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Dead End: Caos de Laplace

Author: CosmicZagalu
Urban
Ongoing · 15K Views
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Synopsis

No ano de 2025, a sociedade deixou de existir, restando apenas um mundo caótico e completamente bizarro onde nada parece fazer sentido. Ao acordarem sem memória alguma, sete pessoas estão fadadas a enfrentar o cruel destino que este mundo reserva...

Chapter 1Prólogo - Pareidolia

"Podemos considerar o presente estado do universo como resultado de seu passado e a causa do seu futuro. Se um intelecto em certo momento tiver conhecimento de todas as forças que colocam a natureza em movimento, e a posição de todos os itens dos quais a natureza é composta, e se esse intelecto for grandioso o bastante para submeter tais dados à análise, ele incluiria numa única fórmula os movimentos dos maiores corpos do universo e também os dos átomos mais diminutos; para tal intelecto nada seria incerto e o futuro, assim como o passado, estaria ao alcance de seus olhos." – Pierre-Simon Laplace

São Francisco, Califórnia (2 de março, 2025 D.C.)

Tudo começa com uma mulher de pele morena e longos cabelos prateados, ela sonha que seus olhos um dia voltarão a ver a luz da lua. Na verdade, o começo e o fim são basicamente a mesma coisa. Será que algo pode começar sem que outro tenha terminado? Será que todo fim precede um começo? Será que todo começo precisa de um fim? Minhas lágrimas congelam enquanto eu assisto... Será que estou assistindo o fim do começo ou o começo do fim? No fim, todos voltamos ao começo...

Enquanto o frio do ambiente toca seu corpo, a sensação de estar aprisionada lhe traz velhas lembranças. Dentre elas, a lembrança de um homem ruivo de terno, elegantemente vestido, caminhando em meio a chuva, despreocupado. Seu tom de frieza e deboche é perceptível. Como ele consegue estar tão despreocupado? Não vê a tempestade que está caindo? E então a mulher acorda... Com a visão prejudicada, ela abre os olhos tentando contemplar o local e percebe que está pendurada de cabeça para baixo. O cheiro de mofo e sangue toma conta daquilo que deveria ser um celeiro. Em sua frente, estão dezenas de corpos humanos ensanguentados, alguns caídos no chão, outros amarrados no teto, ao lado, um armário com itens de tortura. Sem saber onde está, a mulher entra em desespero e, na tentativa de se movimentar, ela percebe que também está amarrada. Se balançando de um lado para o outro, ela percebe que seus esforços são inúteis, ao mesmo tempo em que a vontade de gritar era encerrada por uma mordaça em sua boca. Aquela noite certamente marcaria seu fim. Após repetidas tentativas, a mulher nota uma fraqueza na corda que a segura. Ela gira em seu próprio eixo por sete vezes e a corda se rompe, fazendo-a atingir o chão com força. O som do impacto ecoa pelo celeiro, enquanto é possível ouvir o vento e a chuva batendo nas janelas. Quase sem forças para andar, a mulher caminha entre os corpos, perdida e mancando e coloca a mão sobre o rosto para evitar aquele cheiro insuportável que agora atinge suas narinas. Quanto mais passos ela dá, mais a sua mente é tomada por um vazio absoluto, como se todos os momentos antes desse não existissem.

A mulher questiona sua própria identidade e, tomada pelo desespero, ela congela. Naquele momento, não existia passado e o futuro era mais que incerto, apenas o presente, este que mais se assemelha a um pesadelo. Em prantos, a mulher corre em direção à saída do celeiro na esperança de fugir daquela realidade. Infelizmente, em instantes todo aquele sentimento seria consumido pelo mais puro medo. Seus rápidos passos são interrompidos, sua pele é tocada, algo segura sua perna direita, sensação que é seguida por um estranho barulho, semelhante a um grunhido.

Algum lugar (2 de março, 2025 D.C.)

Ela acorda, suspensa no ar e com pregos em suas mãos, enquanto seus olhos sem vida choram sangue. Sem entender, a mulher ruiva olha ao redor e percebe que está presa a uma cruz. Os seus sentidos não estão muito aguçados, sua pele possui as mais diversas queimaduras e cortes que tomam conta de seu corpo. Ao observar a densa floresta que cerca a colina, ela força sua mão esquerda para escapar daquela situação, fazendo com que sua pele seja rasgada e, uma alta quantidade de sangue seja derramada. Embora o prego tivesse deixado um buraco em sua mão, ela não parecia se importar. Na verdade, ela nem possuía tempo para isso, pois em poucos segundos a cruz se desfaz com a fraca madeira que a sustenta. A garota atinge o chão e confusa caminha pelo íngreme relevo, novamente sem dar a mínima para seu corpo ensanguentado. Então, ela serenamente olha para o céu...

