Para Lizzy a melhor época com certeza era o natal Nada melhor do que tomar chocolate quente, comer cookies e se esquentar na lareira da sala Mas seus planos vão por água abaixo quando seus pais decidem visitar sua avó na Califórnia, um estado tropical Conhecendo novas pessoas, Lizzy vai perceber que seu natal não foi totalmente arruinado como ela diria
Ah, o natal, se tinha uma época que Lizzy amava com certeza era o natal, a melhor coisa para ela era tomar um chocolate quente feito por sua mãe com cookies de chocolate enquanto aquecia os pés na lareira da sala de visitas
Até sonhava com essa época na escola, e isso as vezes era motivo de puxões de orelha por seus professores, principalmente pela senhora Steele, sua professora de matemática, odiava distrações em suas aulas
— Será que alguém pode me explicar qual é o resultado da equação? — Ela pergunta ao terminar de escrever na lousa
Até havia uma quantidade razoável de pessoas que estavam atentas as aulas, pelo menos seis pessoas levantaram as mãos, mas quando a senhorita Steele viu que novamente Lizzy estava distraída, não quis perder aquela oportunidade
— Lizzy Stewart, poderia me explicar o valor dessa equação?
Annabelle, a melhor amiga de Lizzy, uma ruiva com o cabelo liso, franjinha que ia até a altura dos olhos e sardas no rosto cutuca o ombro da amiga ao perceber a sua distração
— O que foi? — Lizzy pergunta assustada depois de sair do transe
Fica um pouco envergonhada quando percebe que exatamente todos os alunos da sala estavam com os olhos grudados nela, olha diretamente para a senhorita Steele e vê o quão furioso ela parecia estar
A professora era uma mulher bastante sensual, tinha os cabelos castanhos e assim
como a sua melhor amiga Annabelle, também gostava de usar franja na altura dos
olhos, tinha o corpo magro como o de uma modelo, com pouco seios, mas os seus
olhos eram azuis como o oceano
Queria conseguir ter um pouco de jogo de cintura e sair daquela situação, mas infelizmente a timidez não a permitia fazer isso, então a melhor coisa a se fazer era se concentrar e tentar achar uma forma de resolver aquela equação, o principal problema era o fato de sempre ter sido péssima em matemática
— Sendo totalmente sincera professora, eu não sei a resposta, mas acredito que a Annabelle saiba — Era a melhor resposta que Lizzy poderia dar naquele momento
— Não jogue essa bomba para cima de mim — Annabelle cochicha
Senhorita Steele dá um longo suspiro e abaixa a cabeça, olha para outros alunos e pede a resposta para um deles, que acerta de primeira
O forte de Lizzy nunca foi matemática, ainda mais quando se tratava de equação de Bhaskara, mas em matérias da área de humanas era considerada uma das melhores da turma, para ela tudo era uma questão de ponto de vista
O sinal bateu e ela podia começar a agradecer sob a semana de folga que a escola dava por causa do natal, fecha o seu caderno e o seu estojo, pega a bolsa vermelha que estava pendurada na cadeira e guarda os seus materiais
Coloca a mochila nas costas e faz um high five com Annabelle, tinham costume de fazer isso quando um dia se passava na escola
— Antes que você saia, preciso de falar com você — Senhorita Steele fala após Lizzy passar perto de sua mesa
— Eu te espero no corredor então — Annabelle fala dando de ombros e saindo da sala
Assim que Lizzy se aproxima de sua mesa, senhorita Steele levanta a cabeça e tira os seus óculos pretos, dobra e os coloca em cima da mesa, Lizzy acreditava que era bem pior encarar a professora de matemática do que a sua própria mãe
— Lizzy, não quero que me veja como a sua inimiga e sim como a sua professora de matemática. O que estou fazendo aqui é o meu trabalho, vocês vão sair para as férias semanais, mas quando voltar terá que ficar de recuperação
Ela pega uma pasta de papel e tira o boletim de Lizzy de dentro, entrega para a aluna analisar, suas notas em matérias de exatas eram abaixo da média, exceto por física
— Eu percebi que faz umas duas semanas que você anda bastante distraída, é por causa das festas de fim de ano? — Senhorita Steele pergunta apoiando o cotovelo na mesa e os punhos cerrados no rosto
— Por que a senhora acha que seja isso?
