O pequeno Lord, herdeiro do maior mago obscuro de todos os tempos, não poderia estar mais satisfeito. Há algumas semanas, a aluna Hermione Granger fora encontrada na enfermaria completamente petrificada, com um pequeno espelho em suas mãos. Certo, talvez ele ficasse mais satisfeito se a menina, atualmente, estivesse fazendo companhia a James e Lily Potter e não apenas com seu corpo petrificado, mas aquilo já era um bom começo para ela aprender qual seria o seu lugar de agora em diante. Não obstante, para melhorar ainda mais seu humor, os Slytherins do segundo ano se encontravam no aconchego das masmorras desfrutando de uma aula de poções que chegava a ser ligeiramente interessante, na opinião de Harry, na qual preparavam uma Poção Antídoto para Ataque de Filhote de Acromântula.
No exato momento, o Prof. Snape circulava ao redor dos caldeirões observando o trabalho de seus alunos Slytherins e grunhindo diante da incompetência de alguns Gryffindors. Ao passar pela mesa onde Draco e Harry trabalhavam juntos, o professor não pôde evitar um franzir de cenho ao notar que mais uma vez o moreno ignorava as instruções na lousa e preparava a poção à sua maneira. Aquele sorrisinho arrogante. Aquele ar presunçoso que desmerece os demais. Aquela auto-suficiência irritante que ignora completamente as regras... O garoto era tão malditamente idêntico a James Potter! Contudo, ao vê-lo sorri com doçura enquanto Draco sussurrava alguma coisa em seu ouvido, Snape percebe que havia pouca coisa de seu antigo rival naquela ação, James Potter jamais conversaria civilizadamente com algum Malfoy, enquanto seu filho se desfazia em sorrisos e olhares carinhosos para o jovem loiro. E este parecia ser um dos poucos que arrancava um sorriso verdadeiro de Harry.
Snape suspirou.
Havia coisas que preferia não entender.
- Senhor Riddle... – chamou com suavidade para conter a irritação – Por que o senhor não está seguindo as indicações da lousa?
Harry arqueou uma sobrancelha. Aquilo estava começando a irritá-lo. Snape sempre perguntava por que ele não seguia suas instruções, ou por que não estava prestando atenção, mas nunca lhe tirava pontos, é claro.
- Porque eu prefiro fazer do meu jeito... Professor.
- Do seu jeito?
- Exato.
- Mas o seu jeito não é o solicitado na aula.
- O solicitado na aula não é a maneira de fazer a poção, professor, mas o resultado obtido com ela. E garanto que o resultado será satisfatório, como sempre.
Snape estreitou perigosamente os olhos.
- É claro... O pequeno prodígio das poções – comentou com sarcasmo.
Harry, por sua vez, sorriu com malícia.
- Oh, admito o crime. Mas devo ceder as honras ao mestre que me instruiu nessa gloriosa arte.
- Não estou interessado em bajulações, jovem Riddle.
- Não estou falando do senhor – arqueou uma sobrancelha com desdém – Céus, como pôde achar isso? Refiro-me ao meu pai, é claro.
Muitos Slytherin precisaram disfarçar as risadas com uma ligeira tosse, e os Gryffindors se mostraram ao mesmo tempo assustados e maravilhados com a expressão desconcertada do Professor de Poções, que parecia ter sido banhado com um balde de água fria. Aquele menino era um verdadeiro demônio, pensou Severus, e o pior de tudo é que se tratava de um pequeno demônio com imunidade diplomática, pois se desse uma resposta a altura, o professor sabia que sua próxima reunião com os Comensais da Morte não seria nada agradável.
- Obviamente, senhor Riddle. Agora continue sua poção – ordenou por entre os dentes.
- Sim, senhor.
Sem dúvida, o sorrisinho cínico e satisfeito do garoto era a pior tortura que Severus Snape poderia receber. Harry, ao ver o balançar de cabeça divertido do amigo ao seu lado, apenas lhe piscou um olho, graciosamente, e voltou à poção.
- Harry, Harry... Você é tão cruel com o meu padrinho – Draco comentou com um sorriso, após alguns minutos.
- Não é verdade, Dray. Eu só não deixo que ele pense que está falando com qualquer um. Posso notar como ele não vai com a minha cara e só me respeita por causa do meu pai.
- Isso não é verdade...
- Você sabe que sim – replica tranqüilo – além disso, não confio nem um pouco nele. E adoro infernizar a vida de pessoas amargadas e indignas de confiança como o nosso querido professor.
- Sim, isso deu para notar.
- Um pequeno deslize apenas e meu pai já será informado. Hum... Alguém que vive correndo atrás das túnicas do Dumbledore deve ter muito a esconder.
- Mas você sabe que ele é um espia...
- Sim, mas isso não significa nada, Dray.
- Às vezes você pode ser mais cabeça-dura que um Gryffindor, sabia?
- Está no meu sangue, querido – sorri encantadoramente – E mesmo assim você me ama, não é mesmo?
As bochechas pálidas de Draco ganharam uma intensa cor avermelhada, mas não foi preciso comentar nada, uma vez que, por sorte, o sinal acabara de tocar indicando o término da aula e um sorridente Harry já se levantava para deixa a poção – perfeita, é claro – na mesa do professor.
-x-
Horas mais tarde, quando a lua já brilhava lindamente no céu, após voltar de um divertido momento na Câmara Secreta com seus amigos, Harry se encontrava com um feitiço silenciador ao redor de sua cama e o diário aberto em seu colo conversando mais uma vez com aquele indivíduo que naquele ano mudara completamente sua vida em Hogwarts. Mudara para a melhor, é claro. A memória adolescente de Tom Riddle sempre conseguia arrancar sorrisos de Harry em meio às maravilhosas conversas que tinham. Falavam de absolutamente tudo. Desde as experiências ruins que Tom vivera com muggles até as matérias que Harry estava vendo na escola. E naquele exato momento, Tom convencia o menino a mais um ataque para desmoralizar o diretor.
"Então aquela atrevida sangue-ruim já foi posta em seu lugar?"
"Sim, sem dúvida. Mas ela foi petrificada, como a gata do Filch
e o Creevey, não morta como estávamos esperando.
É irritante, mas é melhor do que nada".
"Oh, às vezes esses golpes de sorte desses sangues-ruins podem ser bem irritantes,
mas não se preocupe, ainda há mais tentativas para se fazer".
"Mais tentativas?"
"Exatamente. Afinal, o velhote ainda está no posto de diretor, não está?"
"Ainda..."
"Então é preciso agir para desmoralizá-lo cada vez mais. Sua escola precisa estar à beira da ruína".
"Faz sentido".
"É claro que faz! Então não perca mais tempo! Leve seu lindo traseiro a Câmara Secreta,
liberte mais uma vez o Basilisco e torça para que as coisas dêem certo desta vez".
"Mais alguma coisa, meu capitão?"