— A lua está tão bonita hoje, eu ainda não tinha notado...

Mesmo sem forças, a dor não é um problema, ela não pode ser sentida, na verdade, estranhamente não dá para sentir nada. Uma luz em meio a floresta chama a sua atenção, talvez fosse uma fogueira iluminando as proximidades. Então, ela se aproxima silenciosamente e se depara com um homem sentado cozinhando. A sensação de estar dias sem comer causa uma fome tão intensa que a faz sentir a morte se aproximando. Visto isso, a garota ruiva se aproxima lentamente por trás do homem e, envolvendo seus braços em seu pescoço, começa a sufocá-lo. O homem luta contra e se debate de um lado para o outro, ela aperta ainda mais seus braços e quebra seu pescoço. O sentimento de culpa vem acompanhado de uma estranha sensação, algo indescritível. Seria por ela ter acabado de matar alguém? Não, provavelmente algo a mais. Essa sensação é sucedida de inúmeras vozes em sua cabeça, junto a elas, é como se o nome Sofia Winters tivesse sido escrito em sua mente. Sim, esse deve ser o seu nome. A mulher começa a gritar em desespero, informações são bombardeadas, vozes vindas de todos os lugares ecoam, destruindo a sanidade que havia lhe restado. Ela se joga no chão, rolando e gemendo em horror.

...

...

Repentinamente, todos os sons param.

...

Diante dela está uma criança, de baixa estatura, com cabelos brancos como a neve e olhos vermelhos como o rubi.

— Sofia Winters, não é? — diz a criança.

— Quem é você? Quando foi que você chegou aqui?

A criança inexpressiva, sem reação alguma e sem entonação em suas palavras parece cada vez mais assustadora.

— Sofia... Esse deve ser o meu nome...

Várias luzes são vistas da floresta, como tochas que vem em sua direção, ao longe, gritos hostis podem ser ouvidos. Sofia pega a comida do homem que acabou de matar e corre o mais rápido que pode para o interior da floresta. A sua fraqueza faz com que tropece, mas rapidamente ela se levanta com um grito de irritação, correndo como nunca para fugir das tochas e a morte que anunciavam. Deixando de lado a ausência de sua identidade, a mulher ruiva mantém apenas sua vontade de sobreviver a esta noite e a tempestade que se aproxima...

Águas Internacionais (2 de março, 2025 D.C.)

A escuridão e o silêncio do mar... Vivo? Até quando? Lá estava ele, um pobre menino amaldiçoado pela própria vida, olhos roxos, cabelos prateados e uma camiseta social. A afundar, afundar, afundando cada vez mais. Ele desperta em meio ao oceano vazio, a água o sufoca. A tentativa de nadar resulta em frustração, uma pedra amarrada em seu pé por uma corda o puxa para baixo, e assim ele afunda. Seria esse o destino dos homens, se afogar em seus ideais e desejos? Não, isso está errado... O jovem sente o oxigênio se esvaindo de seu corpo e pensa rápido. Porém, ao tentar desamarrar a corda de seu pé, a força do nó o impede. Seu rosto começa a ficar vermelho, sua visão turva, seus pensamentos já não são mais os mesmos, o tempo está acabando. Em um ato de desespero ele pega a pedra e tenta levar sua boca até a corda. Roer ela lhe causa muita dor, sua boca sangra, sua gengiva dói, uma dor insuportável. A corda se rompe, a pedra afunda, apavorado, o jovem vai até a superfície. O ar chega aos seus pulmões, seu raciocínio retorna aos poucos, nada pode ser visto ao seu redor, apenas o vasto oceano. Lutando para sobreviver, ele repete longas braçadas, uma após a outra, inúmeras vezes, enquanto o frio daquele mar lhe causa uma sensação de estar congelando e a fadiga torna difícil manter o ritmo. Repentinamente, é possível escutar um barulho... Um cruzeiro passando pelo local. Ao ver aquele luxuoso cruzeiro passar, a estranha coincidência alegra o jovem que grita por ajuda. Um homem no grande navio que observava o oceano consegue ouvir seus gritos e imediatamente chama outras pessoas para lançarem um bote e salvá-lo.

