Dia 51:
O dia finalmente chegava. 29/06. Todos estavam voltando para aquela apertada cabana. Todos estavam lá menos Vitor, Jhonny e Carlos.-"Vocês viram o Jhonny?"-Perguntei para a pessoa mais próxima de mim-"..."-Silêncio. Essa foi minha resposta. Eles simplesmente fingiram que eu não existia.-"Atenção todos"-Disse Carlos entrando na cabana. A iluminação cobria seu rosto, não dava pra ver sua expressão de onde eu tava. Do seu lado havia uma mulher, uma que eu nunca tinha visto antes. Sua importancia era obvia ja que ela estava ao lado de Carlos. Eles entraram na cabana, finalmente revelando suas sérias expressões que antes a luz escondia.-"Quero apresentar Claire para vocês. Ela é a nossa última membra. Todos que estam aqui no momento são aqueles que vão participar da invasão a CAAS. Espero que tenham tido um bom descanso, pois agora não há mais volta."-"Carlos. Onde estão o Vitor e o Jhonny?"-"Parece que você não soube Lary. Se isolou aqui o tempo todo? Eles dois estão mortos."-Mortos? Eu comecei a lembrar de minha mão naquele momento, na cama daquele hospital, dos seus últimos momentos nessa terra, nas suas últimas palavras. "Não desista meu filho..." Que mundo cruel nós vivemos. Pessoas boas morrem enquanto as de mau carácter vivem em luxo. O Jhonny tinha uma família. Uma esposa e filha. Porque ele tinha que morrer? Por que não podia ser eu? Eu que não tenho nada ainda estou vivo, e um homem de bom coração, um pai, está morto? Naquele momento eu queria gritar tudo que estava preso na minha garganta. Gritar e dizer tudo que eu estava pensando. Amaldiçoar todas as pessoas que escutavam meu lamento de tal forma que até seus bisnetos tivessem pesadelos sobre. Mas no fim tudo que eu saiu de mim foi uma lagrima solitária, que desapareceu tão rápido quanto se mostrou. Tudo que eu consegui dizer foi-"Entendo."-"Isso está no passado agora Lary. Por favor foque no presente."-Não fui capaz de responder.
"Bom, acho que devo me apresentar. Bonjour, je suis Claire. Estou aqui para ajudar vocês e garantir o sucesso hoje. Não é preciso se preocuparem mais! Comigo ao seu lado, la victoire est garantie!"-Claire. Me pergunto de onde vem tanta confiança a ponto de considerar que sua mera presença nos garante a vitória sobre uma organização do governo. Ela tinha olhos e cabelos negros, tão escuros que a única coisa que se compara a tamanha escuridão seria um buraco negro. Parecia que toda luz se perdia em seus olhos, como se eles não fossem capaz de achá-los, fazendo com que eles não refletissem luz alguma. Um rosto redondo e com uma expressão calma e satisfeita. Ela era apenas um pouco mais baixa que eu, e por algum motivo, sempre que eu olhava para ela, eu sentia que deveria estar de joelhos, como se minha existencia para ela fosse nada, como se ela fosse uma rainha e eu um mero plebeu.-"Nós partimos imediatamente, não temos tempo a perder."-"Não é arriscado fazer isso de dia Carlos?"-Perguntei.-"Exatamente por isso que faremos monsieur lágrimas."-Disse Claire.-"Eles nunca esperariam um ataque a plena luz do dia. Um ataque surpresa precisa levar em conta o melhor momento para surpresa não acha?"-"Monsieur lágrimas?"-"Oui."-Ela falou como se aquele fosse o nome que eu tivesse a minha vida toda. Mas não acho que vale a pena questionar a "Princesa da França", ou "Princesse", o nome que eu logo começaria a chamá-la por.
Nós partimos, saimos daquela cabana, um lugar que eu sabia que nunca mais veria. Independente do que viesse a acontecer, meu trabalho estaria feito, eu não teria mais que aturar essas pessoas sem coração, apesar que não tenho direito algum de falar deles, eu não sou diferente. Não perdi muito tempo pensando sobre essas coisas, não há necessidade, só preciso me concentrar no meu trabalho, apenas isso. 3 jeeps pretos. Esses eram nossos carros, levando todas as 14 pessoas, todos os membros vivos da Hermes. Enquanto estava no carro, olhei pela janela para ver um céu completamente aberto, nenhuma nuvem sequer, apenas o céu azul e a luz do sol.-"Hoje seria um ótimo dia para ir na praia."-Pensei para mim mesmo. Era como se o mundo não tivesse ideia do que estava para acontecer, e é claro que não estava, não existe um dia certo para as coisas acontecerem, as coisas simplesmente acontecem, nesse mesmo momento tenho certeza que alguém, em algum lugar, deve estar tomando banho de praia, sem se quer conceber o que estava para acontecer.
Nós descemos em um lugar não muito longe da entrada da loja. Não podiamos simplesmente parar em frente e partir, não faria sentido, o plano seria estragado completamente. Com a morte de Jhonny, eu tomei seu lugar no plano. Eu e Marcos seríamos as pessoas a entrar na "fortaleza" inimiga. Carlos havia pedido para Jhonny deixar o código para entrar naquela porta antes de partimos de deixarmos a cabana a 1 mês atrás. Eu e Marcos ficaríamos para trás, aguardando o sinal, o sinal que nos diria que a CAAS estava ocupada e que aquele era o momento certo para atacar. O sinal era simples, impossivel de se perder. O sinal era o caos. Quando nós ouvíssemos explosões, sons de tiro, gritos... quando nós notassemos o lindo céu azul virar vermelho com o sangue das pessoas que hoje deixariam esse mundo.
"É uma pena que não possamos aproveitar um dia tão lindo."-Falei para Marcos e Vanessa, os únicos restando dentro do jeep em que estava.-"Tava pensando nisso agora..."-Respondeu Marcos. Vanessa não respondeu nada, e nem era necessario, seu rosto e sua expressão diziam tudo. E simples assim, o sinal. Era a hora. Eu e Marcos nos levantamos e saímos do jeep.-"Bonne chance, monsieur lágrimas."-"Você sabe que eu não falo francês não é?"-"Quer dizer boa sorte. Alguém como você vai precisar. Não estrague tudo, digo isso mesmo sabendo que é impossível, já que vocês tem moi."-"Claro. Obrigado Claire."-Com isso, eu e Carlos partimos. Partimos para o que todos esperavam ser o fim de nosso confronto com a CAAS, mas, a verdade é que hoje não seria o fim. A história da CAAS e da Hermes estava apenas na metade. 49 dias. Daqui a 49 dias eu veria esse mesmo céu azul pela última vez. 49 dias e tudo finalmente acabaria.