"Por enquanto é só, marujo. Vejamos como irá se sair".
"Oh, com perfeição, é claro.
Esqueceu com quem está falando?"
"É verdade, pequeno. Então vá lá e mostre a eles que você é um Riddle".
Com lindo sorriso nos lábios, Harry fechou o diário, apanhou a capa de invisibilidade e seguiu à câmara. Dumbledore seria afastado naquela mesma semana, ou ele não se chamava Harry James Riddle.
-x-
Na manhã seguinte, as pequenas serpentes aproveitavam à hora vaga entre a aula de Transfiguração e o almoço para desfrutar daquele belo dia sob a sombra de uma magnífica cerejeira nos jardins da escola. Pansy lia seu novo exemplar da revista Coração de Bruxa; Blaise divertia-se com o rato que Weasley havia perdido, lançando-lhe feitiços atordoantes, multicolores e de muitos outros tipos; enquanto Draco, por sua vez, acariciava os cabelos de um adormecido Harry que naquele exato momento, deitado em seu colo, vagava pelo mundo de Morpheu. Afinal, o moreninho chegara bem tarde na noite anterior, após atiçar o Basilisco.
Contudo, a expressão sonhadora no rosto de Draco foi substituída por uma de puro aborrecimento e desprezo quando observou Theodore Nott se aproximar deles com os olhos fixos no belo menino que dormia em seu colo.
- Preciso falar com o Harry – demandou secamente, observando com desagrado como Draco acariciava o lindo moreno adormecido.
- Não está vendo que estamos ocupados, Nott?
- É importante.
- Não interessa. Suma daqui, come-livros!
- Escuta aqui, Malfoy...!
- Aiai... – um sonolento Harry suspirou, espreguiçando-se como um gatinho – O que está acontecendo?
- Preciso falar com você, Harry.
- Diga... – murmurou sonolento, esfregando os olhinhos numa graciosa imagem.
- É melhor que estejamos a sós – olhou de esgueira para Malfoy.
Harry arqueou uma sobrancelha, estranhado, mas assentiu, levantando-se para seguir o amigo. Draco, no entanto, segurou firmemente a cintura do moreno, impedindo-o de seguir a diante.
- Draco...?
- Fale com ele depois, Harry.
- Mas...
- Daqui a pouco baterá o sinal do almoço.
O pequeno Lord, contudo, apenas suspirou e pousando um suave beijo na bochecha do loiro se desfez do agarre em sua cintura, com um sorriso tranqüilizador:
- Eu volto já, Dray.
- Hum... – revirou os olhos, evidentemente enciumado.
Com um semblante superior, Theo passou um braço em torno do ombro de Harry e o levou para dentro da escola, curiosamente para perto da gárgula de pedra que levava ao escritório do diretor. Lá encostou o pequeno corpo de Harry na parede e encarou fixamente aqueles belos olhos verdes que tanto adorava.
- Você conseguiu, Harry.
- O que?
- O conselho já ambicionava afastar o diretor devido ao caso da Granger, agora, quando souberam que o tal Hufflepuff, Justin Finch-Fletchley e o fantasma Gryffindor também foram petrificados mandaram o próprio presidente para entregar a ordem de dispensa do velhote.
- Isso é sério? – Harry sorria encantadoramente.
- Sim, acabei de ver Lucius Malfoy seguindo ao escritório dele.
- Perfeito!
- Parece que esse ano Dumbledore irá comemorar o Natal em casa – comenta com um sorriso, adorando ver os olhos de Harry brilharem com tamanha felicidade.
- É maravilhoso... Mas por que você não quis falar isso na presença dos outros?
- Porque... – suspira mentalmente – "Eu precisava de uma desculpa para te afastar do Malfoy".
- Então?
- Porque eu queria trazê-lo aqui para que você assistisse de camarote, veja!
Naquele mesmo instante, Alvo Dumbledore saía de seu escritório com uma expressão neutra, mas quem olhasse em seus olhos veria um notório ar de poucos amigos. Lucius vinha logo atrás, com um ar satisfeito e sua pose altiva, escoltando-o. Ao passar por Harry, Dumbledore estancou, o menino sorria com extrema doçura.
- Feliz Natal, professor! Divirta-se!
- Nos veremos em breve, Harry.
- Eu não teria tanta certeza. Mas não se preocupe, cuidarei das coisas por aqui.
- Ótimo... – murmura por entre os dentes.
- Até mais! Tchauzinho...
O ancião seguiu caminhando, colocando mais força em seus passos do que o necessário, em direção ao escritório da Prof. McGonagall. O patriarca da família Malfoy, porém, permaneceu ao lado de Harry encarando-o profundamente. É claro que Lucius estava contentíssimo com o afastamento de Dumbledore, ele próprio aconselhara os demais membros do conselho a afastá-lo, mas se antes já estava desconfiado daqueles estranhos acontecimentos em Hogwarts, agora tinha certeza de que seu afilhado estava envolvido com isso. Por sorte, Lord Voldemort estava em viajem a Transilvânia para estabelecer alguns acordos com clãs de vampiros, caso contrário, Harry precisaria dar muitas explicações ao pai.
- Não acha que devemos ter uma conversa, Harry?
- Você também estava com saudades, padrinho? – sorri lindamente, pestanejando várias vezes com pura inocência.
- É claro – não consegue evitar um pequeno sorriso, mas logo se recompõe – Contudo, existe um assunto que preciso discutir com você.
- Certo...
- Jovem Nott.
- Sr. Malfoy – Theo faz uma pequena reverencia, observando o pai de seu rival afastar-se, levando o pequeno Lord com ele.
Não demorou muito e logo os dois ingressaram numa sala de aula vazia para conversarem com mais privacidade. Desta vez Lucius não se deixava enganar pelo sorriso e pelo olhar inocente com o qual Harry o encarava. Alguma coisa estava acontecendo e ele precisava descobrir, antes que o Lord ficasse sabendo e Harry saísse verdadeiramente encrencado. Quando o menino se sentou em uma das cadeiras, Lucius tomou posição à sua frente, encarando aqueles belos olhos esmeraldas com seriedade.
- Então, Harry, o que está acontecendo?
- Como assim, padrinho?
- Oh, vamos. Não se faça de inocente, você sabe muito bem o que está acontecendo nesta escola, isso se não estiver intimamente ligado com esses eventos.
- Talvez... – murmura com um biquinho.
- Agora me fale por que esses alunos estão sendo petrificados.
- Não são alunos! – se defende – São meros sangues-ruins amantes de muggles e do velhote idiota!
- Que seja. O que está acontecendo aqui, Harry?
O garoto apenas suspirou. Pelo visto precisava contar a verdade. É claro que uma verdade ligeiramente modificada, somente para ajudar seu padrinho a se acalmar um pouco.