Cerca de duas horas mais tarde, o céu já está escurecendo e uma tempestade começa a cair do lado de fora do navio. Após ser socorrido e ajudado pelos funcionários que lhe ofereceram um quarto e um chuveiro para banhar-se, ele divaga olhando para o espelho, sem reconhecer a si mesmo, enquanto os funcionários conversam.

— Vocês acham que dá pra abrigar ele aqui? Nem sabemos quem ele é.

— Ahh que saco, por que essas coisas só acontecem com a gente? Se esse cara estiver com Laplace ou algo assim a culpa vai cair pro nosso lado certeza.

— Fiquem calmos, vocês viram o crachá na roupa dele? É daquela empresa que prometeu nos ajudar, a Corporação EDEN, o crachá dizia Atuka Baker. Ele deve ser alguém importante, então vamos só perguntar logo quem ele é.

Os funcionários se dirigem ao quarto do misterioso jovem, eles batem na porta e ele consente suavemente com sua entrada.

— Pedimos perdão pelo incômodo.

— Não se preocupem com isso, vocês salvaram minha vida.

— Bem, acho que você sabe que não podemos manter um estranho aqui no navio, então eu preciso te fazer algumas perguntas senhor... Err... Atuka Baker, não é?

— Hmm... Atuka Baker? Esse nome não me diz nada...

— Não? Como assim!? Esse é o nome escrito no seu crachá, tem até uma foto sua!

O funcionário assustado com a situação mostra o crachá para o garoto.

— Bem, esse deve ser eu então, né? Mas... Pelo visto aconteceu o que eu mais temia, não consigo me lembrar de nada, nem mesmo vendo essa foto.

— Pera, então você não lembra de quem é?

— Não, não tenho memória alguma a meu respeito, nem sobre qualquer coisa que tenha acontecido comigo...

— Você parece tranquilo demais, não acha!?

— Não tem nada que eu possa fazer agora, só me resta esperar essa amnésia passar. Não quero atrapalhar o trabalho de vocês, então me deixem passar só essa noite aqui, amanhã posso pegar um bote inflável ou algo assim e ir embora. Prometo que não vou causar problemas.

— Com certeza eu não ficaria feliz se você morresse por eu ter te abandonado no oceano. Mas, acho que com o mundo nessa situação, realmente não tem muita coisa que eu possa fazer por você. Olha, pode ficar o tempo que você precisar ok?

— Tudo bem, obrigado pela gentileza.

O funcionário começa a se retirar junto com os outros, mas antes que ele saia pela porta...

— Uma pergunta, para onde esse navio está indo?

— A baía de São Francisco, lá nos EUA.

— Certo, agora outra pergunta. Qual é o seu nome?

O funcionário sorri e responde.

— Me chamo George, tenha um boa noite senhor.

George, um homem de pele escura e cabelos grisalhos, se retira do quarto junto com os outros funcionários, deixando Atuka dormir. Ele desliga as luzes, se deita e adormece na tentativa de esquecer esse dia traumático.

Um silêncio ensurdecedor, passos ao longe, teclas batendo, o som de um motor ligando, de repente, uma criatura humanoide, escura como a noite, mas, seus olhos brilham como a lua, por todo seu corpo notam-se os tristes olhares daqueles que um dia perderam a esperança, sua boca se abre como a de alguém que não come faz dias, mas, antes de ser devorado, Atuka acorda ao ouvir um grito apavorado. Assustado, ele se levanta da cama e logo vê algo estranho no interior de seu quarto, uma névoa branca que consome tudo, algo que não estava lá antes, algo que não deveria estar ali. Atuka corre até a porta de seu quarto e ao abri-la, vê que a névoa toma conta de todo o corredor, e provavelmente de todo o navio também. Apesar de achar tudo aquilo estranho ele se conforma com a situação e conclui que não é da conta dele, fechando a porta em seguida. Porém, ao virar-se, ele sente uma dor no peito, uma vontade de vomitar que antecede a de correr, a sensação de ter sua espinha congelada. Diante dele está George, com seus membros e olhos arrancados, fatiado em pedaços. Seu sangue molha as paredes do quarto e seu corpo iluminado pela luz da lua que entra pelas janelas está quase irreconhecível...

As borboletas do destino alçam seu voo, olhos maliciosos os observam da escuridão. Enquanto isso, fica cada vez mais difícil distinguir a realidade dessa doce pareidolia.

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