— Acredite em mim, eu já tive 14 anos e sei como datas festivas nos animam, nos deixam mais a vontade, dá aquela ânsia boa de encontrar a família. Se for por causa disso, não estou brava com você, mas apenas queria que na volta você se dedicasse mais — Senhorita Steele fala colocando os seus óculos
— Ainda terei que fazer a recuperação? — Lizzy pergunta esperançosa pela resposta da professora
— É para o seu bem, é isso ou repetir de ano — Senhorita Steele responde dando de ombros
Lizzy não poderia imaginar o quão terrível seria repetir de ano escolar, não gostava nem de imaginar o que a sua mãe faria caso essa noticia caísse em seus ouvidos, é aquele ditado, ods males, o pior
— Nos vemos na semana que vem então — Lizzy suspira
Sai da sala e Annabelle estava guardando algumas coisas no armário, não estava tão longe assim da porta da sala de aula, apenas uns dez passos de distância, caminha até a amiga e toca o seu ombro esquerdo
— Por mais que eu seja péssima em matemática eu nunca precisei de reforço — Lizzy bufa
— Pelo visto essa professora é barra pesada — Annabelle diz fechando o seu armário
— Barra pesada? Vou ter que voltar antes para fazer aulas de recuperação, é isso ou reprovar de ano
— Conhecendo a senhora Pauline, sei que ela iria ficar furiosa caso você reprovasse
Elas começam a andar, o corredor estava vazio, para um último dia de aula as coisas funcionavam daquela forma mesmo, nada melhor do que saber que estavam livres para ficarem um tempo sem frequentar aquele lugar
— Ganhou o seu presente de natal? — Annabelle pergunta
— Ainda não, minha mãe disse que era surpresa. Você já?
Annabelle retira do bolso um panfleto e entrega para Lizzy, era o lançamento do novo Galaxy S,o celular mais moderno da Samsung, as vezes achava um pouco estranho o fato de Annabelle não se importar muito com produtos da Apple, era o sonho de consumo de muitas pessoas
— Sua vaca exibida — Lizzy fala devolvendo o panfleto para Annabelle
— Vamos agora na loja fazer a retirada, quer ir com a gente?
Lizzy tira o celular do bolso e vê que ainda era duas horas da tarde, guarda o celular no bolso e dá de ombros, como se aquilo fosse um sim
A melhor coisa de se morar em Massachussets era a neve que dava um clima natalino maior, Lizzy nunca foi uma pessoa que gostasse de calor, odiava quando precisava de viajar para a casa da sua avó na Califórnia, parece que a cidade era feito de mormaço
Assim que passaram pela saída da escola só via as ruas brancas e poucas pessoas sob aquele frio, com certeza estavam muito animados com o clima natalino dentro de suas casas, quentinhos
— Cadê a sua mãe Belle? — Lizzy pergunta
Olhava para os lados e não via sinal da senhora Maeves ou o carro dela, a esperança era ir dentro de um carro quente e confortável
— Vamos encontrar ela na loja — Annabelle responde
— Porra, essa loja fica tipo, uns 20 minutos a pé — Lizzy reclama
— Não tem como irmos de carro, você sabe que é perigoso ele atolar na neve com esse temporal — Annabelle responde
— Se você quiser posso ligar para o meu pai e pedir para ele nos levar até lá
— Uau, o seu pai está em casa e pode vir te buscar e depois eu que sou a vaca exibida?