- Em uma aula de Historia da Magia, o Prof. Binns estava nos contando sobre a fundação de Hogwarts... – começou com um ar tranqüilo. Harry realmente possuía o dom da mentira correndo por suas veias -... De repente, um aluno o interrompeu querendo saber sobre a lenda de Salazar Slytherin que contava que ele havia deixado um monstro escondido na escola. Todos os alunos pareceram interessados, eu inclusive, então o professor não teve alternativa se não contar sobre uma tal Câmara Secreta...
Lucius arregalou os olhos, impactado. É claro que ele conhecia a lenda. E sabia que seu mestre também. Sabia, inclusive, que o Lord abrira a Câmara em seu sexto ano na escola, mas não esperava que Harry a conhecesse, pelo menos não agora.
-... Obviamente eu fiquei interessado, pois o meu pai é herdeiro de Slytherin então provavelmente conhecesse esta Câmara. Mas eu não podia correr o risco de perguntar a ele e ouvir um "não se meta com essas coisas agora" então resolvi investigar sozinho. Resultado: encontrei a Câmara e descobri que o tal monstro podia ser muito útil para eliminar sangues-ruins.
- Harry... – Lucius estava em choque. O menino havia encontrado a tal Câmara sozinho?! Por Merlin!
- Não diga nada ao papai, por favor, padrinho... – pede com olhinhos de cachorrinho perdido – Eu só queria afastar o velho bobão da escola, agora que consegui já não vou fazer mais nada, eu prometo.
- O que...? – murmura perplexo.
Rapidamente, porém, ele volta a si e encara o menino com preocupação e temor:
– Você poderia ter se ferido, Harry! Esse monstro poderia... Oh, céus...
- Não se preocupe, é um Basilisco que obedece apenas aos herdeiros de Slytherin. Não houve perigo algum.
Lucius o encara em silêncio, digerindo aquelas palavras. Um Basilisco?! Sem dúvida, como bom Slytherin, estava emocionado com a notícia, mas ao mesmo tempo preocupado com a possibilidade de algo ruim acontecer ao seu afilhado. Por sorte, com Dumbledore finalmente afastado, Harry não precisaria voltar àquele lugar. Ou pelo menos era isso que o menino prometera fazer.
- Você não contará nada ao meu pai, não é mesmo, padrinho?
- Não sei, o Lord precisa saber que...
- Por favor!
- Harry...
- Por favoooooor!
- Tudo bem. Mas me prometa que você não voltará àquele lugar.
Um radiante sorriso surgiu nos lábios do menino.
- É claro, padrinho! Não se preocupe!
- Humm... – suspira – Que perigo...
- Foi por uma boa causa.
- Sei. Mas você não deixará esse Basilisco sair novamente ouviu? Nem voltará a essa Câmara.
- Pode deixar...
- Certo, então vamos.
Harry não pensou duas vezes e logo abraçou o pescoço do adulto, sorrindo divertido ao ver o ar exasperado, mas contente, do imponente Lucius Malfoy.
- Padrinho?
- Sim, Harry?
- E o meu presente de Natal? Você já escolheu? – perguntou com um sorriso.
Lucius apenas revirou os olhos, bagunçando aqueles cabelos revoltos sob os protestos do afilhado.
- Você deve esperar até semana que vem...
- Mas falta tanto tempo!
- Paciência, pequena serpente, paciência.
-x-
No entanto, a semana não demorou a passar e logo Harry aterrissava no belo jardim da Mansão Riddle. Oh, como ele odiava essas Chaves de Portais... Por sorte, Rodolphus Lestrange, ou melhor, Tio Rodolphus, segurava-o firmemente pelo braço e impedia que o pequeno Lord fosse de encontro ao límpido gramado e sujasse sua bela túnica creme adornada de fios de cobre. Dessa vez, seus amigos não estavam com ele, mas haviam combinado de passar a festa de Natal na mansão e depois permanecerem lá até o final das férias. Assim, Harry e o patriarca da família Lestrange ingressaram na mansão, com o Comensal implicando com Harry a respeito da bela técnica que o menino possuía para viajar naqueles meios e este lhe mostrando a língua, divertido, e reclamando sobre o porquê de não poderem usar algo mais normal como um tapete mágico ou uma vassoura.
- Quero só ver quando você conseguir a licença de aparatar – sorri com malícia – chega a ser pior do que as Chaves de Portais na primeira vez.
- Isso mesmo, Tio Rodolphus, me anime!
- Hahahaha... Mas não se preocupe, pequeno, logo melhora.
- Sei...
Uma radiante Nagini, porém, interrompeu os dois magos ao deslizar rapidamente pelo piso de mármore para rodear seu pequeno filhote num possessivo abraço. Estava com tantas saudades! Ele parecia tão crescido! Ainda que estivesse um pouco magrinho, mas logo ela cuidaria disso... Harry, diante daquela sufocante amostra de carinho, apenas sorriu com certa dificuldade.
- Nagi... Nagini... Está... Sufocando...
- Oh! Desculpe querido! – ela afrouxa rapidamente o agarre – Mas senti tanto a sua falta!
- Eu também senti – afaga com delicadeza a cabeça triangular da serpente.
- Vamos, venha para o seu quarto, quero que me conte todas as novidades.
- Certo, vamos lá... – sorri divertido e logo se volta ao adulto – Tio Rodolphus, Nagini está impaciente...
- Não se preocupe, Harry. Eu já estava de saída mesmo, seu pai me incumbiu de entregar alguns papéis no Ministério. Até breve, pequeno.
- Até, Tio Rodolphus.
Assim, o menino seguiu ao quarto com a animada serpente deslizando ao seu lado. Quando chegou à habitação não pode conter um sorriso e se jogou em cima da deliciosa cama King Size de lençóis de seda que tanto lhe fazia falta nas noites em Hogwarts, não que a cama de seu dormitório fosse ruim, mas nada se comparava à deliciosa e inigualável cama do seu quarto. Não demorou nem meio minuto quando a bela serpente passou a rodeá-lo outra vez, confortada com o calor e o aroma de hortelã que seu doce filhote desprendia. Estava com tantas saudades. E depois de estar a mais de duas semanas sozinha devido às viagens de negociação do Lord, Nagini não podia ficar mais feliz com a presença daquele menino de olhos esmeraldas que tanta alegria levava àquela mansão e às suas vidas.
- Diga-me, pequeno, quero saber todas as coisas que você andou aprontando em Hogwarts.
O menino apenas sorri, pensando: "Se você soubesse..."
- Vamos, conte-me, andou assustando muitos sangues-ruins com sua adorável carinha de mau?
- Alguns – o sorriso se torna ainda mais evidente – Existe uma menina, uma tal Granger, que enfeitiçou o balaço no jogo de Quadribol para que ele me derrubasse.
- Oh... Lembro-me desse dia. Quase morri de susto quando seu pai me contou que depois do jogo você estivera na enfermaria.
