo?"

"Alex... Alexander."

"Alexander, hein? Alexander Qinn. Hm... por que não consigo me lembrar de nenhum peixe grande com esse nome? Eu conheço todos os peixes grandes deste país, mas seu nome não me soa familiar... isso é estranho... "

Kelly pegou seu laptop e rapidamente navegou na web, procurando por um Alexander Qinn. Ela até perguntou a algumas pessoas, mas as linhas entre as sobrancelhas apenas se aprofundaram quando ela não encontrou nada.

"Isso é estranho. Eu não consigo encontrar nada sobre ele. Não tem como alguém tão rico... espere... não me diga que ele está relacionado a algum sindicato do submundo ou algo assim? Mas mesmo os chefes do submundo são amplamente conhecidos também. Abi, você tem certeza que esse é o nome dele?"

Abi assentiu. "Foi o que ele me disse."

"Hm... isso é estranho. Vou ver se meu pai sabe alguma coisa sobre ele."

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