Annabelle não chegou a conhecer o seu pai, ele morreu quando ela tinha dois anos de idade em um grave acidente de carro, e desde esse dia a senhorita Maeves nunca se casou, as vezes namora, mas não é algo que seja muito durador, então Annabelle não conhecia muito o papel de uma figura paterna
O caminho entre a loja foi silencioso, Lizzy não sabia se havia ofendido Annabelle ao chama-la de Vaca exibida, mas quando essas coisas aconteciam Annabelle tinha maturidade o suficiente para resolver as coisas com uma conversa
Estavam sem os sapatos para neve, então durante o percurso as vezes escorregavam, a sorte era que uma ajudava a outra a não cair e a ficar de pé novamente
Lizzy se lembrava da vez em que quebrou o braço quando tentava patinar no gelo, deveria ter mais ou menos seus sete anos de idade, pensava que havia sido idiotice sua pedir algo perigoso e arriscado para a sua idade
Pior ainda foi o seu pai que a apoiou nessa ideia maluca
— Olha, desculpa se eu te magoei chamando de vaca exibida — Lizzy fala pois não aguentava mais aquele silêncio
— Eu não fiquei ofendida pelas suas palavras, sei que foi uma brincadeira, apenas fiquei triste, pois não tenho pai, as vezes me esqueço desse fato, mas quando lembro, vejo como é doloroso isso
Lizzy considerava o seu pai o melhor que ela poderia ter na vida, fazia de tudo para ver a filha feliz, não importasse o que fosse, nos dias de semana infelizmente não pode proporcionar toda a sua atenção para a familia, mas o fim de semana é reservado para os três
Lizzy não prestou atenção sobre o passar do tempo e quando se deu conta estava dentro da loja da Samsung e lá estava Maeves na porta esperando por ambas, Annabelle corre até a mãe e lhe dá um beijo, fazia isso toda vez que elas se reencontravam
— Convidei a Lizzy para vir com a gente — Annabelle diz
— Eu iria ficar entediada em casa mesmo até a minha mãe chegar — Lizzy fala dando de ombros
— Bom que você dá uma opinião de cor para a Annabelle — Maeves fala por fim
A cor favorita de Annabelle era rosa, Maeves tentava mudar isso nela, pois estava crescendo e considerava rosa uma cor muito infantil, embora LIzzy achava que a preferência de cor não tinha a ver com a idade da pessoa
Um vendedor caminha até elas, tinha ascendência asiática, seu cabelo era preto e liso e os olhos levemente puxados, no seu crachá estava escrito Edward
— Sejam todos bem vindos a loja da Samsung, meu nome é Edward e estou aqui para ajudá-las a escolher o melhor aparelho, estão atrás de celular, headsets, tablets, notebooks, TV?
— Queremos ver o novo celular da linha S — Maeves responde
— Venham comigo — Josh responde sorrindo
Lizzy começa a reparar em como a senhora Maeves estava vestida, bem elegante para um dia frio com o seu cachecol vermelho, seu casaco sobretudo cor de pele e sua meia calça preta fina, não entendia como não estava sentindo frio e as magnificas botas pretas de salto alto
Quem olhasse para aquela bela ruiva esbelta mal diria que ela estava quase chegando aos 45 anos
Lizzy entendia a felicidade de Josh, os celulares da linha S eram os mais caros daquela loja, se elas realmente fossem comprar com certeza ele ganharia uma bela comissão, sabia disso pois sua mãe era vendedora em uma loja de perfumes
— Tem alguma preferência de cor? — Josh pergunta sem olhar para trás
— Rosa — Annabelle responde antes que Maeves dissesse alguma coisa
— Queremos ver o mostruário — Maeves disfarça
Assim que chegam na vitrine de celulares Josh passa por trás dela e retira todas as cores disponíveis e leva até o balcão que ficava logo a frente, eram celulares grandes, a impressão que Lizzy tinha era que iam se quebrar só de olhar
— Temos o S22 e o S22+ — Josh fala arrumando os celulares em cima do balcão
— Qual o preço? — Maeves pergunta
— 850,00 dólares, entrou em promoção, estava por 1418 dólares — Josh fala abrindo o sistema da loja em seu celular
— Eu não teria coragem de comprar um celular tão caro assim — Lizzy sussurra para Annabelle em seu ouvido
— Mas é o meu presente de natal, mamãe disse que ficou o ano inteiro juntando dinheiro — Annabelle sussurra de volta
— Vou levar, quais são as cores disponíveis? — Maeves pergunta
— Violeta, verde, branco, rose e preto — Josh responde
— Eu achei esse violeta maravilhoso — Maeves fala pegando o celular
— Mas eu disse que quero o rose mãe — Annabelle retruca