- Sim, mas não chegou a acontecer nada. É claro que pedi para Pansy e Blaise descobrirem o autor da trapaça, e quando me contaram que fora essa tal Granger, logo fiquei arquitetando um plano para me vingar.
- Você anda muito com o seu pai, sabia?
- A oportunidade perfeita surgiu quando o inútil professor de DCAO apareceu com a idéia de um Clube de Duelos. E adivinha com quem eu duelei?
- Pobre menina... Na verdade não, foi bem feito para ela! Ninguém mexe com o meu filhote!
- Digamos que ela não sairá da enfermaria tão cedo.
- Harry, Harry... – balança a cabeça, divertida.
- E para melhorar, o velhote ainda foi afastado da escola.
- Quem? O Dumbledore?
- Claro, que outro velhote existe por lá? Bem... Muitos. Mas o velhote em questão foi o Dumby, meu padrinho foi pessoalmente levar a ordem do conselho para que ele se afastasse.
- Que maravilha! Mas por que o afastaram?
- Parece que ele está velho de mais para cuidar de uma escola e de tantos estudantes com... Problemas... – comenta com inocência, o que deixa a serpente ainda mais intrigada.
Mas antes que ela pudesse voltar ao assunto, um minúsculo filhote de Mamba Negra deslizava habilmente para fora do bolso de Harry:
- Amo? – a pequena serpente o encara, sonolenta.
- Bom dia, Morg! Finalmente você acordou.
- Desculpe amo – murmura, para logo se transformar na bela Naja Negra que era sua forma original – Mas essas viagens de trem dão muito sono.
- Preguiçosa! Não sei como pode ser uma guardiã!
- Nagini!
- Ah, você está aqui sua cobra estridente? – pergunta com desdém – Por que não deixa a mim e ao MEU amo em paz?
- Morgana!
- Seu amo? Seu? Oh, você ouviu isso, Harry? Esse filhote de lagartixa perdeu a noção do perigo...
- Oh Merlin, onde eu fui me meter? – o menino suspira, sabendo que aquela interminável guerra estava apenas começando.
Por sorte, naquele exato momento um imponente homem de cabelos negros, impecavelmente alinhados, olhos vermelhos e expressão vazia de sentimentos, ingressava no quarto de Harry. A túnica negra da melhor qualidade, em conjunto com a calça social da mesma cor e a camisa de seda vinho apenas acentuava o ar de elegância e sofisticação que aquele indivíduo naturalmente possuía. Lord Voldemort... Em carne, osso e esplendor. Contudo, aquele olhar que se equiparava a duas pedras de gelo não evitou que Harry pulasse em seu pescoço e enchesse sua face de beijos estalados. E contra todo o prognóstico, o Lord das Trevas apenas sorriu, abraçando seu filho.
- Papai!
- Como você está, pequeno?
- Bem melhor agora – olha de soslaio para as duas serpentes que permaneciam em silencio, mas travando uma árdua batalha de olhares – Você acabou de me salvar de um confronto de titãs.
- Oh, Nagini e Morgana, é claro – sorri divertido – Bom, senhoritas, vocês poderiam nos dar licença? É um momento de pai e filho.
- Sim senhor, mi Lord – Morgana prontamente obedeceu, descendo da cama e esgueirando-se até a cozinha.
Nagini, por sua vez, estava prestes a replicar alguma coisa quando o Lord a interrompeu, sorrindo para o menino:
- Morgana é tão eficiente, não é mesmo, pequeno? Ela não reclama quando pedimos algo a ela...
A estratégia do Lord funcionou direitinho, pois uma indignada Nagini deslizou para fora do quarto murmurando maldições contra a rival e contra o Lord. O que fez este balançar a cabeça, divertido, e arrastar o menino para sentar ao seu lado na cama, onde podiam conversar com mais comodidade.
- Jogada de mestre, papai.
- É claro – dá aquele característico sorriso auto-suficiente – E como foi a viagem?
- Tranqüila. Apesar dessas malditas Chaves de Portais continuarem me deixando tonto.
- Uma hora você se acostuma.
- É o que espero – suspira, apoiando a cabeça no colo do maior – E você, papai, como esteve às viagens de negociações?
- Cansativas, mas acabaram com bons resultados. Os vampiros demoraram a aceitar um acordo, mas finalmente se uniram à causa.
- Que bom.
- Sim, eles mal podem esperar para limpar o Ministério e acabar com a influência de Dumbledore que os intitula como seres malignos e sem coração. Mas saberão aguardar o momento certo, por enquanto, estou apenas conseguindo aliados.
O menino apenas sorri, sentindo as involuntárias carícias que seu pai fazia em seus cabelos enquanto ouvia-o continuar os relatos:
- O mais estressante mesmo foi cuidar das empresas muggles, pois o mundo deles está passando por uma tal "Crise Financeira" que derrubou a muitos de meus negociadores.
- São incompetentes até para cuidar do próprio dinheiro.
- Correto. Mas obviamente eu consegui reverter o quadro com capital mágico e estabilizá-las.
- E os inúteis que cuidam disso para você?
- Como você mesmo disse, pequeno, são inúteis. Às vezes é preciso acompanhar de perto para que ninguém deixe nosso patrimônio se perder.
- Claro... – revira os olhos – Como se meia dúzia de empresas muggles fizesse alguma diferença.
- Diferença não faz, mas de um jeito ou de outro, são nossas. Em contra partida, as empresas mágicas estão indo de vento em poupa, como sempre, e Lucius e Rodolphus garantiram que em breve precisaremos abrir mais filiais.
- Que maravilha! Mas não sei como você consegue, papai – comenta divertido – Dominar o mundo, hegemonia nos negócios, superioridade política e financeira...
- Na verdade é muito simples, pequeno. Basta escolher bem os aliados, manter-se firme e indiferente, além de possuir os genes e a inteligência Riddle correndo por suas veias.
- Simples? – arqueia uma sobrancelha.
- Sim, e... Oh, é mesmo, também ajuda o fato de ser um dos maiores magos de todos os tempos.
- E o mais humilde! – acrescenta entre risos – Mas devo dizer que fico tranqüilo, pois já preencho todos os requisitos.
- Sem dúvida – sorri com orgulho.
Uma intensa cor rosada, naquele momento, toma conta das bochechas do menino devido à entonação tão segura e ao sorriso orgulhoso que seu pai conservava nos lábios ao pronunciar aquilo. Harry sentia que não precisava de mais nada em sua vida se pudesse sempre contar com aquele olhar orgulhoso com o qual seu pai lhe brindava. E prometia a si mesmo que faria o que fosse preciso para que a expressão do Lord se conservasse aquela, e com o passar dos anos o orgulho apenas aumentasse. Não importava o que precisasse enfrentar, queria exclusivamente que aquele homem que tanto amava se orgulhasse dele para sempre. Pois ele se orgulhava de seu pai e sempre se orgulharia.
- Mas e você, pequeno, como esteve na escola?
Um ligeiro arrepio percorre a espinha de Harry. Era a hora da "verdade".
- Bem, na verdade muito bem. Lembra do incidente no último jogo de Quadribol?
- É claro...
- Então, Pansy e Blaise descobriam o culpado.
- E...? Ele ainda está vivo? Já devo adiantar meus contados no Ministério para que você não seja levado a Azkaban?
- Muito engraçado, papai. O caso é que ele, ou melhor, ela ainda está viva, mas ficará um bom tempo na enfermaria.
- Menos mal – sorri com malícia – e o que você aprontou?
- Nosso querido professor de DCAO surgiu com a brilhante idéia de participarmos de um Clube de Duelos, então, como sou muito sortudo, a irritante Granger acabou sendo minha oponente.
- E o que você usou?
- Bom, primeiro a maldição que o Tio Dolohov me ensinou, depois alguns encantamentos sem varinha e arrematei com um Cruciatus em Parsel.
- Excelente.
- Oh, papai, você precisava ver a cara deles! Como eu conjurei uma barreira mágica ninguém podia intervir na luta, foi tão divertido! – contava animado – Nem o idiota do Snape conseguiu anulá-la.
Tom o encarava em silencio, mas visivelmente orgulhoso.
- Mas o melhor foi no último minuto, quando ela já estava caída e humilhada, e decidiu me enfrentar com o feitiço Serpensortia. Dá para acreditar?
- Ingênua...
- Obviamente eu bati um papinho com a serpente e a usei contra a própria Granger. Mas você precisava ver a cara de todos! Até o inútil do Snape parecia em choque!
A divertida gargalhada do Lord invadiu a habitação.
- Aiai... Você é impossível, pequeno.
- Mas essa é de longe a melhor notícia do dia, papai – sorri com malicia.
- Então qual é a melhor?
- O nosso estimado e competente diretor, provavelmente, está em sua casa fazendo tricô à uma hora dessas.
- O que? – arqueia uma sobrancelha, confuso.
- O conselho de pais decidiu afastar Alvo Dumbledore de Hogwarts por notarem sua incapacidade para cuidar da escola e dos estudantes.
- Oh...
Harry queria estar com sua máquina-fotográfica-mágica apenas para registrar a graciosa expressão de surpresa que adornou o rosto do seu pai. Era muito difícil deixar Lord Voldemort com uma expressão como aquela, mas, curiosamente, o menino sempre conseguia.
- Inclusive, foi o meu padrinho que levou a ordem de afastamento.
- Lucius? E por que ele não me contou nada?
- Por que eu pedi. Eu queria dar essa maravilhosa notícia pessoalmente, papai.
- Humm... Você é impossível, Harry.
- Mas não é genial?
- É claro. Apesar de ser muito curioso esse afastamento tão repentino. Está acontecendo alguma coisa em Hogwarts para julgarem o velhote tão incapaz?
- Acontecendo?... Humm... Não que eu saiba, papai.
- Sei... – estreita os olhos com astúcia. Afinal, conhecia muito bem aquele tom inocente de seu filho, um tom que não indicava boas coisas.
- É verdade. Parece que alguns nascidos muggles tiveram um ou outro... Acidente...
- Que tipo de acidente?
- Não faço idéia, papai. Ninguém conta nada naquela escola! – suspira irritado – Assim fica difícil se burlar deles!
Poucas pessoas conseguiam enganar o Lord das Trevas e quando o faziam era porque este se deixava enganar, pois obtinha muitas vantagens com isso. Harry, no entanto, com seus brilhantes olhos esmeraldas cheios de vida, seu rostinho inocente e aquele ar angelical para o qual sempre apelava nas horas precisas, conseguia muito bem ludibriar o maior mago obscuro de todos os tempos. É claro que Tom não acreditava totalmente nas palavras de seu filho, como bom pai, ele sabia que o menino estava escondendo algo, mas veria até onde as coisas podiam chegar.
- Muito bem, tente descobrir alguma coisa e me mantenha informado, pequeno.
- O inútil do Snape não devia fazer isso?
- Oh, ainda está com essa implicância, Harry?
- Não é implicância! Apenas não confio nele... – revira os olhos com desdém – Mas não se preocupe, eu farei o trabalho que aquele incompetente devia estar fazendo.
- Ótimo – balança a cabeça, sorrindo.
Com a intenção de aliviar um pouco o ambiente e fazer seu pai desistir da idéia de fazê-lo confessar alguma coisa, pois o Lord era muito bom nisso, Harry se joga mais uma vez nos braços do adulto com um radiante sorriso nos lábios.
- Papaaaaai?...
- Sim, Harry? – tenta manter a voz firme, contendo o sorriso que lutava por sair, pois sabia exatamente o que o menino perguntaria a seguir.
- E o meu presente? Você já comprou?
Adotando uma expressão pensativa, Tom deixa o menino na expectativa, mas antes mesmo que pudesse voltar a perguntar, Harry já era jogado na cama e sentia o peso do musculoso corpo de seu pai em cima dele.
- O que...?
- Uma palavra para você, Harry – sorri com malícia – Cócegas.
- O que?... NÃO!
Mas era tarde de mais. As habilidosas mãos do Lord percorriam suas costelas e sua barriga fazendo-lhe gargalhar com vontade. Qualquer um que contemplasse aquela cena, provavelmente, correria para se internar na Ala de Casos Irrecuperáveis de St. Mungus. Lord Voldemort, o terror do mundo mágico, fazendo cócegas e se divertido ao ouvir as risadas de uma criança? Oh... Aquilo era de mais para qualquer mortal.
- Você se rende?
- Não... Hahahahahahaha... Nãooooo!
- Vamos, deixe de ser um Gryffindor orgulhoso e seja um Slytherin esperto. Você se rende?
- Hahahahahaha... Certo! Certo! Hahahahahaha... Mas pare com isso!
Finalmente Tom deixa o menino respirar, encarando-o com um sorriso superior que contrastava com seu olhar divertido.
- Isso... É... Maldade... Papai!
- Oh, o que você queria pequeno, não é a toa que sou o Lord das Trevas.
- Sim, sim, o grande Lord que aterroriza a todos com suas cosquinhas!
- Está querendo outra dose?
- Não! Pronto, já parei! – levanta as mãos num sinal de paz.
- Ótimo.
- Mas você não vai mesmo me dizer o que comprou, papai? – pergunta com inocência.
- Humm... Deixe-me ver...
- Entããão?
- Não!
- Hum! Isso é tão injusto!
- Vai ter que esperar até o Natal, pequeno – bagunça os cabelos indomáveis do menino, fazendo-o protestar entre risos – Mas não se preocupe, falta pouco.