Maeves pega nas mãos da filha e se afasta tanto de Josh quanto de Lizzy, se agacha perto da filha, pois aquela bota a fazia ficar mais alta do que já era, quem não a conhecia poderia até dizer que estava brava, mas apenas tentava entrar em um acordo com a filha
— Meu amor, você tem certeza que quer o rose? Eu vi o violeta e é muito mais bonito — Maeves explica
— Desde antes de entrarmos eu disse que queria o rose
— Você não quer nem dar uma olhada nas outras cores? — Maeves pergunta paciente
Annabelle fica pensativa, as vezes a mãe poderia até ter razão, ficar escolhendo o de sempre uma hora acaba ficando chato, acena a cabeça, pega na mão de sua mãe e sorri, ambas vão até o mostruário novamente
— Eu gostaria de comparar o rose com o violeta — Annabelle diz para Josh
Josh pega os dois celulares e entrega na mão de Annabelle, aproveita e guarda os outros três aparelhos que sobrou na vitrine novamente, Annabelle olha os detalhes de cada celular, e dessa vez sua mãe tinha razão, o violeta era muito mais bonito
— Realmente você tem razão mamãe, vou querer o violeta — Annabelle se decide e Maeves sorri
Lizzy fica um pouco confusa naquele momento, conhecia que Maeves tinha uma boa lábia, mas Annabelle era cabeça dura, queria aprender o truque que Maeves usou para convencer com palavras doces
— Posso embrulhar para presente? — Josh pergunta guardando o celular escolhido na caixa
— Por favor, é um presente especial — Maeves responde
— Não vai comprar nada para a sua outra filha? — Josh pergunta se referindo a Lizzy
Maeves estranha a fala de Josh, se vira e se lembra que Lizzy estava acompanhando em sua compra, ri com a situação que havia acontecido naquele momento
— Ela não é a minha filha, está apenas nos acompanhando — Maeves responde
— Mas dentro do meu coração ela é a irmã que eu nunca tive — Annabelle diz
Lizzy era filha única assim como Annabelle, então ela sabia o quão era importante essa frase ser dita
Durante muito tempo desejava ter um irmão, e seus pais queria um filho homem, era o sonho dos dois terem um casal, até que um dia em um exame de rotina sua mãe descobriu que estava com ovários policístico, que só poderia engravidar de novo depois que fizesse o tratamento, mas era muito caro, então decidiram enterrar o sonho de ter um segundo filho
— Qual a forma de pagamento? — Josh pergunta
— Vai ser no dinheiro — Maeves responde
Pega a carteira que estava dentro da sua bolsa vermelha e retira um bolo de notas que estavam presas em um elástico
Josh retira o elástico e começa a fazer a contagem do dinheiro e devolve de troco 210,00 dólares
Pega um papel de presente roxo, coloca a caixa do celular por cima e faz as dobraduras que era costume de se fazer, depois que termina coloca um pedaço de fita transparente para o embrulho não se desmanchar e cola uma fita vermelha por cima
— Aqui está, tenha um feliz natal — Ele fala entregando a caixa para Annabelle
— Igualmente — Maeves responde gentilmente
Lizzy tira o celular do bolso e vê que faltava pouco para dar quatro horas da tarde, infelizmente sua mãe só chegaria depois das seis horas para lhe dar o seu presente de natal, ainda tinha duas horas para ficar entediada em casa
— Que horas a sua mãe volta do serviço? — Annabelle pergunta
— Por causa da correria de fim de ano, está chegando depois das seis — Lizzy responde dando de ombros
— Quer ir para a minha casa? Vamos assistir filmes durante a tarde e depois a minha mãe te leva para casa — Annabelle sugere
— S´ério? — Lizzy pergunta para Maeves
— Sim, será muito bem vinda em minha casa — Ela responde por fim
Maeves havia estacionado o seu carro alguns metros da loja, pelo visto iria ficar difícil de tirar da neve, entra pela porta da frente e as meninas vão no banco de trás, liga o carro e dá uma leve arrancada até conseguir sair do lugar, tinha a impressão que a neve poderia até ter derretido com o calor do pneu
— Ansiosa para receber o seu presente? — Annabelle pergunta
— E muito, mas não estou tão preocupada com o que vou ganhar, a minha mãe sempre acerta — Lizzy responde dando de ombros
— Posso dizer que a minha também
— O que vamos fazer para passar a tarde?
— Queria comer algo muito gostoso enquanto assitimos filmes, estava pensando em assistir Deixe a neve cair, o filme que a Netflix fez baseado no livro do John Green
— Pode ser, combina com essa época natalina e eu simplesmente amo os livros do John Green — Lizzy diz animada