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Lord Voldemort, obviamente, tinha razão. Três dias passaram voando e logo o tão esperado 24 de dezembro surgiu e com ele um belíssimo coquetel para os Comensais da Morte mais selecionados, e suas famílias, desfrutarem daquela data tão especial na companhia do Lord em sua mansão. Naquele momento, o salão de festas estava lindamente enfeitado com diversos adornos natalinos, pois este ano Harry insistira em ajudar na decoração. Ao centro, uma gigantesca árvore coberta com uma ligeira camada de neve apenas acentuava aquele clima envolvente, rodando-a estavam vários anjinhos mágicos enfeitiçados para voarem a sua volta, e pequenos chocolates em formato de papai-noel e bonecos de neve ainda arrematavam tamanha beleza. Curiosamente, sempre que Harry passava pelo salão, um ou outro enfeite de chocolate sumia, mas o pequeno Lord logo abria um lindo sorriso e comentava que os anjinhos ao redor da árvore deveriam estar com fome.
Não obstante, a bela decoração ainda contava com algumas mesas bem distribuídas, uma bela música oferecida pela melhor orquestra do Mundo Mágico, diversos pratos deliciosos e refinados servidos no Buffet e ainda um serviço de bandejas flutuantes que circulava por entre os convidados oferecendo os melhores vinhos, whiskys, sucos e espumantes que apenas tamanho luxo e requinte poderia proporcionar. Aquela festa, porém, não era um evento histórico como seu esplendido cenário demonstrava, mas sim uma reuniãozinha mais íntima que poucos tinham acesso. Entre eles, as famílias Parkinson, Zabini, Nott e Malfoy. Além dos Lestrange, McNair e Rosier, estes últimos eram Comensais que a mandado do Lord atuavam e Paris, mas que este ano haviam ganhado permissão para voltar a sua terra natal após cumprir as ordens do amo com perfeição.
- Harry demora mais do que minha mãe para se arrumar – Draco suspirava, olhando de ora em ora para as escadas em busca de seu melhor amigo.
O grupo da serpentes, é claro, não havia deixado de comparecer à festa de seu amigo. Pansy e Blaise, no momento, deliciavam-se com alguns canapés sob o atento e orgulhoso olhar de seus pais que praticamente arquitetavam os planos de seu casamento. Theodore, por sua vez, revirava os olhos discretamente enquanto ouvia seu pai conversar com McNair, gabando-se do filho ser um dos melhores amigos do pequeno Lord. E Draco enquanto isso havia deixado seus pais conversando com o próprio Lord e com os Lestrange para se aproximar da escada e esperar a "noiva" aparecer, porque sem dúvida alguma, às vezes Harry demorava mais que uma noiva.
- Olá... – uma suave voz pareceu despertá-lo. A suas costas estava àquela menina que viva puxando-lhe conversa, mas que ele nunca conseguia recordar o nome.
- Olá.
- Alice Rosier – ela se apresentou novamente, encarando-o com um doce sorriso. Ela conseguia ser mais baixinha do que Harry, na verdade não, eram da mesma altura. Seu cabelo castanho encaracolado contava com um laço cor-de-rosa que combinava com o vestido da mesma cor e acentuava ainda mais seu ar de boneca.
- Draco Malfoy.
- Eu sei – seu sorriso aumentou – É claro que eu sei quem é o grande Draco Malfoy.
O loiro apenas arqueou uma sobrancelha. Pelo visto, conversar com aquela menina faria muito bem para o seu ego. E um Malfoy nunca rejeitava uma boa inflada no ego.
Poucos minutos se passaram e logo um lindo anjo de olhos esmeraldas se encontrou descendo as escadas. Harry usava uma belíssima túnica de um ombro só, na cor azul-clara, cravejada de pequenos diamantes que davam um brilho especial. Por ela ser aberta no meio da coxa, o menino contava com uma calça preta ligeiramente ajustada que fazia um bonito contraste com a túnica. Esta estava presa por um broche de ouro branco em formato de serpente que fazia o jogo com o belo bracelete que o menino usava. Sem dúvida, um perfeito anjo, um anjo que repentinamente estava com os olhos brilhando de fúria, e ciúme, ao contemplar seu melhor amigo conversando animadamente – na verdade fazia um ou outro comentário enquanto deixava a irritante menina cobri-lo de elogios – com a tal Rosier.
Draco, por sua vez, sorria com arrogância enquanto ouvia a menina comentar como ele ficava elegante com aquele smoking combinando com a capa de veludo verde-musgo, ou como seu ar imponente se sobrepunha aos demais, e como milhares de meninas morreriam apenas para ter uma chance com ele – obviamente ela estava se incluindo na lista.
- Estou sentindo um ligeiro ar de ciúme? – uma sorridente Nagini apareceu ao seu lado.
- Em seus sonhos...
- Oh, vamos, Harry! Você vai lá mostrar àquela garotinha quem é que manda?
- Não – replica friamente – Apenas olhe e aprenda Nagini.
Com um andar elegante e um ar claramente superior, Harry desceu as escadas sem olhar para ninguém em particular e seguiu ao encontro de um entediado Theodore Nott que apenas ouvia as irritantes palavras de seu pai acerca de inúmeros negócios que ele sequer tinha interesse. A presença do pequeno Lord, é claro, fez o Sr. Nott e McNair se calarem, observando-o com evidente admiração. Na mesma hora, Theo corrigiu a postura e não pôde deixar de observar o amigo de cima abaixo, afinal, Harry estava definitivamente encantador. E este também notou, com um doce sorriso, como o herdeiro da fortuna Nott parecia impecável com o smoking, a camisa de seda branca e a túnica negra, aberta, como complemento do belo look.
- Theo... – os olhos pestanejavam daquela maneira inocente que sabia que ninguém resistia – Quero dançar.
- O que?... Oh, claro!
Imediatamente, o moreno de olhos azuis fez uma sutil reverencia ao pai, pedindo licença, e guiou o pequeno Lord até o espaço do salão indicado para o baile. O Sr. Nott quase não cabia em si de tanto orgulho e comentava com McNair que em breve o pequeno herdeiro de Voldemort estaria fazendo parte de sua família. Do outro lado do salão, Pansy e Blaise observavam as ações do amigo com o cenho franzido. Ambos sabiam que o apocalipse chegaria mais cedo se Draco Malfoy observasse aquela cena, a menina, então, logo percebeu que Draco estava distraído de mais com a pequena Rosier, provavelmente tendo seu ego inflamado, e não percebera a entrada de Harry.
- Espere aqui, Blaise, vou resolver um pequeno assunto – o sorriso malicioso que adornava os rosados lábios de Pansy fez o menino suspirar e concordar em silêncio, pois sabia que boa coisa não estava por vir.
Logo a menina seguiu ao encontro de Draco. O belo vestido longo na suave cor lavanda oferecia um semblante etéreo, acentuado pelo gracioso corte chanel e pela discreta maquiagem que adornava sua face. Contudo, o brilho de seus olhos não era àquele reservado às mais belas bonecas da alta sociedade, mas sim um brilho de astúcia e malícia que apenas uma verdadeira serpente em pele de donzela poderia ter. Uma serpente que faria de tudo para garantir a felicidade de seus amigos.
- Olá Draquinho – ela interrompeu a conversa com um brilhante sorriso.
- Pansy.
- Srta. Parkinson.
- Oh, pequena Rosier, que surpresa!
- Eu vim com meus pais – explicou com timidez – eles trabalham para o Lord. Chegamos esse ano da França.
- É claro, a senhora Úrsula e o senhor Robert Rosier. Meu pai comentou sobre eles, parece que fizeram um bom trabalho para o Lord.
- Sim... – a menina sorriu feliz, mas antes que pudesse continuar, um ansioso Draco a interrompeu:
- Você viu o Harry, Pansy? Sabe se ele já desceu?
- Já sim. Você ainda não o viu?
- Não...
- Ele está mais para o meio do salão, dançando.
- Dançando? – os belos olhos acinzentados se estreitaram perigosamente – Com quem?
- Você não adivinha? – sorriu com burla – Três tentativas, hein?
- Nott – grunhiu com ódio.
- Nossa, acertou na primeira!
O loiro, porém, não demorou mais de dois segundos para deixá-las sozinhas e seguir ao meio do salão, sua expressão era de pouquíssimos amigos e algo indicava que Theodore Nott não sairia inteiro daquele baile. A jovem Rosier, ao ver a atitude de Draco, apenas suspirou e deixou seus ombros caírem com desânimo. Arrumar um bom partido com Malfoy parecia uma tarefa impossível uma vez que o herdeiro do Lord sempre aparecia no caminho.
- Posso dar um conselho, como alguém que conhece tanto o Draco quanto o Harry? – a fria voz de Pansy fez a menina sobressaltar.
- Sim... É-É claro.
- Sugiro que você esqueça de uma vez por todas Draco Malfoy. O coração dele já tem dono e este se chama Harry James Riddle, filho do Lord das Trevas, o verdadeiro Príncipe das Trevas se você preferir. Acredito que você não deseja ser uma pedra no caminho de Harry, não é mesmo?
- Não, claro que não... – murmura assustada.
- Ótimo. Você sabe o que o Harry faz com obstáculos como você?
- O...que?
- Ele os elimina sem dó nem piedade e com o total apoio do pai. Então se você presa o seu pescoço e a integridade de sua família, não se aproxime mais do Draco e procure um bom partido bem longe do circulo de amizades do Harry, entendeu?
- S-sim.
- Excelente – sorri satisfeita, já tomando o caminho de volta ao lugar onde Blaise a esperava pacientemente – Oh, e feliz Natal, pequena Rosier.
- Feliz Natal – sussurra levemente. A jovem castanha parecia finalmente se dar conta de que não havia nada para ela naquele local.
Nesse meio tempo, Harry e Theo deslizavam com elegância e graciosidade pelo salão, o pequeno Lord deixava-se guiar com sutileza e o outro o conduzia com maestria diante de olhares aprovadores e um ou outro sorriso satisfeito. É claro que o Lord não havia notado o pequeno show ao estar discutindo alguns assuntos oficiais com Lucius e Rodolphus, mas Narcisa e Bellatrix estavam pendentes do tema e logo trocaram um olhar cúmplice ao verem Draco se aproximar dos dois. Elas sabiam muito bem o que aquele inusitado triângulo reservava para o futuro e Narcisa não pôde deixar de sorrir quando viu o evidente lampejo de ciúmes brilhando nos olhos sempre frios e indiferentes de seu filho.
Draco se aproximava do casal como um verdadeiro Dragão enjaulado soltando fogo pelas ventas. Afinal, em que Harry estava pensando para aceitar dançar com aquele idiota? Ah... Mas ele acabaria com aquela palhaçada agora mesmo ou seu nome não era Draco Lucius Malfoy. Assim, com um andar decidido o jovem herdeiro dos Malfoy chegou ao lado dos dois e sem pensar duas vezes puxou o braço de Harry, arrebatando-o do rival com um preciso movimento.
- O que...?! – Harry arregalou os olhos – Draco!
- O que significa isso, Harry?!
- Solte-o imediatamente, Malfoy! – Theo parecia muito irritado e só não lançava uma maldição no rival porque não queria que Harry tivesse problemas com o Lord.
- Cale a boca, come-livros, se não quiser ganhar um Cruciatus de Natal.
- Draco! – Harry se soltou com um puxão – O que você está fazendo?!
- O que EU estou fazendo? O que VOCÊ está fazendo, essa é a pergunta!
- Para sua informação eu estava dançando tranquilamente com o Theo quando você me puxou sem motivo algum!
- E por que você estava dançando com esse idiota?!
- Escute aqui sua ratazana albina...!
- Eu estava dançando com ele porque eu quis – o menor interrompe – Algum problema?
- Mas...
- Mas o que, Draco? – pergunta friamente – Porque você não volta a conversar com a pirralha-Rosier e deixa e mim e ao Theo em paz?
O loiro, no entanto, estancou, observando aquele belo par de esmeraldas atentamente. Aquilo que reconheceu nos olhos de Harry, brilhando de maneira intensa, fez seu coração acelerar. Ele estava com ciúmes! Oh, Merlin! Harry estava com ciúmes! Na mesma hora um radiante sorriso surgiu em sua face contrariando completamente a situação, Harry e Theo, por sua vez, arquearam uma sobrancelha diante da emocionada reação de Draco. E antes que o pequeno Lord pudesse falar qualquer outra coisa, o loiro o puxou pela cintura e juntou seus corpos, passando a se mover no ritmo da bela música.
- O que...?!
- Você está com ciúmes – constatou sem deixar de sorrir, mantendo-o firmemente sujeito em seus braços.
- Não seja ridículo!
- Eu sei que está.
Theo, por sua vez, apertou os punhos com força, estreitando os olhos ao ver uma intensa cor rosada se apoderar das bochechas de Harry. Aquele maldito Malfoy! Sempre obstruindo seu caminho! Mas aquilo não ficaria assim, Malfoy não podia de uma hora para a outra roubar Harry dos seus braços como se possuísse plenos direitos sobre o menino. Ah, não, aquilo não ficaria assim... E com pensamentos ligeiramente homicidas, Theo seguiu a mesa de coquetéis lançando esporádicos olhares ao novo casal que deslizava pelo salão.
- Isso é loucura, por que eu ficaria com ciúmes de ver você conversando com aquela pirralha oferecida? O que você faz e com quem você anda é problema seu! Mesmo que seja com uma garota tão idiota e oferecida quanto a tal Rosier.
- Você fica uma gracinha quando está com ciúmes.
- Escuta aqui, Draco, se você não quiser experimentar umas maldições que eu andei treinando acho bom deixar de... – mas o enfurecido e envergonhado moreno foi interrompido quando Draco juntou delicadamente suas testas e murmurou com carinho:
- Ela não passa de uma garotinha sem graça e bajuladora, não me interessa estar com ela, não me interessa mais ninguém...
- Humm... – devia o olhar.
- Eu só quero estar com você, Harry.
Após essas palavras, a música terminou com Draco girando delicadamente o amigo e o amparando em seus braços, onde Harry permaneceu imóvel e os olhares dos dois se perderam um na face do outro. Pouco a pouco seus rostos iam se aproximando. Harry inconscientemente cerrou os olhos, ansiando aquele contato, e Draco, por sua vez, sentia o coração disparado em seu peito enquanto de aproximava suavemente daqueles belos lábios rosados. Já podiam sentir o tão esperado sabor um do outro quando uma imponente voz os interrompeu:
- Harry...
Lord Voldemort observava a cena com uma expressão de poucos amigos. Afinal, o que o jovem Malfoy fazia tão próximo ao seu filho? Era impressão sua ou estava a ponto de beijá-lo? Oh, não, aquilo era loucura. Porém, não pôde deixar de sentir-se mais aliviado quando viu que seu filho o empurrava rapidamente para chegar ao seu lado.
- Er... Sim, papai? – murmura com as bochechas coradas.
- Fique aqui, logo mandarei dar inicio ao jantar.
- C-Certo, claro.
Ainda em seu lugar, Draco não pôde deixar de se sentir decepcionado, era a segunda vez que não conseguia saborear os lábios de Harry – a primeira fora no ano passado, no baile de Halloween, quando Nott o detivera e agora devido à interrupção do Lord – Céus! O que Merlin tinha contra ele?! Por outro lado, com um radiante sorriso, percebera que Harry não era indiferente aos seus sentimentos e parecia desejar aquele beijo tanto quanto ele.
- "Desse ano não passa" – pensa com malícia e expectativa. Sua amizade com Harry já não era o bastante, há tempos havia notado isso, precisava ter o moreno para si, precisava provar os seus lábios, precisava acariciá-lo, precisava saber que Harry era apenas seu.
Assim, o resto da noite seguiu com um maravilhoso clima entre o grupo das serpentes – sem contar o ódio recíproco entre Theodore e Draco que a cada segundo, ou a cada palavra trocada com Harry, parecia aumentar mais – Pansy divertia-se ao ver as bochechas de Harry adquirirem um tom avermelhado sempre que este ouvia algumas palavras de Draco sussurradas em seu ouvido. Blaise, é claro, não podia deixar de sorrir ao notar os belos olhos negros da menina brilharem com malícia diante de sua ações como Cupido. E Theo, por sua vez, trincava os dentes de ódio, pois além de ver que o maldito Malfoy flertava com Harry descaradamente, ainda precisava ouvir os irritantes murmúrios de seu pai dizendo para ele não deixar que o filho de Lucius Malfoy obtivesse vantagens na conquista pelo coração do pequeno Lord. Como se as palavras do imbecil de seu pai importassem alguma coisa! Apenas aqueles incríveis olhos verdes e o seu correspondente dono faziam seu coração acelerar. Apenas Harry dava sentido a sua vida. E apenas ele era digno de seus sentimentos.
Sem dúvida, ainda restava uma longa semana de férias pela frente.
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Saber se transformar em um animal é uma experiência que exige o mais alto nível de conhecimento em Transfiguração. Os animagos são muito raros no Mundo da Magia, pois o processo para adquirir tal habilidade é extremamente complexo. Atualmente o Ministério tem registrado pouco mais de cinco animagos, contudo, há também os animagos ilegais. Salazar Slytherin era um animago – uma serpente – e sabe-se que todos os seus descendentes de sangue estão propensos a se transformar em animais peçonhentos. Da mesma forma que os descendentes e os bruxos com destinos intimamente ligados aos descendentes de Godric Gryffindor, por exemplo, estão propensos a se transformar em felinos
Na última semana antes de voltarem a Hogwarts, Harry e seus amigos passaram todas as noites escapulindo ao denso bosque que rodeava a mansão para treinar suas transformações em animagos, e era impressionante como os intensos treinos que fizeram ao longo do ano já davam resultados. O que mais tinha sucesso em cada tentativa de Transfiguração era Harry, seguido de Theo e Draco, e logo de Pansy e Blaise. Parecia impossível que cinco bruxos de doze anos estivessem a um passo de conseguir tal feito que milhares de centenários não conseguiram, mas de fato eles estavam.
Hoje, faltando dois dias para deixar a mansão e voltar à escola, eles aproveitavam mais uma vez a bela luz da lua para seguir com o treinamento. O clima era agradável e divertido, pois uma sutil advertência de Harry acalmara os ânimos de Theo e Draco, e a cada minuto eles pareciam mais próximos de alcançar seus objetivos.
- O que é isso?... Harry! – Pansy gritou assustada ao ver uma intensa luz dourada rodear seu amigo enquanto este murmurava o encantamento e cerrava fortemente os olhos para não perder a concentração.
- Uau... – exclamaram os outros.
No lugar onde estava o pequeno Lord sugira um belíssimo Puma Negro, com brilhantes olhos que se assemelhavam a verdadeiras esmeradas e uma cicatriz em forma de raio na testa, seu tamanho era pouco maior do que um filhote, delgado e elegante, com um ar cativante e ao mesmo tempo perigoso. Sem dúvida, era a imagem perfeita de Harry.
Aquele pareceu ser o pontapé inicial.
Logo os outros Slytherins concluíram suas transformações com perfeição.
O próximo a se conseguir foi Draco, que se tornara um imponente Tigre Branco de olhos acinzentados, grande e magnífico com sua pelagem assemelhando-se a neve. Em seguida, Theo se converteu numa igualmente grande e majestosa Pantera Negra de olhos azuis, seu ar era frio e ameaçador, fazendo jus a própria imagem. Logo depois, Pansy e Blaise, concluíam suas transformações ao mesmo tempo. A menina assumira a forma de uma magnífica Raposa Branca de olhos e patas negras, desprendendo uma imagem delicada e poderosa como somente Pansy poderia oferecer. Blaise, por sua vez, tornara-se um grande e formidável Coyote Pardo de olhos castanho e expressão misteriosa.
Incrível.
Mais uma vez Harry e seus amigos desafiavam as leis que regiam a ordem natural das coisas. Aos doze anos, com menos de um ano de treinamento, eles concluíam com puro êxito suas tentativas de se transformar em animagos. Aquilo apenas indicava que Hogwarts precisava ter cuidado, pois um grupo astuto e talentoso prometia fazer daqueles sete anos de estudo os melhores de suas vidas. Nem os lendários Marotos representaram uma ameaça tão grande às velhas estruturas daquela escola.
As confusões, é claro, estavam apenas começando...
Continua...
Próximo Capítulo: "O esqueleto dela jazerá na Câmara para sempre..."
(...)
- Não temos tempo para avisar os outros! Vamos descer!
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